Karen
Eu olhei pela janela do quarto em que estávamos hospedados e a vista era verdadeiramente espetacular. O mar estava ali, tão próximo, e todo o complexo de piscinas convidava para um mergulho. Mas eu estava nervosa demais para aproveitar essas maravilhas. Era o dia do meu casamento. O grande dia havia finalmente chegado.
Voltei para a frente do espelho e me encarei. Será que estava realmente bonita ou minhas amigas estavam apenas tentando me agradar? Deixo escapar a pergunta em voz alta, e vejo Letícia e Camila revirando os olhos simultaneamente. É impressionante como elas parecem estar em sincronia, como se se conhecessem há muito mais tempo do que de fato conhecem.
Esses momentos de descontração são um alívio para os ner
Letícia Eu estava emocionada ao ver Karen tão feliz e radiante. Othon Arraes, o homem que estava prestes a se tornar seu marido, era uma figura conhecida para mim, ainda que nunca tivéssemos conversado diretamente. Como diretor do hospital onde trabalho, já ouvi muitas histórias sobre sua integridade e caráter. Ele é um homem justo, sempre empenhado em melhorar tanto o atendimento aos pacientes quanto às condições de trabalho dos funcionários. Era reconfortante saber que Karen estava se unindo a alguém tão admirável.O cenário era deslumbrante: a nave central montada em um dos jardins do resort onde estávamos hospedados, cercada por flores e sob um céu de azul impecável. O pai de Karen estava ao seu lado, visivelmente emocionado, pronto para conduzi-la até o altar. Camila e eu seguimos para nossos postos, próximos ao altar, onde Othon e seus padrinhos já aguardavam.Eu ainda não conhecia pessoalmente os amigos do noivo, Noah e Colin, embora já tivesse ouvido bastante sobre eles. A noi
ColinEu estava bastante surpreso com a coincidência diante de mim. Descobrir que a mulher com quem tive uma noite de bebedeira e com quem acordei na cama era também amiga de Karen foi algo bastante incômodo. Não apenas amiga. Ela também era médica e trabalhava no mesmo hospital onde Othon é diretor e Karen enfermeira. Era muita coincidência do destino.O fato é que desde o momento em que a reconheci como a mulher do hotel, não conseguia desviar os olhos dela. Era como se um ímã me puxasse a todo momento em sua direção. Mas Letícia Bernardi, como descobri que ela se chamava, não parecia nem um pouco interessada em mim. Pelo contrário, as vezes em que ela olhou na minha direção, havia algo muito parecido com mágoa e rancor em seu olhar, e isso era algo bem estranho.Eu não conseguia entender a reação dela. Tudo bem que eu não entrei em contato depois daquela noite, mas, como eu poderia? Nós não chegamos a trocar cordialidades na manhã seguinte. Sendo honesto comigo mesmo, eu precisava
LetíciaEu não conseguia acreditar na ousadia de Colin. O que aconteceu para que ele decidisse que agora eu merecia a atenção dele? Saí do elevador sentindo-me ferver. Entrei na suíte reservada para mim e tentei me acalmar. Fechei os olhos e fiz um exercício de respiração controlada. Ele não conseguiria me afetar. Eu não deixaria que ele tivesse esse poder sobre mim.Determinada a não me deixar abalar por Colin e agora mais calma, decidi que não ficaria mais no resort no dia seguinte. Não queria novos encontros com ele. Descobrir que ele e Othon eram grandes amigos tornava tudo mais complicado. Sabia que Colin também estaria no resort para aproveitar o dia ao lado dos amigos, assim como tinha sido programado. ColinAcordei me sentindo ansioso. Após a minha tentativa frustrada de conversar com Cecília na noite anterior, passei muito tempo relembrando o nosso encontro no bar do hotel, alguns meses atrás, e tentando recordar algo que pudesse ter dito ou feito para causar tamanha raiva nela. Não conseguia entender, e por algum motivo estranho, não conseguia mais tirá-la da cabeça. Talvez o fato de ter finalmente desistido de Valquíria me deixou aberto para novas possibilidades, e Letícia ressurgiu exatamente nesse momento da minha vida.Com energia renovada, desci para o restaurante do resort para tomar café. Mesmo frustrado pela forma como Letícia me tratou na noite anterior, me sentia animado com o que o dia poderia reservar. Precisava descobrir o que fiz para Letícia terInsensível
ColinAo retornar para São Paulo, eu não consigo parar de pensar em Letícia e em toda a confusão que essa história se tornou. A imagem dela está sempre presente, me perturbando a cada momento de silêncio. Enquanto tento me concentrar no novo projeto de um importante cliente, sinto-me inquieto e sem inspiração. Normalmente, meu trabalho como arquiteto flui com facilidade; tenho uma empresa consolidada no mercado e sempre fui reconhecido por minha criatividade e eficiência. No entanto, dias se passaram desde o casamento de Othon e ainda não consegui recuperar meu ritmo.Se eu fosse honesto comigo mesmo, não poderia atribuir minha desconcentração ao tempo que passei em coma no hospital. Já estava recuperado física e mentalmente antes do casamento no fim de semana. Não, essa inquietação tinha um nome: Letícia.Meu celular vibra sobre a mesa, interrompendo meus pensamentos. O nome de Othon aparece na tela, e eu atendo com um suspiro.— Colin, meu amigo, como você está? Fiquei sabendo que v
LetíciaAcordei naquele sábado com uma sensação de empolgação que não sentia há algum tempo. A ideia de começar a comprar coisas para o meu bebê era emocionante, mesmo que eu ainda não soubesse o sexo dele. Enquanto tomava meu café da manhã, minha mente estava cheia de pensamentos sobre roupinhas, brinquedos e tudo o mais que eu poderia comprar. Tinha o dia livre e queria aproveitá-lo da melhor maneira possível.Comentei com minha mãe sobre a minha vontade de começar as compras, mas também sobre o fato de Karen estar em lua-de-mel e eu não querer ir sozinha. Minha mãe sugeriu então que eu convidasse Camila. — Você e Camila têm se dado tão bem, Letícia. Por que não a convida para ir com você? Tenho certeza de que ela vai adorar.Ela tinha razão. Camila tinha sido uma ótima amiga, sempre presente e disposta a ajudar. Peguei meu telefone e liguei para ela.— Camila, bom dia! Você está livre hoje à tarde? Estou pensando em começar a comprar algumas coisas para o bebê e adoraria sua compan
A primeira coisa que chamou minha atenção quando Letícia entrou na cafeteria foi sua barriga protuberante. Era discreta, mas claramente uma barriga de gravidez de poucos meses. Ela estava radiante e bela, mas a frieza com que me tratou logo me fez voltar o foco ao que realmente interessava naquele momento.Enquanto nos sentávamos, eu ainda me sentia um pouco incrédulo por Letícia ter aceitado me encontrar. Mais chocante ainda foi ela ter entrado em contato comigo, marcando o encontro. Agora poderíamos conversar de maneira mais calma e esclarecer as coisas entre nós. — Obrigado por vir, Letícia — comecei, tentando encontrar um tom amigável.Ela apenas acenou em concordância, seus olhos não encontrando os meus diretamente. Notei seu olhar desviando para a mesa ao lado, onde o garçom acabou de deixar algumas rosquinhas com chá. De repente, entendi que ela provavelmente estava desejando comer a mesma coisa, afinal, estava grávida. Eu acenei para o garçom e pedi a mesma coisa para nós doi
LetíciaO encontro com Colin foi bem diferente do que eu esperava. Quando decidi procurá-lo, imaginava que ele poderia usar todo tipo de desculpa para justificar sua atitude grosseira quando fui contar sobre a gravidez. Mas jamais passou pela minha cabeça que ele usaria a desculpa de que seu irmão gêmeo havia se passado por ele.Enquanto caminhava de volta para casa, tentando processar tudo o que ele me disse, me vi dividida entre acreditar ou não nessa história. Não duvidava que ele tivesse um irmão gêmeo; afinal, isso não era tão extraordinário assim. O que me deixava incrédula era que esse irmão fosse tão desprezível a ponto de se passar por Colin e destratar a mulher que estava grávida do irmão. Mas, como Colin mesmo havia dito, não seria difícil descobrir se ele estava falando a verdade sobre algo tão sério.Ao chegar em casa, não consegui esperar mais. Precisava saber se Colin estava sendo sincero. Peguei o telefone e liguei para Camila. Ela atendeu no segundo toque, e eu fui di