Isabella estava ocupada na pequena livraria-café onde trabalhava, ajustando as flores frescas no balcão ao lado da máquina de café expresso. Era uma manhã tranquila de sábado, e o sol brilhava suavemente através das grandes janelas que davam para a rua movimentada da cidade. Lucas e Luna estavam em uma mesa perto do fundo, rabiscando desenhos em seus blocos de papel, rindo e conversando entre si. Para Isabella, era um dia como qualquer outro, um breve momento de paz em sua vida agitada de mãe solteira.
Ela estava absorta em seus pensamentos, quando a sineta da porta soou, sinalizando a entrada de um cliente. Isabella sorriu automaticamente, sem erguer os olhos, enquanto terminava de organizar as flores.
"Bom dia, posso ajudá-lo?" ela disse, finalmente levantando a cabeça para atender o novo cliente.
Os olhos de Isabella congelaram no instante em que encontraram os de Leonardo. O mundo ao seu redor parecia parar. O café estava subitamente silencioso, e tudo o que ela podia ouvir era o som acelerado de seu próprio coração. Leonardo estava parado ali, na entrada, com a mesma aura confiante de sempre, mas agora havia algo a mais – um ar de cansaço e melancolia que ela nunca tinha visto antes.
"Isabella?" A voz de Leonardo era um sussurro rouco, como se ele próprio estivesse lutando para acreditar no que via.
Ela tentou falar, mas as palavras ficaram presas na garganta. Seus olhos estavam fixos nos dele, e a memória de tudo o que tinham compartilhado voltou como uma onda esmagadora. Por um breve momento, o tempo pareceu retroceder cinco anos, e Isabella se viu novamente como a jovem apaixonada que costumava ser. Mas então, o peso do presente a puxou de volta à realidade.
"Leonardo... o que você está fazendo aqui?" ela finalmente conseguiu dizer, tentando manter a compostura, mesmo que por dentro estivesse em tumulto.
Leonardo deu alguns passos hesitantes em sua direção, os olhos escuros fixos nela, como se estivesse tentando decifrar cada detalhe do rosto que ele nunca tinha conseguido esquecer.
"Eu... estava viajando e decidi parar por aqui. Não fazia ideia de que você estava aqui, Isabella." Ele parou a poucos passos dela, a tensão evidente em cada linha do seu corpo. "Eu nunca esperei encontrar você... depois de todo esse tempo."
O ar entre eles estava carregado de uma energia estranha, uma mistura de nostalgia, dor, e algo mais – uma conexão que nunca tinha sido totalmente rompida. Isabella podia sentir o olhar intenso de Leonardo, e isso a fez querer fugir, mas suas pernas estavam enraizadas no lugar.
"Eu... mudei para cá há alguns anos," ela respondeu, sua voz quase tremendo. "É um lugar tranquilo para criar os meus filhos." As últimas palavras saíram antes que ela pudesse se conter, e uma pontada de pânico percorreu seu corpo.
Os olhos de Leonardo estreitaram-se levemente. "Filhos?"
Isabella sentiu uma onda de pânico, mas manteve a calma. "Sim, filhos. Gêmeos. Lucas e Luna." Ela indicou com a cabeça na direção das crianças, que estavam agora olhando curiosas para o homem estranho que acabava de entrar.
Leonardo olhou para onde Isabella apontava, e seus olhos se arregalaram ligeiramente ao ver as duas crianças. Ele olhou para eles, depois de volta para Isabella, e algo começou a se formar em sua mente, uma suspeita, uma pergunta que ele estava com medo de fazer.
"Quantos anos eles têm?" ele perguntou, a voz tensa.
"Quatro... quase cinco," ela respondeu, tentando manter a voz firme, mesmo que soubesse que a verdade estava prestes a ser revelada.
O silêncio que se seguiu foi esmagador. Leonardo olhou fixamente para as crianças, que tinham parado de desenhar e agora estavam observando a cena com curiosidade. Isabella viu a luta interna nos olhos de Leonardo, o momento exato em que ele percebeu o que isso significava.
"Isabella... eles são...?" Ele não conseguiu terminar a frase, mas a pergunta estava clara.
Isabella sentiu o coração disparar, mas sabia que não podia mais fugir. Ela respirou fundo e assentiu, sentindo uma lágrima ameaçar cair. "Sim, Leonardo. Eles são seus filhos."
A revelação caiu entre eles como uma bomba, deixando Leonardo atordoado e sem palavras. Isabella observou a gama de emoções que passavam pelo rosto dele – choque, raiva, confusão, e, finalmente, uma dor profunda que quase a fez vacilar.
Leonardo deu um passo para trás, a mão passando pelos cabelos, como se tentasse processar a informação. "Você me escondeu isso... por todos esses anos?" A voz dele estava cheia de incredulidade e dor.
"Eu... eu não sabia o que fazer," Isabella sussurrou, sentindo-se exposta e vulnerável. "Eu estava assustada, confusa, e depois as coisas ficaram mais complicadas. Eu nunca quis te machucar, Leonardo."
Leonardo não respondeu imediatamente. Ele simplesmente ficou ali, olhando para ela, tentando juntar os pedaços de uma história que ele nem sabia que estava faltando. Os olhos dele finalmente se voltaram para os gêmeos, que agora pareciam inquietos sob o olhar intenso do homem.
Isabella sabia que sua vida estava prestes a mudar drasticamente – novamente. Ela tinha mantido esse segredo por tanto tempo, mas agora que estava exposto, as consequências eram imprevisíveis.
Leonardo finalmente quebrou o silêncio. "Eu quero conhecê-los, Isabella. Quero fazer parte da vida deles. Não vou deixar você fugir de novo."
A determinação em sua voz era inabalável, e Isabella percebeu que, não importava o que acontecesse, Leonardo estava decidido a reivindicar o que era seu – seus filhos e, talvez, ela também.
Leonardo deu mais um passo em direção aos gêmeos, seus olhos se suavizando enquanto observava Lucas e Luna. A visão dos filhos que ele não sabia que tinha fazia seu coração bater mais rápido, misturando um sentimento de perda pelo tempo que não poderia recuperar com uma nova esperança.
"Eu quero conhecê-los, Isabella. Quero fazer parte da vida deles. Não vou deixar você fugir de novo."
Isabella sentiu um nó na garganta. A intensidade da determinação nos olhos de Leonardo a fez perceber que ele não iria recuar facilmente desta vez. Tudo o que ela tinha lutado para proteger nos últimos cinco anos estava prestes a ser abalado.
Antes que ela pudesse responder, Lucas, sempre curioso, se levantou da mesa e se aproximou de Leonardo, segurando um de seus desenhos. "Você quer ver meu desenho?" ele perguntou, sua voz inocente cortando a tensão no ar.
Leonardo sorriu, se ajoelhando para ficar na altura do menino. "Claro, campeão. Eu adoraria ver."
Isabella observou a cena, seu coração apertado, sabendo que nada jamais seria o mesmo.
Leonardo segurava o desenho de Lucas nas mãos, tentando não tremer enquanto seus pensamentos rodopiavam descontroladamente. Ele observava o sorriso inocente no rosto do menino, sem conseguir desviar o olhar. Era surreal pensar que ele tinha perdido os primeiros anos da vida de seus filhos, e agora, aqui estava ele, diante deles pela primeira vez, com uma montanha de emoções que ameaçava desmoronar sobre ele.Luna se aproximou timidamente, ficando ao lado do irmão, curiosa para saber o que estava acontecendo. Isabella observava de perto, com o coração na garganta, tentando manter a calma. Ela sabia que, em breve, teria que lidar com as perguntas inevitáveis das crianças, mas por enquanto, era Leonardo quem mais a preocupava."Ele gosta de desenhar, como você," Isabella disse, sua voz suave, mas tensa. Ela queria quebrar o silêncio, aliviar um pouco da tensão esmagadora que pairava sobre eles.Leonardo ergueu os olhos para ela, e por um breve momento, Isabella viu a vulnerabilidade nele
Nos dias que se seguiram, Isabella tentou manter a rotina dos gêmeos intacta. Lucas e Luna ainda não entendiam totalmente o que estava acontecendo, mas perceberam que algo havia mudado. Eles faziam perguntas esporádicas sobre "aquele homem legal" que tinham encontrado na livraria, e Isabella, com o coração apertado, respondia da melhor forma que conseguia.Leonardo, por outro lado, estava determinado a seguir em frente com sua promessa. Ele não pressionava Isabella, mas fazia questão de estar presente, aparecendo discretamente pela cidade, sempre atento a uma oportunidade de ver os gêmeos. E foi assim que, pouco a pouco, ele começou a se aproximar deles.Em uma tarde ensolarada, Leonardo encontrou Isabella e os gêmeos na pequena pracinha da cidade. Lucas e Luna corriam e brincavam pelo gramado, rindo alto enquanto Isabella os observava de um banco próximo. Leonardo se aproximou com um sorriso suave."Você se importa se eu me juntar a eles?" ele perguntou, a voz baixa, como se temesse
Lúcia Strozzi estava em seu luxuoso apartamento em Milão, folheando distraidamente uma revista de moda enquanto saboreava uma taça de vinho. Seus pensamentos, porém, estavam longe dali. Desde que Leonardo havia saído em uma "viagem de negócios" sem maiores explicações, Lúcia sentia uma inquietação que ela não conseguia ignorar. Eles estavam noivos, um relacionamento cuidadosamente planejado que unia duas das mais influentes famílias da Itália. Contudo, ela sempre soube que, para Leonardo, o compromisso era mais uma obrigação social do que um desejo genuíno.O celular de Lúcia vibrou, interrompendo seus devaneios. Era uma mensagem de uma amiga, acompanhada de uma foto.**"Olha quem eu encontrei na pequena cidade costeira de Praia do Sol!"**Lúcia quase derrubou a taça quando abriu a imagem. Era Leonardo, sentado em uma mesa de café ao ar livre, aparentemente despreocupado. Ele estava em Praia do Sol, a cidade onde morava Isabella, a mulher que, segundo rumores antigos, havia sido o gra
Lúcia sentava-se em sua luxuosa suíte de hotel em Praia do Sol, observando o horizonte com um olhar frio e calculista. Desde sua chegada à pequena cidade costeira, seus pensamentos haviam se tornado cada vez mais sombrios e perigosos. O reencontro inesperado entre Leonardo e Isabella havia acendido em Lúcia uma chama de ciúme e ressentimento que ela nunca havia sentido antes, e agora, tudo o que ela queria era vingança.O celular de Lúcia vibrava incessantemente, com mensagens e ligações da família e dos amigos de Leonardo, preocupados com o sumiço dele. Ela ignorava todas, focada apenas no que precisava fazer. Leonardo havia feito a pior escolha possível ao retornar para o passado e se envolver com Isabella novamente. Pior ainda, ele tinha duas crianças que, aparentemente, eram dele. Duas crianças que podiam facilmente destruir tudo o que Lúcia e ele haviam construído. Ou assim ela pensava.Lúcia se levantou e começou a andar pelo quarto, incapaz de controlar o fluxo de pensamentos.
Leonardo caminhava pela orla da pequena cidade costeira, seu olhar perdido no horizonte. O sol se punha, tingindo o céu de laranja e vermelho, mas ele mal percebia a beleza ao seu redor. A conversa com Lúcia ainda ecoava em sua mente como um veneno silencioso, infiltrando-se em cada pensamento.— E se Lucas e Luna não forem meus filhos?Ele tentou afastar a ideia, mas a dúvida havia sido plantada. Quanto mais pensava, mais perguntas surgiam. Por que Isabella nunca o procurou para contar sobre os gêmeos? Será que havia algo mais por trás do silêncio dela? Leonardo sabia que não poderia seguir em frente sem respostas.Decidido a esclarecer as coisas, ele pegou o telefone e começou a fazer ligações. Se havia algo que o poder e o dinheiro lhe proporcionavam, era acesso a informações. Precisava descobrir tudo sobre o que aconteceu com Isabella nos últimos cinco anos. Quem estava em sua vida? Com quem ela havia se envolvido?Leonardo começou pelo básico. Contratou um investigador particular
Leonardo estacionou seu carro alugado na frente da pequena escola que ficava no centro da cidade. O prédio, com suas paredes de tijolos vermelhos e janelas grandes, exalava um charme antiquado. Havia algo de acolhedor naquele lugar, muito diferente das estruturas modernas e impessoais das grandes cidades onde ele costumava circular. Ele olhou ao redor, tentando acalmar o turbilhão de emoções que sentia. Nunca imaginara que um dia se veria naquele cenário, em uma cidade costeira, à procura de respostas sobre a mulher que nunca conseguiu esquecer e, agora, sobre os gêmeos que mudariam sua vida para sempre.Após seu reencontro com Isabella, ele notou a tensão no ar, o desconforto que ela tentava esconder, mas, principalmente, a maneira como ela desviava os olhos sempre que os gêmeos, Lucas e Luna, apareciam no assunto. Leonardo não era tolo. Algo não estava certo, e sua intuição gritava que havia mais por trás daquela situação do que Isabella estava disposta a contar.Enquanto caminhava
Leonardo acelerou o carro em direção à casa de Isabella, a adrenalina pulsando em suas veias. Os pensamentos se acumulavam em sua mente como uma tempestade prestes a desabar. Ele não podia permitir que um estranho, como Gabriel, entrasse na vida de Isabella e dos gêmeos, assumindo um papel que sempre deveria ter sido seu. Ele precisava entender o que estava acontecendo, e mais do que isso, precisava fazer Isabella ver que ele ainda estava ali, disposto a lutar por eles.Ao chegar à pequena casa, um charme rústico com flores coloridas no jardim, a ansiedade tomou conta dele. Ele hesitou por um momento, observando a janela da sala, onde uma luz suave se filtrava. Os gêmeos deveriam estar em casa, e isso o fez sentir um aperto no coração. Ele queria ver Lucas e Luna, queria sentir a conexão que havia perdido durante todos aqueles anos.Determinando-se, ele saiu do carro e caminhou até a porta, sua mão tremendo levemente ao pressionar a campainha. O som ecoou no silêncio da tarde, e ele n
Isabella olhava para o mar através da janela de sua sala, os braços cruzados em um gesto de autoproteção. A visão das ondas quebrando na areia geralmente trazia conforto, mas não hoje. Desde que Leonardo reaparecera em sua vida, uma sombra de ansiedade a acompanhava. Ele sabia. Os olhos dele, cheios de surpresa e mágoa quando viu Lucas e Luna na escola, confirmaram que a verdade estava finalmente exposta.Agora, ela temia qual seria sua próxima jogada. Leonardo sempre fora intenso, determinado a conseguir o que queria. Ela conhecia bem sua força de vontade, e a ideia de ele tentar forçar uma aproximação com os gêmeos a deixava inquieta.— Mamãe? — A voz de Luna trouxe Isabella de volta ao presente.— Oi, meu amor. O que foi? — perguntou, forçando um sorriso enquanto se virava para a filha.— Você tá bem? Parece triste... — Luna olhava para ela com os mesmos olhos de Leonardo, uma mistura de curiosidade e preocupação.— Estou bem, querida. Só estou pensando em algumas coisas. — Isabell