Ponto de vista de ScarlettEu dormi no quarto em que estive nos últimos cinco anos. Sozinha, mas ele já me trazia uma paz há muito perdida. Sebastian cumpriu sua promessa e me deu a casa inteira para mim. Acordei com minha rotina, na minha própria casa, com um humor revigorante que nada poderia arruinar. Até que me lembrei que o aniversário da Ava era em três dias. As festas de aniversário dela sempre foram um dos eventos mais sofisticados da cidade, com todos os tipos de celebridades presentes. Claro, ela tem se destacado como atriz jovem, com papéis comprados ou conquistados, mas essas pessoas estão bem além do nível de amizades que ela poderia fazer. Elas não estão ali por ela, nem pelo sobrenome Fuller de segunda linha. Elas estão ali porque Sebastian foi a estrela da festa de aniversário dela por tanto tempo quanto eu me lembro. Este ano, ele não participou do planejamento. Seu nome ficou bem distante da festa de aniversário dela, até mesmo da lista de convidados. I
Ponto de vista de Scarlett— Eu aprecio sua confiança. — Essas foram as primeiras palavras de Sebastian no caminho para a casa dos Fuller.— Não vou deixar você ficar sozinho com a Ava. — Cruzei os braços e desviei o olhar.Ele soltou uma leve risada.Eu confio nele. Confio que ele não mente e confio que ele acha que tem feito as coisas certas. Mas é só isso. Não confio nele em muitas outras coisas, além das questões envolvendo Ava. Ele não sabe das minhas conexões com os Vanderbilt, não sabe da mentira da Ava e... do nosso bebê.— Eu... — Hesitei, ponderando qual segredo poderia ser o mais leve para contar. — O que mudou na sua atitude em relação a mim, tão de repente?Eu queria saber se poderia confiar nele com algum dos meus grandes segredos.Ele olhou para mim pelo espelho retrovisor e um sorriso amargo surgiu nos lábios dele, com uma pitada de ironia.— O que? — Franzi a testa.— Nada. — Ele olhou para a estrada, respondendo como se estivesse em uma entrevista. — Acho que
Ponto de Vista de Scarlett — Você está aqui para se gabar?! A villa inteira estava coberta pelo brilho laranja do crepúsculo, projetando uma sombra sangrenta e surreal sobre a superfície verde-clara do lago. Sebastian parou ao lado da árvore de faia mais próxima do lago, e eu caminhei até Ava, que estava na plataforma que se estendia sobre a água, com os braços cruzados sobre o peito. Estas foram as primeiras palavras dela quando me aproximei. Olhei para trás, em direção a Sebastian. Ele estava apoiado na árvore de faia, com uma perna dobrada de forma descontraída, tão distante que não conseguia ver claramente sua expressão. — Por que você não disse isso enquanto ele ainda podia ouvir? — Retruquei, e Ava se virou com um olhar gelidamente sereno. Naquele momento, eu não entendia completamente esse olhar. — Você finalmente o roubou de mim. Ele não responde mais às minhas mensagens, e nem fala comigo mais. Você está feliz agora? — Ava disse, fria, ignorando o meu sarcasmo.
POV da ScarlettMeus ciclos menstruais nunca foram regulares, mas, ainda assim, eu deveria ter percebido.Náusea, cansaço, mudança no paladar... Você acharia que seria óbvio, mas você só percebe, depois, quantos sinais ignorou.Assim como eu venho ignorando os sinais gritando para mim de que o homem com quem eu estava casada nunca me amaria de volta, por mais que eu tentasse.Eu vim para a consulta de saúde pensando: "Qual é a pior coisa que pode acontecer? Se fosse câncer, eu conseguiria lidar."Mas com isso eu não conseguiria lidar.Um bebê.A melhor coisa chegando no pior momento.Não sei quando sentirei aquele amor materno poderoso que sempre ouvi falar, mas tenho certeza da reação DELE. Ele vai odiar o bebê.É melhor que seja apenas um câncer. Pelo menos isso faria um de nós feliz.Sentada no lobby movimentado do andar da maternidade, sozinha, tento absorver a notícia. Meus esforços são em vão. De repente, meus olhos se enchem de lágrimas, enciumada pelos casais felizes e amorosos
POV da ScarlettSentada no táxi a caminho de outro hospital – o hospital onde ELA está, para vê-lo. Eu me sinto mal. Enjoo de carro, enjoo matinal, ou apenas... enjoo dessa viagem.Essa é a viagem que mais odeio, e é uma viagem que venho fazendo há dez anos: ela está sempre no hospital, e ele está sempre perto dela, mesmo antes do nosso casamento.Isso é o que acontece quando o homem de quem você gosta ama sua irmã que tem a doença de von Willebrand, combinada com o tipo sanguíneo RH-, nada menos.Sim, a doença em que a pessoa não pode se curar de sangramentos, com o tipo sanguíneo que apenas 0,3% das pessoas possuem.Até mesmo um pequeno corte no dedo pode ser letal para ela. Por isso, ela é o tesouro mimado de toda a família, a intocável, o milagre que consegue tudo o que quer só por existir.Eu? Até a minha existência é ignorada.Meus pais só têm Ava em seus olhos. Meu irmão me odeia como se eu tivesse roubado a minha saúde de Ava.Não, eu apenas roubei o homem dela.Mas eles já me
POV da Scarlett— O transplante de medula óssea foi há três meses, boba.A risada de Sebastian segue o pedido dela até o corredor vazio.Coloco minha mão na maçaneta da porta, mas não consigo encontrar forças para girá-la. Já vi o quanto eles são carinhosos um com o outro, tantas vezes, por tanto tempo.Como se fosse uma tortura, eu simplesmente fico ali parada, ouvindo.— Hoje é só um check-up de rotina, e o resultado tem sido bom todas as outras vezes, não é? — Sebastian conforta.Eu podia ver o sorriso carinhoso dele na minha cabeça enquanto ele acalma o amor de sua vida, sua mão poderosa acariciando a cabeça dela como se ela fosse a flor mais delicada do mundo.Esse calor e esse amor são algo que eu só experimentei uma vez dele e, naquela única vez, eu pensei que tinha tocado o sol. Por aquele único momento de luz que vi na minha vida sombria, eu me joguei em direção ao sol, apostando com tudo o que tinha.E, assim como o sol, ele me queimou.Não importa o quanto eu o amasse, não
POV da ScarlettApago o cigarro na lixeira quando a porta dela se abre.Sebastian franze a testa para mim, permanecendo na porta, a meio corredor de distância de mim. Ele me odeia fumando. Ele me encararia, me repreenderia ou, como agora, ficaria longe, com nojo estampado no rosto.É um hábito nojento, mas uma mulher precisa de ALGO para liberar a dor no peito ou ela vai explodir. Mas, pensando bem, se sua delicada Ava pudesse ter esse hábito, ele com certeza se juntaria a ela.— Então?Ele coloca uma mão no bolso, me encarando enquanto finalmente se aproxima. Ele faz isso quando está impaciente. Como, o tempo todo comigo.Olho para o rosto dele, bonito e dominante, igualzinho ao dia em que ele me encontrou naquela floresta. Mas, naquela época, aqueles olhos eram claros como cristal, com brilhos como a Via Láctea. Agora, são pura escuridão de ódio.Ele estala os dedos para chamar minha atenção.— Desculpe...Eu desvio os olhos para o chão, puxando os papéis do divórcio. Ele estica a mã
POV da ScarlettAurora ainda me levou ao aeroporto. Mas não me deu minha passagem.Colocou uma xícara de chocolate quente nas minhas mãos e me encara do outro lado da mesinha do McDonald's, como uma mãe feroz julgando sua filha que fugiu da escola.— Eu ACABEI de descobrir isso hoje... — Começo timidamente e, instantaneamente, ela retruca:— Sim, você já disse isso!Não é como se eu tivesse planejado tudo isso. Baixo os olhos para o meu chocolate quente, não consigo olhar para ela. Ela está brava, e eu sei o motivo.Ela vem de uma família rica. Bonita, popular, com pernas perfeitas, etc. Mas não nasceu rica. Viu sua mãe solteira se matar de trabalhar para criá-la, odiando seu pai irresponsável a vida inteira, apenas para descobrir que ele não as abandonou, como sua mãe sempre lhe contou. Foi sua mãe quem pediu o divórcio.Ela está me vendo fazer exatamente a mesma coisa.— Não vou ensinar o bebê a odiá-lo... — Murmuro, sem coragem de olhar para a raiva no rosto dela. Eu sei o quanto e