O inverno de 197 do Novo tempo foi intenso. Tudo dói mais no frio. Corpo e alma. Mas Irelay sobreviveu ao rigoroso treinamento gélido para alcançar a primavera. Entreguei a ele o medalhão com o pássaro. O último Totem.
Um guerreiro deve conhecer a natureza do mundo e aceitá-la em si mesmo. Para poder voar, um pássaro deve vencer seu maior medo. O de não ser capaz.
Se um pássaro acha que está pronto para voar, mas caí, ele terá de se empenhar ainda mais, batendo fortemente suas asas, sem o vento para ajudá-las, ou se tornará o alimento de outro animal. Uma vez devorado, seu corpo se torna energia para outro corpo e sua alma precisará recomeçar. Terá aprendido que deve fortalecer suas asas, antes de tentar voar. Isso só é possível se não houver lamento e, para não lamentar, o guerreiro deve entender que alma &eac
Daigan foi até os dois arbustos mais próximos. Um ainda vestido como seu melhor amigo e o outro como seu pior inimigo. E, vasculhando as vestes, encontrou todos os medalhões, forjados pelos magos de Achibaki. O homem das Florestas os pegou, juntamente com as Espadas Gêmeas. Ele estava ciente de ter, em mãos, o destino da humanidade, literalmente.Se ninguém se apresentasse diante de Aya e vencesse seu desafio, a deusa despertaria e seria a senhora do Dragão. Falhar em decifrar o enigma de Aya, entretanto, era condenar a humanidade tanto quanto deixar que a magia da Ordem chegasse ao fim e libertasse a deusa em posse do dragão, já que a criatura não tinha mais um senhor a quem retornar.O papel de Daigan foi parte vital de tudo o que aconteceu e do que iria acontecer. Ele não se assustou quando ouviu meus passos, se limitando a dizer, quando parei ao lado dele:– Você estava c
Irelay terminou seu treinamento e partiu. Minha estadia na ilha de Phemba Skull Tumba também terminava. Era o momento. Eu precisava encontrar Daigan e ajuda-lo a convencer Aya a aceitar um novo acordo. Não partiria da ilha, porém, sem me despedir de sua senhora.Chamei por ela. O primeiro espectro se manifestou, em esbelto corpo de uma bela mulher nua. Seu cabelo, vermelho, lambia o ar, em todas as direções, emitindo um brilho quente. O segundo corpo de mulher se manifestou, o idêntico ao primeiro, não fosse pelo cabelo, num tom seco de marrom, circulando seu corpo colados nele, embora deslizassem ao menor movimento, sem deixar de tocá-lo nem por um segundo. O terceiro corpo surgiu, igual aos dois primeiros, em forma, mas seu cabelo era verde quase cristalino. E, por último, o quarto corpo surgiu, gêmeo dos anteriores, mas o cabelo era azul se movia como se houvesse uma brisa const
Às vezes a razão para uma pessoa viver é a mesma para ela morrer. Era assim para aquela mulher, perante aquele precipício, de certa forma.O Vale lá em baixo começava a surgir entre a neblina a se desfazer, sem pressa, na luz do Sol, já alto o suficiente para alcançar a parte baixa do vale.Era uma manhã de inverno e a mulher havia acabado de chegar ao topo. Tinha pouco mais de vinte e dois anos. Os olhos eram claros em tons de verde e castanho. O cabelo era liso num castanho claro quase loiro. A pele era clara.O vento frio beijava seu rosto. Ela gostaria de esquecer todo o resto, mas não podia. Sua mente fervilhava. Lágrimas voltaram a rolar sobre a pele já marcada pelo choro insistente. Ela não podia contê-lo.Era o ano de 496 do Novo Tempo. Centenas de anos após a vida de Dáverus neste mundo.Meus passos assustaram a mulher diant
“Dáverus renascerá, após trezentos anos de repouso...” A mulher entoava em sua mente a profecia conhecida por todos em todos os reinos, de forma muito mecânica, tentando achar a confirmação: “...Filho de Ulysses de Valdrick, o maior rei de todos os reis daqueles dias...”Foi o suficiente, embora sua mente tenha recitado o resto pelo automatismo: “Em seu aniversário do vigésimo sétimo ano, vejo o anel de cristal, em seu dedo. Suas palavras eu ouço. Sua vida será repleta de dores e alegrias. Em sua alma, muito peso. Terá poder para salvar a humanidade de um fim pavoroso. Quando o povo estiver prestes a desistir de acreditar, ficará, então, surpreso. Dáverus despertará...”– Proferi essas palavras no ano de 199 deste Novo Tempo e através dos séculos
Irelay renasceu como Dáverus. Seu corpo recebeu o imenso poder de Aya. Mas ele ainda não estava pronto. Servir à deusa durante o período de provação da humanidade seria seu treinamento. E, por longos meses do ano 198 do Novo Tempo, ele a serviu com frieza eficiente. Era um magnífico guerreiro e astúcia não lhe faltava. Enigma após enigma, Dáverus seguia derrotando os humanos, em nome da deusa. As esperanças da humanidade diminuíam a cada dia, juntamente com suas chances de vencer o avatar de Aya.Restava apenas um círculo mágico de desafio para a humanidade.A deusa veio para que uma nova raça governasse este mundo e para que a velha desaparecesse por completo. A humanidade estava sempre em guerra contra ela mesma. E isso era, para Aya, apenas uma das provas de que seu tempo sobre este mundo havia se esgotado. A deusa, entretanto, não quebraria o acord
Aos pés dos mais fortes homens de cada Alto Povo estava a jovem mulher das Planícies. Ela estava amarrada, amordaçada e ferida. Havia lágrimas em seus olhos. Não precisava ser muito esperto para entender que ela estava ali contra sua vontade. Os quatro estavam no centro da clareira.Daigan virou um alforge do qual caiu uma pequena catarata de cinzas e ele circulou o lugar com ela.– Se ele não se apresentar a nós, mate-a – Disse Hans Dullack, o rei das Montanhas. O semblante duro feito pedra. Lutava para manter sua convicção. A boca entre a barba bem feita era um traço reto. Embora não fosse muito mais velho do que os companheiros, fazia juz ao título e experiência.Keiru, sorrindo cinicamente, encostou a espada na nuca de Clarissa, forçando-a para baixo. Ergueu, então, a lâmina e aguardou o comando.Daigan de
No final do ano 198 do Novo Tempo, o mundo marchava em fúria. Cada par de olhos refletia o fogo do olhar de Dáverus. Cada corpo era movido por sua vontade.Os únicos seres humanos do planeta, que ainda não tinham seus corpos dominados pela vontade de Dáverus, estavam cercados no castelo do Alto Povo das Montanhas.Clarissa, senhora do Dragão de Achibaki, havia sido aceita como tutora do pequeno rei, Hans Melik, agora com oito anos. Ali estavam, também, os outros senhores dos Altos Povos.– Estamos cercados – disse o rei dos Povos das Florestas. Não havia medo em suas palavras. Era um homem que sempre avaliava todas as possibilidades para encontrar saídas para as mais variadas questões. Era tio de Daigan. Seu nome era Meldor. Tinha longos cabelos lisos e grisalhos, como o cavanhaque. Sobre a túnica verde havia algumas partes de armadura.&ndas
Os Reinos ainda estavam em reconstrução. Clarissa se esforçava para conter suas lágrimas por seu amado Dáverus. Regressei à ilha de Phemba com as lendárias Espadas Místicas. Embora desprovidas dos poderes, elas continuariam inquebráveis.Phemba me recebeu e contei a ela o que aconteceu.– Deve guardá-las – falei, entregando as espadas.– Assim como guardou meu Dragônix? – Ela estava séria.– Você receberá alguns discípulos aqui na ilha, no decorrer dos séculos seguintes, e um deles estará carregando a pedra negra sem suspeitar do que realmente é. Assim você saberá que ele está destinado essas espadas. A vida deste alguém estará ligada a Dáverus e ele precisará do Dragônix em determinado momento. Mas não se preocupe, ele te devolver