Cristina despertou com o corpo pesado, a cama parecia um ímã que queria prendê-la. Como o destino ousara trançar em sua vida um laço tão cruel, unindo Gabriela pelo sangue a Fernando? A noite anterior gravou em sua memória a tortura de romper o elo com Fernando, um nó que apertava sua garganta com cada palavra não dita. A verdade pelo fim dos dois, era o parentesco inesperado com Gabriela, permaneceria um segredo. Não magoaria Fernando a dor de um conflito familiar, conhecendo a fragilidade dos laços que o uniam à irmã, sabia que os dois eram órfãos.
A ideia de exigir uma escolha dilacerava seu peito. Com um impulso, abandonou a cama, buscando refúgio na rotina, na solidez de sua empresa e no amor incondicional de seus filhos. Acreditava, ingenuamente, que a distância seria um bálsamo
Cristina correu até o pai bem rápido, a lembrança de ter negado qualquer envolvimento com Fernando mais cedo a atingiu com muita força, e agora ali estavam, flagrados por ele em um beijo. O olhar de seu pai a atingiu, carregado de uma decepção cortante, antes que ele quase se atirasse sobre Fernando, agarrando-o pelo colarinho da camisa, quase o levantando do chão.— Que história é essa de beijar a minha filha, mocinho? — A voz de Omar trovejava de raiva, e Cristina estremeceu, nunca o vira daquela forma, tinha que intervir antes que ele agredisse o Fernando.— Me perdoe, senhor, eu e a sua filha…— Solta ele, pai. Eu explico tudo para o senhor. — Cristina segurou os braços do pai, tentando faz&ecir
A mente de Gabriela ao ver o pai de Cristina atacando o seu irmão, pensou em um plano rápido, não poderia ser vista e tirou do seu bolso o seu celular. Jamais desconfiaram que ela, a irmã atenciosa de Fernando pensaria em criar um perfil virtual que usaria para destruir este relacionamento de Cristina e Fernando. Tinha que agir agora, antes que o seu passado fosse revelado.— Vou afastar você do meu irmão para sempre.— Ao finalizar a gravação, saiu o mais depressa possível do local, sua presença não podia ser notada.Ao chegar em casa, correu para a rede social e criou um perfil anônimo. Munida de informações sobre a reforma da loja e os encontros furtivos com o seu irmão, Gabriela semeou "indícios" na rede em vídeos editados e fotos alteradas.Eram sugestões maliciosas que, com a edição precisa, retrataram Fernando
Fernando, vendo ela abalada depois disso tudo que foi divulgado, desejava tomar essas dores para ele mesmo. Cristina estava deitada no seu colo, enquanto ele acariciava seus cabelos.— Quem será que está fazendo tudo isso comigo? Melhor falando, com nós, Fernando?— Alguém muito maldoso, fazer algo assim demonstra a falta de caráter da pessoa. Nem ligo em falarem sobre mim, mas ver tudo que estão te xingando, fico louco de ódio.Ainda abalada, ela olhou nos olhos dele, era bom ter um apoio nessa hora de conflitos. Lembrou-se dos anos que sofreu calada, mesmo tendo sua família não era a mesma coisa do que alguém de fora apoiá-la e lhe dar acalento.— Obrigada por ter vindo ao me
Fernando tentava processar todos os eventos que havia acontecido, a sua descrença ainda pairava como uma nuvem densa em sua mente. Não podia ser verdade, sua razão se voltada contra a cruel realidade que se apresentava diante dos seus olhos. Em um esforço desesperado por clareza, sua mente repassou a lista de pessoas que cruzavam dentro de seu lar: ele próprio, sua irmã Gabriela, e a fiel dona Sônia, a encarregada da faxina, uma presença constante e discreta dentro da sua casa.Enquanto era escoltado pelos corredores frios e silenciosos da delegacia, um único anseio consumia Fernando: a oportunidade de fitar os olhos de Cristina e desfazer a sombra de dúvida que certamente essa acusação contra ele. Fernando precisava, desesperadamente, clamar sua inocência, jurar que seus dedos jamais haviam digitado aquela
Fernando mal conseguiu pregar o olho naquela cela fria da delegacia, e quando finalmente o sono começava a chegar, mais um pesadelo o assaltou. Só que dessa vez, uma mão aveludada tapava sua boca, abafando qualquer grito.Pela manhã, um guarda o despertou, avisando que seu advogado estava ali. Parecia que um único dia se arrastava como vinte longos e dolorosos dias, pois ser acusado de algo que não cometeu só piorava tudo.Ao ser levado à sala do delegado, viu seu advogado, Marco, com um papel nas mãos:— Fernando, desculpe a demora. Ontem à noite corri para preparar o pedido de habeas corpus.— Você não sabe o alívio que sinto ao ouvir isso.O delegado o fitava com um olhar que denunciava seu desacordo com a soltura, e fez u
Os dois carros estacionaram quase juntos em frente à delegacia, como se um ímã os tivesse atraído para o mesmo ponto. Fernando e Cristina desceram, cada um carregando a apreensão do momento. Na recepção, o delegado os aguardava, e um leve franzir de testa denunciou sua surpresa ao ver Cristina ao lado de Fernando. Sem demora, guiou-os até a janela de sua sala, onde a cena aguardada se desenrolava.O coração de Fernando palpitava descompassado, o temor de ver o rosto de Gabriela o assombrava. Mas, ao fixar os olhos na figura sentada na mesma cadeira que o havia aprisionado no dia anterior, reconheceu Sônia, a cabeça baixa, em sinal de derrota. Cristina, ao lado dele, sentiu a onda de choque que o percorreu, compreendendo a dor de ver a lealdade de anos desmoronar. Uma ponta de incredulidade a atingiu também, afinal, S&
Cristina, uma mulher de 34 anos de idade, moradora da grande metrópole de São Paulo. Vive somente com seus dois filhos em um pequeno e confortável apartamento deixado pelo que um dia foi o seu marido. Ela, cada dia que acorda e se olha no espelho de seu banheiro, percebendo as marcas do tempo em sua aparência lhe atinge dia após dia, era até frustrante ter que se olhar no espelho enquanto escova seus dentes.Cristina ficava se perguntando porque tudo na vida amorosa dela deu errado? E o porquê suas escolhas de vida as transformaram tanto? Ficava recordando todos os dias do seu jeito doce com a vida, seu otimismo, e hoje, parece viver em amarguras e saudades do que um dia foi no passado não tão distante.E sem controlar seus pensamentos, começou a recordar tudo que viveu antes de transformar-se nessa mulher de hoje, fria e um pouco amargurada. Cristina era muito romântica, parecia até estranha que um dia chegasse a ser como é hoje,fechada para o amor . Nunca foi de muitos namorado
Todos que contaram a novidade, comemoraram e felicitaram o casal. Os pais dos dois, aconselharam que o casamento acontecesse antes que a barriga aparecesse. E depois de um mês, casou com Thomas no cartório, agora ela faria a sua família ao lado do homem da sua vida. Seria como nos livros agora, o fim do capítulo final, onde o casal vive feliz para sempre, mas o para sempre estava mais para o início de um epílogo de: A ruína de um feliz que devia ser para sempre na vida de Cristina mas não foi.Parecia que depois que casaram, seu agora marido Thomas, chegava tarde todas as noites. Evitava conversar com ela, e com a barriga surgindo, evitava ser visto ao seu lado. Ela, pela fragilidade do momento, ainda tentava entender as mudanças do comportamento do seu marido. Com tudo, nada poderia ser mais cruel com uma alma amorosa, o que vinha a seguir. Quando chegou com oito meses de gestação dos seus gêmeos, era um casal por sinal, os dois viviam brigando. Com direito a xingamentos, Cristina es