(Renata Pellegrini) — Eu... não quero conversar com você. — Digo e desvio o olhar, eu sei que não é justo julgar alguém sem antes ouvir o outro lado da história e também não tenho razões nenhuma para acreditar em Vicenzo, mas as lembranças estão fortes demais. — Entenda, eu sei... — Dominic começa a falar. — Ela disse não. — Vicenzo o interrompe de forma grosseira enfatizando a minha resposta. — Já está na hora de ir para sua casa, Dominic. — Não saio daqui sem la mia nipotina! — “ a minha neta”, Dominic fala autoritário. — E não venha com essa de ela disse não, aqui a mulher só tem fala se o seu responsável permitir, e eu sou o responsável dela. Você sabe como as coisas funcionam... — Você não é nada meu! — Grito e levanto-me. — EU nem sequer sei quem você é, como acha que pode ter qualquer tipo de autoridade sobre mim? — Eu sou o seu nonno! — ‘avô’ — Estive te procurando por muitos anos. — Você para mim não é nada! — Falo com nojo, posso não ter ouvido a versão dele da histór
(Renata Pellegrini) Observo uma mulher com uniforme colocar a comida no meu prato, o cheiro da lasanha impregnando as minhas narinas, faz o meu estômago remexer. Eu nem lembro a última vez que comi. Não consigo evitar as lembranças, este é o segundo prato que o meu pai amava fazer. Se fosse antigamente, eu me sentiria acanhada por ter alguém colocando a comida para mim, como se eu fosse uma inválida, mas, após sair tanto com Filippo para restaurantes, jantares sociais de negócios, eu já me acostumei. E é assim que eu encaro esta casa, é só um local o qual estou a visitar, logo-logo estarei longe daqui. Sinto vontade de protestar sobre a quantidade colocada em meu prato, mas preciso manter a etiqueta. Assim que a mulher sai da sala de jantar, eu começo a comer, infelizmente, para a etiqueta, eu não consigo manter a calma e como rápido, creio que não levei nem um minuto para acabar com a pequena fatia. — Estava gostoso? — Dominic se pronuncia, fazendo-me lembrar da sua existência.
(Filippo Valentini) Depois que o médico terminou com o meu braço, fiquei mais algumas horas olhando para o portão, numa falsa esperança de que ela voltaria. Mas isso não aconteceu, aquele merda conseguiu levá-la de mim e nesse momento estão com tanto ódio que estou usando todo o meu auto-controle para não sair quebrando tudo. — Filippo, venha jantar. — A voz de Laís tinha a minha concentração do portão. — Estou sem fome. — Digo sem olha-la. A bebe começa a chorar no seu colo, isso faz-me desviar o olhar e ver a esposa do meu irmão Matteo com a bebê nos braços, tentando a fazer parar de chorar enquanto fala palavras doces faz os meus pensamentos voltarem para Renata. Daqui a alguns meses, o bebê estará fora da sua barriga, nos seus braços, ela irá olhar com amor para criança... criança essa que pode não ser minha, mas assumirei. — O que aconteceu? Vicenzo também disse que está sem fome e se trancou no escritório. Vocês saíram e voltaram banhados em sangue. — Pensei que a única co
(Renata Pellegrini) — O seu olhar é igualzinho o da mia sorella. — ‘a minha irmã', a voz de um homem estranho atrás de mim, faz eu assustar-me, olho para trás e a primeira coisa que vejo é o abdômen dele bem definido, subo o meu olhar e ao fixar as minhas vistas no rosto dele sinto toda a minha cara esquentar de vergonha. Desvio e olhar e abaixo a cabeça, céus, esse é o homem que flagrei lá em cima com a mulher amarrada! Tomara que ela não me tenha visto. — Demétrio, figlio. — ‘filho’, Dominic fala, isso faz-me entender que o homem que flagrei é o meu zio! ‘tio’. Céus! Que vergonha! — Não vai olhar para mim, mia nipote? — ‘a minha sobrinha’. Demétrio diz. Fecho os olhos com força e respiro fundo, viro-me e fico de frente para ele. — Você é igualzinha a minha fratella. — Demétrio diz e segura a minha mãe, no mesmo instante eu puxo, só ele e Deus sabe onde ele estava com as mãos e pela sua pouca roupa — apenas um roupão por cima de uma bermuda —, tenho certeza que não tomou banho
(Renata Pellegrini) — Rê! — Escuto a voz de Caio chamando-me, olho para a sua direção e ele vem correndo para onde estou. Não consigo segurar e choro no seu ombro, ele me aperta mais forte dentro do abraço. Faz uns cinco minutos que sai de dentro do jatinho, eu fui deixada em lugar que eu não conhecia, antes de vim, pedi para ligar para Amanda, pedi para ela vir buscar-me, mas quem apareceu foi Caio. Amanda deve estar muito ferida, isso deixa-me preocupada. — Calma, agora você está em segurança. — Caio sussurrou no meu ouvido. — Como Amanda está? — Pergunto me acalmando. — Ela está melhorando... eu deixei-a na sua casa, ela está agora. Vem, vou levar-te. Sigo Caio até o seu carro. Ele abre a porta para mim, durante o caminho de volta para casa, penso em Filippo, dessa vez foi eu quem fui embora sem dizer nada a ele, mas, diferente de mim, ele sabe onde me encontrar. — Renata? — De longe escuto a voz de Caio. — O-oi. — Falo piscando os olhos e o encaro. — Você está bem? — Perg
(Filippo Valentini) — Filippo! — Escuto a voz de Vicenzo chamando-me e paro de esmurrar o saco de pancada. — Oi. — Respondo ao chamado e volto a esmurrar o saco. — Dominic e Demétrio daqui a pouco vão chegar aqui. Imediatamente para de bater a seguro o saco de pancada para ele parar de balançar e fazer barulho. — Por que? — Indago olhando-o. Vicenzo encosta-se na parede e cruza os braços, o seu semblante sério. — Falaram que queria conversar sobre o seu casamento com Renata. — Faltam dois dias para o casamento. — E eu nem falei com a mamma e a Laís, mas será uma cerimonia simples, afinal você já desonrou a noiva mesmo. — Vicenzo para de falar e fica me observando, eu não o respondo, sei que no nosso mundo ter relações antes do casamento é desonrar a família da moça e este motivo pode levar a guerra, mas eu não sabia que ela era a minha noiva e o mundo ao qual eu pensei que ela pertencia, é normal sexo antes do casamento. — Senhor. — A voz de uma funcionária chama a nossa ate
(Renata Pellegrini)— Tem certeza que não quer ficar para o almoço? — Questiono enquanto acompanho Caio até a porta.— Eu preciso ir visitar a minha namorada. — Ele diz triste.O meu coração dói por ele, Caio sempre foi um bom amigo e quando ele finalmente estava feliz com uma ótima garota... infelizmente, a pouco mais de duas semanas descobrimos que ela está com câncer de ovário, ainda está na fase inicial então ainda tem grandes chances de cura. Rezo muito por eles.— Amanhã eu irei visitá-la. — Falo, desde que ela se internou ainda não fui visitá-la no hospital.Bem, por longos três dias eu fiquei em cárcere, mas quatro dias antes ela foi internada e eu não tive tempo de ir, eu estava sempre trabalhando e indo para as consultas, e fui adiando e adiando... até que aconteceu o sequestro...— Se recupere primeiro, você também passa por uma fase difícil. — Caio beija a minha testa e, simultaneamente, abre a porta. — Se cuida, tá bem?— Sim, se cuida também, tá?— Tá bem. — Caio respond
(Filippo Valentini) Observo os móveis revirados, a minha coleção de armas espalhadas no chão, vidraças espatifadas. Mesmo tendo extravasado um pouco da raiva, ela ainda queima em mim. Encosto-me na parede e sento no chão. As imagens da dor nos olhos dela, enquanto me dizia o quanto eu não sabia de nada, das lágrimas que caiam dos seus olhos enquanto falava com a voz esganiçada, eu machuquei-a demais. Lembrar disso deixa o meu coração dolorido, estou com a respiração ofegante, sinto que estou perdendo as coisas mais importantes e me sinto impotente, isso está me deixando louco! Desde o início, eu sabia que iria machucá-la, mas eu não fazia ideia do quanto. Eu pisei no sonho dela de ser mãe, bem eu também queria que ela fosse a mãe dos meus filhos, mas não quis iludi-la, ao menos nisso, eu tentei ser transparente… mas… eu deveria ter ficado calado, arrependo-me tanto das coisas que disse a ela. Renata não merecia o que fiz. Não me seguro mais, deixo as lágrimas descerem. Nesse mome