SENTADA SERENAMENTE NAQUELE ESTOFADO, tia Peg se parecia apenas com uma pessoa normal e amargurada enquanto encarava o chão, e não a anciã misteriosa que sabia muito mais do que o pouco que sempre ousava revelar. Sua postura me corroía, me sangrava, exatamente por ter plena consciência de que não havia muito que eu pudesse fazer para inverter a situação. Ver minha tia ruindo um pouco mais a cada dia era terrível, e exigir respostas parecia ser ainda pior, mas parecia não haver nada que fizesse mais sentido naquele momento.
― A Grande Roda parece estar brincando com nosso mundo, nos aprisionando numa maré de repetições tortuosas que se repetem de erro após erro... e eu... eu não sei como parar isso! Eu não sei! ― ela enfiou o rosto entre as mãos, e meu senso primitivo de sanidade considerou as pr
O CAMINHO ERA TORTUOSO E CHEIO DE PEDREGULHOS soltos que me faziam tropeçar a cada passo dado, me fazendo perguntar interiormente se havia sido uma boa ideia sair sozinha àquelas horas enquanto tentava seguir o ponto branco a minha frente, que abria as asas de momento em momento e exclamava sons estranhos que eu achava impossíveis de serem reproduzidos.Herman às vezes voltava o longo pescoço para trás, como se quisesse ter certeza de que eu ainda o estava seguindo, e eu podia jurar que conseguia captar um leve vislumbre de satisfação nos olhos amarelados dele.― Não me olhe assim! ― eu tiritei irritada, tentando encontrar um ângulo aceitável com a sola das botas enquanto firmava os pés na trilha escolhida pelo mamífero cheio de características exoestranhas ― Eu ainda sinto vontade de estrangular voc
― Lizzie e Izzie! Parem! Parem agora mesmo! Isso é uma ordem! ― o grito de Arbo cortava o campo de uma ponta a outra enquanto fingia não estar tentando perseguir suas irmãs sem sucesso. ― Eu estou avisando. Eu realmente estou começando a me enfurecer! ― Arbo tirintou, um segundo antes de ser jogada por cima de uma mureta quando uma das gêmeas lançou as duas mãos em sua direção.Elizabeth e Isabelle riram histericamente, recomeçando a correr e continuando a carregar um sutiã de Arbo para longe.Um sutiã revelador estampado com ursinhos dançarinos.― Eveline e Yohanna! Prestem atenção! ― Arena ralhou, chamando novamente nossa atenção com a ajuda de um taco de madeira, entalhado nas pontas com o mesmo símbolo que eu ainda não havia conseguido
EU QUERIA FALAR COM ELE.Eu não queria falar com ele.Eu considerava seriamente essas duas opções enquanto rabiscava palavras aleatórias em meu caderno de anotações enquanto achava que Arena não estava percebendo. A sala não era branca, como uma sala de uma escola normal. Ao contrário, as paredes em tons de pastel e âmbar eram tatuadas com o que pareciam ser holografias de símbolos, imagens de guerras, estatuetas egípcias, frases familiares extraídas de tratados antigos e várias outras menções que eu nem sempre conseguia entender. E as holografias mudavam de minutos em minutos. A porta de madeira escura estava aberta, o silêncio significante afirmava que a Academia estava completamente vazia.Ao meu lado, Hanna parecia realmente atenta â explicação,
P A R T E II _ L Á G R I M A S D E S A N G U E“As suas palavras, trago-as escritas no coração com as lágrimas de sangue”._Almeida Garret, in MOISÉS, MassaudEU ERA A CURA.Raios! Como não havia visto isso antes? Uma maldita cura! O único real motivo de ter atraído Jade.E Eron.Por um momento, tudo fez sentido. Seria este o motivo sólido por Eron ainda não ser meu namorado? Ou por mais exatamente, ele nunca ter me pedido em namoro? Apenas porque queria se curar e estava experimentando pequenas seções diárias para seu mal das Trevas crônico? Provando pequenas doses que pusessem minha evidente utilidade em teste? Uma maldita experiê
A LUZ TREMELUZENTE E AMARELADA ENVIAVA jorros de claridade pálida em tons de sépia sobre a pele polida de Arena, a única além de mim a permanecer na mansão Pinnbolrg depois de Layan ser transferido para a enfermaria Central na Catedral Elementar. Muito agitada, eu nem mesmo cogitara a possibilidade de voltar para a mansão Hatthwey ou para qualquer outro lugar.Não quando minha mãe estava mais perto que nunca, esperando por um resgate, mais uma vez, que parecia não haver como ser executado tão cedo.A cena seria cômica até certo ponto, se os fatos não fossem tão aterrorizantes e dignos de tensão. Arena caminhando de um lado para o outro, balançando as mãos e murmurando sussurros sem sentido, eu, sentada estática num puf redondo perto da lareira e tentando assimil
PELOS PRÓXIMOS DOIS DIAS, MEU mundo se resumiu a lâminas, golpes e horas intensas de corrida por todo o perímetro do campo aberto da Academia Elementar, que deveria ser o equivalente a pelo menos dois campos de Rúgbi.Tia Peg deve ter automaticamente conciliado todo este esforço sobre-humano à viagem até Tríade, se restringindo a fazer perguntas e preparando nosso café da manhã com vigor escaldante, enchendo Hanna e eu com porções suficientes para satisfazer um Urso esfomeado de porte razoável. O interessante era que eu estava disciplinadamente comendo tudo e quase implorando por mais, tendo a leve sensação de que até a hora do almoço, eu já havia gasto o dobro do que já havia ingerido, meu metabolismo se encarregando de fazer loucuras em meu organismo. Nas prim
― AW, PORCARIA.Hanna guinchou em algum momento.Eu estava bastante ocupada com a tarefa de olhar embasbacada para nossos embosqueiros para lhe dar atenção, pensando que a vida havia sido curta demais para terminar ali. Examiná-los de forma chocada antes de ser estraçalhada me pareceu ser a coisa mais óbvia a fazer, já que decididamente não haviam muitos lugares para correr. Os únicos disponíveis estavam sendo rapidamente contaminados por Renegados cujas almas haviam servido de alimento de poder e juventude para malignas Falanges das Trevas, sombras efêmeras e altamente inumanas nos enviando olhares vazios e ao mesmo tempo selvagens, resolutos. Chispas de animosidade cintilando pelo ar, dizendo de todas as formas que as coisas não tinham como dar mais erradas que isso.― Alguma coisa está bastant
DESDE QUE ACORDARA, UM FERVOR LIGEIRAMENTE desagradável borbulhava em minhas veias, como se meu sangue houvesse se transformado em ácido. Algo sobre a verdade da dor se corrompia em meio aos pequenos acessos de combustão abrasiva que se enroscava por mim numa marcha constante. Até meu fôlego parecia preso no peito enquanto a sensação me inundava numa torrencial tempestade de fogo.E quando Eron trancou nossa ligação, a sensação se foi.E mesmo respirando aliviada, algum pressentimento horrível destruía qualquer paz, uma dor mil vezes maior aferroando meu coração enquanto eu tentava imaginar o que aquilo poderia significar.Zoe já havia saído há muito tempo, indo verificar o perímetro mais uma vez, conforme instruiu Havana, Hanna havia se tocado a tempo e