Othon
Entrei em minha casa com um sorriso radiante e me sentindo plenamente realizado após o domingo em família. Ver meus pais desfrutando dos momentos com meu filho, enchia meu coração de alegria. A presença dele parecia iluminar a minha vida com uma nova luz, e eu estava transbordando de felicidade.
Não demorou muito para minha percepção ser comprovada pelas palavras de meu pai. Ele expressou o quanto tinha apreciado a companhia do neto e declarou seu desejo de visitar Curitiba com mais frequência, ansioso por manter uma relação próxima com Otávio.
— Será maravilhoso poder acompanhar o crescimento do nosso neto de perto, querido — concordou Bárbara. — Não posso deixar de co
KarenAo tirar o carro da garagem naquela segunda-feira, percebi de imediato a movimentação de Valquíria e os pais de Logan colocando a bagagem no porta-malas do carro da família. Não precisei de muito para deduzir que estavam se preparando para partir rumo a São Paulo. Um alívio me invadiu, afinal, havíamos nos despedido adequadamente na noite anterior, então, apenas acenei em despedida e segui meu caminho em direção ao trabalho.Durante a manhã, enquanto trabalhava, pensei no passeio de domingo que tivemos com os Arraes no dia anterior. Eles haviam ido até minha casa e conversado com Otávio e meus pais. A ausência de Valquíria pareceu trazer uma tranquilidade inesperada à conversa. Pude perceber uma atmosfera mais leve, livre de tensões que parecem a acompanhar a irmã de Othon Ao refletir sobre o dia maravilhoso que tivemos, concluí que o verdadeiro problema residia na presença de Valquíria. Barbara, inclusive, teve a gentileza de pedir desculpas pelo comportamento da filha e por s
OthonEstou sentado em meu sofá, tentando desesperadamente me concentrar nas palavras do livro à minha frente, mas meus pensamentos insistem em vagar para a casa vizinha. É como se uma força magnética me puxasse naquela direção, mesmo que eu tente resistir.Decido então ligar para Karen. Preciso ouvir sua voz, mesmo que seja apenas por alguns minutos. Afinal, como é possível que dois vizinhos, que também trabalham no mesmo lugar, tenham passado o dia inteiro sem se ver? Essa ideia me incomoda profundamente.Quando Karen atende o telefone, sua voz soa estranhamente fria e distante. Um aperto se forma em meu peito instantaneamente. Algo está errado, tenho certeza disso. Não posso simplesmente ignorar esse pressentimento.Quando pergunto se há algo errado, aá uma pausa do outro lado da linha, que parece se estender por uma eternidade. Meu coração começa a bater mais rápido enquanto espero por uma resposta. Finalmente, Karen responde, mas sua voz soa hesitante, como se estivesse escolhend
KarenAo entrar no quarto de Othon, uma sensação de invasão misturada com timidez toma conta de mim. Fico envergonhada por ter sido eu quem sugeriu esse momento e questiono se foi a escolha certa estar ali naquele instante.Na tentativa de encontrar algo para me distrair do olhar atento de Othon, observo cada detalhe da decoração, uma paleta de cores em tons de terracota e cinza que se misturam de forma interessante.A cama imponente no centro do quarto parece dominar o espaço, bastante convidativa. Não consigo deixar de notar a organização impecável de tudo, como se cada objeto estivesse cuidadosamente posicionado em seu lugar. É o primeiro comentário que me vem à mente, uma tentativa de romper o silê
OthonEnquanto Karen descansava em meus braços, uma sensação de plenitude há muito esquecida inundou meu ser. Desejei que esse momento se prolongasse pela noite e além, mas entre nós, nada parecia simples. Mesmo assim, não custava tentar...— Dorme comigo?— Não posso, Othon — sua resposta foi carregada de tristeza — Não me sinto confortável em passar a noite fora... chegar em casa de manhã...Silenciei por um momento, ponderando suas palavras. Da última vez que estivemos juntos, Karen retornou para casa nas primeiras horas da manhã, temendo encontrar os pais acordados. Aquilo ainda não fazia sentido para mim, uma vez que somos adultos e pais de Otávio.— Estou refletindo sobre o que está faltando para que possamos finalmente ficar juntos, Karen — desabafei, deixando claro meu descontentamento com a situação.Karen levantou a cabeça, fitando-me nos olhos com um sorriso irônico.— Em momento algum ouvi você me propor um relacionamento entre nós, Othon.Suas palavras diretas cortaram o
KarenEu não entendi exatamente onde Othon queria chegar ao mencionar o interesse da senhora Fisher por ele e acrescentar “naquele momento”. Não era como se eu acreditasse que ele estivesse querendo dizer que antes o interesse dela seria bem-vindo, não é mesmo?Apesar do forte vínculo entre Othon e eu, a verdade é que eu não o conhecia realmente. Sendo assim, para evitar criar expectativas em relação a algo que poderia estar fadado ao fracasso, decidi questioná-lo.— Você está querendo dizer que se não estivéssemos nos entendendo agora, você pensaria em aceitar as investidas da senhora Fisher? — perguntei, tentando manter a calma, mas a insegurança começava
ColinEnquanto Valquíria arrumava sua mala para a viagem a Curitiba, eu tentava convencê-la a mudar de ideia.— Você realmente acha que é uma boa ideia ir para Curitiba agora? — perguntei, tentando mostrar minha preocupação. — Othon vai achar estranho você de volta a Curitiba em tão pouco tempo…— Colin, já tomei minha decisão. Não adianta tentar me dissuadir. — Valquíria falou, firme.A determinação de Valquíria em seguir com a ideia de ir até Curitiba era evidente e nada do que eu falava parecia causar qualquer dúvida em sua cabeça. Porém, eu não tinha dúvida alguma de que uma viagem com o único intuito de perturbar a relação entre Karen e Othon, só traria confusão e mais problemas.Eu já não conseguia mais pensar em nada para dizer, pois tudo aquilo que eu disse na tentativa de fazê-la reconsiderar, foi simplesmente ignorado por ela. Valquíria parecia decidida a seguir em frente, ignorando todos os meus conselhos.— Mas pense bem, Val. Você sabe que isso pode acabar em confusão. —
OthonOs dias se passaram sem que eu conseguisse encontrar uma oportunidade para conversar com a senhora Fisher sobre a situação envolvendo a minha relação com Karen e o nosso filho. Eu compreendia o quanto ela deve ter uma vida extremamente ocupada, mas à medida que as horas se transformavam em dias, minha inquietação só aumentava. Não desejava manter o meu relacionamento com Karen em segredo. Afinal, tínhamos um filho juntos, e era simplesmente inconcebível para mim que continuássemos a nos encontrar de maneira clandestina, especialmente quando não era uma escolha nossa.Karen pediu para que esperássemos até que eu tivesse a oportunidade de discutir abertamente nossa situação com a senhora Fisher antes de tornarmos nosso relacionamento público. Sua lógica era clara e razoável, e eu concordei com ela. No entanto, subestimar a dificuldade de encontrar uma brecha na agenda movimentada da dona do hospital. Cada dia que passava aumentava minha ansiedade e a necessidade de resolver aquela
KarenEu já começava a ficar impaciente com a demora de Othon. Combinei com ele de irmos ao cinema e já haviam se passado mais de vinte minutos do horário combinado. Otávio também estava inquieto e não parava de fazer perguntas, com as quais eu não estava sabendo lidar. Depender de uma terceira pessoa para realizar atividades com o meu filho não estava sendo algo fácil para mim.— Mãe, por que o papai não chega logo? Não vamos perder o filme, né? — disse Otávio, com um tom de voz um pouco irritado.Eu tentava acalmá-lo, mas por dentro também estava ficando cada vez mais preocupada. Othon nunca se atrasa assim, ainda mais quando se tratava de passar um tempo com o Otávio.— Você poderia ir até a casa do papai, ver o que está acontecendo — sugeriu Otávio pela décima vez.A insistência de Otávio para que eu fosse até a casa de Othon também estava me deixando cada vez mais irritada. Eu relutava, preferindo esperar mais um pouco, mas diante da impaciência do meu filho, acabei cedendo. — T