E assim foi dando certo
E assim foi dando certo
Por: Danih Machado
Capítulo 1

Eu ficava olhando e porque não está acontecendo? O que está faltando?

As coisas começaram a dar certo. Eu fui aproveitando as oportunidades, um pouco daqui e dali, as coisas foram se apegando.

Fazer o que gosta é diferente, você se encaixa, até se preenche. Todo resto vira indiferença, chega a ser um pouco corriqueiro. Eu tinha uma facilidade pra escrever, mas aí eu me perguntava "o que eu vou fazer com isso?" Qual é o roteiro? Eu perdi o papel da minha vida, a pouco tempo estava com ele na mão, mas olhei era outro nome, tive que devolver. As vezes acho que a vida tem uma senha, a minha já foi chamada, porque eu estava distraída, não tem muito o que fazer. Sabe aquelas filas??? Você quase entra em pane por ter que esperar demais, e ainda não resolve o problema, volta pra casa é a mesma coisa, "volte a semana que vem, de novo!" De repente até resolva, mas aqui é assim, muita burocracia, com a vida não é diferente.

Aos poucos eu fui entendendo, que aqui se faz arte e aos poucos fui me encontrando.

Você não se vê importante até que seja conhecido. Mas alguém lhe fala " que bom o teu trabalho", isso já muda teu dia, te faz ver diferente. Quem sabe até eu tenha atitude, falta perder é o medo. Medo de errar, de tentar, de ser, de fazer diferente. Porque o melhor é isso, ser diferente. Quando a vida se encaixa e você não é lembrado em outra figura, mas alguém te lembre como única. E é isso que escrever faz com a gente. Ser único, diferente! Você escreve do que está cheio, do que quer ler, o que pensa, o que importa naquele momento. E momentos são assim, uns vem outros vão então você sempre vai ter algo novo pra contar.

Nessa troca de ideia com a vida, eu conheci a Curseria. Um projeto envolvente que criou a série de estudo para escritores, em que um apresentador famoso estava fazendo. O Pedro Bial! O Bial me deu a oportunidade do novo, de desfrear pra vida. A minha vida! A vida que eu estava amando, a escrita.

Aquela atitude que faltava. Porque eu tinha capacidade. A web série me fez ver que era aquilo que eu queria fazer, escrever pra vida. Dialogar com os textos, reverter os papeis e mergulhar em cada palavra.

Talvez Deus deu um dom pra ela, e ela estava acordando. E no meio de tudo isso achei uma coisa interessante, o amor que me une a cada frase. Eu quis ser diferente, imaginar que havia uma caixinha e alguém estava caminhando em cada linha. E essa pessoa não era eu até o momento. Eu tinha uma vida, da qual, era a protagonista, da minha própria história e diferente do que eu estava vivendo, eu vou dar um final feliz á ela. 

- Roteirista Daniela? Tú quer ser roteirista?

Cê sabe o quanto tú tem que ralar pra se tornar uma?

As pessoas nunca levaram fé nas minhas ideias, mas eu ia me afirmando. O bom de escrever história é que todo mundo tá dentro.

Tem o João que é o vizinho, o tio que é um chato, a Bianca que é a irmã abusada! E lógico o Betinho, aquele cara esperto que no final de tudo, ééé o início dessa história.

O Betinho é assim, um cara bonito, estudante, culto, educado, que está fazendo faculdade.

Daqueles cara que não tem tempo pra nada, mas, faz de tudo, faz cursos... E ainda é formado em Direito.

Outro dia, esbarrei nele, mas fiz de propósito mesmo. Gente eu não estava mais aguentando, precisava ser notada!

- Desse jeito?

- E qual jeito você queria que fosse?

- Ah, sério, não, dava pra mandar só o contato pelo menos?

Ele, logo notou que eu havia me machucado, e ficou me olhando.

- Está tudo bem? Você se machucou?  Disse ele.

- Uhum. Desculpa?

-Não se desculpa não, essas coisas acontecem.

Que tal se acontecesse a gente? (Pensei né, claro).

- Olha só, estou planejando uma web. 

- Uma o quê?

- Um workshop, pro meu trabalho, vou te deixar o meu whats, então te mando o link, vou adorar ter você por lá!

Sério!  Eu não estava acreditando. 

- Olha a iludida. Achando que o cara tá todo na dela." 

E porque não? Ele mal me conhece e saiu assim me convidando.

- Ele deve estar querendo conhecimento, divulgadores.

Ah, tá estragando todos os meus sonhos, Flávia, fui.

Nessas alturas eu já estava com o número.

Chamei ele no whats, depois do banho. Deixei o celular na cama, fui fazer umas pipocas. 

Eu moro sozinha, então não tenho rotina pra nada, mas sou muito organizada. Janta vira pipoca, feijão as vezes vira café, e eu nesse mundo, é tudo muito louco. Mas apesar de tudo, eu sou tímida, acredite!

A Flávia é uma amiga, ela vem as vezes aqui? Tem as chaves, hoje a tarde eu estava com ela. Quase afogou meus sonhos, todos! Ela é muito realista, tem o próprio salão de beleza, tá tentando concursos. E eu? É, tentando ser roteirista.

Meus pais são do Alagoas, vim em novidade pra cá. Caí de paraquedas, brincadeira. Recebi a oportunidade, aos poucos fui me agradando. Rio de janeiro é tudo diferente, as pessoas, as rotinas, a Lapa, a vida é praia, sol e água de coco. Você que pensa. Tem mô gente dando um duro danado, o tempo inteiro. 

A minha vida aqui começou em 2011, de lá pra cá, já fiz de tudo. Agora entrei na faculdade, estou fazendo jornalismo. E nessas é, encontrei... "o Betinho!" Respondeu no whats!

- E aí, beleza?

- Tudo bem e contigo?

- Tudo certo!

- Então, me manda o link...

- Ok. Www.aprimorados.com 

- Tá, qual a data?

- É daqui a pouco"

- Ã? ( que em cimaaaa da hora)

Gente quanto assunto, e eu estava "boiando".

Mas ele é muito esperto. Não porque eu o admiro, mas ele tem um charme, sabe? Todo especial. Desses que parece culto, mas ousa de uma simplicidade, parece intelectual, desligado ao mesmo tempo. O olhar parece distraído. 

A live dele havia terminado, me chamou após. Perguntou se tinha gostado. 

Claro!

- Que bom, me incentiva a fazer outras atividades.

- Então, artes cênicas, é interessante. (Não faço a mínima ideia do que isso seja).

- É, estou em um contextual, para o público jovem, preciso entregar um trabalho de apoio.

- Ah, legal. (Não entendo nada)

- E você?

- Eu oquê?

- Faz o que na faculdade?

- Ah, jornalismo! Hm, futura estrela de notícias, meteorologia, horóscopo, colunista?

- Ah, não... meu sonho é ser roteirista. Mas faço jornalismo por diversão."

- Você pode tentar futuramente, está em tempo.

- Ah, verdade!

- E aí, o que faz á noite?

- De bobeira e em casa, e você?

- Também! Cinema? Tá afim?

- Essa hora?

- A gente dá um jeito!

- Deixamos para outro dia.

Já notaram que eu dificulto tudo? Mania de achar que nada vá dar certo. Pois eu, já encarei de tudo... Ou, quase tudo!

- Aluguel atrasado de novo Daniela?

Seu Mário, no telefone, interrompeu nossa conversa.

O seu Mário é muito querido, mas ele espera um pouco...

Alô, seu Mário? A ligação tá caindo...

Desliguei... afinal, não podia deixar o Betinho esperando.

-  Sábado, pode ser?

- Te busco ás 20h?

- Ok!

Aproveitei a Flávia e fui cortar o cabelo.

De quebra já paguei o seu Mário.

- Curtinho, tá trí na moda...

Não estranhe o sotaque, a Flávia é gaúcha.

Dessas que fala "bah", "tchê" e "mas que barbaridade".

- Realça o tom?

- Certo. Tú queres mais escuro?

- Sim!

- Só as pontas?

- Aham!!!

- A-D-O-R-E-I menina. Quanto é?

- Vou te dar teu troco.

- Amiga! Boa sorte!

- Obrigada.

- Ah, não esquece do "de canto?

(Risos)

- Não, claro!

O de canto, era o sorrisinho que eu dava de lado. Ela dizia que era um charme. Estava me mandando usar com o Betinho!

- Estou descendo!

Mandei pra ele.

Naquela semana, nós quase não nos falamos, mas ele estava esperando, estava tudo certo. Horário combinando, a gente se cumprimentou...

- Oi. 

Ele abriu a porta. Entrei no carro, ele estava cheiroso. 

- The Blend Eau?

- Sim, importado, ganhei da minha mãe no último natal.

Gostei, é agradável. (Na verdade eu queria era saber, se ele era agradável).

- Então, o que você pensou pra esse convite? 

Fui bem indiscreta, afinal ele tinha quase a minha idade, imaginei que as mesmas ideias.

- Bem, eu, não tenho saído muito, e queria ser um tanto gentil, depois do esbarrão que você trocou comigo!

- Ah, só isso? Digo, interessante, só desculpas não adiantavam?

- Imagino que sim, mas eu queria ter certeza que estava tudo certo contigo.

(Aproveita a noite Daniela, e desencana!)

Naquela noite, assistimos um filme drama. Não prestei atenção em nada.

- Ficaria muito tarde se te convidasse só para um suco?

- Não, está tranquilo, eu adoraria!

- Então vamos procurar um barzinho. 

Rodamos, após uns minutos girando, achamos um na Tijuca.

- Não podem ficar aqui rapaziada. Já passou da hora. Disse o dono do bar

Estávamos passando por uma pandemia, mas estava até então tranquilo, apenas alguns lugares estavam seguindo á regra de nada de tumultos.

Fomos para o carro.

A noite estava agradável, nos sentamos um pouco na beira, ficamos conversando, o Betinho me contou coisas engraçadas, rimos bastante, me pediu pra falar um pouco, mencionou o sorriso de canto. Sério, ele notou.

- Então, você é do Alagoas?

- Evero (Quis falar em italiano) Moro no Rio há 14 anos, vim para cá á trabalho.

Ele era Paulistano. Falou-me um pouco, de cada canto que ele já morou, disse que do Rio, estava gostando. Era formado em direito, mas se apaixonou por artes. 

Estou torcendo por ele.

- Nossa, já está tarde!

- É, não vimos o tempo passar. Essas coisas acontecem quando a companhia é boa.

Fomos pra casa, a noite foi acabando.

E tirei a minha dúvida, além do cheiro, a companhia também era agradável.

Nos despedimos com um abraço. Dei boa noite pro porteiro, ele ficou me olhando tipo "ah, namorado novo." E eu olhei como "ah nem vem, é só meu amigo. Não sou de ficar me agarrando. Subi o elevador pensando:

Valeu o esbarro? Sim! É, talvez.

Manhã seguinte...Flávia ligando!!!

8h da manhã Flávia?

- Ah vai, me conta!"

- Ah, nada de mais, assistimos drama, saímos, bebemos um suco, fiquemos conversando.

- E ai?

- E ai oquê?

- Nada?

- Né!

- Nem um beijinho?

- Não né?

- Mas que barbaridade. Depois do esbarro todo.

Você deve tá pensando, queria conhecer a Flávia, mas ela também faria o mesmo, somos muito reservadas, mas porquê que com  amiga tem que ser diferente?

Sabe aquele negócio que você pega o telefone o tempo inteiro? Eu gostei da companhia dele, estava esperando o bom dia. Passou a manhã inteira, não sou dessas que manda algo primeiro.

Liguei uma música, fui fazer um tal de carreteiro. Receita antiga, que a Flávia me deu, tinha todos os ingredientes, eu gosto de cozinhar, quando se tem tudo em casa.

Cozinhar é uma troca de ideia, é uma arte que você mete a mão no fogo, o negócio vai fluindo, quando vê tá pronto e ainda mata a tua fome. É fantástico.

Domingo, almoço pronto, mesa pra uma! Ao som de Chopin. Clássico, suave e encantador.

Ah eu gosto dessas coisas! Me faz pensar em tempo que eu nunca vivi, ou quem sabe já?

Acredito nessas coisas, e você só faz o quê gosta, como eu saberia que era bom sem ter experimentado? E era assim que eu me sentia, toda vez que ouvia. Um interesse no clássico, parece que eu estava dentro, mesmo vivendo fora. Fora de uma época e de uma vida que não era minha, mas trazia alguma lembrança. E além de tudo me acalmava.

Comida estava boa, a Flávia tinha razão, comida no sul é igual vida boa, não tem frescura, só não fica bom pra quem não quer.

Satisfeita!

Eu mesma faço minhas coisas, afinal sou sozinha. Lavo minha louça, tiro a roupa e já coloco pra lavar, pra mim não tem dia muito menos domingo. Eu faço o meu trabalho. Dia bom, é aquele dia que se tem algo. Imagina viver uma rotina em que não se tem quase nada pra fazer. Deve ser chato! E viver acho que é isso, botar a mão na massa, independente de tudo.

Já são 15h, parei pra olhar o celular, dar uma variada nas redes, notificações. O Betinho, (14h45 da tarde)

"Oi só vi agora. Vamos! Só deixa eu me arrumar."15h01

Tinha perguntado se queria ir ao parque caminhar.

Visualizada! Te pego ás 16h.

Pulei, esse cara é muito pontual, e interessante.

Bermuda jeans e camiseta. Esse negócio de mostrar as pernas, não era comigo, mas acabei de lavar as minhas calças. E eu sou dessas que uso, uso, uso e uso uma roupa quando eu gosto. Cadê meu all star? Achei o tal de tênis. 

Alô Flávia, como é que faz aquele negócio, que você trouxe da última vez e é verde?

- Ah, chimarrão? Vai aonde?

Parque, com Betinho.

- Obá, me conta depois?

- Claro!

- Tá, você faz o seguinte...

Porteiro tinha mudado, mas esse me olhava sério, como se ele fosse da polícia e eu fosse incriminada. O cara era sério. Sinto falta do Bira, ele é engraçado. Domingo, ele tá de folga. Mas tá bom, dois dias seguidos com o mesmo cara... que bom não ia pensar que eu estivesse namorando!

- Quer ajuda? Falou de longe vindo em minha direção.

- Ah, obrigada!

E ele não esquece de abrir a porta do carro.

- Isso é mania ou só pra chamar atenção?

- O quê?

- Você abrindo a porta do carro? Quanta gentileza.

- Haha, é costume! E você, o que trouxe?

- Estava afim de algo diferente, tentei fazer um chimarrão.

- Motivada a gaúcha?

- Ah, sim, minha melhor amiga é do Sul, e sempre que vem visitar, ela fala, se tem amiga gaúcha e não  tiver chimarrão é fiasco. 

- Queria tentar tomar, comigo?

- Aceita?

- Vamos lá!

Sentamos, no oficial parque do Rio de Janeiro. Visitamos o Cristo. Sentamos na metade da escada. O pessoal ficava nos olhando.

- Vamos dar um jeito de sair daqui?

Tudo era motivo engraçado. Subimos mais um pouco.

Térmica e cuia na mão, exagerei no gole, queimei o céu da boca. Água muito quente, em pleno calorão. Mas enfim, ninguém estava vendo, deu pra disfarçar. 

- Betinho, o que você vai fazer depois da Faculdade?

Falou os projetos dele, achei interessante, ele sempre muito engajado, tenta manter a postura, isso me deixava admirada.

Nosso segundo dia, de encontro eu já estava mais ousada, não deixei pra trás, tive logo que perguntar:

- Então, já tem total certeza que estou bem?

- Ah, depois do esbarrão? É você está legal sim. Mas eu adoro a companhia. - Só cuidado pra não acostumar.

Risos, ele parecia que estava gostando.

Mas ele é muito educado, jamais tentaria algo impertinente.

Me deixou em casa, com outro abraço.

O porteiro estava esperto. Segurança do povo e do trabalho.

- Nada! De novo?

- Flávia, você quer o quê, que eu chegue agarrando?

- Mas esse Betinho, é lento né?

- Não, ele é educado! Aliás, ele está mais preocupado com os projetos dele! Admiro esse cara!

- Vou dar um jeito aqui em casa.

- Tá bom, fica em paz."

- Você também. Beijos.

Segunda-feira, são dias típicos, corridos, pela manhã, eu trabalho, faço um trabalho divertido, com a dona Zazá. A dona Zazá é uma aposentada, arquiteta, com alzheimer, me dou muito bem com ela. A gente mantêm uma rotina equilibrada, monto jogos, caça palavras e aplico nela. Ela é muito inteligente, acho bacana que ela não esquece meu nome! Deve ser a convivência. E quando ela promete fazer algo, ainda me espera com algo ela não esquece, me surpreendendo no outro dia. Eu acho que as vezes ela está um tanto preguiçosa, e tenta me cansar um pouco. Mas isso não importa, afinal ela é o meu jornalismo na Faculdade.

A Lurdinha é a outra plantonista, a gente troca as evoluções, onde passamos tudo para um caderno. No final de semana a filha busca ela, e lê tudo do caderno da última semana. A Renata, ela é uma ótima pessoa, está sempre correndo. Mas gosto da liberdade que ela nos dá pra trabalhar. Nos deixa a vontade. Não tem aquela coisa chata, de ficar o tempo todo em cima, isso nos incentiva a fazer tudo melhor e do nosso jeito. Ela chega e não para muito. A proposito, ela não leva jeito com a mãe, pobre filha, a alternativa é sair correndo. Mas a Renata sempre pergunta se estamos bem e confortáveis, se preocupa conosco. Até agora, nenhuma queixa. Claro que além de tudo anotamos também as coisas sem sentido. Eu ao menos acho importante, porque teríamos o controle de ver se havia algo diferente, uma evolução da doença ou se ela continuaria constante. 

- Lurdinha, você tem que cuidar, porque hoje ela disse que a manteiga era queijo, queria passar queijo no pão, e tem que repetir pra ela o que estiver errado 

- Está bom, até amanhã.

- Boa tarde.

Fui direto pra biblioteca. 

Hora do intervalo. Fiz um lanche.

Final da aula. O Betinho não foi pra biblioteca da faculdade. Ele sempre a usava e naquele dia ele não estava.

Cheguei em casa mais cedo. Eu não costumo pegar muito o celular para trocas de mensagens, mas então ousei pegá-lo e olhá-lo, não fazia ideia que ele fizesse falta na faculdade. Nenhuma mensagem.

"Houve alguma coisa? Resolvi perguntar." 22h

Peguei no sono.

Na manhã seguinte, saí mais cedo, não havia nenhuma mensagem. Só a Flávia, me dando bom dia, com um meme de girassóis.

E a Lurdinha, falando como a dona Zazá passou a noite.

As terças feiras eu faço terapia, é um jeito legal, que achei para trabalhar a ansiedade.

Falei pra terapeuta do Betinho.

- Pelo visto, esse cara exta te conquistando. Trabalhando sua ansiedade, Daniela?

Não, achei melhor só falar dele.

- Olha vou te dizer, nada que interfira a tua saúde mental e espiritual. Não se anseia muito com ele.

- Está bem.

Sabe aquelas conversas que a pessoa fala pouco mas diz tudo? Essa era a minha psicóloga. Depois de três terapeutas, eu quase desistindo, achei ela. Zona Oeste, do Rio de Janeiro, ela me atendia ás 8h. Terça feira, uma vez no mês era sagrado. A Lurdinha fazia meu horário, eu fazia depois o dela. 

Meia hora de diferença.

Tudo dando certo, até nosso horário fluía..

É eu, estava verdadeiramente ansiosa, peguei o telefone mais do que de costume.

23h Betinho responde. 

"Oi, peguei um resfriado, estou de cama, acho que a combinação do chimarrão quente, com banho gelado, não deu muito certo. Um pouco de febre."

Ah, ele não é acostumado...

- Alô mãe, o que é bom pra gripe?

- Você está gripada?

- Não, o Betinho.

- Quem?

- Mãe, um amigo, o que é bom pra gripe?

- Covid?

- Gripe mããe! GRIPE!

- Faz um mel com limão, se permanecer sintomas procura um médico.

- Está bem!  Obrigada.

O Betinho adorou o chá, me mandou mensagem. Eu estava criando um texto, e parei com tudo, na mesma hora.

Amigo bom não te atrapalha nem interfere mas eu precisava aproveitar a conversa. Ele parecia animado.

00h31 terminamos a conversa seguida, sem nenhuma interferência.

Nos vimos na faculdade, ele já estava melhor; aquela semana passou tão depressa.

Ele me deixava em casa. Falávamos direto.

Esqueci até a Flávia. 

Campainha. Tipo sexta feira, final de tarde.

- Tá me ignorando é?

- Não. Smack. Trocamos beijo.

- Porque não responde?

- Ah, ando sem tempo.

- Teu visto por último diz ao contrário. Cadê o chimarrão? O que tem feito?

- Calma... um pouco de cada "veiz". Vai de vagar. 

- Tá, chimarrão tá pronto?

- Vou por a água aquecer.

- O quê tem feito?

- Ah, nada de bom, só trabalhos. E você?

- Dei um tempo no salão, vou ver minha amiga. Eu estava com saudade. (Aos abraços)

A Flávia e eu somos iguais irmãs... mas as que dão certo. Ela faz o tipo mais velha, mesmo ela com 25 anos e eu com 27.

Falamos de tudo o que aconteceu, e ela estava indignada por eu e o Betinho. 

- Sim, ele é gay?

- Não ele é hétero.

- Qual o problema, não podemos ser só amigos?

- Mas tú bem que está gostando dele!

- Não estou não!

- Tá sim, tchê, eu tô vendo. Está estampado aí na sua cara.

- Eu hein. (E jogamos almofadas uma na outra), vou me arrumar pra escola.

- E eu vou indo nessa, tenho que pegar a Sô com pai dela."

A Flávia já tem uma filha, a Sofia, tem três anos. É uma fofa!

- Vamos pro Sul esse fim de semana. 

- Quer ir junto?

Eu estava tão acostumada com o Betinho, mas o Sul é bem divertido, como falar isso pra ela. Eu sempre estava disponível. E agora?

- Tá, vamos ver.

- Te pego ás 7h."

- Vamos ver, Flávia.

- Ás 7h!"

A Flávia não tem jeito. Devia tratar a ansiedade. Coitada!

Depois da Faculdade, fomos pegar um suco, naquele mesmo barzinho da primeira vez. Rodamos a cidade inteira atrás de um suco, na verdade nós queríamos era trocar afinidade, conversar um pouco, matar o tempo e ficarmos a vontade. As nossas conversas sempre terminam em risadas, mas algo gostoso, quando as conversas se encontram, e termina quase tudo no  "sorriso de canto" é um sarro! 

Disse ele, colocando meu cabelo para atrás da orelha. Eu olhei pra baixo, ele percebeu tudo, eu não sou dessas que saem logo ficando.

Deve ser constrangedor pra ele, homem! Mas estava na cara dele, ao olhar pra minha boca. 

- Vamos? Intercalei.

- Vamos sim senhora.

- Amanhã tenho que acordar cedo, Rio Grande do Sul. Viamão para ser específica.

- Viamão? Que lugar fica isso?"

- No Rio Grande do Sul. (Risos)

- Me conta, o que tem lá?"

- Não tem muita coisa, mas tem Porto Alegre que é perto, então a gente se diverte um pouco. E a família da Flávia. Mas encontramos algo legal em Viamão, para quem procura descanso. Uma cidade alegre. 

Na volta falamos dos lugares que ele conhece, os sorvetes que ele experimentou, me indicou até um pistache. Rimos...

- Será que eu encontro em Viamão?

- Uma boa sorveteria tem.

Terminamos a noite com um abraço confortante. Ele me olhou no fundo dos olhos,  e me disse boa noite. Sorri, desejei-o mesmo.

O Bira estava na portaria. Sorriu pra mim como se eu estivesse com a bola toda. Mas eu olhei pro chão, com vergonha, e pensei, não Bira, não é o que você está pensando. Talvez o Betinho até seja o cara, ele é diferente! Mas nós somos amigos.

Na manhã seguinte, eu não hesitei em levantar cedo e arrumar a minha mala. Preparei um café, e fiquei ali, escolhendo roupas. Mês de Maio no Rio J e mês de Maio no Rio G é um tanto diferente... Como de costume, eu vou levar um "casaquinho", como diz a mãe da Flávia. Da última vez eu passei um frio danado. E era mês de Julho.

Joguei um cobertor soft em cima da mala. Se eu sentir frio na madrugada, não vou ficar incomodando.

Vontade de desistir de última hora da viagem. Por causa do Betinho. Somos só amigos, mas estamos muito interessantes e queria ficar mais com ele.

E afinal estou com alguns trabalhos. Podia inventar um plantão urgente na dona Zazá de última hora. Mas não concordo com mentiras. E a Flávia ia ficar triste. Eu não havia combinado mas também não posso perder um bom passeio. Mas vamos lá.

"Desce!" 6h57

Estou descendo.

Mal entro no Ecosport vermelho e já ouço: "Pegou casaco?"

- Peguei!

- Meninas, o cinto.

Mês das mães... final de semana das mães e eu indo passar na mãe da Flávia, talvez eu tenha uma afinidade com a Flávia, ela parece ser a irmã mais velha e mãe ao mesmo tempo. Eu já acostumei longe da minha mãe que mora no Alagoas, que já não rola nenhum sentimentalismo. E afinal, ela está ali, sendo mãe o ano todo. Lógico que depois eu penso em ligar para ela. Talvez role até um presente de Viamão. 

Viemos a viagem falando da nossa semana inteira. Eu e a Flávia somos muito falantes juntas. No caminho, fizemos duas paradas, pegamos queijo, mas este, na Br 290.

Já estávamos chegando.

Cidade com uma populaçãozinha, internamente grande, a pandemia aqui estava um pouco mais discreta. Razoável! A Flávia passou primeiro no centro da cidade para ver  como estava o movimento. A mãe dela mora mais pro interior.

- Tem doce de abóbora?

- E porque não teria? Respondeu a dona Neire afetuosamente.

A fumaça do fogão de campanha de longe, "fumegando".

- Oi dona Meire!

- É Neire.  Diz a Flávia

Deixa, ela já está acostumada. E me deu um abraço gostoso.

- Mãe, não pode abraçar.

- Porque não?

- Covid.

Falamos nós duas apavoradas ao nos olharmos.

- Tá tudo bem, pra quem tem boa fé!

Deus nos protege. Respondeu dona Neire numa simplicidade.

E a Sô, veio dormindo, estava no carro. Acordou bem na hora. A casa da vovó.

- Cadê a nona? Vamos lá dentro ver a nona?

Esses gaúchos!

Seu Rômulo já estava vindo do campo, com uma lenha no reboque.

- Cuidado pra não se sujar meninas ... e articulou com um gesto de oi, de longe. 

- Tão beim vocêis?

A Flávia estava com saudade, deu um abraço. 

- Vamos, entrem.

A Bisa estava sentada na sala. Primeiro passamos pelo galpão, depois deixamos nossas coisas.

Cachecol no pescoço e touca, assim estava a bisa, eles eram muito afetuosos, e todos me tratavam igual neta, mas a nona olhava de canto. Os gaúchos tem muito disso. A bisa mal esperou e começou a contar um "causo" pra neta, ou seja a última ocorrência da semana, com a vaca que foi ao brejo. Isso prova que ela estava boa de memória aos 90 anos. Mas assim, em italiano. Gente fina!

O papo foi se estendendo, já estávamos quase  dormindo sentados. A Bisa já estava na cama   faz tempo, só estava esperando a Flávia para contar a tal história da vaca no brejo.

Rimos, porque a dona Neire falou que ela tinha se entalado no campo do vizinho, mas logo conseguiram trazer a tal da vaca para o curral. 

Tomei um banho, fui relaxar. A Flávia me deixou a vontade foi ficar mais um pouco com a mãe. 

- Amanhã é dia de domingo, a lida começa cedo mas podi ficar a vontadi." Falou o seu Rómulo e completou: - Não estranha a genti".

- Tá bom, obrigada.

- Bom descanso menina.

As prosa em volta do fogão eram tão boas, traziam um conforto, longe de confusão. Sintonia com a paz de um enredo diferente  até de sentar na sala ou em volta da mesa. Um dia quero um lar desses. Sentir o cheiro de lenha talvez quem sabe e a simplicidade. Quem sabe! Mas não necessariamente no mato. Quem dera!

Ah, já tinha esquecido... WhatsApp

Boa viagem.(8h15)

Chegaram bem? (21h27)

Boa noite!(22h34)

00h57 deve estar dormindo. Amanhã retorno.

Ainda bem que tem sinal, ouvi dizer que alguns desses lugares o celular não pega. Aqui ainda está com sinal. Modo avião automático é ruim. Mas não, funcionou bem meu telefone.

Bem, o dia já terminou, está quase começando. Fui deitar.

Dia começou cedo, vamos aproveitar um pouco antes de ir embora. Café da manhã, pão de casa, leite na hora, geleia de banana. 

Fomos no centro, ver se algo estava aberto. Tudo fechado, o bar do Guará aberto. Perguntamos até que horas, o dia inteiro. É serviço essencial, então pode. Quem sabe na volta.

Pegamos a estrada e fomos em Porto Alegre, shopping aberto, zona sul, Barra Shopping, encontrar um presente foi fácil, passamos na loja Renner, peguei um pijama para a mamãe. A Flávia impostora, uma camisa. A que eu amei, mas é dia das Mães. Deixa para a mãe dela.

- Vamos na Saraiva?

- Quero um desses, me mostrou a Flávia o livro da Anne Frank na mão.

- Tá bom. Falei com reverência, já sei o que te dar de presente. 

- Leva! Ela adorou. Disse obrigada, 

- Vou fazer bom proveito. Eu já li ele, ela não queria mostrar o diário pra ninguém, depois muda de ideia, tem até romance. Pena que o final não coopera. Uma pena!

O passeio estava animado, já estávamos cansadas, voltamos.

- E aí quer sentar no Guaraná um pouco?

- Guará, Daniela. Meu Deus, menina, sério tú ainda quer ser roteirista? Mas que barbaridade.

Risos extensos.

Sentamos, bem ao centro, bar aberto,  uma delícia. Estávamos a vontade. Bebemos um refrigerante, tudo muito rápido pra não aglomerar muito. Garçom muito bacana, nos deixou muito a vontade.

Pegamos a máscara e voltamos.

Quase atrasadas pro almoço.

- Nossa que banquete Mãe"

Dona Neire a senhora poderia montar um restaurante. 

A Bisa! Olhamos pra bisa, chocadas, Flávia e eu... Com ar de suspense. E agora? A gente se entende no olhar.

- Flávia, o presente da bisa, se não servir, a dona Neire poderia  trocá-lo? 

- Sim, acho que sim, né mãe? Ó, ta aqui o teu."

Esse é o da bisa.

- Abre pra ela. Disse a dona Neire.

- Deixa que ela abre. Feliz dia das Mães. É esse né Flávia? Olhei falsamente.

- Ah, sim, mas que barbaridade. A Flavia revirando os olhos.

Tínhamos esquecido.

- Mas que lindo...linda a camisa, obrigada filha." Falou a dona Neire. 

- E este pijama, acho que serve, que pijama bonito. Vai dar bem certinho nela. Se ficar um pouco grande eu dou uma ajustada."

- Grazie. Disse a nona

- Nossa! Vou ligar pra minha mãe!

- Tá bom, m-a-l-u-c-a."

Vaca atolada, foi isso que comemos. Não tem nada a ver com gado no brejo. Era comida mesmo. Uma carne seca com "aipim", mandioca ou macaxeira. Estava uma delícia. Feito no fogão de lenha. Ainda tinha uma coisa que eu não sei o nome mas era com feijão e farofa. Feijão mexido. Saladas e arroz. Tudo no capricho. Era o almoço de domingo.

- Mas pai, pensei que ia ter um churrasco pra mãe! Disse a Flávia.

Nesses tempos de guerra, qualquer armoço fica bão. Disse seu Rômulo de um jeito singelo. Mas estava tudo muito bonito. Decorado de cheiro verde, e o gosto também excelente. A dona Neire manda bem na cozinha.

Depois do almoço fomos dar uma descansada, pois final da tarde a viagem ia ser longa.

- Toma filha, leva isso também, Daniela leva um pouco também, você está muito "miúda".

- O que é isso dona Neire?

- É rapadura, das caseira. E um pouco de doce de abóbora. Vocês lá na cidade, parece que não come direito.

- O corre dona Neire, o corre!

Falei pensante.

- Mãe, obrigada, e desculpa alguma coisa. Disse Flávia

- Capaz, volta sempre que quiser.

Choro, inevitável.

Estava nos planos da Flávia de ir embora pro Sul

Até ouve um convite. Mas isso é assunto pra outra hora.

Despedidas!

Trouxe aquela coisa verde, a erva de chimarrão, comprada granel, ou melhor, por quilo, fresca e nova. Eu gosto de vez em quando.

Durante a viagem a Flávia estava quieta, é sempre a mesma coisa quando íamos embora.

- Preciso me organizar, ainda mais agora, que eu estou me separando, vou esperar esse processo terminar, sinto falta de meus pais, e eu estou sozinha no Rio. A propósito, obrigada por salvar o meu dia."

- Ah, capaz!

- Naquela hora eu pensei o quê que essa maluca tá fazendo? Qual. Presente?

- E pensou que eu ia te deixar sozinha nessa?

- Como nós esquecemos, como eu me esqueci do presente da minha avó, e você?

- Eu o quê?

- Presente da tua mãe, poxa!

- Ah, ela não me visita, só uma vez por ano, dá tempo de ver outra coisa.

A Flávia pegou minha mão no carro.

Não resisti e falei: - obrigada pelo sozinha no Rio!

- Não, amiga, e nós já falamos sobre isso! Lembra do convite?

- É!

Olhei pela janela. E pensei, como seria a minha vida? Não e morando com a Flávia. Loucura né?

Chegamos, sol já quase raiando. Pego ás 9h. Larguei as malas em casa, e a Flávia me deixou no serviço.

- Até mais patifona.

- Nossa que intimidade comigo.

- Faz parte da rotina. Beijo e te cuida.

- Te ligo!

(Buzinou)

A dona Zazá estava toda arrumada. De batom, e maquiada.

- Feliz dia das mães, dona Zazá!

- Hein? Falou comigo?

- Feliz dia das mães!

- Obrigado minha filha!

A Lurdinha me passou tudo, ela entra sempre no domingo. Me deixou o caderno, ela passou bem, nada de anormal. Só meteu os pés pela culatra, dizendo que ganhou uma tigela. Cadê a tigela? Isso foi á anos. A Renata já estava sabendo.

- Coisas da mãe. disse ela.

E nesse ano ela ganhou, um perfume, pantufas, e flores. Já estava no caderno.

- Dona Zazá, o que a senhora ganhou ontem no dia das mães?

- Ontem foi dia das mães?

- Foi dona Zazá, o que a senhora ganhou?

- Ah é verdade, uma tigela!

- Não dona Zazá, a senhora ganhou um perfume, pantufa e flores. Gostou das flores?

- Sim, gostei! E como não. A minha filha quem me deu.

- Isso verdade, foi ela mesmo.

Ah que bom. Estava tudo certo.

Fizemos a refeição do almoço, a dona Zazá fez higiene e foi descansar um pouco. Sempre a chamo ás 15h, porque ela faz o lanche, e após isso olha a novela.

- Coitado do Edu, a Camila tão doentinha. Disse ela interessada na novela.

Passei pro caderno! Isso é uma evolução caseira. Um amor de evolução ver uma pessoa idosa interagindo. Saio ás 17h, estava quase na minha hora. 

Eu estava muito cansada. Mas ainda tem a faculdade. Vichi a redação de mídias. Faço no ônibus.

Não consigo pensar em nada. Em nada?

Nem em ninguém. Estava assim, à toa. Esqueci de responder ... é! 

Vou tentar escrever a redação. Nessas horas, eu só conseguia combinar um texto, que tirei da internet. Nada concreto. Força! Talvez eu começasse a falar de mídias desse jeito...

"Pessoas intelectuais, as simplistas, a mais modernizadas, o projeto nos pegou de jeito e foi ganhando espaço. Mídias, talvez venha só com um defeito no Brasil, não alcança todo brasileiro..."

Pronto, terminei, o texto estava pronto e já estava quase chegando em casa.

Eu disse que eu tinha facilidade em escrever.

O que fazer com isso? Ser roteirista!

Ainda Daniela? Ainda!

Cheguei em casa, que vontade de matar a saudade e não sair hoje. Mas vamos lá, preciso só imprimir o meu trabalho entregar.

Nome e Data. Pronto!

Peguei minhas coisas e desci. Fui correndo.

Eu moro perto da faculdade, o Betinho que sempre insistia pra me deixar em casa. Olhei o celular.

Várias mensagens. Parece que eu não estava nem aí pra ele. Mas não! Viram a falta de tempo? E oportunidade?

"A compota de abóbora na geladeira, assim que chegar em casa!" Lembrei da dona Neire, falando quando eu estava entrando no carro.

E a falta de tempo que eu estava falando?

Mas colocaria na geladeira quando eu chegasse em casa, da viagem, do trabalho ou da faculdade? Da faculdade, prometo!

Entrei na minha sala. Nossa que movimento é esse? É algum protesto? Estavam todos conversando, mas em um tom que me deixou com um respectivo "zumbido" no ouvido, quase fiquei tonta.

Pouco tempo depois o professor botou tudo em ordem e cada um foi para o seu lugar.

Eu não via a hora do intervalo, faltavam dez minutos.

Oi, nos vemos na saída? Mandei para o Betinho.(19h57)

Deu sinal de vida, claro. Saí mais cedo. Se não avisasse, estava indo embora. Te aguardo!(20h03)

Sério! Mas não quero atrapalhar.(20h04)

Não imagina.(20h05)

Você quem sabe.(20h06)

Ok(20h06)

Naquela noite, ele me levou pra casa, e sim, eu já estava acostumando com ele.

A minha cabeça, pensava em duas coisas, o jeito delicado que ele me olhava e... 

- a compota do doce de abóbora.

- O quê?

- Ã? Nada!

- Compota? Você disse compota?

- Ah não, eu disse. É compota, está sobre a mesa. Preciso resfriá-la.

- Ah legal, eu poderia ganhar um pouco.

Como assim, o cara estava se convidando pra entrar na minha casa e comer o meu doce? Eu sorri de canto!

Ele mudou de assunto ligeiro.

Eu estava agora longe, pensando o que eu vi nele? Olhei rapidamente, visualizei seu rosto, seu perfil, e ele voltou-se para mim. Desviei e conclui:

- Artes cênicas você gosta de incorporação?

Dramatização! Estou brincando. Gosto de toda forma de expressão.

- E como você se expressa de verdade?

- Eu?

- Sim!

- De verdade! Ah, depende

- És um belo ator. Como demons...ah nada!

- Diga!

- Não, deixa pra lá.

- Eu gosto de você falante.

- Como você demonstra uma dor de barriga?

- Oh céus, minhas entranhas estão doendo. (Se contorcendo todo no carro). Rimos!

- Maneiro!

- Sim, mas não era isso o que você queria saber! (Como ele sabe?) Vamos beber um suco? Completou.

- É (apesar que eu estou cansada, e preocupada com a compota), vamos!

- As coisas vão ficar difíceis! Falou o dono do bar.

- O governo está querendo parar tudo, e acabar com esses jogos inocentes de vocês se reunirem, mas inconsequentes para eles". Confirmou

Eu olhei o Betinho conversando, ele é muito esperto. 

- Precisamos reformar nossas ideias, de repente o País vá para frente. Valeu amigão! Despediu-se ele.

Entramos para o carro, fomos embora.

- Então?

O que? (Bebendo o suco)

- Não vais perguntar o que queria que eu demonstrasse, na minha atuação, afinal, fiquei curioso!

- Como demonstra seus sentimentos? (Saiu)

- Em artes cênicas? (Abrindo os braços, ele não estava dirigindo) "oh minha cara eu estou um tanto apaixonado." Brincadeira, o mais natural possível!

- Hum, isso é bom ou ruim?

- É bom!

Nos olhamos e foi profundamente. Não consegui desviar, que sacana!

Nos beijamos! E foi tudo muito lento. O sorriso no final me deu mais leveza.

- Você tem um jeito e uma voz que acalma. Falou ele

- Bem vindo a minha calmaria. Conclui.

Boa noite!

• 

Naquela semana eu não estava muito atenta!

Desantenada da vida, pensando pouco, como se tivesse um muro entre eu e meus pensamentos. Algo estranho estava acontecendo. Eu estava longe. 

A Flávia bateu em minha porta, como se eu não estivesse ouvindo, a verdade é que eu não quis levantar da cama. Estava deitada. Ali e a sós com os meus pensamentos. Ela possuía as chaves então não demorou para que ela entrasse porta a dentro e ver se estava tudo bem comigo. Afinal o que se faz em um domingo pela manhã?

- Oi amiga, o que houve? Bati e você não atendeu, resolvi entrar.

- Eu estou bem, só indisposta talvez.

- Isso não se chama solidão, não?

- Tá afim de dar uma volta?

- Melhor não! 

- Eu conheço você, tua psicóloga só atende nas terças?

- Eu sim!

- Então vai conversar com ela, vê oque ela acha! Vai ser bom pra você! É com o Betinho? Como anda?

O silêncio tomou conta, eu não tinha resposta, porque nem eu sabia o que estava acontecendo. Depois daquele beijo, as coisas se tornaram difíceis.

- Ora, foi só um beijo.

- Mas eu devia ter cuidado pra que não acontecesse.

- E ele, tem te ligado?

- Sim, manda mensagem o tempo inteiro, aliás, quando pode né, porque esse negócio de faculdade, ele anda bem ocupado. Mas eu continuo evitando. Talvez a gente fosse só bons amigos.

- Então pensa, vê  o que você quer, o que acha melhor pra você e fala com ele!

- Falar o quê? Ele não pode resolver.

- Mas se os dois deram beijo juntos, é porque fazem parte de algo, e se querem que continuem, os dois precisam estar de acordo.

A Flávia mesmo tinha razão. Almoçamos juntas, só não passamos a tarde. Ela foi embora. Logo após eu havia pensado. Eu não queria namoro. Eu sou meio desajeitada. Faço terapia pra ver se me organizo. Eu gostaria desse negócio de amizade sabe. Ter um bom amigo, um companheiro, que ri, que conversa comigo. E o Betinho estava sendo tudo isso. Meu medo era estragar tudo com esses namoros que a gente tá acostumados. Nossas almas eram tão bonitas pra viverem simplesmente juntas se agarrando no sofá e depois irem embora. Não era algo clichê que eu estava procurando. Era essa vontade de intimidade mas com apego, até muita afinidade. E nós tínhamos um pelo outro, sempre no maior respeito.

Não demorei muito, passei uma mensagem pra minha psicóloga.

Vania: Oi, claro que posso sim! Terça ás8h?

Pode ser! Obrigada!

Eu precisava muito da ajuda de alguém profissional e que também já me conhecia. As palavras da Flávia, foram muito sinceras, mas eu sempre precisava de uma segunda ou terceira opinião. Isso me equilibrava.

Fui dar uma volta no shopping.

A livraria do shopping tinha tudo o que eu queria e precisava naquele momento. Peguei um livro,  já ousei em comprar o presente da minha mãe, do último final de semana que ficou para trás. Um livro de poemas. A mãe também adora leituras e devera ficar encantada com "Cartas para minha mãe".

Eu peguei o livro da Kay Jamison, na época, jovem e psicóloga, vem detalhar "uma mente inquieta". Baseando nisso, eu vou ver as estruturas dela no livro.

Cheguei em casa, não era a mesma coisa, os cômodos já não eram as mesmas coisas. Como se eu estivesse dando falta de algo? Coisa interessante, algo que eu não sentia faz tempo. Desde que mudei do Alagoas. Eu havia acostumado, talvez naquela época eu sentisse falta de um abraço, por estar sozinha, mas conquistar a liberdade era tudo. E hoje me pego com essa sensação. 

Trabalhei na segunda feira, com o relógio no estômago, é a ansiedade para que as horas passassem. Eu não queria assumir nada, mas eu estava louca pra chegar em casa, tomar um banho e ir pra faculdade.

A dona Zazá estava bem tranquila, levei-a para tomar a primeira dose da  vacina, as coisas já estão se ajeitando. Ela estava toda contente, afinal quase dois anos que começou a pandemia e nos não saíamos para tomar ar fresco, o que não se pode dizer "ar puro".

- Breve tudo se ajeita minha filha. Vai pra casa.

Disse a dona Zazá em gesto de despedida.

Lurdinha, a dona Zazá está bem, mas se a vacina reagir, coloca compressas, e ligue para o médico. Cuida a febre!

Certo! Bom descanso..."

Tomei um banho rapidinho, joguei uma manga três quarto, estava ouvindo uma música, prestei atenção na letra,

"Quando me chamou, eu vim

Quando dei por mim, estava aqui

Quando lhe achei, me perdi"

Referências, a Daniela Mercury, minha xará, parece poeta a compositora brasileira que faz da música uma arte baiana. Temos muitas poetas da música brasileira, uma em cada canto do país. E se encontrar na música de forma livre, de acordo com as suas emoções são em poucas músicas. E você fica ali, procurando o sentindo, tentando se encaixar na música, a letra até não foi feita pra você, mas o embalo te consome. Era isso para mim aquela música. Um embalo, um ritmo que me levava em segundos. Mas esta letra me chamou muito a atenção, talvez foi a voz. Bem, eu não vou ficar debatendo isso, eu já estava atrasada. Pela rua, fui cumprimentada duas vezes, com duplos sorrisos, o Bira hoje não estava, mas ganhei a sorte de dois senhores na rua. Os olhos indicavam sinuosamente o que os lábios diziam e a máscara escondia. Eu retornei e sorri também, como um gesto de franqueza, tamo junto! Tamo junto, o Betinho costumava dizer isso. Era o seu jargão. Falando nele, fui olhar suas mensagens, 

Te espero na saída?(18h57)

A faculdade dele fica perto da minha, eu moro perto, eu acho que a gente gosta da companhia um do outro.

Espera!(19h00) Respondi ele. Sem entusiasmo. A gente não se via depois do beijo. Ele não faz nada que eu não queira. Esta era a última mensagem depois de várias que ele havia mandando.

O professor estava bem alegre, pediu uma redação sobre máscaras, silenciosas máscaras que nos define. 

"Ao longe te vejo e te reconheço, pois examina em mim o contraste do pano, antes era dos lábios, agora quando te vejo, me comunico com teus olhos" ele estava poeta! Terminamos a aula batendo palmas.

O Betinho estava me esperando do lado de fora do carro, como sempre, abriu a porta. Mas antes me cumprimentou com um beijo, na testa!

- E aí, tudo bem? Como é que você está?

- Eu bem e você?

- Um pouco cansado! Meio ansioso com algumas atividades. Mas nada de mais. Eu atualmente ando muito ocupado, mas não tanto quanto a Senhorita, o que andas fazendo, qual o planejamento?

- Falou ele em tom brincando, mas suspeito, e curioso.

- Bem eu, ah, trabalho, faculdade! Sabe como é!?

- Eu imaginei que pudesse ser isso. Mas nem o telefone?

- É, eu levo a minha vida muito a sério. Sorri.

- Vamos no barzinho aquele? Pegar nosso suco?

- Pode ser!

Lá fomos nós até a Barra da Tijuca, como na primeira vez, depois de quase um mês.

- Hum, abacaxi, e o teu deixa experimentar? Disse ele.

Ele estava muito assanhadinho, estava feliz, sorridente, ele era extrovertido, desses que demonstrava e sabia o que estava fazendo. Mas claro, sempre no maior respeito.

- Toma, prova o meu. Disse ele.

Que mal há nisso, afinal já havíamos nos beijado.

- E aí, o que aconteceu depois?

- Depois de quê? 

- Da última vez que nos vimos? Porque você sumiu tanto? Mereço uma explicação. Disse.

E não é que ele sabia mesmo o que estava fazendo.

- Bom eu, ando cansada, que tal se a gente fosse pra casa, e nos víssemos final de semana?

- Por mim tranquilo! Só responde as  minhas mensagens?

Sorriso de canto.

Ao chegar em casa eu liguei a música da Daniela de novo! Queria entender o que não entendi e mexeu comigo mais cedo.

Talvez a música, a batida me definia, mas a letra, estava mexendo comigo e cair nas emoções do outro é golpe. O que ela estava tentando passar na música? Um axé que só ela tinha, eu não me via contextuando com a música, mas como uma boa Daniela eu estava entendendo. E esse sentimento não me pertencia. Ao menos não naquele momento. A música era boa, mas não pra refletir romances, mas trazer a liberdade de ser. Desliguei, porque isso não mexe comigo, romances.

Eu me sentia estranha!

A casa estava vazia, um tanto diferente, não era mais a mesma coisa de quando eu chegava e tinha uma sequência de coisas pra fazer, agora parecia que faltava aquela sequência. Faltava algo...

- Ou alguém?

Perguntou a psicóloga, séria, querendo entender.

- Talvez você sinta falta da sua família, vá visitá-lo, quem sabe não se sintais melhor?

Olha, nessa altura, minha família são os últimos dos  quase eu quero pensar! E gostaria de entender porque está acontecendo isso?

- Você está sozinha mesmo?"

- Como assim?

- Sozinha! Quanto tempo?

- Sozinha, desde sempre. Tá, eu encontrei um cara, o qual eu esbarrei de propósito, e agora é como se eu estivesse carregando no colo, está um peso, eu não quero relacionamentos, mas nós dois nos beijamos e depois disso eu venho me sentindo estranha. Eu ando ouvindo Daniela Mercury, a primeira vista, e me sentindo sozinha. Mas eu quero a liberdade da música.

- Hum, Daniela Mercury? Bacana, experimenta escutar o nobre vagabundo, se não encontrar a liberdade na canção, então você esteja sentindo um pouco de solidão. Você estais apaixonada? Como se sente quanto a ele?

- Oh, não! Ele é só um bom amigo.

Amigos se apaixonam Daniela! E não é diferente. Quebra o preconceito. Falou- me com aquela voz delicada e sotaque carioca, diferente som de "s" pelo "x".

Pensei, não paguei para ouvir que estou apaixonada.

Bem vou pensar no que me disseste!

- Viva a vida, esse momento, quebre os medos, não há nada que possa lhe prejudicar. Ele tem sido bacana? Está tudo certo. Tenta no seu tempo. E ouve Daniela Mercury! 

- Muito! Obrigada!

Eu não aceito muito esse negócio de ter relacionamentos. Beijos já foram longe de mais, e a minha psicóloga sabia disso. Sabia o porquê, talvez ela entendia. 

Eu não parei para conversar com o Betinho, mas tudo indica que ele estivesse realmente afim, eu acostumei a ser sozinha, isso estava me prejudicando, é um pouco.

Sexta feira, a Flávia chegou, como de costume:

- E aí como e que você está?

- Eu estou legal.

Talvez eu seja a pessoa mais agradecida do mundo por ter uma amiga que é toda sincera, dessas que não é falsa, ou que coloca pra baixo botando energia negativa em tudo, da maneira mais estúpida, eu dei um jeito de preparar o chimarrão pra ela. 

- E aí? O que tem feito?

- Muito cabelo! A atual do meu ex teve no salão."

- Sériooo? Flávia me conta!

- Seríssimo guria!"

- E você? O que fez?

- Eu nada né. Congelei, mas tive que ser a mais profissional possível."

- Louca pra tacar a máquina zero?

- Até que não, tô fora do sonso! O compromisso dele é só com a Sofia."

- Claro!

- E não é que você acertou o chimarrão, olha ela!

- Ah brigada!

- Foi na psicóloga?

- Então, ela me disse várias coisas, pelos motivos dos quais eu poderia estar passando, me ví só em um motivo.

- Está afim de falar?

- Eu não quero uma relação clichê, imagina eu tenha que fazer terapia pra namorar.

- Também após o último relacionamento! Não é de se duvidar.

- Mas aquilo não foi relação!

- É. E você o que acha?

- Bem eu, partiu terapia. (Risos)

- Dá uma chance! Isso vai te ajudar. Ele possuí as qualidades? Tem afinidade? Te tratou bem? Se não der certo tá tudo bem, vai cada um pro seu lado. Ou você quer o "pra sempre"? Que seja eterno enquanto dure menina.

A Flávia valia muito mais que várias psicólogas. Ela sabia o que dizia, no fundo ela ainda ama o Adalberto.

Mas ela é muito independente, então não liga muito.

- Tô tri afim de ir embora, e aí, tá afim ainda de ir comigo?

Lembra aquela história da Flávia me convidar pra ir pro Rio Grande do Sul? Pois é, me pegou de surpresa.

- Posso pensar com calma?

- É pode, é mais pro final do ano...

Só pensa com carinho tá?

- Tá bom

Nos demos um abraço.

- Então, a sua psicóloga te mandou escutar Daniela?

- Sim, eu disse que sinto uma compostura, uma liberdade nas músicas dela.

- Menina e eu ao som de Marília Mendonça, o tempo inteiro, tô em fase de crescimento emocional. E olha eu ainda sou jovem! Só ouço música que mandam beber cerveja. (Risos)

- A verdade é que todas nós sentimos do mesmo jeito, mas reagimos diferente. Temos nossas propriedades.

- Verdade, menina, deixa eu ir lá, porque eu tenho que buscar minha filha.

- Tá bom, dá um beijo nela. Diz que foi a tia Nani.

- Pode deixar, tô me revirando em duas, três, quatro...

- Mãe, comprei-lhe um livro.

- Um livro?

- É! Cheio de poemas, nem vi direito.

- Tá bom, tô afim de ir por agosto, que que cê acha?

- Tá bacana.

- Então tá, te alimenta direito. E cuida das flores.

A minha mãe nem imagina, que as flores já eram. Sabe como é, esse negócio de não ter tempo, mas ainda tenho a minha íris, dois cactos e uma madressilva. Ah, e minha jibóia em cima da geladeira. Eu ganhei ela, a jiboia de uma pessoa muito querida. Dona Consalter, ela ja não está entre nós, e merece o meu respeito.

- Deixa eu ver se te agrado?

- Como?

- Vamos sair pra caminhar amanhã?

-  Dar uma volta no Leblon? E quem sabe uma cafeteria que eu sei que você gosta?

- Estou dentro!

- Te busco ás 15h.

- Tá. Boa noite!

Deixar acontecer, naturalmente ou fluir. O que significam isso afinal?

Fiquei pensando. Talvez é não pensar muito. Não planejar as coisas. Sem cobranças! É isso? Eu gosto do meu espaço, talvez eu não goste de ser cobrada e sinta medo?

Estava acontecendo algo comigo e eu precisava entender aquele medo todo de estar com o cara que a dois meses atrás eu estava muito afim.

Medo de dar errado? De botar fora? Tudo a perder. Lembrei das palavras da psicóloga, não tem nada pra dar errado. Mas está tudo diferente. Hoje em dia relacionamentos não duram meses. Mas eu? Queria algo diferente. Desses que marcam a vida um do outro. Eu fui marcada no último relacionamento, e agora estou torcendo para que as coisas deem certo, mas eu não sei nem como.   Estava vivendo tudo e de novo. Recomeços.

Também pensei sobre o que a Flávia me falou, de ir embora. Começar uma vida. Talvez em Viamão? Jornalismo, eu estou quase terminando a faculdade, estou no último ano. E eu sei fazer várias coisas. Também tenho outros cursos. E o Betinho? Não me impede...

- Se essa relação for madura, vai dar certo!

- Tá bom Flávia, boa noite, vou dormir. Obrigada.

Naquela manhã eu acordei mais animada, lavei minhas roupas, organizei minhas coisas, estendi minha cama, liguei uma música, parei de ouvir a Daniela. Eu estava ouvindo a saudosa Cássia Eller, cada dia um nova canção. Estado de espírito.

Me motivei a fazer várias coisas, fui na padaria, o Bira disse que estava atento. Eu sorri pra ele. O Bira é magrinho, cabelo encaracolado. Ele tem um jeito engraçado. Mas é muito gente boa. Desde que cheguei aqui, ele sorriu pra mim, pois o outro porteiro é mais sério, não sei nem o nome dele, acredita? Mas tudo bem.

Fiz meu almoço. Macarrão com cogumelos. Ficou uma delícia. Hoje, eu fiz tudo certo, café na hora de café e almoço na hora de almoço. A vida de uma pessoa sozinha é complicada! Mas aprendi a depender de mim desde cedo. Manter a rotina da casa, me dá um certo alívio, eu não sei quanto eu estou me desempenhando bem, mas depois de pronto fica lindo.

Fui ler um pouco, não perder o foco, a Kay Jamison trás uma história complexa, será que faz parte da idade tanto sofrimento? Para ela parece tão fácil falar de suas emoções, eu mal consigo organizar minha rotina.

Quase 15h, comecei a dar um jeito, peguei uma roupa, me olhei no espelho. O que eu estava vendo, uma jovem ignorando a idade e seus pensamentos. Eu não queria pensar em nada. Meu telefone toca. Era a Flávia. 

- Oi, está tudo bem?

Ela estava chorando. - Mas o que houve?

- O Adalberto, me ligou, disse coisas horríveis.

Pra Flávia estar chorando, ela estava no limite, pois eu nunca tinha visto uma mulher como ela, sempre sorrindo, e dificilmente algo acabava com ela.

- Olha, vem pra cá

- E você? E o Betinho?

- Eu falo com ele, depois explico e ele entende tudo.

- Tá bom tô indo.

Naquela hora a Flávia precisava de mim, estava fraca, de alguma forma não ia deixar ela na mão, eu tinha o domingo todo.

Liguei pro Beto.

- Betinho, ouve um imprevisto. Depois te explico. Está tudo bem a gente se ver amanhã?

- Tá tudo bem sim.

Ele respeitava meu espaço, me deixava livre, eu estava aprendendo um pouco com isso. Era isso que eu gostava, de me sentir segura. E era essa segurança que eu queria, estando livre.

- Oi amiga, vem cá, me dá um abraço.

- Ai amiga, ele me disse coisas horríveis!

- Fala pra sua advogada.

- Sim, eu já liguei. Ela está estudando o caso. Ela disse que eu posso fazer um inquérito por injúria e difamação, eu não queria as coisas desse jeito, mas ele está abusando.

Sim, eu sei isso é horrível, você já não está mais aí pra ele.

- Ele estava viajando, e não me disse nada, era o dia de pegar a Sô, eu só perguntei que horas ele viria, ele me falou um monte de coisa, me soltou os cachorro!

- Ai amiga, tá bom esquece. Vamos ouvir uma música, o quê você prefere? Que tal um filme?

Quem sabe né? Ai, eu não mereço isso. (Começou a berrar.)

- Ninguém merece Flávia. Mas você supera!

Mandei um whats pro Betinho, eu o deixava a par de quase tudo.

Então, tô aqui com uma amiga, que está com problema pessoal, sugere um filme?(14h05)

Oi, mas que tipo? Gosto muito de ficção, está querendo um drama?(14h07)

Assistir "amizade colorida", foi uma bagunça, como eles conseguem ir para o tudo, não querendo nada! O filme que o Betinho indicou, estava muito sério, então eu e a Flávia decidimos optar por uma comédia.

- Tô decidida amiga, em dezembro tô indo embora.

- Mais pipoca? Desviei dela.

A Flávia foi pra casa, ja era noite, mulher tem um jeito próprio de se reconstruir né? Se ajeita até com filme. Ficou tudo bem, bastava uma companhia, alguém que entendesse ela, mas essas coisas não são legais, em hipótese alguma. Eu fiquei muito triste por ela. Enfrentar a separação, claro deve ser horrível, os dois devem estar tendo problemas, mas a ele toda sorte do mundo pra nunca mais voltar para ela. A Flávia merecia alguém bacana, e se não deu certo a primeira vez, não merecia a segunda.

Eu estava meio inquieta, eram 20h. Estava cedo. 

E ai, o que está fazendo?(20h07)

Oi, eu estou ajudando um amigo, com um processo pra levar ao fórum, na segunda feira! E você?(20h09)

Eu estou de bobeira.(20h09)

E a amiga? Está melhor?(20h10)

Ela já foi embora, ficou bem, mas não depois do seu filme, que sugeriu. Então assistimos outro.(20h11)

Ah, a essas horas a gente não faz nem ideia do que vai recomendar.(20h12)

Eu percebi.(20h12)

Quer sair pra comer algo?(20h16)

Acho interessante esse tipo de gente que faz de tudo pra estar junto, do teu lado. Mesmo se for só pra bater um papo. Então inventa qualquer coisa para puxar uma conversa e fica tudo numa boa.

Já dá pra imaginar qual foi a resposta?

Fomos no Pobre Ruan Village, na Barra da Tijuca. Comemos e logo saímos, restrições do local, mas enquanto isso, mantínhamos o contato, a boa conversa, falamos de leitura, ficção, e faz parte dos gostos dele. Mas consegui rir um pouco, e entre uma e outra conversa, ele mostrava interesse nos meus contos. Também falei da última redação pro jornalismo, o papo das máscaras, nada de manchete. Falei das reportagens que mais me chamam atenção, me surpreendi quando ele disse que também adora política. Interesses sociais é o nosso forte. E ele adora uma boa justiça, o que no Brasil, ele disse que fica muito a desejar, por causa da política. Uma coisa puxa a outra, e nesse meio não é nem por dar prioridades, mas chances. Chances de recomeçar! Fiquei admirada, quando me falou aquilo, afinal, qual bandido ou ladrão tem chance?

- Mas não é por falta de oportunidade! Completou.

Você defenderia um cara que matou alguém?

- Sim, porque não? Mas antes eu olharia bem em seus olhos e estudara-o muito. 

Entendi tudo. O Betinho, era

parecido comigo, seu senso crítico não é apenas intelectual, mas ele parece ser muito espirituoso. E o que vale, é a terceira impressão. Pessoas dizem muito no terceiro contato. Disse-me ele durante a conversa. Terminamos a janta.

Caminhamos um pouco, e ousei em perguntar: 

- O que lhe causei na terceira oportunidade?

- Muita coisa boa. Diferente do tombo que demos da primeira vez.

O que ele pensaria se soubesse que aquilo foi planejado? Não quero nem saber.

- Você é um tanto tranquila, sra. Daniela! Dessas que não deixa a gente ir embora.

- É mas está na hora, sr. Gusmão. Intercalei.

Me despedi com um beijo... no rosto.

Isso não é um namoro, então nada de ficar se agarrando! (Que horror Daniela. Dá um tempo.) Haha 

Na manhã seguinte, eu estava bem, disposta, levantei cedo, preparei meu café, fui caminhar um pouco. Fazia tempo que não praticava isso. Durante o percurso eu pude notar algo diferente. Mais pessoas que o normal, na rua para uma manhã de domingo.

Mas isso não era da minha conta, eu também estava na rua.

Caminhar me trazia um sentimento de liberdade, adrenalina e espaço. Me sentia mais madura. Nunca tive interesse em me tornear, mas confesso que adoro ser magrinha. Morava próximo ao Maracanã, então tinha muita gente atleta. Procurava fazer uma caminhada leve, de vinte minutos, por causa das condições e pandemia, estava tudo mais restrito. Aos poucos a gente vai se acostumando.

Os meses foram passando, e eu o Betinho, nos mesmos interesses. 

A Flávia já estava separada, estava feliz por estar solteira. Agora além de mãe, ela estava livre, livre de alguém que não merecia os votos dela. O cara já estava com a amante,  e ainda exige respeito. Mas meu pensamento é desses, respeitar tudo e todos. Mas é óbvio que eu estou do lado dela. Eu estava tão feliz por ela. Passei no salão para lhe dar um abraço, e ainda levei flores. Sou dessas! Afinal não é todo dia que uma amiga ganha a liberdade e se descobre inteira, depois de sair quebrada de uma relação.

- Flávia, você merece tudo de bom!

- Ai amiga, obrigada, eu nem sei o que seria de mim sem você aqui.

- Eu sei! Só mais uma!

- Ahaha, verdade.

- Brincadeira.

Nós sabemos que nós duas nos apoiamos muito! O que se encontra muito hoje em dia. Mas á distância. Pandemia!

Passei na Faculdade, tudo estava terminado. Eu me formei. Agora era uma jornalista, oficial. Montei um blog, canal no you tube e essas coisas.

Precisava montar um assunto! Eu estava meio perdida, mas comecei pelo blog! Eu queria era ser roteirista. Fui atrás, de um cara. Que se chamava André Novaes. O cara era escritor e roteirista. O cara era muito esperto. Me deu dicas de ditador freelancer, viu algumas notas e meus trabalhos, me mostrou de fato o que era um roteiro. Me falou que eu daria uma ótima articulista. Me  indicou uns profissionais que dão cursos, ele era muito técnico mesmo. Eu estava apaixonada por letras, eu devoraria um livro inteirinho, até escreveria o dia inteiro. Queria aprender, buscar ideias, jogar na net, e seja lá o que der. Primeiro ele me deu um jornal, disse que era um presente. "O dia", 65 anos. Eu amei. Fiquei encantada. Como que alguém pudesse pensar em um presente desses? Eu adorei a intenção singela do André. Ele viu o quanto que fiquei admirada e mencionou, uma verdadeira jornalista se agradou até com jornal do estado. E com as principais notícias do dia. 

Debatemos, claro! Conversamos muito, me ofereceu um café, eu estava na minha área. Nada de discretamente falando. O assunto ia surgindo. E aí você pergunta, de onde o André tem jornalismo? É que ele é um cara muito curioso, e isso faz dele ter conhecimento. 

- André o café estava ótimo, mas está na minha hora. Avisa a tua esposa que marcamos a janta, posso convidar um amigo meu?

- Claro, seria uma ótima ideia.

Eu já estava considerando o cara meu amigo. Mesmo que a janta fosse assunto de trabalho,  eu já estava muito a vontade, até com a esposa dele. Novos, ótimos amigos.

Trabalhar no outro dia foi maravilhoso, eu estava cheia de ideias, entusiasmo. Cheguei a dona Zazá estava sorrindo. A Lurdinha como sempre me passou o plantão, me deu o caderno, e disse ela não quis tomar banho.

- Como assim dona Zazá, me conta essa história direito.

- É que a água estava fria! Me contou ela pra ver se me ganha.

"Mulher negra morre no rio á tiros, 1 ano sem ela." Como a sociedade enxerga isso? Esse é meu inquérito jornalístico. E a história começa assim. 

Brasil, Rio de Janeiro, 1 ano sem justiça. A realidade das mulheres brasileiras, independente de cor.

Esse dia eu lí muito, sobre os femícidios, mulheres que eu nunca vi na vida mas me representam, talvez não por opiniões formadas, mas por ser mulher, por estar no mesmo lado, quando se trata do feminino. E se fosse eu, ei você que me conhece.

Falar dessas mulheres não seria um apelo, muito pelo contrário mas momento de respeito que deveriam ser não só lembrado mas questionados, fazendo um levantamento em todos os estados brasileiros. A verdade por trás disto! Hoje em dia, nós representamos elas que morreram. E devemos buscar a verdade, por todas as mulheres.

Conversei com Betinho sobre e  trocamos alguns assuntos.

Mulher quando entra na política, entra pra guerra. Ainda mais quando esta não se abaixa em um mundo machista. Independente do cara ser branco ou negro. Mas tem muito homem que se acha superior, porque nasceu no meio. 

A esses está o perigo. Mulher não manda em casa, mas ela sempre tem as respostas.

Mulher não quer isso ou aquilo, mas possui direitos.

Escrever para mulheres talvez não me fazia diferente. Mas ainda não era meu estilo. Eu detesto brigas, não suporto intrigas, então não poderia ser debates e isso eu não levava jeito. Claro que para entrar em assunto, eu tinha que saber do que estava falando.

Horóscopo quem sabe? Pensei em tudo. Mas colaborar com a sociedade através do meu currículo. E eu queria ser roteirista. Eu acho um tédio, você saber as coisas e ter que manter segredo. Não tenho problemas nisso, mas parece que o mundo acaba, a vida é um golpe. Você mente pra sí mesmo, porque você está ali sabendo toda a verdade e tem que abafar o caso, ocultar alguns fatos. Na hora de um juramento você está mentindo.

Casamento por exemplo? Prometo amá-la e respeitá-la e aquela coisa toda. Gente, de 3%, os 3% não fazem a metade do que prometeram no altar. O altar é brincadeira? E não falo só dos homens, mulheres também. Então, pra que ensaiar horas na frente do espelho, tentando parecer a pessoa mais perfeita, ou perder tempo com coisas rotineiras o tempo todo, cobrar algo de uma pessoa do qual ela não é capaz. Aceita que a vida é toda socializada pra nada sair errado, no contexto as coisas são completamente outras.

Nós queremos a verdade, mesmo que isso choque o mundo inteiro. A humanidade já está preparada faz tempo. Mulheres se reinventam a toda hora, milhões de brasileiros vão a luta todo dia... o fato é que ninguém sabe! Ouvi dizer que o tempo passa, o café esfria. E esfria mesmo. E tentar aquecê-lo, outra perca de tempo, porque o gosto não fica o mesmo. Ninguém vai ficar pior, nunca, por dizer ou ouvir a verdade. O máximo é que você vai se ferrar um pouco. Mas, somos todos preparados!

Quarta-feira á noite e estava tudo combinado.

Chamei o Beto, que não era mais Betinho, para ir comigo, encontrar o André e a esposa dele.

Quanto ao Betinho, nós estávamos amadurecendo, não éramos mais calouros da faculdade. Não demora eu começaria a chamá-lo pelo sobre nome. Dr. Roberto de Gusmão e M.

O André e a Soraya, já estavam nos esperando. Apresentei os homens, do qual já ficaram bem a vontade. Era meu segundo encontro com o André, mas parecia em anos.

Aquela coisa chamada afinidade e respeito lógico, mantinha as nossas conversas interessantes. Eu respeitava muito o profissionalismo dele, desde o início. E éramos sorrisos o tempo inteiro, a menos nos assuntos  mais sérios. Eu estava super a vontade, a Soraya e eu trocamos várias conversas, não falamos só em trabalho. Ela me sugeriu uma ideia. 

- Você não trabalha com uma idosa? 

- Sim, trabalho.

- Fala de coisas sobre idosos. Junta o útil ao agradável.

Parecia interessante. 

- Cria uma coluna no teu blog, de tudo o que você sabe, todas as coisas. Começa a dar sugestões. Ainda mais agora, em época de pandemia, tem gente atrás de coisa interessantes.

A Soraya era designer. Entendia de moda, mas ela falava de todos os assuntos.

Ela perguntou do Beto, era formado em direito. E estava fazendo artes cênicas, na Pontifícia. Além disso usava a biblioteca da faculdade o tempo inteiro, e fazia os cursos dele. Foi assim que acabamos nos esbarrando.

Onde eu, claro, quem devia ir parar na televisão, por ter encenado um esbarrão. Eu achava que ele levasse mais jeito para o direito. Mas ele disse que o sonho o acompanha desde novo. Fez direito por causa do pai. E estava indo atrás do que ele queria, para ver como era. Fiquei sabendo disso exatamente, na conversa, onde Soraya e eu, interferimos, André e Beto, com altas risadas.

Bem estava quase na hora, o jeito, era se despedir de novo. Se deixassem, nós manteríamos a conversa.

- Até sábado Beto!

- Eu entendi bem?

- Costume, já estou acostumada, todo sábado me convida para fazer algo.

Nos olhamos fundo, por segundos. Eu estava, é afim de lhe roubar um beijo. Mas essas coisas não se fazem. Não se não fossemos namorados. E como eu poderia explicar isso para ele?

Sorri então, afinal, coitado. Ele não poderia adivinhar.

Qual é desses dois? Eu quem te pergunto.

Será que está rolando um clima mesmo?

Nessas horas surgem tantas dúvidas. Tantos medos. Preciso marcar hora com a Vânia, minha terapeuta.

Eu cheguei em casa me joguei na cama, eu não entendo dessas coisas. O cara é super educado, eu jamais vou dar em cima dele. Isso é coisa de homem fazer, sem ser exagerado. Mas o que fizeram com a sociedade? Se ele der em cima, fica feio! É vulgar ou não estão namorando para agirem dessa maneira e ficarem se pegando.

Eu estava gostando realmente dele. E ele? Não saberia eu, ah poxa, essas coisas não estão escritas na testa e ele poderia ser mais aberto.

Beto! Você está aí? 01h05

Oi, fala! 01h06

Eu queria dizer uma coisa. 01h07

Sim, eu sei. 01h07

Como você sabe? 01h07

Você me chamou, afinal! 01h08

Ah, pois é, eu estava sem sono. 01h09

Dani... 01h10

Fala! 01h10

Nada, eu também estava sem sono! 01h10

E fiquei olhando o online. Até sumir e virar

"Visto por último hoje ás 01:12"

Não falamos mais.

Quinta, sexta...

Cheguei do trabalho, e fui escrever no meu blog. Estava ganhando muitos comentários. A atitude foi legal, as pessoas estavam interagindo. Entrei em uns grupos, estava bem participativa, divulgando.

Batidas na porta. A Flávia tem a chave, ela entra.

Ainda continuou batendo... É melhor eu ir ver quem é.

- Mãe!!!

- Oii filha, vim vê como que você tá! Vou ficar até domingo.

Nossa, minha mãe aqui, que legal. Mas sério, eu queria mesmo era ficar sozinha. Admita, é o costume.

- Ooi mãe. Você veio. Não avisou nada! (Verdade, ela disse Agosto o tempo inteiro.)

- Eu pedi pro porteiro, fazer surpresa, ele é bem simpático mesmo.

- O Bira. Ele é muito querido! Vamos guardar as suas coisas. Deixa eu por no quarto. Senta! Fica a vontade. Quer beber uma água?

- Eu estava com saudade.

- Sério mãe, eu também. Poxa! Que bom que você veio. É mesmo, que bom que você veio.

- Ah filha, obrigada!

Me sentei no chão, me inclinei sobre os seus joelhos. Ela mexeu em meus cabelos. 

- Me conta o resto do pessoal, a Bianca? O Otávio?

O Otávio é meu irmão mais velho. Muito sério. Chega a ser chato.

A Bianca é daquelas metida. Mas nunca tivemos problemas, nunca estive no caminho dela, e ela tão menos no meu.

- O Otavio está bem, está namorando

Sério?

- Aham, ele está apaixonado.

Qual o nome dela, mãe? 

- Taís, 23 anos. Moça jovem, de bem com a vida, muito boazinha. Mas ela é ciumenta.

- Ah, verdade? E o que você acha?

- Eu acho que ele vai acabar enjoando. Logo o Otávio que é tão sério.

Ciúmes, nunca parei para pensar nessas coisas. Na faculdade, o Beto, tem muitas amigas, e sempre era admirado. Mas, pra ser sincera, que mal há nisso? A várias maneiras de se admirar uma pessoa! Seja pela sua beleza, por sua criatividade, pelo seu porte, por sua intelectualidade. Acho bonito ser admirado! Acho que onde há respeito, pode tudo. Eu não gostaria de ser admirada por ter sinuosidades, mas por ter um lindo par de olhos. Ou uma capacidade incrível. Porque será que ciúmes gera sempre sentimento errado, um efeito contrário nas pessoas? Não dá para comparar. Parece que se você menciona a palavra estou com ciúmes, gera um sentimento de ego na outra pessoa. E porque eu iria querer causar isso? A não ser que ela já tenha ego, e queira me causar ciúmes, mas aí é tempo perdido. Para os dois! Outro negócio é por o casal ter amigos, acho lindo a ideia de todos sentarem juntos, sem nenhum problema. Aliás, não muita gente, mas manter aquelas amizades que você acha sinceras, de longa ou pouca data. Então de que estávamos falando mesmo? Ah, ciúmes. Não dá!

- O Otávio, é verdade, ele é tão sério. E ele não é tão bonito. Mas ele tem suas qualidades, seu charme! Causa interesses, também. Disse ela.

Já dizia minha vó, "boniteza não põe na mesa!" Ditados populares.

- O Otávio é muito trabalhador, responsável e sério. Mãe, quer comer algo?

- Não! Eu fiz um lanche. Não se preocupe."

- Tem certeza?

- Tenho, absoluta!

- Então tá... Vai me conta, e a Bianca?

- A Bianca, já está maquiando, começou a fazer os trabalhos dela, fica tão lindo.

- Ela sempre gostou, leva jeito. Continua enfezada?

- Não, ela está mais na dela! Vai crescendo, ficando calma.

- Ah, então pelo visto todos bem! O resto eu não vou perguntar, pela parentela, você sabe que não me agrada, não gosto de saber da vida de todo mundo.

- Sei! Te conheço! Achei até estranho perguntar dos irmãos.

A gente fica tanto tempo longe, meio que bate curiosidade se estamos perdendo algo interessante.

- E você minha filha, e os namorados?

Mania de tia, vó, mãe querer saber sempre disso.

- Mãe!!! Para!!! Pergunta do trabalho, primeiro pelo menos. (Risos)

- Está namorando, tá?

- Não né! O trabalho vai bem, obrigada.

Conversar com minha mãe é bom, mas nós podemos passar tempo sem morar junto. Nossa relação dá certo assim. Eu sempre pensei que toda relação dá certo, com cada um mantendo seu espaço. Mas as vezes sinto falta dela. Já já vocês vão saber porque.

- Mãe toma seu presente! É uma coisa que eu acho que a senhora vai gostar. 

- Que lindo, um livro. De poemas. Obrigada!

Eu vou ler, mas assim que arrumar meu óculos.

- Tá bom. Eu vou tomar um banho...

Fiquei sentada no banheiro, contando as novidades pra Flávia, nós ríamos o tempo inteiro quando ela soube que minha tinha chegado. Minha mãe iria achar que eu era louca, rindo sozinha no banheiro. Mas o telefone estava comigo naquele momento.

Saí e para minha surpresa a mordomia estava começando. Lembra quando eu eu disse que sentia falta dela? Por isso...

- Coloquei arroz no fogo, não tem feijão na tua casa? Tinha uma louça na pia, aproveitei e deixei escorrendo.

- Mãe, não precisava, é que cheguei do serviço e fui direto pro meu blog.

- O que é isso?

- Ah, um negócio lá! Tá, é um site que a gente cria, escreve, usa pra trabalho, como ferramenta, pra gerar ideias, uso pessoal, girar produtos, a gente interage com o povo. E essas coisas.

- Vou passar uma vassourinha na casa.

- Ah não mãe, deixa a minha casa, a senhora veio pra passear. Amanhã eu limpo. Faço isso uma vez por semana, para tudo limpinho.

- Eu não gosto de ficar parada.

É, não tem jeito.

Jantamos, passamos um café, a comida não foi grandes coisas, só tinha ovos, e uma ou duas verduras. Mas ficou muito boa.

- Coloca na novela das nove.

Eu não sabia, que existia novela.

- Qual emissora?

- Na globo!

- Vou ter que procurar.

- William Bonner, o marido da Fátima.

- Não, eles estão separados, ela está namorando."

- Sério, mãe? 

- Sim faz tempo! Não sabia? Um bem mais novo.

O jornalista não sabe de tudo o tempo inteiro.

- Ah que legal! Que bom, o jeito é ser feliz a todo momento.

Minha mãe ficou assistindo a novela. E eu continuei o meu "trabalho".

Eu estava realmente cansada, mas fui interrompida com uma notícia, "a polícia interdita festa, em um vagão de trem".

O que e que é isso? É cada uma. Mas só queremos a verdade. A notícia é baseada na verdade. Queríamos saber quem foi que causou isso, ou seja o responsável. E quais as reais medidas a serem tomadas, de imediato, vão receber punição os culpados, na íntegra? Não contornem a notícia. Estou falando, eu quero ser roteirista.

- Mãe você olha notícias todos os dias?

- Ah, de vez em quando, é só doença, e bandidos, e roubo, e isso e aquilo."

-Entendo!

Porque quando é pobre aparece! Até  a marca da roupa que estava usando. Mas só aparece quando é assaltante, bandido...

Estávamos já deitadas.

- Está confortável aí?

- Está!

- Então boa noite!

Sábado, tudo, dando certo.

Acordei, cheiro de café passado. Passada estava eu com a hora! 9h da manhã.

Parece que me acomodei com a mãe em casa!

Levantei fui até a cozinha. 

- Bom dia!

- Bom dia!

Estava tudo ajeitado. E eu reparo, afinal a minha casa, algumas coisas já foram trocadas de lugar, mania da mãe. Eu sou organizada, mas a mãe supera.

Tomamos café conversamos um pouco, e voltei para o quarto. Pedi licença, e disse pra ela ficar a vontade. E realmente ela sempre ficava. E eu fui olhar o telefone.

Bom dia, do Beto, da Flávia, o André, os grupos, olhei as redes. Dei uma olhada rápida, não sabia quem respondia primeiro. Aos poucos, com cuidado.

Recebidos

Bom dia amiga, hoje o dia está belo! (Emoji de florzinha).

Visualizei o André, respondi gratificando a mensagem.

O Beto falou algumas coisas durante a tarde,  pedi desculpas, pois havia visto naquele momento. Respondi uma por uma. Nada de mais, coisas clichês.

Nos vemos hoje? Perguntou o Beto na mensagem! 

Respondeu ele á todos os toques.

Eu pensando.

- Mãe!

- O que?

- Se eu sair tem algum problema?

- Vai voltar tarde?

- Não! No máximo nove horas da noite.

- Eu fico olhando a novela.

Beto, vem ás 18h30 e saímos para comer algo! Respondi ele.

Certo! Me disse.

O dia andou se arrastando. Eu estava apreensiva. Já eram cinco horas. Pensei em fazer algo diferente. Quero ver se ele nota.

Mulher tem muito disso, faz algo pra ver se está rolando mesmo. Mas as vezes isso não funciona, ele pode ter déficit de atenção, ou viver preocupado e não repara em nada. Mas vou fazer um teste. Coitados, não dá para culpá-los o tempo inteiro. Resolvi fazer algo, mas com total cuidado.

Eu era daquelas que vivia o mais natural o tempo inteiro. Maquiagem, tudo muito leve. Nada muito elevado, camisetas claras, jeans ou legging escura o tempo inteiro. Vou mudar a cor da calça, pentear o cabelo, jogar uns grampos, estavam mesmo crescendo e por fim um batom, esfumar, e contraste no olho inteiro. 

Botei até perfume, o qual eu deixo mais para ocasiões específicas. Não para eventos, dos quais estou acostumada. Para que gastar á toa?

- Está bonita, onde vai?

Disse minha mãe, ao me ver de cintura alta, bordô e camisa de seda, manga longa.

Um blazer preto na mão. Coloquei até salto. Vivo de all star, não tem jeito.

- Obrigada, sair pra jantar, com um amigo.

Ela riu e disse "amigo".

Sim a gente se gosta, mas somos só amigos, pensei óbvio, não queria ouvir sermões dela, naquele momento. A gente se gosta, Daniela? Até então, só você tem certeza que "gosta" dele.

Ele havia chego, então desci.

O porteiro era o sério, tentava não olhar muito, mas não resistia. Deve ser estranho, quase não me via daquele jeito toda emperiquitada e embecada. Capaz que o Beto não ia reparar. Eu já estava me sentindo estranha. Ele ia notar, como eu sou burra, óbvio que ele ia notar que era pra chamar a atenção. A vontade era de voltar, subir e mudar de roupa. Ele já tinha me visto, estava me esperando do lado de fora do carro.

O oi que eu dei foi longo e aberto, o mais descontraído possível, o que eu mais queria era que ele não notasse a beca.

- Está linda!

Tarde demais.

- Obrigada.

Abriu a porta do carro. E entrou correndo.

- Nossa, você está muito linda.

Sorriso...é de canto! E ainda mordi a boca.

Sorri de novo. Eu queria sumir dali. O que eu estava fazendo? Não sabemos!

Pensa em um assunto logo!

- Está tudo bem?

- Está, e você?

- Bem, e a semana ocorreu tudo bem?

- Dentro do possível. Dá para imaginar o quanto você está linda?

Ele parecia eufórico.

- Mais uma vez obrigada. É diferente né, quando não se está acostumado, então fazemos algo diferente, parece tudo novo.

- É que combinou muito contigo.

Aposto se eu andasse todos os dias daquele jeito, não ia ter a mínima graça! Pensei com meus botões.

- Então, tem falado com o André?

- Sim, o tempo todo.

- Ele é bacana não é?

- Muito gentil."

- A mulher dele nossa, não se fala.

- Verdade! Mas com ela não tenho muita intimidade!

- É bom que saiba. Ela é maravilhosa!

- Está bem!

Chegamos em um restaurante, desses de mesas só internas. A noite estava agradável. O beto parecia inquieto. Exagerei no perfume?

Não sabia ao certo.

- Minha mãe chegou de viagem, ontem! 

- Nossa que legal Dani, você deve estar contente!

- Sim, fazia tempo que não nos víamos, esse momento está sendo importante.

- Porque você não me avisou? Eu teria entendido! Sério mesmo!

- Não! Está tudo numa boa.

- Verdade?

- Verdade!

- Quer conhecê-la?

(Cala boca Daniela!)

- Até que não seria má ideia!

- Eu também acho. Quero ver se minha mãe aprova meus amigos. (Risos)

- Vamos pedir?

Comemos e bebemos. Logo em seguida saímos.

A conversa era boa, ele parecia mais calmo.

Estava acostumando com a Daniela "arrumada". Foi só a primeira impressão, que causou um efeito. Modéstia parte, eu fui ao banheiro fazer retoque. 

É, realmente eu estava agradável.

O jantar tinha terminado, e pelas condições de sempre, nosso passeio também, terminando.

Me deixou em casa. Fui tirando o cinto. Estava com vergonha. Agradeci a companhia.

- Espera um pouco. Disse ele

Sim! Respondi. Olhando bem em seus olhos.

- Eu não ia conhecer a sua mãe?

- Ah, verdade. Você quer fazer isso, mesmo?

- Claro! Seria um prazer.

Descemos do carro. Passamos pelo porteiro.

O Beto cumprimentou ele, eu sempre com o sorriso. Mas não era pra fazer charme.

Boa noite amigo! Disse o Beto.

O porteiro sorriu para ele. Sério, nunca tinha visto esse cara sorrir na minha vida.

Durante o elevador, nós dois nos olhávamos, eu olhava pra ele. E ele retornava. Muito cauteloso. Eu juro, eu quase não conseguia olhá-lo. Eu estava me sentindo estranha. Uma estúpida.

O beto era assim o tempo inteiro comigo, e eu querendo chamar atenção dele. O máximo que recebi naquele dia, era ouvir que estava linda. 

- Chegamos! Falei.

Procurei a chave na bolsa. Então abri a porta.

A mãe estava na sala, assistindo a novela.

- Oi mãe!

- Já voltou?

- Mãe esse aqui é o Beto, um amigo. Olhei para ele e falei: Beto, esta é minha mãe, Cleunice.

- Oi sra. Cleonice, tudo bem? Como está sra.?

Minha mãe não era  do tipo tão velha, mas ele, mantinha o respeito.

- Eu estou bem, obrigada! Senta, fica a vontade!

- Quer uma água? Perguntei.

- Por favor! Sem gelo!

Deixei os dois conversando, obviamente minha mãe estava curiosa...

- A água!

- Obrigado!

- Vocês se conheceram na escola?

- Sim, sim, e eu não te conto como! Falou o Roberto, sorrindo.

- É, como foi? Perguntou ela.

- Com um esbarro! Disse ele.

Ah, o esbarrão, ele sempre menciona.

- E não se machucaram?

- A Daniela, bateu um pouco. Mas ficou bem em seguida. Eu não obtive nenhum problema.

- Ah que bom. Tem que cuidar, mas não é sempre que esbarra-se em um moço gentil, por aí.

- Ah, sra. Cleonice, obrigado, mesmo!

Os dois conversaram, "até dizer chega" como minha mãe costuma dizer. A mãe gostava muito de conversar com meus amigos, ela falava de mim, as vezes, de minhas manias, coisas que até devemos puxar a orelha dela. Mas ela sempre tem um assunto. E o Beto, estava, ao menos parecia, muito empolgado.

- Bom está tarde. Disse ele

Já vai? Está cedo!

- Fica mais um pouco.

- A Daniela deve estar cansada! Outra hora volto com mais tempo.

- Você quem sabe, então!

Eu fiquei observando tudo, muito meticulosa, pois aqueles dois se juntaram para falar de mim, e conversarem de culinária. Segundo minha mãe, ele tinha que ir até Alagoas, provar o sururu.

Já tinha feito até o convite.

- Tchau sra. Foi um prazer.

- Ele era o Betinho que estava doente? Falou minha mãe vindo atrás de nós dois na porta.

- Mãe, era!!! 

Vai pra dentro, já chamei o elevador. Querendo papo no corredor. Aqui não é na vizinhança, passou das 21h, o síndico multa, tenho que explicar isso pra ela.

Desci com o Beto, até o carro.

- E aí o que achou dela?

- Muito bacana a sua mãe, gostei dela. Deixou-me super confortável.

- Que bom!

- E a proposito sra. Daniela, a sra. está muito bonita. Pronunciamos juntos e rimos muito.

Nos olhamos e me despedi com um então tá. Ele foi se aproximando e eu saí de perto.

É ele estava mesmo afim! Pelo jeito. Mas não era o tipo de relacionamento que eu queria. Que a gente ficasse se agarrando no por aí.

Antes de descer, agradeci a companhia dele.

Ele respondeu com  "ah Daniela!!!"

E acabou a noite! Pra nós dois!

A minha mãe achou que a noite estava começando.

- Muito legal o Beto!

- Sim, eu também acho, ele é muito bacana mesmo.

- Vocês se conhecem faz tempo?

- Cinco meses.

- E ele tem namorada?

Olhei pra minha mãe e pensei: a senhora está olhando pra ela. Brincadeira a parte. Respondi:

- Não, o Beto não tem tempo pra essas coisas, mãe. Ele é muito ocupado.

- Mas pra ir em jantarzinho ele tem! Não vem com essa história.

- Mãe!

- Que idade ele tem?

Ah, para, muito detalhe..

- Só fala a idade dele?

32 mãe. E fui para o quarto, antes que continuasse o interrogatório.

Deixei ela com o rádio.

• 

No outro dia de domingo, estava tudo quieto. Fui dar uma volta lá em baixo. Em volta do prédio mesmo! Ou seja, na quadra. Andei um pouco pela calçada. Estava tudo vazio. Diferente do domingo passado. Não demorei muito na rua, voltei logo pra casa.

Quando cheguei, a mãe estava arrumando as coisas dela.

- Não vai agora?

- Não mas, vou deixar tudo pronto.

Eu já estava sentindo falta. Esse é o problema de acostumar com as pessoas. Elas tem as vidas delas, e quando menos esperamos, elas partem.

- Está bem! Eu falei.

- Me dá um abraço se me ama! Disse ela.

Eu não sou boa nessas coisas, mas abracei minha mãe. Ela estava muito cheirosa.

O dia passou rápido, nós conversamos, mesmo que eu não quisesse saber, a mãe contou coisas da família inteira. Eu estava sabendo de todos os boatos. E nós dávamos risada. Eu pedia, para mãe, não me conta, eu não quero saber. Aí mais ela falava. E terminava com "estou lhe falando, foi bem isso que aconteceu".

Eu nunca rí tanto.

As horas tinham passado, e a mãe estava fazendo a organização final de suas coisas.

- Tens que ir no mercado, os teus mantimentos estão terminando.

- Ok. Quando chegar me avisa!

- Pode deixar, eu peço pra Bianca.

- Mas eu estou pedindo pra você me avisar, não a Bianca.

- Tá, eu aviso.

O uber havia chegado. Estava lá em baixo esperando, pronto pra transportar ela.

Descemos. E nos despedimos. Para ela estava tudo tranquilo.

- Tchau mãe, vai com Deus!

Tá bom, fica com Ele também.

Esperei, até eles desaparecerem da rua.

Aquela sensação de casa cheia, havia ido embora. A minha mãe era assim, casa cheia. Conversava, assistia televisão, ouvia rádio e you tube, tudo ao mesmo tempo.

E ela saiu e deixamos tudo ligado. Comecei apagar, eletrônico por eletrônico. Um por um, lentamente.

O silêncio ficara.

A energia dela, foi junto. Pena que essas coisas não se deixam por aí.

Eu estava sozinha, não era tudo o que eu queria? Ficar sozinha? Na verdade eu não gosto de ser é mal acostumada. E convivências acabam virando rotina.

Ela sempre avisava quando chegava em casa...

A segunda-feira passou assim, rápido.

Já era de tarde. Quase 18h.

Eu estava no ônibus, quando peguei o telefone, e dei uma olhada. 18h04

A Flávia havia me ligado. Ué, o que será que houve. Vou ligar em casa, com calma. Sou dessas! Mensagens do Beto... olho depois, com calma. 

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