Conheci Amina de vista. Ela ficou pouco tempo ao lado do pai, pois passou muito mal. Grávida de seis meses, estava muito emocionada. Então Samir, seu marido, a levou embora. Eles acharam por bem poupá-la. Ela não tinha condições nenhuma de acompanhar o enterro.Percebo que Rashid está me observando. Seu olhar é triste, acho que a realidade está o cercando novamente. Ele e seu pai eram muito unidos.—Está com fome? Quer que eu peça para Zilá trazer algo para você comer?—Não.—Você não é do tipo que faz dietas malucas, não é?—Não, só estou sem fome.—Zilá me disse que não anda comendo bem.Claro, era natural. Eu estava triste com a morte do sheik e a forma que Rashid tem me tratado. Esse era o motivo da ausência de fome.—Se estiver fazendo dieta, pode parar com isso! Você ficará doente. E seu corpo é lindo. Eu gosto do jeito que está.—Eu só ando triste com a morte de seu pai e por você me trancar no quarto.Ele me observa calado por um momento. Chego a ver ternura em seus olhos. Tud
RashidOs demônios do passado não me afligem mais, estão enterrados no profundo da minha alma. Levei muito tempo para aprender a não sentir nada por ninguém, para apagar toda a dor que Jéssica havia me infligido. A única maneira que eu conhecia de silenciar a dor era amortizar meus sentimentos e esquecer meu passado, esquecer o quanto ela me magoou.Eu tentei me libertar da minha alma insensível com Jade. Ela foi algo instigante. Ela me olhava de igual para igual, isso me fez querê-la. Ela me fez acreditar novamente que alguém pudesse me ver além das aparências. Além do meu título, com aquele deslumbramento momentâneo que eu odeio tanto.Como sinto por não ter dado certo. Se eu a tivesse conquistado, eu teria ao meu lado uma bela mulher. Mas não foi isso que acorreu. Então, cheguei à conclusão que eu não deveria ter permitido me deixar iludir novamente. Eu forço agora minha alma ficar dormente, porque se ela não estivesse dormente, eu sentiria tudo.Quando eu tenho flashes de ternura
KhadijaAcordo tarde e faço todas as refeições no quarto, como Rashid orientou. Agora à tardinha minha cabeça está latejando. Zilá não virá mais no meu quarto, só na hora do jantar.Num ímpeto de fúria, me levanto da cama e me troco. Coloco o primeiro vestido que encontro na frente e vou à procura de um comprimido para dor de cabeça.Por Allah! Ninguém merece!Eu entro na sala. Dou logo de cara com o primo de Rashid. Ele é como a maioria da família. Alto, bronzeado, cabelos negros e olhos negros. Ele me reconhece de imediato, pois seus olhos brilham nos meus ao me ver.Percebi seus olhos o tempo todo no enterro. Agora a surpresa por eu estar na casa está estampada em seu rosto.Meu coração se agita em desgosto por ter topado com ele.Khara! (Merda!) Rashid quando souber, não irá gostar nada disso. Uma fraqueza me toma e o medo se transforma em pânico quando ele sorri e se aproxima de mim. Mas graças a Allah o sofá fica entre nós.Sinto o meu coração acelerar quando vejo que seu olhar
O ar é denso com tristeza e com o desejo que sinto por ele toda vez que o vejo. Não importava se a sala tem centenas de pessoas, eu poderia enxergar Rashid entrando em um lugar entre elas a um quilômetro de distância.O primo dele também sente sua presença e fica sem graça quando o encara.—Com licença. — Aproveito para dizer e vou em direção a cozinha.Entro nela à procura de Zilá, entre os armários de madeira, bancadas de granito polido e peças em aço inoxidável. A encontro abaixada, pegando um pano de enxugar que caiu. Ela está cantando uma canção árabe, a mesma que mamãe costumava cantar quando estava feliz: Fein Habibi de Asalah.Quando ela se ergue e me vê, para de assobiar a melodia. —Zilá, você tem remédio para dor de cabeça?Ela sorri.—Temos uma maleta de primeiros socorros, temos de tudo. Espere um pouco que vou buscá-la.—Obrigada. —Respiro fundo e passo os olhos pela cozinha.Em cima de uma mesa grande, vejo um jornal. A foto me chama a atenção. Rashid ao meu lado no en
KhadijaDepois de um tempo, resolvo ir para o quarto. Acho que foi tempo suficiente para não topar com ninguém na sala. Mesmo assim meu coração bate descompassado quando estou prestes a entrar nela. Com alívio percebo não há mais ninguém.Quando abro a porta do meu quarto e dou de cara com Rashid. Ele está sentado na minha cama. Meu coração, já agitado, salta no peito e aumenta seu ritmo. Ele já tinha tomado banho. Está vestido com roupas casuais. Jeans azul claro e camiseta branca. Lindo.... Reparei que ele se cortou fazendo a barba, pois há um pouco de sangue em seu queixo.Os cabelos estão molhados e ele cheira a sabonete e loção pós-barba.—Oi. —Eu digo, com um meio sorriso.—Oi? — Ele cerrou os dentes. —Por que diabos você saiu do quarto? Por que desobedeceu minhas ordens?Allah! Que raiva toda é essa?—Eu estou com dor de cabeça, fui atrás de um comprimido.Ele passa os olhos insolentemente por meu rosto e pelo meu vestido.—Dor de cabeça mesmo? Você me parece muito bem! Saiu p
No dia seguinte acordo com a claridade do quarto. Meus olhos sonolentos procuram o relógio. Nove horas. Nessa hora ouço uma batidinha de leve na porta.Rashid costuma entrar, ele não bate para entrar. Com certeza é Zilá com alguma mensagem do patrão.—Entre.—Marḥaba! (Bom dia)—Marḥaba!—O patrão está preocupado com você. Ele te espera para o café da manhã.Com certeza o primo dele, aquele idiota, foi embora.—Oh, que amor! —Ironizei. —Diga a ele que vou tomar café no quarto. Que não me sinto bem.Zilá me olha desconfiada:—Não está grávida, está?—Allah! Não!—Então por que todos esses dias ficou no quarto indisposta?Zilá não sabia do terço a metade.—Peguei uma virose. Rashid não falou?—Falou. —Ela diz observando meu rosto. —Mas eu não acreditei.Quando ela sai, levanto-me preguiçosamente e vou até o banheiro. O reflexo do espelho mostra um rosto triste, mas meu olhar tem aquele brilho resoluto de valorização. Eu preciso ser forte. Não cair nas teias da sedução de Rashid. Ele pre
Eu suspiro quando eu sinto as suas palavras esvoaçantes sobre a minha orelha. Há algo no jeito que ele me chama de linda que acende um fogo interno dentro de mim.—Eh? Mais que Emma Summers?Ele sorri, eletricidade espalha por meu corpo.—Aquela loira aguada?Eu ri.—Loira aguada? Ela é linda!—Muito magra, muito branca, os olhos azuis têm uma frieza nada atrativa e eu sou louco por você. Nenhuma mulher provoca reações no meu corpo como você.Um sorriso lascivo se espalha pelo seu rosto. Meu coração se agita e queixo cai com sua repentina declaração e eu esqueço tudo, até a minha promessa de mantê-lo afastado de mim.Chegamos e logo estamos no meu quarto. Seu polegar afaga meu lábio inferior, e eu deixo escapar um suspiro quando ele me puxa para mais perto. Eu envolvo meus braços em volta de sua cintura, deslizando dentro de seu terno negro enquanto seus lábios caem contra o meu. Ele ri contra os meus lábios e toma as minhas mãos nas suas, me impedindo de despi-lo.Ele tira o meu fôle
Meia hora depois eu mergulho em um sono profundo com sonhos desencontrados. Imagens confusas. Quando abro meus olhos, o quarto já está claro e dou com um par de olhos negros na minha direção.—Oi. —Eu digo rouca.Lembro-me que quando me dei conta do quanto eu o amo, eu me senti sem chão. Chorei muito. Foi como se entrasse num sentimento sem volta, numa gaiola sem chave. Tento achar dentro de mim a sensação de liberdade nisso tudo. Afinal viver um sentimento é se desprender de pensamentos contraditórios, é ter fé que tudo dará certo.—Oi. —Ele diz rouco.Sua boca encontra a minha em um beijo de tirar o fôlego. Nossos lábios se encaixam perfeitamente, e talvez por isso fosse sempre tão intenso, tão profundo. Investidas de urgência dos dois lados, ambos nos beijando, nos tocando. Excitante demais.Quando nos afastamos seus olhos escuros estão me estudando com nenhuma emoção. O silêncio no quarto é irritante. Cada leve movimento, cada som é ampliado uma centena de vezes. Eu posso ouvir no