Dolorosa Paixão
Dolorosa Paixão
Por: Roberta Del Carlo
Capitulo 1

Victória abriu os olhos lentamente, suspirou e abriu um sorriso languido, o seu corpo estava sobre uma cama confortável e macia, em um quarto silencioso e fresco. De repente, as lembranças das últimas horas bombardearam a sua mente fazendo-a despertar e se sentir estarrecida com o que havia acontecido na noite anterior, após dizer sim para David.

Victória acordou na cama do seu chefe, David R. Boss.

Ela saiu das cobertas e olhou em volta, viu estar den­tro daquele quarto, para onde foi levada, porém não gritou por ajuda em nenhum momento e assim cedeu o seu corpo e a sua alma em uma das experiências mais excitantes da sua vida.

Em seu corpo, uma nova camisola de pura seda e o sobretudo sobre o sofá como foi deixado ali na noite passada. Agora, ela queria sair dali. Primeiro, vestiu o sobretudo, tentando escon­der o corpo que ficou exposto à noite inteira.

Victória ajeitou o cabelo com as mãos tentando um coque improvisado e saiu do quarto andando bem devagar, esperando ouvir algum barulho, algum sinal do David pelo apartamento. Não ouviu nada.

A vergonha era imensa que Victória, não parou para analisar a bela cobertura e toda a sua decoração de bom gosto e luxo, o seu objeto era sair daquele lindo lugar e chamar um táxi, mas lembrou-se que não tinha mais as chaves do seu pequeno apartamento. Quando chegou na sala e caminhou rapidamente para a direção da porta quando uma voz a surpreendeu.

— Senhorita Victória.

Ela virou com a mesma rapidez de como se estivesse sido atingida.

— Sim?

Elas logo se reconheceram.

A mulher era a governanta de David e já haviam conversado outras vezes pelo telefone. Seu nome era Olga e era exatamente como Victória havia imaginado. 

— Dona Olga?

— Finalmente nos conhecemos, como vai Dona Victória? — Falou a mulher num tom agradável, sem maldade ou malícia no olhar.

— Vou bem Dona Olga, mas eu tenho que ir. Eu…

— O senhor David pediu para o aguardar e também pediu para aproveitar bem o seu dia aqui no apartamento.

— Como? Eu não posso, eu tenho que ir. Eu…

— Quer tomar o seu café da manhã?

— Não. Eu estou sem fome. — Victória olhava para os la­dos, perdida, vestida daquela maneira — Preciso das minhas roupas… — Disse pensando alto, preocupada. Por que dormiu tanto dessa vez?

— Chegaram algumas peças para a senhorita, estão no quarto ao lado do senhor David. Venha, mostrarei para você.

Victória seguiu a governanta, que parou em frente a porta e abriu dando passagem para ela passar. O quarto bem decorado e no centro três araras de roupas embaladas contendo de tudo um pouco para a vestimenta feminina, aquele ambiente lembrava mais uma butique de luxo.

—Fique à vontade aqui e nas demais dependências da casa e as­sim que estiver com fome me avise. Com licença.

Olga saiu do quarto e Victória começou a olhar as peças, todas muito caras, de tecido leve e delicado e não ousou mexer em nenhuma.

Para ela ainda tudo muito surreal.

***

— Ela acordou?

— Sim, senhor David, ela tentava sair do apartamento, mas está tudo trancado como mandou.

— Ela o quê?!

— Ela está vestindo um sobretudo preto, e não pegou nenhu­ma peça que o senhor mandou entregar, mas deixei uma bandeja no quarto para que se alimentasse...

Do outro lado da linha, um sopro pesado.

— Sei. Olga continue cuidado dela e a faça comer...Dentro de algumas horas estarei de volta.

— Sim senhor.

— Ótimo.

David desligou a ligação.

***

Victória fitou as roupas bonitas, entretanto, retornou para o quarto que havia passado a noite que agora estava arrumado. Em cima da cama, um jogo de toalhas felpudas e um roupão novo. Também uma necessaire que reconheceu ser sua!

 Ele voltou para o apartamento ou mandou alguém buscar

Realmente ele era um homem controlador, não apenas no escritório, mas em tudo, ele pensava em tudo, sempre.

Victória pegou as aquelas coisas e correu para a toalete que mais lembrava um catálogo de uma revista famosa. O banho foi revigorante, aproveitou para lavar o corpo e os cabelos longos e lisos.

Assim que voltou para o quarto encontrou uma linda bandeja de café da manhã esperando para ser degustada.

Victória sentiu a fome e não resistiu a tantos quitutes.

Um tempo depois, Olga pediu licença e entrou na suíte.

— Que bom que se refrescou e encontrou as suas coisas.

— Obrigada Olga quem as trouxe?

— Um entregador que deixou na portaria sob as ordens do senhor David, o que mais posso fazer por você?

Victória a fitou com carinho a mulher que a tratava tão bem e ficou com muita vergonha e total sem jeito pela sua situação.

— Dona Olga… Eu passei a noite aqui, mas, é que não que­ria que pensasse mal de mim.

— Senhorita Victória, não precisa se explicar, eu nunca me intrometi na vida do Senhor David, sou paga para cuidar da casa e dos convidados dele. Qual­quer coisa estarei na cozinha, pode chamar por esse interfone, à tecla é o três. Aproveite o café. Com licença.

Olga a deixou, porém, a mente de Victória não parava de pensar:

Como será que estava o escritório? O que as pessoas es­tavam falando? Será que Elano deu sinal de vida? O quê David ainda queria…

Eram tantas as perguntas e as dúvidas, o tempo foi passando a deixando-a mais apreensiva.

Victória sentiu um frio percorrer o seu corpo ainda mais quando se lembrava da sua entrega àquele homem enigmático, entretanto, afastou aqueles pensamentos, pois a sua noite de paixão desenfreada tinha um grave motivo:

Ela roubou uma pequena quantia e estava ali para pagar.

O seu chefe estava usando aquela situação para não denunciá-la e também para os nãos dos tanto convites que recebera para jantar ao longo dos oito meses que ocupava o cargo de secretária do executivo e filho do dona de empresa Boss.

Victória estava perdida.

As horas passavam e Victória não definia nada.

— Ainda pensando em fugir?

Aquela voz. Ela virou e olhou para a porta do quarto, era David.

— Não. — Respondeu com voz baixa.

— Que bom, pois eu tenho uma proposta para você.

— Proposta? David, eu não devia ter feito...

— Você precisava descansar...

David foi se aproximando cada vez mais, com um olhar cheio de saudade e de algo a mais.

— Agora mais uma vez só eu e você, estou gostando disso, só de imaginar que o que tem dentro desse roupão me deixa muito mais contente.

Os dois estavam bastante próximos, seus olhares não se desgrudavam.

Ela tinha receios.

Ele queria a redenção.  

David carregava nas mãos uma pasta e entregou para ela.

— Toma, quero que leia sem pressa.

— O que é isso? Que documentos são esses?

David sorriu, aproximou-se, e soltou os dois botões e a fita que amarava o tecido em volta do corpo desejado a deixan­do mais uma vez desnuda.

— Porque você age dessa maneira?  Você viu quantas roupas mandei para você.

— Eu não vou aceitar.

David fincou as sobrancelhas e disse num tom ríspido.

— Pouco me importa então. Assim que ler o que tem aí, terá de aceitar e enquanto lê isso, eu vou buscar uma bebida. E decida logo.

Victória o viu sair do quarto e fechou o roupão, mantendo- o assim e começou a ler os documentos.

Um era um contrato da empresa.

E o outro um contrato incomum.

— Quero que leia e decida o quanto antes.

Voltou, David, parado na porta do quarto.

— Eu vou terminar de ler no outro quarto. — Victória le­vantou segurando a pasta com força.  

— Sinta-se à vontade minha Vic.

Ela passou por ele quase como um furacão. Entrou no ou­tro quarto, batendo a porta, olhando aqueles dois contratos. En­tão, decidiu pelo ‘’incomum’’.

Ela leu com todo cuidado. Parecia mais um contrato nup­cial. Era um contrato de convivência dela para com David, duran­te duas semanas.

Ele a queria por longas duas semanas e teriam que ter uma vida como de um casal. E ainda, teria que ser totalmente fiel a ele e as suas fantasias.

Isso é uma loucura! — Ela pensou.

Mas ela também o teria por um algum tempo e poderia conhecer mais aquele homem, que mexeu com seus sentidos as­sim que o viu ao lado da sala da dona Bernadete, pensando que ele fosse um funcionário qualquer da empresa. Mas ele era seu chefe, filho do senhor Carl, que era um senhor muito agradável, mas enérgico e sério.

Victória estava nas mãos dele. Guardava um sentimento muito forte por aquele homem e por isso o deixaria usá-la, sa­bendo que o amaria.

O outro contrato foi um golpe. Era sua rescisão. Assim que as duas semanas terminassem o dinheiro estaria dentro da conta do grupo Boss e ela seria enviada para outro setor da empresa. Ou, caso preferisse, também poderia pedir demissão, como uma dispensa normal.

Ela roubou agora teria que pagar o preço que David a im­pôs.

Victória voltou para o quarto. David havia acabado de sair do banho com uma toalha envolta na cintura e com outra enxu­gava os cabelos, deixando-a sem jeito.

— Então o que decidiu?

— Eu… Eu assino o contrato.

David a fitou com um misto de malícia e uma pontada de felicidade.

— Mas eu tenho as minhas condições.

— Fale.

— Não me chame mais de Vic, eu não gosto.

Ele a olhou pareceu surpreso e deu de ombros.

— Por quê? O seu amante a chama assim?

— Eu apenas não gosto.

— Está bem. Então está de acordo com tudo, até o final.

— Sim, eu li e concordei.

O olhar dele escureceu.

— Você vai sair com quase nada dessa história, Victória, o dinheiro vai entrar na conta quando o contrato encerrar, se você pular fora, já sabe o que a espera. É apenas isso que você quer?

— Eu quero ir ao meu apartamento, quero usar as minhas roupas, já que ainda serei a sua secretaria. Eu peço para que ninguém saiba desse nosso acordo.

David se aproximou e tocou o rosto dela

— Condições aceitas, Victória, e acredite em mim, isso vai ser bom para nós dois.

David se afastou e entrou no closet que era tão grande como o quarto.

— Então vamos até o seu apartamento. Pode começar agora a fazer o seu papel, eu quero você linda. Essa noite vamos jantar fora e quero levá-la ao Donata, é o melhor restaurante da cidade, por isso não me decepcione.

Victória pegou a caneta que já estava dentro da pasta e assi­nou, jogando em cima da cama. Foi para o quarto de hóspedes onde estavam as roupas novas e ali tinha virado o seu refúgio.

Eram muitas roupas naqueles cabides. Ela optou pelo ves­tido mais simples, preto em decote V mas discreto e era na altura dos joe­lhos. Viu um salto que combinasse e montou rapidamente um jogo de acessórios, escolheu brincos e um anel de pedras de Tur­malinas. Victória pensou na sua mãe que ficaria maravilhada com tantas peças de roupas de grife, mas Victória sabia que não tinha puxado esse lado brilhante da sua mãe, apenas quando tinha al­gum evento tentava pensar como a Dona Pilar.

Assim que se aprontou olhou-se no espelho, fez uma rá­pida e simples maquiagem e deixou os cabelos soltos, secou-os com o secador para ficaram mais controlados.

Chegou na sala e viu David conversando no celular.

— Falta pouco então. Mas fiquem de olho, o que ele fez não tem um mínimo de decência, aguardarei. Ok!

Ele desligou o celular e virou em sua direção.  

David tinha um sorriso lindo e a olhou de cima a baixo. Ele também já estava pronto e Victória o achou ainda mais encanta­dor, parecendo mais jovem do que realmente era. Ali, parado no centro da sala, cabelos úmidos com roupas informais.

— Eu sabia que você optaria por um vestido simples e mesmo assim ficaria magnífica.

— Gentileza sua.

— Você me conhece já há alguns meses para saber que não sou gentil com qualquer pessoa.

Ela ficou sem jeito com o olhar dele.

— Onde está Olga?

— Ela já foi, só volta na segunda… Ela gostou de você.

— Eu também gostei dela...

Victória estava deixando aquela cobertura depois de um dia inteiro, trancada. Tudo aquilo mais parecia uma redoma de vidro, um mundo à parte com David

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