OthonOs dias se passaram sem que eu conseguisse encontrar uma oportunidade para conversar com a senhora Fisher sobre a situação envolvendo a minha relação com Karen e o nosso filho. Eu compreendia o quanto ela deve ter uma vida extremamente ocupada, mas à medida que as horas se transformavam em dias, minha inquietação só aumentava. Não desejava manter o meu relacionamento com Karen em segredo. Afinal, tínhamos um filho juntos, e era simplesmente inconcebível para mim que continuássemos a nos encontrar de maneira clandestina, especialmente quando não era uma escolha nossa.Karen pediu para que esperássemos até que eu tivesse a oportunidade de discutir abertamente nossa situação com a senhora Fisher antes de tornarmos nosso relacionamento público. Sua lógica era clara e razoável, e eu concordei com ela. No entanto, subestimar a dificuldade de encontrar uma brecha na agenda movimentada da dona do hospital. Cada dia que passava aumentava minha ansiedade e a necessidade de resolver aquela
KarenEu já começava a ficar impaciente com a demora de Othon. Combinei com ele de irmos ao cinema e já haviam se passado mais de vinte minutos do horário combinado. Otávio também estava inquieto e não parava de fazer perguntas, com as quais eu não estava sabendo lidar. Depender de uma terceira pessoa para realizar atividades com o meu filho não estava sendo algo fácil para mim.— Mãe, por que o papai não chega logo? Não vamos perder o filme, né? — disse Otávio, com um tom de voz um pouco irritado.Eu tentava acalmá-lo, mas por dentro também estava ficando cada vez mais preocupada. Othon nunca se atrasa assim, ainda mais quando se tratava de passar um tempo com o Otávio.— Você poderia ir até a casa do papai, ver o que está acontecendo — sugeriu Otávio pela décima vez.A insistência de Otávio para que eu fosse até a casa de Othon também estava me deixando cada vez mais irritada. Eu relutava, preferindo esperar mais um pouco, mas diante da impaciência do meu filho, acabei cedendo. — T
OthonQuando cheguei em casa, passava um pouco das sete da noite. Eu gostaria de ter prolongado o passeio um pouco mais, mas Otávio já estava se queixando de cansaço, então decidimos voltar para casa mais cedo. Além disso, não pude deixar de pensar em Valquíria, sozinha em minha casa. Ela veio até Curitiba especialmente para me contar a história envolvendo Colin, e eu deveria ter sido mais atencioso com minha irmã.Após deixar Karen e Otávio em casa, a recordação da estranha conversa que tive com Valquíria voltou a me preocupar. O comportamento de Valquíria havia me deixado desconfortável e sem reação. Ela não conseguia entender a sua insistência para que eu cortasse relações com Colin de maneira definitiva, sem ao menos ouvir a versão dele sobre a questão dos preservativos. Não poderia deixar de defender o meu amigo, claro. Eu tentei argumentar com Valquíria sobre a importância de uma amizade tão antiga como a que temos com Colin e a necessidade de entender primeiro o contexto compl
KarenEu estava terminando meu café da manhã quando a campainha tocou, fazendo meu coração dar um salto no peito. Uma sensação de esperança misturada com ansiedade se espalhou por mim. Meus pais e eu nos entreolhamos, todos se perguntando quem poderia estar tocando naquela hora da manhã.A voz infantil e curiosa de Otávio quebrou o silêncio, expressando os nossos pensamentos ao perguntar quem poderia estar na porta. Nenhum de nós soube responder, todos igualmente intrigados com a visita inesperada.A campainha tocou novamente, demonstrando impaciência por parte da pessoa que estava à porta. O meu pai comentou que a pessoa do outro lado parecia estar com pressa. Eu me levantei apressadamente, deixando minha xícara de café pela metade.— Eu vou atender à porta — avisei. Conforme me aproximava da porta, a curiosidade aumentava. Secretamente, eu desejava que fosse Othon, pois mal tivemos tempo para conversar após o passeio com Otávio. Porém, constatei que se tratava na verdade de Valquír
KarenNão fiquei surpresa com o que aconteceu após a visita de Valquíria e entendi perfeitamente o motivo da demora para que ele fizesse o que fez. Othon me ligou, querendo saber o que eu havia dito para sua irmã, já que Valquiria chegou em casa chorando copiosamente.— Karen, o que aconteceu? Por que Valquíria está assim? — a voz de Othon soava preocupada do outro lado da linha.— Eu não fiz nada, Othon. Valquíria veio até aqui, primeiro me ofendeu e depois começou toda uma encenação de boa tia e agora você está me acusando? — minha frustração transparecia em minha resposta.— Desculpe, Karen, não foi isso que eu quis dizer. Só estou tentando entender o que aconteceu.Aquela falta de confiança dele me irritava profundamente. De maneira precipitada e impulsiva, acabei descontando em Othon toda a minha frustração com aquela situação. Porém, não considerei totalmente gratuito, uma vez que ele era o principal motivo pelo qual eu estava chateada agora. — Não devo satisfações para você,
KarenEnquanto a indignação ainda fervilhava dentro de mim, percebi os olhares confusos de Camila e Noah direcionados a mim e a Colin. Aquela sensação de incredulidade me consumia, mas ao mesmo tempo, a confusão de meus amigos só aumentava minha frustração. Como poderia explicar para eles o que estava acontecendo quando eu mesma mal conseguia acreditar que aquilo tinha mesmo acontecido?Sentindo-me uma tola por não ter reconhecido Valquíria como a mesma mulher que me enganou no quarto do hotel em Fernando de Noronha, percebi que minhas palavras haviam sido desconexas e cheias de praguejos, sem explicar nada para os outros dois. Colin realmente não havia compartilhado nada com Noah e Camila.— O que está acontecendo? — Camila quebrou o silêncio, sua expressão confusa refletindo sua confusão. — O que Valquíria e a falsa noiva de Othon têm a ver uma com a outra?Respirei fundo, buscando acalmar minha mente enquanto me preparava para explicar tudo aos meus amigos, para que compreendessem
OthonEu não tinha a menor ideia de quanto tempo fiquei encarando o teto do meu quarto, mas certamente foi bastante tempo. Após levantar e olhar pela janela, constatei que a noite já havia caído. O fato é que eu estava perplexo diante da tensão entre Valquíria e Karen. Era como se duas partes do meu mundo estivessem em rota de colisão, e eu não sabia como intervir. Caminhei até o banheiro, ainda pensativo e encarei o meu reflexo no espelho da bancada de mármore. Fiz uma anotação mental sobre fazer a barba antes de sair para o trabalho na manhã seguinte. Naquela noite, tudo o que eu precisava era de uma boa noite de sono, algo que eu achava difícil de acontecer.Por um lado, há o amor inabalável que sinto pela minha irmã, com quem sempre tive uma relação pacífica, totalmente sem conflitos. Por outro lado, está Karen, a mulher que amo e mãe do meu filho. Como posso escolher um dos lados nessa confusão inexplicável que se estabeleceu entre Valquíria e Karen, sem que até agora eu tenha c
KarenAo sair da sala de Recursos Humanos, uma sensação avassaladora de desamparo me envolveu. A notícia da demissão ainda martelava em minha mente, me deixando desnorteada. Trabalhar no Hospital Central sempre foi mais do que um simples emprego para mim; era minha paixão. Desde que decidi estudar enfermagem, sonhava em fazer parte da equipe ali. Agora, ver esse sonho desmoronar diante de mim era angustiante.Enquanto caminhava pelo corredor em direção ao vestiário das enfermeiras, sentia um peso no peito, uma mistura de tristeza e indignação. Por que meu relacionamento com Othon tinha que custar minha carreira? Era injusto, cruel até. Lutei contra a vontade de desabar ali mesmo, mantendo a postura e segurando as lágrimas.Ao chegar ao vestiário, recolhi minhas coisas, pensando em tudo o que estava prestes a perder. Mas não demorei em realizar aquela tarefa e me apressei para a garagem do prédio. Eu não sabia por quanto tempo mais eu iria conseguir segurar as lágrimas de frustração qu