P A R T E II _ L Á G R I M A S D E S A N G U E
“As suas palavras, trago-as escritas no coração com as lágrimas de sangue”.
_Almeida Garret, in MOISÉS, Massaud
EU ERA A CURA.
Raios! Como não havia visto isso antes? Uma maldita cura! O único real motivo de ter atraído Jade.
E Eron.
Por um momento, tudo fez sentido. Seria este o motivo sólido por Eron ainda não ser meu namorado? Ou por mais exatamente, ele nunca ter me pedido em namoro? Apenas porque queria se curar e estava experimentando pequenas seções diárias para seu mal das Trevas crônico? Provando pequenas doses que pusessem minha evidente utilidade em teste? Uma maldita experiê
A LUZ TREMELUZENTE E AMARELADA ENVIAVA jorros de claridade pálida em tons de sépia sobre a pele polida de Arena, a única além de mim a permanecer na mansão Pinnbolrg depois de Layan ser transferido para a enfermaria Central na Catedral Elementar. Muito agitada, eu nem mesmo cogitara a possibilidade de voltar para a mansão Hatthwey ou para qualquer outro lugar.Não quando minha mãe estava mais perto que nunca, esperando por um resgate, mais uma vez, que parecia não haver como ser executado tão cedo.A cena seria cômica até certo ponto, se os fatos não fossem tão aterrorizantes e dignos de tensão. Arena caminhando de um lado para o outro, balançando as mãos e murmurando sussurros sem sentido, eu, sentada estática num puf redondo perto da lareira e tentando assimil
PELOS PRÓXIMOS DOIS DIAS, MEU mundo se resumiu a lâminas, golpes e horas intensas de corrida por todo o perímetro do campo aberto da Academia Elementar, que deveria ser o equivalente a pelo menos dois campos de Rúgbi.Tia Peg deve ter automaticamente conciliado todo este esforço sobre-humano à viagem até Tríade, se restringindo a fazer perguntas e preparando nosso café da manhã com vigor escaldante, enchendo Hanna e eu com porções suficientes para satisfazer um Urso esfomeado de porte razoável. O interessante era que eu estava disciplinadamente comendo tudo e quase implorando por mais, tendo a leve sensação de que até a hora do almoço, eu já havia gasto o dobro do que já havia ingerido, meu metabolismo se encarregando de fazer loucuras em meu organismo. Nas prim
― AW, PORCARIA.Hanna guinchou em algum momento.Eu estava bastante ocupada com a tarefa de olhar embasbacada para nossos embosqueiros para lhe dar atenção, pensando que a vida havia sido curta demais para terminar ali. Examiná-los de forma chocada antes de ser estraçalhada me pareceu ser a coisa mais óbvia a fazer, já que decididamente não haviam muitos lugares para correr. Os únicos disponíveis estavam sendo rapidamente contaminados por Renegados cujas almas haviam servido de alimento de poder e juventude para malignas Falanges das Trevas, sombras efêmeras e altamente inumanas nos enviando olhares vazios e ao mesmo tempo selvagens, resolutos. Chispas de animosidade cintilando pelo ar, dizendo de todas as formas que as coisas não tinham como dar mais erradas que isso.― Alguma coisa está bastant
DESDE QUE ACORDARA, UM FERVOR LIGEIRAMENTE desagradável borbulhava em minhas veias, como se meu sangue houvesse se transformado em ácido. Algo sobre a verdade da dor se corrompia em meio aos pequenos acessos de combustão abrasiva que se enroscava por mim numa marcha constante. Até meu fôlego parecia preso no peito enquanto a sensação me inundava numa torrencial tempestade de fogo.E quando Eron trancou nossa ligação, a sensação se foi.E mesmo respirando aliviada, algum pressentimento horrível destruía qualquer paz, uma dor mil vezes maior aferroando meu coração enquanto eu tentava imaginar o que aquilo poderia significar.Zoe já havia saído há muito tempo, indo verificar o perímetro mais uma vez, conforme instruiu Havana, Hanna havia se tocado a tempo e
EM ALGUM MOMENTO, EU HAVIA ME posto em pé. Em algum momento, eu também havia contornado os estofados e me colocado diante da lareira crepitante, que resguardava diversas pedras preciosas em formatos esquisitos em sua cornija de mármore.Porque havia, subitamente percebido que meu mundo estava rodeado de enganos. Todos estavam sendo enganados da mesma forma que estávamos enganando todo mundo. Tudo era uma constante luta contra um mal que vinha inevitável de todos os lados, provocado por ninguém menos que nós mesmos. Era um abismo sem fundo. Não importava o quanto eu caísse, parecia que eu nunca conseguia alcançar a lama. Eu nunca conseguia me puxar o suficiente para baixo. O nada insistia em me engolir lentamente, centímetro por
OCHOQUE FOI TÃO GRANDE, QUE paralisou cada atividade metabólica em meu corpo exaurido. Assombrada, só consegui digerir boquiaberta enquanto meu cérebro processava a informação em um átimo. Curto e rápido. Porém, meus músculos não estavam acompanhando minha eloquência cefálica. Alguém havia desativado minha capacidade de fala pelo que parecia ser um longo tempo.E nesse tempo, os olhos de Itham estavam lá, frios e vazios enquanto todo o verde avelã havia sido substituído por um estranho negro cintilante, como bristol, obsidiana, lava vulcânica congelada. E bordas douradas circulavam as pupilas enormes, criando um contraste que enviou sensações de medo ge
TIA PEG, HAVANA E ZOE ESTIVERAM fora o dia todo.Segundo eu sabia, ambas estavam em audiência com o Punho, discutindo o fato de termos Híbridos Das Trevas querendo morder nossos tornozelos. Apesar de tudo, implorei para que nenhuma delas revelasse que Itham era um deles. Nem Hanna sabia ainda, e por mais que a culpa corroesse meus ossos, a coragem de lhe contar a verdade falhava em todo momento que eu ousava abrir a boca no intento de expelir as palavras.Eu não estragaria as coisas, pelo menos, não naquele dia. O dia em que meu quarto meio que se tornou umateliê, onde haviam garotas por toda parte fazendo atoalete.Por garotas, entenda-se: Yohanna Winc
P A R T E III _ O P R A Z E R COM A D O RO Prazer Com A Dor"Se meoferecerem novamente o ano passado,E a escolha entre o bem e o mal me fosse apresentada,Será que eu aceitaria o prazer com a dor?Ou ousaria desejar jamais termos nos Conhecido?"._Cruz e Souza.• • •&nb