Acordei naquela manhã com uma sensação estranha, como se o mundo estivesse se esticando mais uma vez, estendendo suas fronteiras, me levando a lugares onde jamais pensei que iria chegar.
Desde que as exposições começaram a acontecer em diversos cantos do mundo, minha vida se transformou de formas que eu mal consigo descrever. Estava em Paris, depois Londres, depois Nova York... O sucesso parecia uma correnteza que me arrastava para longe do meu ponto de origem, mas, enquanto eu via tudo acontecer, havia uma falta, uma ausência que eu não conseguia preencher. A saudade de Alice apertava meu peito como uma dor constante. Estava no hotel em Londres, já quase ao fim de mais um evento que me tirava as palavras, quando decidi ligar para Charles. Ele sempre foi minha âncora no meio do meu caos. Mesmo quando eu estava perdida em meuO barulho suave da máquina de café foi a única coisa que quebrou o silêncio da pequena pausa que eu tirara no escritório. Sentei-me, com a xícara quente entre as mãos, olhando pela janela como se o mundo lá fora fosse outro, distante e irrelevante, enquanto eu me perdia em pensamentos. Não estava realmente tentando me distrair, mas o trabalho que me aguardava parecia uma montanha que eu não estava com vontade de escalar naquele momento.A televisão ligada ao fundo não estava em minha mente, até que algo me fez voltar a atenção para ela. A voz do apresentador começou a falar com entusiasmo, uma empolgação exagerada, quase insuportável. As palavras "Alby Leclerc" me chamaram a atenção de imediato. Que surpresa! Só a simples menção do nome dela, para um turbilhão de formar em minha mente. Como esquecer da mulher que parecia tão frágil em muitos aspectos, mas com uma chama interior que era impossível ignorar. Nossa última conversa ainda estava
Eu nunca imaginei que a vida fosse me levar até ali. Tudo tinha acontecido tão rapidamente, como uma tempestade que chega sem avisar, e agora, aqui estava eu, de coração acelerado, olhando para Andrew. Ele estava sentado à minha frente, a luz suave do café iluminando seu rosto, seus olhos fixos nos meus de uma forma que me fazia sentir como se o mundo tivesse desacelerado. E, por mais estranho que fosse, eu não conseguia desviar o olhar.A gente se conheceu de forma tão inesperada, quase como se o destino tivesse arquitetado tudo em segredo. No início, ele estava ali apenas como alguém que apreciava minha arte, um admirador com uma visão interessante sobre o meu trabalho. Mas, à medida que os dias passaram, nossa conexão se aprofundou. Era como se ele fosse a chave para algo que eu ainda não entendia completamente sobre mim mesma.Eu o observava com atenção enquanto ele falava sobre arte, como se soubesse tudo sobre os cantos mais profundos
Eu costumava achar que o amor só poderia ser a mesma coisa que eu já conhecia, uma tempestade, algo avassalador. Sentia que precisava ser intensa, cheia de dúvidas e conflitos. Pensava que, se não fosse assim, então não seria amor. E, por muito tempo, a minha ideia de amor foi moldada por aquilo que vivi com Isaías. Por toda a paixão, por cada momento conturbado que nos envolvia, eu acreditava que era isso que o tornava especial, aquele fogo que nunca se apagava, sempre me desafiando.Mas Andrew… ele era diferente. Não havia drama, não havia tumulto. Ele era, na verdade, uma brisa suave, um equilíbrio perfeito que, à primeira vista, parecia muito simples, mas que se revelava cada vez mais complexo à medida que eu o conhecia.Ele era fácil de lidar. Tão fácil. Às vezes me pego pensando como é possível alguém ser tão tranquilo, tão simples, em meio a toda a correria do mundo, sem perder a profundidade. Andrew não precisava
Alice e eu finalmente estávamos em nossa viagem. Depois de meses separadas mais do que eu gostaria, essa era a chance de nos reconectarmos, de criar momentos só nossos, longe da correria que sempre parecia nos afastar. Nosso destino não poderia ser mais mágico: a Disney. Desde que compramos as passagens, Alice estava radiante, e agora, enquanto caminhávamos pelas ruas do parque, seu sorriso iluminava tudo ao nosso redor. Cada castelo, cada personagem que passava, fazia seus olhos brilharem de maneira que me emocionava profundamente. Seu riso ecoava entre as multidões, e eu me pegava observando cada detalhe. Era como se aquele lugar tivesse sido feito para ela, para devolver à sua infância toda a leveza que a vida havia roubado em alguns momentos. Alice corria de um lado para o outro, puxando minha mão com entusiasmo para ver os personagens ou entrar nos brinquedos. — Olha, Alby! É o Mickey! — ela gritou, com uma animação que me fe
Quando abri a porta de casa, exausta da longa viagem, uma onda de surpresa e confusão tomou conta de mim. Minha sala inteira havia se transformado em um verdadeiro jardim. Vasos e mais vasos de flores preenchiam cada canto. O perfume suave de rosas, lírios e orquídeas flutuava no ar, criando uma atmosfera acolhedora e quase mágica. Meu coração acelerou. Alice, ainda segurando sua pequena mochila, soltou um gritinho animado e correu para o centro da sala, onde uma enorme boneca repousava em uma cadeira delicadamente decorada com pétalas. A boneca vestia um elegante vestido rosa bordado e tinha cachos dourados que brilhavam à luz suave do ambiente. — Alby! Olha! É minha? — Seus olhos brilhavam, o entusiasmo infantil irradiando de cada palavra. Eu ainda estava processando a cena. As flores. A boneca. Quem havia feito isso? Não precisava pensar muito para encontrar a resposta. No centro da mesa de vidro, um envelope bra
O dia começou com um convite inesperado de Andrew. Ele apareceu em nossa porta com aquele sorriso despreocupado e um brilho nos olhos que, aos poucos, começava a se tornar familiar. — Hoje é dia de aproveitar. Vocês duas merecem — Ele anunciou, como se fosse uma ordem gentil. Eu arqueei uma sobrancelha, desconfiada. Andrew sempre tinha um plano, mas ele nunca entregava tudo de cara. — Aproveitar como? — Apenas confie em mim. Tenho certeza de que vão aproveitar muito. Minutos depois, estávamos no carro em direção ao porto. Quando chegamos, fiquei sem palavras. Ali, ancorado com elegância, estava um iate que parecia saído de um filme. Grande, luxuoso, imponente. — Andrew... isso é sério? — perguntei, tentando não parecer impressionada, mas falhando miseravelmente. — Muito sério. Vocês vão adorar! Alice estava radiante. Antes que eu pu
Organizar um jantar familiar nunca foi meu forte, mas naquela noite, fiz questão de que tudo fosse perfeito. Era a primeira vez que Andrew jantaria em minha casa de maneira tão íntima, e eu queria que ele se sentisse parte da nossa pequena família. A mesa estava impecavelmente arrumada, com velas delicadas que exalavam um aroma suave de baunilha, flores frescas no centro e pratos que eu mesma havia preparado, seguindo algumas das receitas que minha mãe costumava fazer. Alice, sempre animada, me ajudou a dobrar os guardanapos e estava orgulhosa do que chamava de "obra de arte". — Ele vai adorar, Alby! — ela disse, com um sorriso que parecia iluminar a sala inteira. Quando Andrew chegou, pontual como sempre, senti meu coração acelerar levemente. Ele vestia uma camisa azul clara que realçava seus olhos, e seu sorriso, ao me ver, era caloroso o suficiente para afastar qualquer insegurança que eu pudesse ter. — A anfitriã mais linda que já vi — Ele
Eu sabia que algo estava errado. Aqueles dias de silêncio me corroíam por dentro. Andrew simplesmente desapareceu. E, no fundo, eu sabia que não era algo trivial. Se fosse qualquer outra pessoa, eu teria respeitado o espaço, entendido que todos têm seus momentos e problemas. Mas com Andrew, era diferente. Ele não desaparecia sem explicação. Ele não se afastava sem um motivo. E eu, que o conhecia tão pouco, não sabia como lidar com isso. Alice, alheia à tensão que eu tentava esconder, continuava sua rotina, fazendo desenhos e perguntando, com a doce inocência de uma criança, onde estava o "amigo da Alby ", como ela chamava Andrew. A cada pergunta dela, meu peito apertava um pouco mais. Eu não sabia o que responder. Não sabia nem o que pensar. Os