Patrick atendeu ao telefone, enquanto via Noelle sair de sua sala. Aquilo o irritou, já que Mariana não disse que iria para o escritório naquela manhã e sempre que ela ligava para seu telefone pessoal era porque estava indo para lá, pedindo que ele ativasse o controle do elevador.
– Oi, Mariana – ele disse, tentando não demonstrar a revolta em ter perdido a chance com Noelle.
– Oi digo eu – ela respondeu, irritadíssima. – Tem várias chamadas suas em meu celular. O que você quer comigo que não podia esperar? Não já te falei que quando não estou aí eu estou fazendo o meu trabalho?
A fúria consumiu Patrick. Não acreditava naquilo. Não, ele não tinha ligado para ela:
– Você está louca? Eu não liguei para você. Estava aqui muito ocupado. Pare com suas loucuras, já lhe f
Mais algumas semanas passaram sem muitas novidades. Em casa, quando estava sozinha, mexia em seu novo notebook. Já havia instalado os programas que precisava e, ainda que com muita raiva por conta do ocorrido, pegou o vídeo gravado, cortando os pedaços que realmente lhe importava. Os comprometedores, mostrando Patrick tentando abusar dela.“Consegui o ângulo perfeito. Isso já vai contar na hora que eu precisar de provas contra aquele desgraçado.”Fez um backup, salvando no próprio notebook e em drives virtuais. Assim, não corria o risco de perder seu material mesmo que algo acontecesse.Os planos de Noelle estavam caminhando muito bem. Por mais que ela ainda tivesse que se sujeitar a muitas coisas, sabia que a resposta final seria sua vitória. Estava ainda irritada com Patrick. Ainda sentia o toque das mãos dele em suas pernas, esse pudesse é ela portaria cada um dos dedos de
– Patrick, eu preciso que você dê uma promoção para uma de suas funcionárias. – Mariana entrou no escritório pessoal do seu marido gritando. Sempre escandalosa e irritante, deixava Patrick cada vez mais chateado sempre que resolvia ir na empresa. Ainda mais quando resolvia se meter em assuntos da empresa.– E por que eu deveria dar uma promoção a uma de minhas funcionárias? – respondeu Patrick, com uma expressão de irritação e de insatisfação com aquela solicitação tão estranha.– Porque você uma funcionária muito boa em um lugar muito ruim. E se não fosse por ela, eu estaria agora com uma blusa falsa toda suja de suco de uva. Como ela foi simpática em me ajudar, estou bem agora.Patrick suspirou. Mais uma vez aquela mulher criava problemas para ele. Não se tratava apenas de promover
Mariana chegou irritada na empresa. Como sempre, acompanhada de Jarbas. Entrou na sala de Patrick:– Eu tenho que fazer uma inauguração daquela coleção e não sei nem como organizar isso. E você não me ajuda em nada, Patrick. Me dê uma solução, não posso fazer a estreia ser dessa forma. O que eu faço?Patrick, já bem aborrecido de não conseguir trabalhar, berrou com ela em seu escritório:– Eu não sei. Preciso fechar essas planilhas. Pegue um funcionário, sei lá. Faça algo que seja útil. Tenha ação ao invés de apenas ficar me perguntando as coisas. Quem você quer para ir com você? Fale que eu dispenso agora.Ela pensou alguns instantes. Só tinha um nome em sua mente, aquela que ela ajudou a promover. Aquela que ela trocou de posição na empresa e que tinha
Paulo continuava preocupado. O que Noelle estava falando? Estaria ela insinuando que a patroa e o motorista tinham um caso? Uma insinuação dessas era algo bem complicado de se fazer. E, sem provas, poderia gerar uma série de problemas para os dois. Ele olhou de maneira séria para Noelle:– Você não pode falar isso sem provas, Noelle. Como tem coragem de acusar os dois? Sem provas... Eles só vieram a uma casa e só. Isso é sério demais, Noelle.Noelle puxou o celular, ativando um programa. Nele, apareceu uma imagem de vídeo. Apesar de não ser perfeita, dava para ver claramente Mariana e Jarbas como que conversando. Paulo se espantou:– O que é isso, Noelle? Que imagem é essa?– Como lhe falei, tenho coisas para resolver. Você está assistindo exatamente o que está acontecendo dentro da casa com os dois. Eu coloquei uma pequen
A grande inauguração de Mariana com a coleção nova foi um verdadeiro sucesso. Todos elogiaram a forma como tudo estava organizado e perguntaram quem foi a pessoa que foi responsável por tudo aquilo. Todas as empresárias do lugar queriam o contato para que fizessem a organização das suas próprias exposições. E isso trouxe uma grande ideia que geraria muito lucro para Mariana: criar um setor de organização de eventos e colocar aquela empregada para fazer todo o serviço.Com aquele pensamento, ela chegou no andar privativo de Patrick, completamente eufórica. O sucesso e o lucro fizeram muito bem para ela, que sorria sem parar. Levou até um presente para o marido, uma gravata feita com tecidos especiais importados que ela conseguira com um representante que sugeriu parceria com ela.– Patrick, meu marido – ela disse, bem eufórica ainda –,
Naquela tarde, justamente naquela tarde, Noelle deveria sair sozinha da empresa. Desesperada, humilhada, abusada por um homem que nem ao menos sabia quem era ela. Sem rumo, ela deixou a empresa. Seguiu seu caminho, passando primeiramente em uma farmácia. Comprou um remédio e logo o tomou. Seu maior medo, inicialmente, era que aquele ato insano ainda lhe trouxesse uma gravidez. Seria algo que acabaria com sua vida para sempre naquele momento.Ela estava ainda atônita. Não sabia como reagir ao ato de violência que acabara de sofrer. O pior é que ela não conseguira nem ao menos reagir. Culpa de todos aqueles traumas, de tudo que passara na vida até chegar naquele momento. Caminhava, desesperada. Sem rumo. Sem saber nem como chegar na sua casa.Ao passar em frente à igreja da Candelária, ela repetiu a frase que vivia escutando sua mãe dizer quando criança e que ela gravara na sua mente. Talve
1996Após Maria das Dores engravidar de Patrick e sua tia Marta falecer, ela retornou com o irmão para a casa da família. Ali, ela, que estava prestes a ter seu bebê, voltou a morar com seu irmão mais velho, a esposa dele e o filho que na época tinha dez anos de idade. Seu nome era João.Quando Noelle nasceu, o garoto não gostou muito da chegada daquela menininha. Ainda mais que a atenção da casa se voltou diretamente para ela. Até a mãe do menino, que não gostava de Maria das Dores, passou a dar atenção para a menininha.Passado o tempo em que ela já podia fazer as coisas em casa, Maria das Dores foi tratada novamente como se fosse uma empregada e estivesse ali de favor. Ficava a cargo dela organizar casa, cozinhar e cuidar do menino. E ela não podia falar muito, pois escutava diversas vezes que estavam ali, morando de favor naq
2020Paulo estava assustado. Ouvir todas aquelas palavras, a história de uma menina que passou todos aqueles problemas e que agora buscava a justiça. Era difícil imaginar o que aquela criança não sofreu:– Noelle, eu nem sei o que lhe dizer. Imagino o quanto tenha sido difícil e... pensar em sua ação é como pensar em alguém que age com legítima defesa contra seu inquisidor. Eu... nem sei o que dizer diante dessa história que você agora está me contando. É algo realmente muito triste.A jovem estava de cabeça baixa. Lágrimas de um passado sofrido corriam em seu rosto. ela era muito mais do que aquilo. Sempre sonhou em ter mais. Mas, naquele instante, era a menina quebrada, destruída, que não tivera, na época, nem a oportunidade de sofrer pelos seus problemas. Chorar não lhe foi permitido. E, agora