" A voz do inconsciente é sutil, mas ela não descansa até ser ouvida."
- Sigmund Freud
- Como assim, " preparado para morrer?!"
Lucca olhou para Eric sem acreditar no que estava ouvindo. O irmão sempre fora do tipo " o fim justificam os meios", mas agora parecia estar fora daquilo que Lucca entendia como aceitável.
Eric, assumindo um tom mais sério começou a falar:
- Não é bem morrer...só vamos te colocar em coma induzido. Você mesmo disse que o êxtase é o que te faz ter esses flashes... Só que você não faz isso de forma controlada, você simplesmente injeta uma quantidade. Nós vamos fazer isso direito, com todos os aparatos necessários para que você fique bem. - Disse Eric olhando para o irmão.
- Isso é tudo muito bonitinho na teoria...mas como vamos fazer isso? Simplesmente vamos entrar em algum hospital e dizer que preciso entrar em coma? - Disse Lucca olhando com ar incrédulo para o irmão.
- Não, claro que não. Meu pessoal tem tudo o que precisamos para fazer isso. Só terão de vir comigo.- disse Eric.
- Seu pessoal? Ir com você? Se bem me lembro, te conheci faz meia hora e ainda não sei como você sabe meu nome sendo que nunca te vi na vida, muito menos como sabe tanto sobre essas coisas ...como posso confiar? - Disse Louis entrando na conversa.
- Cada coisa no seu tempo. Eu terei o maior prazer em responder todas as suas perguntas, mas agora precisamos ir. Só Deus sabe o que pode acontecer a sua esposa do outro lado.
O simples fato de Eric mencionar Irene fez com que Louis deixasse a desconfiança e os questionamentos de lado. Não podiam perder tempo, ainda mais sabendo que Irene estava em um lugar desconhecido.
- Bom, a hora que o Pink e o Cérebro decidirem ir é só me falar, vou estar lá fora esperando no carro. - Disse Eric com um sorriso sarcástico, saindo pra rua.
-Odeio esse cara!- Disse Louis, mau humorado.
- Você conheceu ele agora. Eu sou irmão dele. Você não viu nada- Disse Lucca vestindo seu casaco jeans. - Vamos logo.
O céu estava estrelado e um vento fraco soprava em meio a noite de Gubbio. Quando Lucca e Louis saíram para fora, se depararam com um Eric encostado em um Impala 67 preto.
-Impala 67? Sério? - Disse Louis, surpreso.
- O que tem? É clássico! É o carro dos Winchester! - Disse Eric, acenando com as mãos.
- Winchester? - Disse Lucca sem entender nada.
- É , Winchester! Supernatural? Dean? Sam? ...não? - Indagou Eric perplexo.
Os dois olhavam para ele com cara de paisagem, sem compreender o que ele estava querendo dizer.
- Mas em que mundo vocês vivem? Não assistem tv?
- Já podemos ir ou a palestra ainda vai longe? - Disse Lucca cerrando os olhos .
- Ok,ok... entrem aí- Disse Eric aborrecido.
- Porque não vamos no meu carro? Ele é mais...hum..moderno. Sem ofensa, mas podemos chegar mais rápido - Disse Louis se aproveitando do momento para irritar Eric.
- Trocar o meu bebê por essa coisa de plástico? Nem pensar...entrem aí e parem de drama.- Disse Eric.
Lucca e Louis entraram revirando os olhos. Louis sentou -se no banco de trás, enquanto Lucca foi no banco da frente. Em alguns segundos o carro já descia a viela e ganhava a estrada.
- Olha só nós dois maninho, juntos novamente- Disse Eric sorrindo- como os irmãos winchester... e de quebra, temos o Castiel ali atrás...
- O que é Castiel ? - Disse Louis se inclinando um pouco pra frente.
- É da série que eu falei. Castiel é um anjo que ajuda os Irmãos Winchester, as vezes ele é idiota igual você- respondeu Eric maliciosamente.
- Quer saber? Só dirige isso, por favor - Disse Louis já sem paciência.
- Vou colocar uma música pra descontrair. - Disse Eric ligando o rádio.
A música começou a tocar. " Carry on wayward son" era o nome da música.
- Rock? Não tem uma música clássica aí nessa geringonça? - Disse Louis deitando para trás no banco.
- Essa é tão clássica como esse carro. Kansas ... o Lucca não vai reclamar- Respondeu Eric olhando pra Lucca.
Lucca pela primeira vez sorriu. Se tinha uma coisa que os dois tinham em comum era o gosto musical.
- Deixa eu adivinhar , essa música também é da sua série...- Disse Louis com ar de deboche.
- Na mosca,Cérebro. Tá ficando bom...- Disse Eric aos risos.
-Ei porque eu tenho que ser o Cérebro? - Disse Louis, já um pouco mais relaxado.
- Por causa do tamanho da sua cabeça- Respondeu Eric mais uma vez rindo sarcasticamente.
Eric acelerou um pouco mais o carro, entrando na rodovia. No caminho, algumas perguntas começaram a ser respondidas, começando pelo próprio Eric.
- Confesso que começamos com o pé esquerdo- Começou. - Como eu disse, meu nome é Eric Pellegrini, irmão dessa coisa fofa aqui do meu lado.- Lucca revirou os olhos mais uma vez.
- Faço parte de uma sociedade secreta, ou organização secreta, como preferir, chamada Veritas. Sua origem remonta ao período renascentista, e tem por objetivo proteger esse mundo daquilo que é desconhecido. Tudo o que sabemos foi registrado por aqueles que vieram antes de nós e foi passado de geração em geração para os membros da Ordem. É por isso que sei tanto sobre o outro lado, mas não tudo. Aquele que diz que sabe de tudo não sabe de nada.
Lucca olhava pra frente, fingindo que não estava prestando atenção, mas estava. Sabia que o irmão fazia parte desse grupo. Inúmeras vezes Eric convidou-o para se unir a eles, mas Lucca sempre recusou. Para ele, tudo não passava de uma grande bobagem. Com o tempo, diante de tantas recusas de Lucca, e pelo fato de Eric estar super envolvido com as questões do Veritas, os dois foram se afastando até praticamente não se verem mais.
Os pensamentos de Lucca foram cortados quando Louis começou a falar:
- Sociedade Secreta? Isso existe de verdade? Achei que tudo fosse bobagem... Mas diz aí? O que vocês fazem de tão secreto? Sacrificam seres humanos? Bebem sangue de bode? Falam com o diabo?
- Não é nada disso- Falou Eric, meio ofendido- Isso é história de quem não sabe nada sobre sociedades secretas.- Não matamos ninguém, muito menos adoramos o diabo; muito pelo contrário, acabei de dizer que protegemos esse mundo do desconhecido, incluindo forças sobrenaturais. Nossa ordem é sustentada por duas colunas: ciência e magia. Nosso alicerce é a verdade. Sobre essa estrutura é que o Veritas está sustentado. Nossos membros estão por toda a parte. Na mídia, na política, nas corporações. Sempre velando pelo bem da sociedade. É por isso que sabia seu nome, inclusive, alguns sócios seus pertencem ao escalão mais baixo da Ordem.
Louis estava perplexo. O simples fato de saber que havia um grupo de pessoas que estavam em todos os lugares, controlando tudo, lhe dava uma sensação de medo e desconfiança. Lucca, que agora se ajeitava no banco, simplesmente falou:
- Pelo bem da sociedade? Aham...sei. A única coisa que vocês querem é ter as rédeas da situação. Querem poder, é isso que vocês querem. Controle de massa. Mas se acham que vão fazer de mim um cão domesticado, estão enganados. Eu sou livre.
- Deve ser pelo fato de você ser um cavalo indomável que eu consegui ter a informação sobre os quadros que você anda desenhando, não é- Disse Eric com seu sorriso sarcástico.
Lucca não havia pensado nisso, mas agora, que Eric havia tocado no assunto, tinha que concordar. Como ele sabia sobre os quadros? E sobre ele ser, o que o irmão disse, um atalaia???
- VOCÊ ANDA ME ESPIONANDO FILHO DA MÃE?!!- Gritou Lucca, pegando todos de surpresa.
- Calma aí cowboy! Espionando não, monitorando. Entenda de uma vez. Você é especial, e se pessoas erradas ficarem sabendo, só Deus sabe o que podem fazer com você. Eu só estou um passo à frente! Não nego que quero saber mais, porém, também me importo com você Lucca! - Respondeu Eric, com uma expressão tão séria, que fez Lucca se acalmar.
- Pessoas erradas? Mas quem? - Indagou Lucca.
- Chega de perguntas por hora. Já esclareci muitas coisas como prometido, agora, curtam a viagem por que já estamos quase chegando.
A viagem durou mais alguns segundos até Eric estacionar de frente para uma rua estreita, cercada por árvores que se perdiam no horizonte. Eric desligou o carro e olhando para os outros dois disse:
- Chegamos! Vamos descendo!
- Aqui? Mas aqui não tem nada. Só tem uma estrada, porque não vamos com o carro?- Disse Louis
- Sem perguntas pessoal, tem que confiar em mim.
Os três desceram. Quando estavam a caminho da estrada, duas figuras surgiram do nada, pegando Louis e Lucca de surpresa. Dois homens que, colocando capuzes nos rostos dos dois, algemaram suas mãos e os colocaram dentro do carro. Louis berrou:
- SEU DESGRAÇADO, EU SABIA QUE NÃO PODIA CONFIAR EM VOCÊ!
- Vamos com calma aí rapazes. Isso é só um protocolo. Ninguém pode ver nossas instalações, lá dentro eu tiro isso de vocês.
Já dentro das instalações do Veritas, Lucca e Louis voltaram a enxergar sem os capuzes. O que viram deixou- os surpresos. Diante deles estava uma sala de hospital muito melhor do que qualquer sala dos hospitais de Gubbio. Lucca, recompondo-se, olhou para trás e viu dois homens fortes usando máscaras pretas, que não permitiam ver os seus rostos, protegendo a porta.
- Escuta aqui seus animais, se encostarem mais um dedo em mim eu...
- Tá bom, tá bom, He-Man... a gente já sabe - Disse Eric batendo no ombro de Lucca. - Rápido, deite na cama, vamos começar os procedimentos logo.
Lucca deitou. A essas alturas já não estava mais com ânimo de debater sobre questão alguma. Só queria resolver tudo, sair dali e viver a sua vida como antes.
Louis, encostado ao lado da cama também já demonstrava certo cansaço, porém, a apreensão em seu rosto era visível. O único que estava mais empolgado era Eric.
Os dois homens mascarados realizaram todos os procedimentos. Antes de Lucca apagar completamente Eric explicou- lhe algumas coisas.
- Lucca, preste atenção. O sedativo que usamos possui uma droga feita de algumas ervas. É extremamente forte. Daqui a pouco você irá apagar. Você tem 15 minutos até eu te trazer de volta. Busque informações, principalmente como passar para o outro lado. Até mais maninho.
O rosto de Eric foi se embasando até Lucca perder por completo os sentidos.
Foi quando aconteceu. De repente Lucca não estava mais no quarto ao lado de Eric e Louis. Lucca agora estava de frente para um convento que parecia abandonado. Percebeu que estava do outro lado, mas agora não eram apenas flashes, agora ele podia andar e ver tudo ao seu redor. Correu pela encosta descendo a colina, procurando alguém que pudesse lhe dar informações. A noite naquele lugar era estranha. As estrelas pareciam tristes, e a lua era de um azul escuro, deixando tudo mais sombrio. Chegando perto daquilo que parecia ser um povoado, pôde perceber que havia alguns homens conversando. Chegou até eles e os cumprimentou.
- Olá, tudo bem? Meu nome é Lucca....
Os homens nem olharam. Na verdade, parecia que nem tinham-o visto. Lucca tentou mais uma vez:
- Oi? Vocês podem me ajudar? Sou novo aqui...
Nada. Lucca começou a ficar sem paciência. Em um ímpeto de raiva, gritou:
- EI, VOCÊS SÃO SURDOS POR ACASO?!
-Eles não podem te ouvir ...- Disse uma voz vinda de um canto da rua.
Quando Lucca olhou não pôde acreditar no que via.
- AURORA! - gritou Lucca sem entender.
Diante de Lucca estava uma Aurora totalmente diferente daquela a qual ele estava acostumado. Esta, estava vestindo uma espécie de túnica bege que contrastava com a sua pele escura; seus cabelos já não estavam tão arrumados como Lucca estava acostumado a ver e,pela cor dos seus olhos, pôde perceber que ela estava cega.
- Sou Aurora, mas não a que você conhece. Sou a Aurora desse mundo...- Disse a mulher.
- A teoria do espelho- Disse Lucca, mais pra si do que para Aurora.- Você é a duplicata...
- Pelo visto já sabe alguma coisa. Isso é bom.- Disse Aurora.
- Só não entendo uma coisa. Porque aqueles homens não podem me ver ? - Disse Lucca apontando para o grupo que conversava sem ao menos notá-lo.
- Porque você está aqui como uma projeção astral apenas. Por isso só eu posso te ver. Eu também sou uma atalaia.
- Mas como pode me ver se você está...hum...
- Cega?- Disse Aurora sorrindo.- E daí? Existem muitas pessoas com visão perfeita que não enxergam um palmo à frente de si. Não é porque não enxergo que não posso ver.
Lucca estava chocado, mas não havia tempo para cerimônias. Aproveitando a pausa, disse:
- Tenho pouco tempo, então serei breve. Procuro uma mulher. Loira, olhos verdes. Está acompanhada de uma menina também loira de olhos claros. Sei que estão aqui pois vi em minhas visões. Sabe de alguma coisa?- Indagou Lucca.
- Se eu sei? O fato de eu estar cega é por causa daquela menina! - Disse Aurora com um tom de indignação.
- Por dois anos, ela e os amigos dela me usaram como um telescópio para observar o outro mundo. Usaram magia pesada. Estudaram minuciosamente a vida dessa mulher que você procura e da sua família, e quando não precisaram mais de mim, cegaram meus olhos e me jogaram na sarjeta. Não sei qual o propósito deles, mas se estão com essa mulher, já devem estar quase conseguindo o que querem.
Lucca tremeu. Se fizeram aquilo com a duplicata de Aurora, o que poderiam fazer com Irene??
- Tenho poucos segundos, mas preciso que me diga... Essa mulher se chama Irene...Ela veio pra esse mundo através de uma fenda. Onde posso encontrar essa fenda? - Disse Lucca com ar preocupado.
- Não existe lugar específico. A fenda precisa ser aberta. Não sei como ela veio, mas posso te dizer como você pode vir, pois como atalaia conheço muito do seu Mundo. Existe um artefato místico, poderoso... chama-se Espada de Mikael...Essa espada está cravada em algum lugar na região chamada, no seu mundo, de Toscana...
Pegue a espada, faça um risco na diagonal e uma fenda será aberta, porém....
Não deu tempo de Aurora concluir. Do nada tudo começou a sumir como fumaça e Lucca parecia que estava caindo em um precipício. Alguns segundos depois, Lucca abriu os olhos lentamente, vendo duas faces a olhá-lo com preocupação. Era Louis e Eric.
- O que aconteceu? Vocês me trouxeram de volta?
- Com muito esforço.- Disse Eric, suando.- Usamos o desfibrilador, senão já era.
Lucca se ergueu da cama com um pouco de dificuldade. Louis que estava ansioso mas ao mesmo tempo queria dar espaço para Lucca se recompor, deu um tapa nas costas do rapaz e disse:
- Ainda bem que você voltou rapaz, já estava quase louco tendo que aguentar a mala do seu irmão sozinho.
Lucca riu, olhando para os dois. Até que os três formavam uma boa equipe. Eric, quebrando o momento de descontração, falou:
- E então maninho, o que conseguiu?
- Seu Impala está em forma mano?- Disse Lucca, se recompondo.- Precisamos ir à Toscana...
"Todos veem o que você parece ser, mas poucos sabem o que você realmente é."- MaquiavelA lua azulada despontava no horizonte em meio aos altos pinheiros que se erguiam ao longe. O silêncio da noite era cortado apenas pelo som dos cascos dos cavalos que levavam o pequeno grupo liderado por Alexia. A tensão era visível no rosto de cada um. De quando em quando alguém soltava uma palavra que era rapidamente respondida fazendo com que a quietude reinasse sobre eles novamente. Agarrada na cintura de Ícaro, Irene pensava. Como sua vida tinha virado de cabeça para baixo em dois anos! Uma mulher que já estava acostumada à mesmice da sala de aula, agora estava vivendo algo tão surreal que parecia estar atuando em um filme de Hollywood. "Muitos odeiam a tirania apenas para que possam estabelecer a sua."- Platão- Afaste um pouco as pernas, alinhe o quadril- Assim.- Levante o arco até a altura dos ombros, puxe para trás.- Isso. - Agora esvazie sua mente e foque no alvo. Agora ...Solte!A flecha voa cortando o vento, fazendo seu malabarismo no ar e indo direto ao centro da maçã que está pendurada no pomar.- Muito bem filha, estou orgulhoso... Muito em breve todos da Ordem irão saber quem é Cassandra Pagano!Cassandra sorriu. Às vezes o pai sonhava demais, pensava. Sua família era a mais pobre da vila onde moravam. O pai, sendo carpintCapítulo 10 - Inquisição
"Não há religião mais elevada que a verdade."- Helena Blavatsky- Espada de Mikael? Interessante... - Disse Eric contemplativo.- Aurora, quer dizer, a duplicata dela, disse que a espada estaria cravada em uma rocha em algum lugar na Toscana. Só não disse exatamente aonde. Tem algum palpite? - Disse Lucca vestindo sua camisa.- Por enquanto não, mas é só uma questão de tempo até descobrirmos.- Disse Eric voltando-se para a porta. - Vamos indo. Se Irene está na mão de pessoas erradas não podemos perder tempo. Quero apresentar algumas pessoas para vocês dois.Os três saíram p
" Que é que os homens temem, acima de tudo ? O que for capaz de mudar-lhes os hábitos."- Fiódor DostoiévskiBerlim, inverno de 1989" A Alemanha Oriental está entrando em um colapso econômico de dimensões estratosféricas. Líderes do governo reuniram -se essa tarde para debater o assunto e tomar as devidas providências. Milhares de alemães foram às ruas hoje, em protesto diante da situação alarmante em que o lado Oriental se encontra. A queda do muro de Berlim nunca esteve tão perto como nos dias atuais."Sentado em um bar com uma xícara de café na mão e o jornal sob a mesa, Nicolai lia a notícia estampada em uma
" Quando há uma tormenta, os passarinhos escondem-se, as águias, porém, voam mais alto." - Indira Gandhi -Será que um dia o homem dominará a arte de voar? - Perguntou Ícaro para o pai que estava sentado ao seu lado, às margens do rio Tibre. - Tudo é possível quando se há desejo meu filho. Já percebeu que quando alguém quer muito alguma coisa, faz-se das tripas coração para atingir o objetivo?- disse Giovanni, olhando para Ícaro. - O impossível é mais sobre querer do que poder. Ícaro lançou a linha para o meio do rio. Gostava de pescar com o pai nas horas vagas, ainda que esses momentos fossem extremamente raros. Tanto ele como Giovanni viviam ocupados em seus afazeres cotidianos, mas, sempre que podiam, iam até o Tibre para descansar a mente. O pai não era tão forte como ele era, m
" O homem nasceu livre e por toda a parte vive acorrentado."- Jean Jacques RousseauRoma, verão de 1994- Vamos logo Irene, não tenho o dia todo. - Falou Beatrice para a filha, que estava trancada no quarto.- Só mais um segundo mamãe, estou quase pronta.- Não sei porque você precisa se arrumar tanto para um simples passeio de escola. - Disse a mãe. - Deve ser algum namoradinho.- Eca mãe, que nojo!- Respondeu a filha do outro lado da porta.- Eu nunca vou namorar, muito menos casar.- É normal dizer isso quando se tem dez anos de idade.- falou Beatrice. - Eu também falei isso um dia e olha eu aqui, tendo que esperar a criaturinha que eu gerei se arrumar por ter feito aquilo q
"É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada."-William ShakespeareKufstein, Áustria. Janeiro de 2001.-Lucca, você está bem? mamãe.. papai... cadê vocês?Eric levantou-se meio zonzo à procura da sua família. pôs a mão na cabeça que latejava. Quando olhou para a mão novamente, estava cheia de sangue. Caminhando com muita dificuldade, aproximou-se perto dos destroços do avião que incendiava como uma fogueira.Deu a volta pelo outro lado. Em meio aos escombros viu duas figuras lado a lado estiradas no chão. Era Suzana e Roberto, seus pais. agachou-se. Com a respiraç&
"A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las."-Santo AgostinhoOrfanato de Gubbio, fevereiro de 2001- Eu sabia que aquele filho da mãe ia ferrar com a gente!Lucca olhou para o irmão que espraguejava enquanto recebiam o uniforme do orfanato. De certa forma tinha razão para isso. O tio mal esperou os dois se recuperarem de tudo o que haviam passado na Áustria, e já fez questão de se livrar deles, os colocando no orfanato de Gubbio e se apoderando da fortuna de seu Irmão.Os dois atravessaram o saguão do prédio dirigindo-se aos quartos que condiziam com o número que estava no crachá. O quarto era minúsculo, havendo apenas dois beliches que eram separados