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Capítulo 5 - Insight

"Não há nada que faça um homem suspeitar tanto como o fato de saber pouco."

-Francis Bacon

-ALEXIA! 

Essa foi a primeira palavra que saiu da boca de Irene ao transpor a fenda. Diante dela estava a filha amada que há aproximadamente dois anos, tinha partido deixando seu coração aos pedaços. Irene acariciava os cabelos loiros de Alexia, a mão a tocar o seu rosto tão claro e sereno.

- Sim, sou eu mamãe, sua menina! - Disse Alexia, pegando carinhosamente nos ombros da mãe.

- Mas como é possível? E que lugar é esse?

Somente agora Irene começou a observar o lugar. O local se parecia muito com La Scarzuola, porém parecia uma época diferente. Já não tinha as esculturas, os portões, os palcos. Tudo que havia era um campo aberto com apenas um prédio, que parecia um convento, a se destacar no lugar mais alto do local. O sol tinha uma tonalidade escarlate, que deixava o ambiente um pouco mais sombrio, e Alexia, parada a sua frente, vestia uma longa túnica verde com um símbolo de serpente no alto do peito.

- Temos muita coisa pra conversar mamãe, mas por hora, vamos sair daqui pois é perigoso ficarmos expostas nesse lugar. Vamos subindo, precisamos chegar no convento. Quero que conheça meus amigos.

Subiram. Chegando na porta do convento,entraram rapidamente fechando a porta atrás de si. Alexia foi até o altar, seguida por uma Irene que estava ao mesmo tempo feliz e confusa. Alexia começou a puxar aquilo que parecia ser um alçapão. Logo, uma escada apareceu sinalizando que havia um lugar logo mais abaixo. 

- O que é isso? - Perguntou Irene curiosa.

- É o lugar onde nos escondemos. O convento é só uma fachada. Nossa casa fica abaixo, no subsolo.- respondeu Alexia.

Desceram. Com uma lamparina na mão, Alexia conduziu Irene por um corredor escuro e frio que terminou em uma grande sala redonda. Ali crepitava o fogo em uma lareira, as chamas mostravam paredes com estantes abarrotadas de livros com símbolos estranhos, e no centro, uma grande mesa retangular onde havia algumas pessoas discutindo sobre diversas coisas.

-Pessoal, por favor, quero que conheçam uma pessoa!

O silêncio reinou na sala, enquanto todos voltavam os olhos com extrema atenção para as duas mulheres. 

-Essa é minha mãe Irene, que veio do lado de lá! 

Todos ficaram curiosos ao ouvir isso. Um dos homens que estava sentado na ponta da mesa, chamado Ícaro, Exclamou:

- Caramba, ela é a sua cara! Quero dizer, Você é a cara dela! 

Alexia sorriu. Ícaro era um cara alto e extremamente forte, com olhar carrancudo, porém com um coração gigantesco.

- Veja como os olhos dela brilham como um par de esmeraldas! - Disse Flavius, um rapaz de aproximadamente 17 anos de idade, cabelos pretos quase nos ombros e magro como uma Vara.

- Bem vinda ao lado de cá, Irene.- Disse uma voz feminina, finalmente.- Sou Cassandra! 

Tudo parecia muito confuso para Irene. Porque sua filha estava ali escondida no subsolo de um convento? Quem eram aqueles estranhos que ela chamava de amigos? O que significava aquelas túnicas verdes? 

- Alexia, precisamos conversar. 

- Eu sei mamãe. Vamos até meu quarto, vou lhe explicar tudo.

As duas se dirigiram a um pequeno aposento no fim do corredor. Lá dentro, apenas uma cama e um criado -mudo ao lado desta, decoravam o quarto. Alexia sentou -se à beira da cama com Irene a sua frente. Começou:

- Primeira coisa. Não estou morta. A morte nada mais é do que uma desculpa inventada pelo homem para explicar de forma pobre o que acontece conosco depois que deixamos o corpo material. O que aconteceu comigo não chamaria de morte, mas de transição. Do mundo de lá para o mundo de cá.

-Não estou entendendo Alexia. Como pode ser isso? 

- Me diga mamãe, o que acontece conosco quando morremos? Para onde vamos? Fazemos o que? 

- Bem....existem muitas teorias....cada religião vê o pós morte de um jeito ....Mas são teorias, não temos como saber, até que morramos....

- Exatamente ! Só há teorias porque nunca ninguém viu o todo mas apenas partes! Nunca ninguém voltou para falar como é depois que deixamos o corpo material... até hoje.Eu não somente pude te falar como é o outro lado, como te trouxe até aqui para que você visse com seus próprios olhos! 

Irene estava atordoada. Seria aquilo tudo real? Será que ela ainda não estaria em coma no hospital e tudo aquilo não passava de um sonho?

-Filha, isso é loucura!

Alexia sorriu. Pegando nas mãos de Irene continuou:

- Mamãe já ouviu sobre o mito da caverna, de Platão?

-Filosofia não é meu forte. Mas o que isso tem a ver? 

- Bom, imagine que algumas pessoas estão acorrentadas dentro de uma caverna com suas faces viradas para a parede. Atrás delas, separada por um corredor está uma fogueira acesa. De tempos em tempos alguns homens passam por ali, alguns levando objetos nos seus ombros, mas tudo o que aqueles prisioneiros vêem são as sombras na parede. Eles julgam que aquilo que eles veem é a verdade absoluta e o todo do mundo. Mas de repente, um deles se solta. Esse homem percebe que na verdade as sombras são emitidas pela fogueira, que há homens de verdade naquele lugar é que há uma saída para fora. Ele começa a subir e conforme a claridade bate em seus olhos, fazendo -os doer pois estava acostumado a escuridão da caverna. Com tudo, passado algum tempo ele se acostuma de tal forma que ele percebe que o mundo é muito maior do que ele achava que realmente era. A partir daí ele tem duas opções: sair e viver a sua vida recém descoberta, ou voltar a caverna e falar para os outros aquilo que ele descobriu mesmo sabendo que irão chamá -lo de louco por já estarem acostumados ao seu mundinho de sombras. 

- talvez você me chame de louca mamãe ,mas eu sou aquela que viu o todo e estou tentando te libertar do mundo de sombras que você vive!

Irene não sabia o que dizer. A grande verdade é que olhando para a filha, se sentia uma ignorante à frente de uma sábia. Voltando a si, falou:

- Mas filha, como pode ser isso? O lugar em que estamos é outro mundo, outra dimensão? 

- Não é outro mundo mamãe, é parte do seu. Os dois estão conectados e a fenda que você viu é uma das portas que liga as duas partes. Esse mundo é um reflexo do seu. Do lado de lá é 2021, mas do lado de cá é 1202. Lá eu era sua filha que sonhava em se formar em direito. Aqui eu sou uma pitonisa, uma sacerdote da Ordem da serpente, devota a Lúcio.

-Lúcio?- Indagou Irene.

- Sim, Lúcio é o Senhor do lado de cá. Ele foi preso injustamente pelo Senhor do lado de lá, chamado Mikael. Desde então o lado de cá está um caos,mas antes de ser preso, Lúcio escreveu um livro e colocou uma magia tão forte nele, que somente o eleito poderia ler no tempo oportuno. Esse livro não somente nos diz como abrir a porta para o outro mundo, como também nos diz como abrir a jaula que o prende. Lúcio chamou esse livro de O Livro dos Condenados.

Eu fui a eleita, o Livro me escolheu. 

Quando abri a fenda não podia passar pois os de cá não podem passar pro lado de lá mas os de lá podem passar pro lado de cá. Desde então fiquei esperando uma oportunidade de falar com você, e quando você entrou em coma foi como se eu tivesse conseguido sintonizar a sua mente. Foi então que te chamei, e você me ouviu !

Irene estava abismada com tudo aquilo que estava ouvindo,mas sem perder a chance perguntou:

-Mas porque vocês estão escondidos aqui? Se você tem um livro tão poderoso porque precisa de minha ajuda?

-Nos escondemos pois os soldados de Mikael estão neste mundo. Se autodenominam a Ordem do Leão. São cruéis, assassinos. Nos caçaram por toda a parte e mataram muitos, só restando nós. Achamos refúgio nesse velho convento,nos escondendo no submundo até a hora certa de agir. Precisamos de você, pois o Livro diz que somente uma pessoa do lado de lá pode abrir a jaula. Uma vez Lúcio liberto, unirá as duas partes e seremos todos um só e estaremos para sempre juntas mamãe! 

Irene deixou uma lágrima cair ao ouvir Alexia dizer essas palavras. Olhando fixamente para a filha disse:

- Eu ainda acho que é loucura, mas os pais fazem loucuras pelos filhos não é mesmo?- Disse sorrindo. 

- Eu confio em você e vou estar contigo até o fim.

As duas se abraçaram. Alguém bateu à porta. Era Cassandra com seus cabelos azuis desgrenhados e um sorriso nos lábios a falar:

E aí, Alguém está com fome? Tem sopa de ervilha e bife de fígado.

Irene e Alexia saíram sorrindo.Em fim ela tinha sua filha de volta.

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