Connor ouviu o barulho de passos apressados no hall e abriu a porta da biblioteca.
—Vai sair assim tão cedo, miss Templeton? – disse, aproximando-se.
A voz agradavelmente forte roubou por completo a atenção de Amie, que errou o laço que dava na fita de seu chapéu.
—Bom dia, milorde! Sim, vou sair. Hoje é quinta-feira, vou visitar alguns amigos e tenho uma porção de coisas a resolver no orfanato.
Ela ainda estava atrapalhada com a fita de cetim sob o queixo. Então, com um sorriso travesso, ele se aproximou e afastou-lhe as mãos.
—Deixe-me ajudá-la com isso, sim?
As mãos dele estavam frias. No entanto, onde quer que elas tocassem, a pele de Amie parecia pegar fogo. Ela sentiu o rubor tingir sua face, o que alargou o sorriso do conde, formando as duas covinhas no rosto bonito, que davam ao lorde um quê de garoto traquina.
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Um ruído noturno qualquer acordou Amie, que se assustou ao perceber que estava em sua própria cama. Como fora parar ali? Sentou-se e apoiou o queixo nos joelhos. Lembrava-se de Connor, parado à porta do quarto, magnífico como sempre... E do beijo que haviam trocado. Lembrou-se também da conversa amistosa que haviam tido. E, é claro, ela se intrometera em sua vida novamente.O conde era um homem como poucos. Nunca antes Amie conhecera alguém assim, aristocrata, burguês ou plebeu. E ela podia afirmar isso com toda a convicção: já provara sua fatia da nobreza e não a achara tão apetitosa assim. Mas seu patrão, Connor St. James, o conde de Hallen, nada tinha em comum com os opulentos cavalheiros da Corte. Era gentil, bondoso, inteligente e algumas vezes, até alegre, quando o fantasma daquele acidente parecia deixá-lo.Amie passou pela porta de comunica&ccedi
Depois de passar o resto do dia correndo de um lado para o outro, Amie finalmente pôde sentar-se em sua cama e pensar... Apenas uma pessoa lhe mandaria uma mensagem como aquela... Tinha certeza de que ele não faria nada que não lhe fosse vantajoso, mas então... O que ele ganharia atormentando-a?Recostou-se por um momento, tentando clarear a mente e pensar com calma...Por que estava tão escuro? Deveria haver pelo menos uma vela acesa...—Mãe... Maman está tudo bem?—Isso só depende de você, senhorita. – A voz no escuro assustou-a e ela correu a acender uma vela, que iluminou parcamente o pobre cômodo.—Quem é você? Que faz aqui? Afaste-se de minha mãe!—Acalme-se, boneca! – O semblante do homem fechou-se em uma carranca ameaçadora. – Vim falar-lhe da parte de meu senh
Amie saiu cedo para o orfanato no dia seguinte. Em sua mesa, uma notificação oficial a esperava. Uma nova criança iria morar ali, mas ela deveria buscá-la o mais rapidamente possível, num hospital em East End.Saiu antes mesmo que as crianças a vissem e tomou um coche de aluguel, chegando ao endereço indicado meia hora depois. Apeou em frente a uma casa muito antiga, mas bem conservada, cercada de jardins floridos. A placa sobre o pórtico chamou-lhe a atenção. Lia-se Clínica Popular Alexander St. James. Seria possível? Teria aquele lugar alguma coisa a ver com Connor? Sem deixar de pensar nisso, entrou na casa e, imediatamente, foi contagiada pela atmosfera alegre do lugar.Mulheres vestidas de branco andavam de um lado para o outro, com bandejas, flores, ou empurrando uma cadeira de rodas. Algumas pessoas sentavam-se na sala e bebericavam café ou chá.Uma
A noiva estava linda enquanto caminhava de braços dados com o pai em direção ao noivo radiante. Amie e Connor acompanharam os votos bem próximos ao altar; ele, com o braço ao redor da cintura dela, e Amie, com a cabeça apoiada em seu peito.Depois de uma linda cerimônia, a festa começou.Grandes travessas de massa foram colocadas sobre uma mesa de cavaletes, junto aos caldeirões de um aromático molho vermelho. Imediatamente, as pessoas se aproximaram, com seus pratos de estanho, conversando alto.Connor aproximou-se, junto com Amie, dos recém-casados.—Connor – disse ela – estes são Cecília e Lucca.—É um prazer conhecê-lo, Connor.—O prazer é meu, senhora, e meus parabéns, aos dois.—Obrigado. Amie nos contou que trabalham juntos na propriedade de lorde Hallen. – apontou Lucca.
Já passava muito de uma da manhã quando o coche de aluguel parou na rua paralela à mansão St. James Hall. Connor e Amie estavam exaustos, mas ficaram passeando pelo jardim por mais alguns minutos, admirando a lua e a noite tranquila.—Meus pés estão me matando! – exclamou ela, sentando-se na grama e tirando as sapatilhas, sem se preocupar se mostrar seus pés ao homem ao seu lado era apropriado ou não.—E meu estomago a mim! Acho que nunca comi tanto em toda a minha vida!—O que diria a condessa diante de uma declaração como esta, não? – Rindo, Amie aconchegou-se a ele.—Minha mãe ficaria tão chocada quando soubesse que fui a uma festa numa vila de imigrantes que nem me deixaria chegar nessa parte!Os dois riram com vontade, mas ambos sabiam que se o fato chegasse aos ouvidos de lady Hallen, não seria nada engra&ccedi
Uma manhã de tons rosados recebeu Amie, quando abriu as cortinas da janela, no dia seguinte. O tipo de manhã que anunciava um dia maravilhoso! Cantarolando, trocou-se e fez sua toalete, passando para o quarto de Ethnee em seguida.—Bon jour, papillon! – sussurrou, beijando a menina no rosto – Vamos levantar?—Bom dia, Amie!—Vamos nos apressar, ou o sol ficará muito forte para nosso passeio, e o parque, muito cheio.—Será que tio Connor não gostaria de nos acompanhar?—Podemos perguntar-lhe. O que acha?O conde alegou estar muito atarefado para sair; portanto, Amie e Ethnee saíram sozinhas logo após o café. A jovem, no entanto, estava certa de que Connor não se sentia pronto para aparecer em público ainda. Pelo menos, não oficialmente. Lembranças da festa na vila assaltaram sua mente, seguidas pelas palavras
A visita de Seamus McDierly fora uma grata surpresa, mas saber que as coisas iam mal na clínica, deixou Connor preocupado. Tinha de encontrar uma forma de reerguer o sonho de sua vida... Uma doação, quem sabe, ou talvez pudesse voltar a trabalhar e levar de volta os amigos que costumavam ajudar.Era quinta-feira e Connor estava no jardim, logo após o almoço, pensando e tentando se distrair do fato de que Amie não estava em casa, quando viu a governanta, sempre discreta e reservada, correndo em sua direção.—Sra. Fitzwaring! O que houve? – perguntou, conduzindo a mulher idosa até um banco de pedra.—O cocheiro... de miss Templeton... está aqui, senhor...O coração de Connor parou com a possibilidade de Amie ter sofrido algo, mas forçou-se a respirar fundo e aconselhar a mulher a fazer o mesmo antes de continuar a falar.&mda
—Mon défaut! C'est tout mon défaut! – Amie o viu e correu até ele, jogando-se em seus braços, irrompeu em lágrimas. – Oh Connor! Il était si jeune! Tinha tanto a viver ainda!—Amie, acalme-se, por favor! Nada disso foi sua culpa!Ela demorou mais alguns minutos para se recompor, ainda abraçada firmemente ao seu amor, respirou fundo.—Não consigo acreditar que ele se foi! Oh, Connor! Benjie ficou tão feliz quando soube que teria uma família! – Soltando-se do conde, ela enxugou as lágrimas e o seguiu até um banco de madeira. – Ele se despediu de mim tão contente! Eles o maltrataram, Connor! Bateram na pobre criança que nada tinha a ver com seus crimes! Oh Deus! É tão horrível! E fui eu quem o mandou para lá!—Ei! – Ele ergueu o queixo trêmulo