Era uma manhã ensolarada quando Ana, recém-chegada de São Paulo, decidiu ir à praça do bairro para caminhar e respirar um pouco de ar fresco. Depois das últimas semanas intensas, onde havia resolvido os detalhes da venda da fazenda da família, ela sentia a necessidade de desacelerar. Laura estava cada vez mais envolvida com a chegada dos bebês, e Ana já começava a planejar como ajudaria a nora nos primeiros meses de vida dos gêmeos.Durante sua caminhada, Ana avistou um homem sentado em um dos bancos da praça. Ele tinha cabelos grisalhos e tinha uma expressão serena no rosto enquanto lia o jornal. Ana passou por ele algumas vezes, e, em uma dessas passadas, o homem a cumprimentou com um sorriso.— Bom dia! — ele disse, com uma voz suave, porém firme.— Bom dia! — respondeu Ana, educadamente.Nos dias seguintes, a cena se repetiu. Ana passava pela praça durante suas caminhadas matinais e, invariavelmente, encontrava o homem sentado no mesmo banco, lendo o jornal. Um dia, enquanto o sol
Era uma noite tranquila na casa de Laura e Daniel. O jantar já havia sido servido, e os dois estavam na sala, descansando após um dia longo. Laura, porém, sentia que era o momento ideal para tocar em um assunto delicado que vinha adiando há alguns dias. Observando Daniel sentado no sofá, distraído com o noticiário na televisão, ela suspirou profundamente antes de se sentar ao seu lado.— Daniel, precisamos conversar — ela começou, a voz suave, mas séria o suficiente para que ele soubesse que algo importante estava por vir.Daniel abaixou o volume da TV e olhou para Laura, curioso.— Sobre o quê?Laura hesitou por um momento, escolhendo bem as palavras. Não queria pressioná-lo, mas sabia que a situação entre ele e Ana não podia continuar daquele jeito.— É sobre sua mãe. E o Antônio — disse ela calmamente, observando a reação imediata de Daniel, que franziu a testa e desviou o olhar.— Laura, eu já disse, estou tentando lidar com isso. Só que... é complicado para mim.— Eu sei que é, D
A madrugada estava silenciosa quando Laura acordou sentindo uma leve pontada no abdômen. Inicialmente, pensou que era apenas mais um desconforto comum da gravidez. Afinal, nas últimas semanas, os gêmeos haviam se movimentado bastante, e as noites de sono eram frequentemente interrompidas por chutes e viradas. Contudo, dessa vez, a sensação era diferente.Ela se levantou com cuidado, tentando não despertar Daniel, que dormia profundamente ao seu lado. Caminhou até a cozinha, bebeu um copo de água e voltou para o quarto. No entanto, ao se deitar novamente, outra pontada, e sentiu que estava toda molhada, a bolsa tinha rompido. Tinha certeza que o momento chegara, Laura olhou para o relógio: 2h45 da manhã.— Daniel… — ela chamou, e contou que estava com dor e estava toda molhada.Daniel deu um pulo da cama e perguntou:— Está na hora? — indagou, já preocupado.— Sim — disse Laura, com um misto de nervosismo e expressão de dor.Daniel correu para pegar a mala que já estava preparada há di
Laura olhou pela janela do carro enquanto Daniel dirigia calmamente pelas ruas a caminho de casa. Letícia e Leonardo estavam seguros, cada um em sua cadeirinha própria, dormindo tranquilamente. Ana os aguardava em casa, já com tudo preparado para a chegada dos netos. Apesar da serenidade do momento, a mente de Laura estava a mil. A emoção de finalmente estar indo para casa com os gêmeos misturava-se com uma crescente preocupação: como seria a vida a partir de agora?Ao chegarem, Daniel estacionou o carro cuidadosamente em frente à casa. O portão já estava entreaberto, uma cortesia de Emily, que tinha passado por lá mais cedo para garantir que tudo estivesse pronto para receber os novos moradores. A casa estava organizada, os berços montados, e um lindo buquê de flores, presente de Emily para dar as boas-vindas aos gêmeos, enfeitava a sala.— Pronto, chegamos — disse Daniel com um sorriso largo, saindo do carro e abrindo a porta para Laura. Ele tirou Letícia da cadeirinha com cuidado,
Nos dias que se seguiram à chegada dos gêmeos em casa, a vida de Laura e Daniel mudou completamente. As noites mal dormidas e a rotina intensa de cuidados com Leonardo e Letícia deixaram ambos exaustos, embora felizes. A casa estava sempre movimentada, e apesar da alegria com os novos membros da família, a pressão sobre o casal era inevitável. Foi nesse momento que Emily, a fiel amiga de Laura, se tornou uma figura fundamental na vida da família.Emily e Laura se conheciam desde os tempos de faculdade, quando eram inseparáveis. Mas, nos últimos anos, a vida havia as levado a seguir por caminhos diferentes. Emily tinha se mudado para outra cidade, casado, e a rotina de ambas havia mudado. No entanto, recentemente, o destino as trouxe de volta para perto uma da outra. Emily havia se mudado novamente para a cidade onde Laura morava. Seu marido, Alexandre, tinha sido transferido para o trabalho, o que os fez mudar para lá. Agora, Emily, que não estava trabalhando, tinha tempo livre para a
Desde a chegada de Leonardo e Letícia, a rotina na casa de Daniel e Laura tinha mudado completamente. A casa, que antes já era animada com a presença de Lucas, agora estava repleta de pequenos sons e cheiros de bebê. A dinâmica familiar virou de cabeça para baixo, e Daniel, sempre muito focado em sua carreira de juiz, logo percebeu que o desafio de equilibrar a vida profissional com a nova paternidade seria maior do que ele havia imaginado.Nos primeiros dias, Daniel estava eufórico com a chegada dos gêmeos. Tudo era uma descoberta: o cheirinho de bebê, as expressões curiosas no rostinho dos filhos, e até mesmo o choro que soava como música para ele. Mas, com o passar das semanas, a exaustão foi se acumulando. O trabalho no tribunal continuava exigente, e Daniel sentia que sua vida estava em uma constante correria.No entanto, ele sabia que não poderia deixar de ser o pai presente que sempre desejou ser. Assistia Laura se desdobrar para cuidar dos dois bebês, com a ajuda de Ana e Emil
Os últimos meses tinham sido uma verdadeira montanha-russa para Daniel. Entre o nascimento dos gêmeos e os novos desafios que surgiam em sua vida profissional, ele mal conseguia respirar. No tribunal, ele estava à frente de um caso que já era considerado um dos mais complexos e delicados de sua carreira. O processo envolvia uma rede de corrupção que afetava políticos influentes e grandes empresários, figuras de poder que, até então, pareciam intocáveis. Com a responsabilidade de conduzir o julgamento, Daniel sabia que o peso das decisões que tomaria poderia mudar o rumo de muitas vidas — inclusive a sua.Logo que o caso começou a ganhar repercussão na mídia, Daniel sentiu o peso da pressão. A mídia local e nacional seguiam cada passo que ele dava, e a cada dia surgiam novas revelações. O caso estava se tornando um escândalo de proporções nacionais, com acusações de subornos, lavagem de dinheiro e uma rede criminosa que parecia se enraizar em diversas esferas da sociedade. Daniel sabia
Era uma tarde comum de quinta-feira. Laura havia saído de casa para fazer compras no mercado enquanto Daniel cuidava dos gêmeos por algumas horas. Aproveitando o raro momento de tranquilidade, ela caminhava calmamente pelos corredores, decidindo entre diferentes marcas de fraldas e produtos para bebês. Sua mente, embora ocupada com as tarefas cotidianas, parecia ter encontrado um pequeno refúgio de paz naquele momento. Com as crianças tão pequenas e as novas exigências da maternidade em dose dupla, aquele simples ato de sair para comprar mantimentos representava um momento de respiro.Enquanto pegava alguns produtos da prateleira, sentiu uma presença ao seu lado. Um homem alto, de cabelos escuros e barba por fazer, parou perto dela, com um olhar curioso. Laura demorou alguns segundos para reconhecê-lo, mas, quando seus olhos finalmente se encontraram, o choque a atingiu como um raio.— Laura? — a voz do homem quebrou o silêncio. — Não acredito que é você.Era Marcelo. Seu ex-namorado,