Capítulo 2

Enquanto Stella tentava desfrutar ao máximo daquele lugar que esbanjava bom gosto, tanto no acabamento quanto na iluminação, sendo agora acrescidos os belos quadros, ela observava ao seu redor os detalhes da pintura, as quais aguçavam as suas emoções, que transferiam ao seu coração parte dos sentimentos que foram presentes na vida de Victor no momento em que ele depositava cada gota de tinta naquelas telas que outrora era em branco.

Cada quadro era mais bonito e mais colorido do que o outro. As demasiadas emoções transbordaram e secaram a boca de Stella, fazendo com que ela fosse atraída até um balcão enfeitado com frutas de diversos tipos e cores, onde tinha um homem vestindo um uniforme e prestando serviços de barman. Ao se aproximar, Stella pediu um drink e ao observar o ambiente ao seu entorno, percebeu que tinha um homem distraído, mas muito atraente encostado no balcão do outro lado do bar. Quando esse homem se virou, ela viu que era Leandro. Sentindo o cansaço se aproximando devagar, e invadindo aos poucos, o seu corpo, Stella se sentou em um daqueles bancos de acento elevado a fim de pedir a sua bebida.

Naquele momento, acontecia algo que era muito presente e tão concreto que quase podia ser tocado. Era uma energia proveniente do flerte entre Stella e Leandro, pois a sintonia de olhares foi notada por Victor, que se aproximou do amigo, dizendo:

– Por que você não chega nela e puxa um assunto? Pensa que eu não percebi que você não pára de olhar para ela? – Perguntou Victor.

– Que assunto que eu poderia puxar? Eu não tenho muito jeito para essas coisas. – Justificou Leandro.

– Ah, não sei. Fala dos quadros. Afinal vocês estão na minha exposição de artes. Nada mais jdo que falarem de artes. Existem vários tipos de artes. É um assunto muito vasto e pode ser muito bem explorado.

– É. Você tem razão. Vou pensar em alguma coisa e vou lá falar com ela em seguida.

– Isso mesmo! – Disse Victor, levando o copo com o seu drink até a boca e se afastando do amigo.

Adotando uma atitude que deixava Leandro nervoso e tomado pela vergonha, Victor foi desviando das pessoas que encontrava em seu caminho até que a sua boca se aproximasse do ouvido de Stella, perguntando disfarçadamente:

– Amiga, o que você achou do Leandro?

– Ai, lá vem você dar uma de cupido de novo. – Respondeu Stella.

– Não estou dando uma de cupido coisa nenhuma! Só vim te perguntar isso porque eu tenho algumas evidências. – Disse ele encostando-se ao balcão e rindo enquanto bebia o seu drink.

– De que evidências você está falando?

– Ele não pára de olhar para você!

– Eu o achei muito bonito desde o momento em que o vi no elevador.

– Você está com sorte, porque ele gostou de você. E se eu estivesse no seu lugar, eu daria uma chance.

– Sim, mas o que você quer que eu faça? Que eu vá até ele?

– Sim, puxa um assunto.

– Eu sou tímida. Você me conhece. Não sei fazer isso. – Disse Stella, sendo surpreendida com a chegada de Leandro.

– Oi, Victor! Muito boa a sua exposição. – Disse Leandro, enquanto Stella sentia as maçãs de seu rosto enrubescerem de surpresa e de vergonha por estar falando justamente do homem que acabara de se aproximar.

– Muito obrigado, meu amigo! Fico feliz que você esteja gostando das minhas pinturas. Vou dar uma volta por aí. Curtam bastante a noite! – Disse Victor, saindo e dando uma piscadela para Stella.

– Você e o Victor se conhecem há muito tempo? – Perguntou Leandro.

– Sim, desde a infância, praticamente. Fomos criados na mesma rua. Então crescemos juntos e sempre tivemos uma amizade muito forte. E você, quando conheceu Victor?

– Eu tive a honra de conhecê-lo quando fui trabalhar em uma empresa do centro do Rio de Janeiro.

Conforme as horas avançavam, as paredes que antes estavam preenchidas pelas inúmeras obras de arte produzidas por Victor, aos poucos foram ficando cada vez mais vazias, a ponto dos convidados conseguirem ver a cor e os detalhes que compunham o acabamento das paredes daquele luxuoso hotel. No salão podiam ser ouvidas muitas conversas paralelas, mas de repente os convidados se calaram quando ouviram uma voz de timbre forte e masculino que era proveniente do mestre de cerimônias que estava de pé sobre o palco, indicando o fim daquela noite memorável, tanto para Victor quanto para os admiradores da boa arte. Mas para o casal, a vida a dois estava só começando, pois Leandro fez uma pergunta, a qual chegou aos ouvidos de Stella como uma música tocada por anjos:

– Será que nós poderíamos nos encontrar de novo? Eu gostei muito de te conhecer.

– Podemos, sim. Eu também gostei.

– Bom, pelo que eu posso perceber, vários quadros já foram vendidos e o mestre de cerimônia está encerrando a noite. Você vai querer ir para casa agora, ou podemos passar em outro lugar?

– Podemos ir a algum bar aqui na zona sul.

– É uma boa ideia.

Depois de alguns minutos, Victor se aproximou deles, envolvendo-os ao mesmo tempo em um grande e forte abraço, dizendo:

– Amei ter encontrado vocês aqui. Muito obrigado por vocês terem vindo me prestigiar e conhecer o meu trabalho!

– Nós estamos indo embora. Desejo a você, mais uma vez, muito sucesso sempre!

– Faço das palavras de Stella as minhas palavras.

– Eu amo vocês. Muito obrigado mais uma vez.

– Tchau, até a próxima. – Disse Leandro saindo com Stella.

– Espera. – Disse Stella se lembrando de um detalhe muito importante.

– O que foi?

– Eu vim com o meu carro. E você?

– Eu também vim dirigindo. Mas nós podemos ir para a sua casa. Você deixa o seu carro lá, e nós seguimos juntos no meu carro para um barzinho aqui na zona sul.

– Combinado.

Através do som abafado que o salto de Stella fazia sobre aquele piso luxuoso, ela acreditava que eles estariam saindo daquele hotel para irem até um bar, despertando pensamentos a respeito do que poderia acontecer naquela noite. Depois de ambos terem pago a taxa referente ao tempo que deixaram o carro no estacionamento, através de um aceno de mãos, eles se despediram, dizendo:

– Vou te seguindo, está bem? – Perguntou Leandro.

– Tudo bem. – Respondeu Stella.

Ouvindo o ronco dos dois motores, deram partida e foram para a casa de Stella. Devido a um único clique emitido do controle remoto de dentro do veículo, o portão foi lentamente deslizando para o lado direito, fazendo com que a segurança de uma casa com alarme convidasse Stella para que ela entrasse e estacionasse o seu carro. Depois, ela saiu, trancou o portão, e entrou no carro de Leandro a fim de partirem para uma noite animada em um bar da zona sul.

– Você tem preferência para algum lugar?

– Eu conheço um ótimo bar no bairro de Ipanema. Tem dois ambientes. Restaurante embaixo e balada em cima, caso a gente queira ficar mais tempo e variar um pouco.

O contraste da noite com as luzes brancas emitidas pelos refletores da cidade convidava Stella e Leandro para que eles seguissem em frente, até que eles chegaram ao bar. Através de movimentos referentes a uma baliza perfeita, Leandro estacionou o carro em uma vaga em frente à calçada do estabelecimento. Ao admirar o letreiro luminoso na cor vermelha que era um verdadeiro cartão de visita, eles entraram, e após apresentarem documento ao segurança, ele abriu espaço para que eles pudessem viver uma das noites que ficaria para sempre em suas memórias.

Sentindo-se animada por poder observar o movimento das ruas de Ipanema, as quais mesmo com os ponteiros do relógio avançando, o bairro continuava movimentado como se ainda fossem sete horas da noite, Stella escolheu uma mesa que fosse privilegiada com a brisa fresca devida à proximidade com o mar.

– Esse é um dos motivos que me faz gostar tanto do Rio de Janeiro, mais precisamente da zona sul. Essa movimentação de Ipanema, esse carisma que é a essência do povo carioca. Eu tenho muito orgulho de morar aqui e de poder ser chamada de carioca, ainda que o meu sotaque não seja assim tão puxado. – Disse Stella rindo e observando as pessoas que conversavam alegremente nos bares próximos.

– Realmente o Rio é um lugar muito bom para se conhecer pessoas. Os cariocas têm uma simpatia que é difícil de encontrar em outros estados. – Disse ele, enquanto tinha a sua atenção presa pela proximidade cada vez maior de um homem que tinha um papel em mãos.

– Boa noite! Segue o cardápio. Meu nome é Marcelo. Se precisar de alguma coisa, é só me chamar. – Disse o garçom.

– Muito obrigada. Vamos te chamar, sim. – Disse Stella.

Enquanto eles olhavam o cardápio, a sede que fazia com que a boca de ambos estivesse seca acelerou um dos pedidos: – Vou ficar só no refrigerante hoje. E você? – Disse Leandro.

– Hoje vou tentar adotar um modo mais natural, vou pedir um suco.

Depois de mais alguns minutos, a fome que aos poucos os invadia fez com que eles dessem preferência ao petisco favorito de Stella, pedindo rapidamente uma batata com cheddar.

Utilizando o recurso tradicional dos consumidores, de modo a ter mais visibilidade em um restaurante cheio de clientes, Leandro levantou a mão para chamar o garçom. E, no mesmo instante, ele veio, dizendo: – Pois não. Decidiram o que vão querer comer?

– Oi, Marcelo. Sim. Queremos pedir uma batata frita com queijo cheddar. – Disse Leandro.

– E para beber? – Perguntou o garçom Marcelo.

– Para beber, pode trazer uma lata de refrigerante para mim. E para ela, um copo de suco, por favor.

– Qual o sabor do suco?

– Com quais sabores vocês trabalham?

– Hoje nós temos sucos naturais de uva, maracujá, laranja e laranja com acerola.

– Vou querer um suco de laranja com acerola, então.

Cerca de dez minutos depois, foi possível saber o que estava sendo trazido até a mesa devido ao cheiro de laranja que se tornava cada vez mais forte a cada passo dado pelo garçom. E quando ele chegou, tendo em suas mãos uma bandeja que equilibrava uma lata de refrigerante, um copo cheio de gelo, e um copo de suco de laranja e acerola, eles sentiram a sede aumentar ainda mais. Quando Leandro tomou a lata em suas mãos e se servindo com o refrigerante, Stella propôs um brinde, levantando o seu copo e dizendo: – Tim, tim.

– Tim, tim. Saúde! – Respondeu ele.

E ambos degustaram cada momento daquele primeiro gole de um líquido que descia pela garganta refrescando e matando, aos poucos, a sede que os consumia. Vinte minutos depois, Stella sentiu a sua boca salivar devido ao cheiro apetitoso que subia de encontro as suas narinas devido ao prato de batata frita com cheddar que o garçom havia acabado de trazer até a sua mesa. Ao provar o primeiro pedaço, a sensação daquela explosão de sabor fez com que Stella fechasse os olhos para aproveitar cada segundo do que seu paladar estava degustando.

Algumas horas depois, Leandro mais uma vez fez sinal para que o garçom viesse até eles. E quando Marcelo chegou, disse:

– Pois não.

– Queremos pedir a conta, por favor.

– Já trago para vocês. – Disse o garçom, se afastando da mesa.

Cinco minutos depois, era possível observar um pequeno papel, onde estava escrito à caneta azul os valores dos pedidos feitos por Stella e Leandro, nas mãos do garçom Marcelo. No mesmo instante, Leandro pagou a conta. E, agradecendo, se levantou da mesa e perguntou a Stella.

– Você que ir para a balada que o bar oferece, no segundo pavimento, ou prefere ir para casa?

– Eu queria ficar mais um pouco por aqui. E você?

– Podemos ficar. Também quero. Tem muito tempo que eu não curto uma balada boa.

Então a cada passo que eles davam, a cada degrau que eles subiam, com mais intensidade eles sentiam os seus tímpanos vibrarem devido as frequentes ondas sonoras que eram emitidas das enormes caixas de som, localizadas no ambiente superior. Quando eles finalmente entraram naquele ambiente, Stella sentiu que o seu corpo estava de forma automática fazendo pequenos movimentos referentes à dança, os quais eram provocados por aquela música eletrônica.

– Você curte esse tipo de música?

– Eu escuto de tudo, mas para esse ambiente, esse tipo de música é o melhor. – Disse ela falando o mais alto que podia devido à música estar muito alta.

– Essa música é bem animada mesmo. – Concordou ele.

Depois de eles terem avistado um balcão muito iluminado, com letreiros e muitas frutas coloridas, eles verificaram que seus paladares eram muito refinados, principalmente quando provaram os mais diversos tipos de drinks que aquele lugar poderia oferecer.

Sentindo que as variadas bebidas, as quais tinham o seu sabor misturado ao álcool, estavam deixando seu efeito na mente de Leandro, ele aproximou a sua boca ao ouvido de Stella devido à música alta e disse:

– Eu estou querendo muito te dar um beijo desde que eu te vi pela primeira vez naquela exposição. Será que eu posso?

– Pode. – Respondeu Stella olhando para ele.

Enquanto os seus lábios estiveram se tocando e entrelaçados um no outro, Stella sentiu o doce sabor dos beijos de Leandro. Depois de muitas tentativas em vão de pausarem o beijo, Stella ficou envolta no abraço de Leandro enquanto eles dançavam a noite toda.

Por volta das quatro horas da manhã, de repente a música parou quando uma voz masculina e bastante despojada começou a fazer um comunicado. O DJ anunciava que o baile estava chegando ao fim e que a próxima música seria a última tocada daquela noite. Quando um som lento, suave e apenas instrumental começou a invadir os ouvidos de todos que estavam presentes, mexendo com os seus estados emocionais, eles aproveitaram de forma muito mais intensa e dançaram muito a última música. Depois, foram até o caixa a fim de pagar tudo o que eles tinham consumido. E em seguida, desceram até o carro.

A falta de clareza em sua visão ao olhar para os degraus da escada, fez com que ele se lembrasse de que ele tinha consumido uma quantidade maior de bebida do que seu organismo poderia suportar para manter a sua visão em perfeitas condições. E por isso, ele não queria ir dirigindo

– E agora, o que vamos fazer? – Perguntou Stella.

– Vou ligar para a minha seguradora. Eles devem m****r um motorista para levar o carro, e um táxi para nos levar até em casa.

– É uma ótima ideia. Vamos ficar aguardando.

Passando as mãos pela calça a procura da única opção que poderia levá-los para casa, Leandro sacou o celular do bolso e discou o número de sua seguradora. Cerca de quarenta minutos depois, aproximou-se do casal, um táxi com outra pessoa no banco do carona, a qual seria a responsável por levar o carro de Leandro até em casa.

– Stella, eu vou fazer o seguinte. Vou com você no táxi até a sua casa e depois eu peço um carro no aplicativo para ir para a minha casa. Pois eles só permitem um endereço por chamado.

– Tudo bem. – Concordou Stella.

Com o avançar de apenas alguns minutos, eles foram embora. Stella desceu do táxi quando este parou em frente ao seu portão. E Leandro desceu logo em seguida. Stella percebeu seu coração acelerar por perceber que poderia desfrutar da companhia de Leandro por mais tempo até que ele conseguisse pedir outro carro pelo aplicativo. Mas enquanto Leandro abria o aplicativo, o motorista que estava conduzindo o seu carro, perguntou:

– Você está querendo ir para o mesmo endereço que este carro que estou dirigindo? Se sim, você pode entrar aqui, pois eu posso te levar.

– Isso é ótimo.

– Entre e vamos. – Disse o motorista da seguradora, sendo muito simpático e gentil com o cliente Leandro.

– Tchau, Stella. Podemos nos ver outro dia de novo?

– Podemos, sim. Boa noite.

– Boa noite. – Despediu-se ele entrando no próprio carro.

E conforme ela ouvia o ronco do motor do carro de Leandro ficando cada vez mais fraco devido à distância que entre eles ficava mais elevada, foi deixando Stella entristecida e se sentindo ansiosa pelo próximo encontro.

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