Ponto de Vista de ScarlettExiste alguém mais gentil neste mundo? Olho para Adrian, sentindo uma pontinha de inveja de Aurora, porque ela está sendo amada por uma pessoa tão boa.Mas eu não posso.— Quero ser sua amiga, Adrian Dunn. — Balanço a cabeça, sentindo um aperto no peito. — Então, não posso ser um fardo para você. Você entende, não é?Adrian me olha com um semblante triste. Ele entende, eu sei. Falar com ele tem sido tão fácil.— Você está me insultando ao insinuar que proteger uma garota me exige tanto assim. — Ele diz, meio brincando. — Não poderei te proteger direito se você for embora, ainda mais para um lugar tão longe. Mas aqui, posso te prometer que eles não conseguirão tirar mais uma gota do seu sangue se você não quiser.Isso é muito doce e generoso, mas eu não posso colocar esse peso nos ombros de Adrian. Já me sinto culpada o suficiente por ter aceitado tanta ajuda dele. Ainda mais por causa de um mal-entendido. Não é certo.— Eu já sei me cuidar. — Digo quando ele
Ponto de Vista de ScarlettAdrian permaneceu em silêncio enquanto nos acomodávamos no carro e saíamos do estacionamento.Me pergunto se contei demais.Acho que, quando alguém demonstra certa parcialidade por você, torna-se irresistível despejar toda a dor que carrega. Estou começando a entender melhor a Ava.Mas ele não é meu. Ele é da Aurora, e eu estou a caminho de encontrar minha verdadeira família, aquela para quem poderei chorar sem me sentir um fardo.Nunca quis admitir isso, mas eu invejo a Ava. Muito. Invejo o fato de que ela pode ser amada por tantos e ser tão caprichosa sem se preocupar, enquanto eu, mesmo dando o meu melhor, nunca consegui sequer um olhar de carinho da mesma família e dos mesmos amigos que ela tem.Será que meus pais me amariam tanto quanto os Fullers a amam?Se eu tivesse nascido com essa doença horrível, mas ao lado dos meus verdadeiros pais, eles também fariam de tudo para comprar um escravo só para garantir minha segurança? Não quero que sejam tão cruéis
Ponto de vista de Scarlett— Eu vou fazê-lo pagar! — O rugido de Jack Fuller soou como uma saudação logo quando saí do elevador. Eu nem precisei pedir informações para encontrar a Ala 713.— Ele já está preso, papai! — Ava riu, como a anja que é. — Eu já sabia quando aquela garota pulou daquele prédio! Acho que maçãs não caem muito longe da árvore.Houve um momento de silêncio.— Anna, os relatórios já devem estar prontos agora. — Jack Fuller disse de repente, do nada, e, em pânico, deslizei para o quarto ao lado. Eu não estava exatamente bisbilhotando, mas agora me sentia culpada pra caramba.Ela passou pela minha porta logo em seguida, e eu fechei a porta, colocando o ouvido na parede compartilhada com a Ala 713. Jack Fuller a havia mandado sair de propósito. O que será que ele tinha para conversar com Ava que a própria esposa dele não poderia ouvir?— Limpe suas redes sociais sobre aquela garota. — Jack Fuller continuou mantendo a voz tão baixa que eu mal conseguia ouvi-lo pela pare
POV da ScarlettMeus ciclos menstruais nunca foram regulares, mas, ainda assim, eu deveria ter percebido.Náusea, cansaço, mudança no paladar... Você acharia que seria óbvio, mas você só percebe, depois, quantos sinais ignorou.Assim como eu venho ignorando os sinais gritando para mim de que o homem com quem eu estava casada nunca me amaria de volta, por mais que eu tentasse.Eu vim para a consulta de saúde pensando: "Qual é a pior coisa que pode acontecer? Se fosse câncer, eu conseguiria lidar."Mas com isso eu não conseguiria lidar.Um bebê.A melhor coisa chegando no pior momento.Não sei quando sentirei aquele amor materno poderoso que sempre ouvi falar, mas tenho certeza da reação DELE. Ele vai odiar o bebê.É melhor que seja apenas um câncer. Pelo menos isso faria um de nós feliz.Sentada no lobby movimentado do andar da maternidade, sozinha, tento absorver a notícia. Meus esforços são em vão. De repente, meus olhos se enchem de lágrimas, enciumada pelos casais felizes e amorosos
POV da ScarlettSentada no táxi a caminho de outro hospital – o hospital onde ELA está, para vê-lo. Eu me sinto mal. Enjoo de carro, enjoo matinal, ou apenas... enjoo dessa viagem.Essa é a viagem que mais odeio, e é uma viagem que venho fazendo há dez anos: ela está sempre no hospital, e ele está sempre perto dela, mesmo antes do nosso casamento.Isso é o que acontece quando o homem de quem você gosta ama sua irmã que tem a doença de von Willebrand, combinada com o tipo sanguíneo RH-, nada menos.Sim, a doença em que a pessoa não pode se curar de sangramentos, com o tipo sanguíneo que apenas 0,3% das pessoas possuem.Até mesmo um pequeno corte no dedo pode ser letal para ela. Por isso, ela é o tesouro mimado de toda a família, a intocável, o milagre que consegue tudo o que quer só por existir.Eu? Até a minha existência é ignorada.Meus pais só têm Ava em seus olhos. Meu irmão me odeia como se eu tivesse roubado a minha saúde de Ava.Não, eu apenas roubei o homem dela.Mas eles já me
POV da Scarlett— O transplante de medula óssea foi há três meses, boba.A risada de Sebastian segue o pedido dela até o corredor vazio.Coloco minha mão na maçaneta da porta, mas não consigo encontrar forças para girá-la. Já vi o quanto eles são carinhosos um com o outro, tantas vezes, por tanto tempo.Como se fosse uma tortura, eu simplesmente fico ali parada, ouvindo.— Hoje é só um check-up de rotina, e o resultado tem sido bom todas as outras vezes, não é? — Sebastian conforta.Eu podia ver o sorriso carinhoso dele na minha cabeça enquanto ele acalma o amor de sua vida, sua mão poderosa acariciando a cabeça dela como se ela fosse a flor mais delicada do mundo.Esse calor e esse amor são algo que eu só experimentei uma vez dele e, naquela única vez, eu pensei que tinha tocado o sol. Por aquele único momento de luz que vi na minha vida sombria, eu me joguei em direção ao sol, apostando com tudo o que tinha.E, assim como o sol, ele me queimou.Não importa o quanto eu o amasse, não
POV da ScarlettApago o cigarro na lixeira quando a porta dela se abre.Sebastian franze a testa para mim, permanecendo na porta, a meio corredor de distância de mim. Ele me odeia fumando. Ele me encararia, me repreenderia ou, como agora, ficaria longe, com nojo estampado no rosto.É um hábito nojento, mas uma mulher precisa de ALGO para liberar a dor no peito ou ela vai explodir. Mas, pensando bem, se sua delicada Ava pudesse ter esse hábito, ele com certeza se juntaria a ela.— Então?Ele coloca uma mão no bolso, me encarando enquanto finalmente se aproxima. Ele faz isso quando está impaciente. Como, o tempo todo comigo.Olho para o rosto dele, bonito e dominante, igualzinho ao dia em que ele me encontrou naquela floresta. Mas, naquela época, aqueles olhos eram claros como cristal, com brilhos como a Via Láctea. Agora, são pura escuridão de ódio.Ele estala os dedos para chamar minha atenção.— Desculpe...Eu desvio os olhos para o chão, puxando os papéis do divórcio. Ele estica a mã
POV da ScarlettAurora ainda me levou ao aeroporto. Mas não me deu minha passagem.Colocou uma xícara de chocolate quente nas minhas mãos e me encara do outro lado da mesinha do McDonald's, como uma mãe feroz julgando sua filha que fugiu da escola.— Eu ACABEI de descobrir isso hoje... — Começo timidamente e, instantaneamente, ela retruca:— Sim, você já disse isso!Não é como se eu tivesse planejado tudo isso. Baixo os olhos para o meu chocolate quente, não consigo olhar para ela. Ela está brava, e eu sei o motivo.Ela vem de uma família rica. Bonita, popular, com pernas perfeitas, etc. Mas não nasceu rica. Viu sua mãe solteira se matar de trabalhar para criá-la, odiando seu pai irresponsável a vida inteira, apenas para descobrir que ele não as abandonou, como sua mãe sempre lhe contou. Foi sua mãe quem pediu o divórcio.Ela está me vendo fazer exatamente a mesma coisa.— Não vou ensinar o bebê a odiá-lo... — Murmuro, sem coragem de olhar para a raiva no rosto dela. Eu sei o quanto e