Capitulo 3

A vida de Victória e David há oito meses. 

David estava em um vernissage a convite de uma amiga, pois andava de muito mau humor há meses. Ele se sentia tão desmotivado. E também queria se desligar do grupo Boss e seguir com sua nova empresa esportiva.

Ele havia sido casado com Valérie quando era mais jovem. Ela era uma mulher também jovem e fascinante. Na época a fa­mília Rafaelli Boss foi contra, mas acabaram aceitando o casa­mento e as loucuras do casal. Foram apenas três anos. Um dia ela resolveu ir embora e desde então, David parecia usar as mulhe­res, apenas vivia alguns casos, mas nada ficava sério. E claro, ciente da sua beleza e dinheiro, sabia que muitas suspiravam por onde passava. Menos na empresa do seu pai, onde até aceita­va alguns flertes, mas não passava disso.

Mas, naquela noite, enquanto estava tomando o seu drin­que no mezanino e olhando as pessoas circularem no primeiro piso, observando e falando dos quadros e das esculturas espalha­das pelo salão, ele avistou uma mulher admirando um quadro a mulher estava muito atenta aos detalhes dos quadros e das esculturas. Ela usava um vestido azul longo e bem ajustado ao corpo com uma fenda pouco ousada, não usava joias e os cabelos estavam de lado.

Algo naquela mulher chamou a atenção de David, que parou de pres­tar atenção em sua convidada, para olhar fixamente a mulher de azul.

David queria saber quem era ela de qualquer maneira. Percebendo que estava sozinha, agiu, chamou o garçom e pediu para fazer algo.

O garçom atravessou o salão com uma bandeja com ape­nas uma taça de vinho, até chegar à mulher de vestido azul.

— Senhorita.

— Sim?

A expressão de seu rosto era de total surpresa.

— Um cavalheiro mandou esse vinho, é o melhor da adega da casa, um Chateau Lafitte e está na temperatura ideal.

Ela olhou surpresa para o garçom e a taça. Disse:

— Obrigada, mas não devo aceitar, já estou de partida. É muita gentileza desse senhor.

— Ele está no segundo piso e deseja falar com a senhorita.

Ela corou, tímida, insegura e então optou por uma outra saída.  

— Agradeça a ele por mim, mas eu tenho mesmo que ir. Desculpe.

A moça de vestido azul se afastou, caminhando para a por­ta de saída.

O garçom voltou com a bandeja e a taça de vinho para a mesa de David, que tinha visto tudo de longe.

— Senhor Boss.

— O que ela disse? — O tom de voz dele era direta e seca.

— Ela disse que estava partindo e pediu para agradecer.

David deu um sorriso de canto, agradeceu o gar­çom dando uma cédula alta, e a taça do vinho ficou intocado sobre a mesa a noite toda.

Duas horas depois, Victória chegou em casa, ou melhor, no pequeno apartamento que morava com uma colega dos tempos de escola, que trabalhava num hospital e queria fa­zer doutorado ainda naquele ano. Morar em lugares baratos era uma solução temporária.

Victória estava na cidade a três meses, tentava um cargo de secretária, já que onde morava tinha ficado complicado por causa do irmão mais velho. Enquanto não arru­mava um emprego, trabalhava de arrumadeira ou babá no prédio que dividia com a colega Sara.

— Então, gostou? — Quis Sara saber, assim que Victória entrou e tirou os sapatos e soltou os cabelos.

— Nossa eu adorei! Quadros lindos!

— Fico contente que gostou. O dinheiro deu para pegar o táxi?

— Deu sim Sara. Obrigada mais uma vez, o convite era seu.

— Mas eu não gosto e você sim. É que o Igor é tão bonzi­nho que acabei aceitando. Mas deu tudo certo, você se divertiu e amanhã tem uma entrevista importante. Vamos brindar!

— Brindar?

— Sim, temos duas taças e uma coca cola light!

Victória sorriu e acompanhou a amiga até a pequena co­zinha.

— Acredita que me ofereceram uma taça de vinho na exposição.

— Sério! — Sara arregalou os olhos. — E você não acei­tou?

— Achei melhor não. Fora que eu não sei se colocaram algo na bebida e também eu tinha que vir embora, tenho que estar bem para amanhã.

— E quem era?

— Eu não sei, o garçom que trouxe. Fiquei sem jeito.

— Eu não acredito Victória! Mas espera, o vinho não es­tava naquela lista da exposição, era só uma taça de Champanha ou um dry martíni, que eu adoro. Nossa, o cara devia estar em uma ala privilegiada na galeria. Eu não acredito! 

Sara balançou a cabeça incrédula.  

— Esqueça Sara, preciso me concentrar para manhã.

— A vaga é sua. E a minha promoção vai sair semana que vem então, um brinde!

As taças se tocaram fazendo um rápido som e as duas be­beram o líquido.

— Já viu que roupa você vai?

— Já, vou com a saia cinza, camisa social azul e um scarpin.

— E os cabelos?

— Vou fazer uma escova pela manhã para deixar mais comportado.

— Vai parecer uma professora de matemática, mas estará muito bonita.

— Eu só quero o emprego mesmo.

— E o Elano?

— Sumiu… deve estar bem, a tia Camila também está sem notícias.

— Vai dar tudo certo amanhã. E você vai poder ajudar a sua tia.

— Vai sim Sara e para nós duas.

As duas brindaram mais uma vez e terminaram a bebida, começando a se aprontar para o dia seguinte.

                                                                  ***

No Grupo Boss.

A vaga para secretária de um dos diretores não teria gran­des novidades, se não fosse pelo gênio do patrão.

— Quantas vieram?

— Para você duas. Eu mesma selecionei os currículos, liguei e farei a entrevista com elas e as demais.

— Estou roubando você do meu pai, Bernadete?

— Mas é só por hoje. Não vejo a hora de deixar alguém aqui que cuide do caos do seu setor. Toda semana é uma.

— A culpa não é minha.

— Como não David?! O seu mau humor, pedidos repenti­nos, esse telefone tocando sem parar, já que não atende o celular para suas amantes.

— Eu não tenho amantes… Amantes são para homens comprometidos e isso eu não sou.

— Acho que deve se casar e logo, seus pais ficariam felizes e você teria uma mulher para cuidar de você, acompanhar nos jantares e almoços de família.

— Mas se nenhuma me interessa, o que posso fazer?

— Não me faça rir, eu te conheço desde o dia que nasceu e, David, eu sei que é só escolher que tem bastantes candidatas.

— Ontem eu vi uma na exposição da Dirá Speller, uma jo­vem linda.

— Mas você não estava acompanhado?

— Melissa era apenas um encontro, já terminamos.

— E a moça?

— Não aceitou o meu vinho. Mas assim que eu colocar os olhos novamente naquela mulher, não a deixarei escapar.

Bernadete era uma mulher com mais de cinquenta anos, trabalhava para o senhor Carl Boss a mais de trinta anos, conhe­cia os filhos do patrão e a esposa e foi uma testemunha ocular do sofrimento de David com o rompimento com a Valérie.

A mulher de tailleur de linho vinho, cabelos grisalhos apesar do rosto sério, pois tinha que manter uma linha dura na empresa, olhou para o rapaz que escolheu usar naquele dia um terno escuro e camisa cinza, sorriu.

— Eu espero que a encontre logo e que seja muito feliz. Agora posso chamar as candidatas?

— Vamos ao trabalho dona Bernadete.

***

Victória estava em uma antessala junto com outras can­didatas, o cargo era de para assistente comercial para o Grupo Boss.

Quando ligaram para marcar a entrevista, ela mal acreditou. De­pois de tantas tentativas, semanas e mais semanas cadastrando seu portfólio. Ela tinha se formado em Secretariado e desde os dezesseis trabalhava. Primeiro foi em uma empresa pequena de contabilidade, passando três anos, conseguiu um emprego em uma empresa de seguros.

O seu futuro era certo na empresa, ainda mais que já cursava a faculdade, mas teve que sair para ajudar o irmão. Depois trabalhou para uma grande advogada da cidade e teve que fazer o mesmo. Então. A sua tia Camila disse para ela tentar o futuro em outro lugar, em uma cidade maior e assim quem sabe ficar longe do seu irmão.

Victória tinha acabado de completar vinte e quatro anos e não tinha estabilidade nenhuma tanto financeira e amorosa. Contudo, a sua família que se resumia a sua tia e o meio-irmão vinham sempre na frente.

Estavam ela e mais duas mulheres; uma moça morena que devia ter a sua idade, mas as roupas que usava não combinavam tanto com aquele ambiente, o decote estava bastante aberto e o perfume era muito forte. A outra parecia uma governanta do Pa­lácio da Inglaterra, a mulher estava séria e ereta, focada olhando para frente e mais duas moças na casa dos vinte e cinco a trinta anos.

Victória respirou fundo, faltava pouco para sua vez.

Bernadete era quem fazia as entrevistas, mas David estava numa sala ao lado, que eles chamavam de aquário. As paredes de vidros só serviam para separar as duas salas, então David pode­ria analisar as candidatas sem atrapalhar a entrevista, feita pela mulher.

A morena foi à primeira, era muito insinuante. O olhar dele foi de divertimento para a Bernadete, que logo fez outras perguntas e acabou dispensando a moça. Depois entrou a mu­lher mais velha e Bernadete sorriu para David que olhou assus­tado, balançado a cabeça para a secretária-chefe não contratar.

Assim que ficaram a sós:

— E agora?

— Tem uma aqui na ficha que até se encaixa, mas a entrevista era para a equipe do Fausto, eles vão precisar de uma moça por lá.

— Ela é muito nova?

— Eu acho sim. Mas tem um currículo excelente, é forma­da recentemente, mas já trabalhou em ótimos lugares. Mas deve ser nova na cidade. E já que a Geane vai entrar em licença maternidade, vou enviar essa moça para lá e amanhã, resolvo o seu setor.

— Então entreviste a moça agora. E amanhã quem sabe… enquanto isso a Dalila se desdobra um pouco, o Otávio não está gostando.

— Seu primo aguenta mais um pouco, a parte financeira e de planejamento tem que ficar nas mãos dos filhos. — Disse a mulher, segurando o portfólio.

Bernadete então pediu para Victória entrar.

Victória entrou na sala, Bernadete sorriu. Aquele sorriso dizia que havia gostado da moça, e começaram a conversar.

David, que olhava algo na tela do tablet, não notou a moça entrar. Ele procurava fotos da galeria para ver se encontrava a mulher do vestido azul, mas a busca era em vão. Até que o seu olhar foi diretamente na direção das duas que conversavam e de repente sentir-se golpeado pela surpresa que se abateu sobre ele.

A mulher que buscava na tela estava ali, a poucos metros dele, conversando com Bernadete para trabalhar com seu irmão. Ele engoliu seco, era uma mistura de excitação e raiva.

Ela usava uma camisa azul!

O olhar dela passou para o dele bem rápido. Ela pareceu ficar sem jeito, mas voltou a olhar para a secretária-chefe.

Então David entrou na sala e chamou.

— Bernadete, dei-me um segundo.

Ele não pediu, dessa vez o tom era de comando.

— Não pode esperar?

— Não.

Bernadete pediu licença e Victória olhou os dois se afas­tarem. Ficando sem jeito mais uma vez quando seus olhos encon­traram com os dele e o viu passar por ela saindo da sala, seguido pela mulher.

Os dois entraram na sala de vidro, mas Victória não ouvia o que falavam.

— Fala logo David!

— Quero que a contrate.

— Mas eu não terminei a entrevista.

— Não mande para o Fausto, eu a quero como minha se­cretária.

— Tem certeza?

— Tenho, quero que ela comece hoje.

— David o que aconteceu?

— Apenas cansei dessa seleção. Se a moça está dentro do padrão, então ela fica.

— Ela só começará amanhã, tenho que agilizar a documentação. Fora que, como sua se­cretaria ela terá bônus, ou então chegará aqui todos os dias atra­sada. Ela mora longe, é metrô e ônibus. Imagina, acho que ficará tudo certo dentro de dois ou três dias.

David pareceu não se importar e pegou a folha das mãos da Bernadete.

— Victória! — Pronunciou David sorrindo.

*** 

— A vaga é sua. - disse Bernadete quando finalizou a entrevista.

— Sério?

— Sim, mas a sua colocação é para outro setor. Vamos arrumar sua documentação. Se quiser conhecer o seu novo ambiente de trabalho esteja à vontade. O seu chefe é David Rafaelli Boss. Acho que você o viu naquela sala ao lado durante a nossa entrevista.

Victória engoliu seco.

— É eu o vi rapidamente.

— O seu trabalho vai ser direcionado somente a ele, o seu andar é da diretoria e um salário muito agradável. E pelo que conversamos a sua função como secretaria encaixa dentro do que precisamos. Qualquer dúvida tem a mim e a Dalila.

Victória agora tinha um emprego em uma das empresas mais importantes do país.

Ela estava muito feliz!

E aconteceu tudo muito rápido, a mudança seria feita em uma semana, sua experiência seria de noventa dias, teria acesso a quase tudo da empresa, o dono era o Senhor Carl Boss que na época estava em um cruzeiro com a esposa que já foi uma mo­delo muito famosa.

Naquela tarde escutou muitas histórias. Os demais fun­cionários a receberam muito bem. Olhares masculinos pairavam sobre ela, mas Victória não queria problemas.

O primeiro dia foi um pouco tenso, toda hora o seu chefe a chamava para pedir, avisar, agendar, falar e m****r. Fora quando chegava algo ou recebia algum telefonema de uma empresa de artigos esportivos com o nome de West Trutton, tinha que ser passado rapidamente para David.

Ela não o fitava diretamente, mas quando seus olhos cru­zavam com os dele, suas pernas enfraqueciam e o seu coração acelerava.

Algum tempo foi passando, ela fez a mudança e tentava economizar o máximo que podia, era sempre atenta e se afastava dos murmurinhos.

Victória recebia convites para jantar ou ir a alguma festa, mas sempre negava. Apenas uma vez aceitou ir no jantar com Dalila e outras secretárias. Foi divertido, elas beberam, comeram e conversaram muito.

Mas o convite do David era sempre tentador.

Porém, ela sempre recusava e isso parecia afetá-lo de al­guma forma.

Ele mexia com ela. Victória tinha medo que David soubes­se…

Mas ele era o seu chefe e ela tinha receio de não resistir aos encantos dele longe daquele escritório. Fora que muitas ad­miradoras apareciam para visitá-lo.

Isso vinha mexendo muito com a Victória.

                                                              ***

David era controlado, esse era a sua maior arma. Mas es­perar um sinal da sua secretária era muito para sua paciência. Talvez um jantar e uma noite resolvessem ou talvez duas, mas ela sempre se recusava e era tão profissional. Isso só aumentava a curiosidade em volta dela; pois era tão jovem, séria e sem com­promisso. Alguns homens estavam cheios de curiosidades e con­vites em sua volta não faltavam.

Ele sabia que ela era bela com aquele vestido azul, o jeito que olhava as gravuras e esculturas, e não usava aqueles óculos. Ela escondia algo e ele queria descobrir.

Uma imagem que ele viu e não conseguia mais esquecer, foi um dia em que Victória falava com alguém ao telefone e ficou tensa de repente. David esperou terminar a ligação. Assim que a chamou, ela sem querer derrubou uma caixinha de clipes e se abaixou para pegar, ajoelhando no chão, para ser mais rápida, pedindo desculpas. Ele viu que queria muito mais, que a que­ria naquela posição em seu quarto, vestida em uma camisola de seda. Somente para ele.

David queria muito esquecer a sua secretária e tentou de várias maneiras, no entanto, em uma certa tarde quando foi para uma reunião e não voltou mais para o escritório recebeu uma ligação interna e no mesmo instante soube que era ela que havia feito.

A sua secretária retirou trinta mil dólares das contas da empresa e naquele mesmo dia, entregou para um homem que a aguardava na esquina. Foi nesse momento que David resolveu agir e não a denunciaria.

David queria a dama de azul, a secretaria exemplar, a mulher misteriosa em uma só.

Ele fez a proposta e contou sobre os seus desejos e vontades, o beijo no apartamento dela a assustou um pouco, mas depois ficou tudo mais suave e quando ele exigiu o seu corpo, Victória se entregou.

Porém, David queria muito mais do que aquela noite e quando soube que o homem estava rodeando-a novamente não teve duvidas para fazer a chantagem e propôs um acordo.

O jogo havia começado!

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