Naquela tarde, justamente naquela tarde, Noelle deveria sair sozinha da empresa. Desesperada, humilhada, abusada por um homem que nem ao menos sabia quem era ela. Sem rumo, ela deixou a empresa. Seguiu seu caminho, passando primeiramente em uma farmácia. Comprou um remédio e logo o tomou. Seu maior medo, inicialmente, era que aquele ato insano ainda lhe trouxesse uma gravidez. Seria algo que acabaria com sua vida para sempre naquele momento.
Ela estava ainda atônita. Não sabia como reagir ao ato de violência que acabara de sofrer. O pior é que ela não conseguira nem ao menos reagir. Culpa de todos aqueles traumas, de tudo que passara na vida até chegar naquele momento. Caminhava, desesperada. Sem rumo. Sem saber nem como chegar na sua casa.
Ao passar em frente à igreja da Candelária, ela repetiu a frase que vivia escutando sua mãe dizer quando criança e que ela gravara na sua mente. Talve
1996Após Maria das Dores engravidar de Patrick e sua tia Marta falecer, ela retornou com o irmão para a casa da família. Ali, ela, que estava prestes a ter seu bebê, voltou a morar com seu irmão mais velho, a esposa dele e o filho que na época tinha dez anos de idade. Seu nome era João.Quando Noelle nasceu, o garoto não gostou muito da chegada daquela menininha. Ainda mais que a atenção da casa se voltou diretamente para ela. Até a mãe do menino, que não gostava de Maria das Dores, passou a dar atenção para a menininha.Passado o tempo em que ela já podia fazer as coisas em casa, Maria das Dores foi tratada novamente como se fosse uma empregada e estivesse ali de favor. Ficava a cargo dela organizar casa, cozinhar e cuidar do menino. E ela não podia falar muito, pois escutava diversas vezes que estavam ali, morando de favor naq
2020Paulo estava assustado. Ouvir todas aquelas palavras, a história de uma menina que passou todos aqueles problemas e que agora buscava a justiça. Era difícil imaginar o que aquela criança não sofreu:– Noelle, eu nem sei o que lhe dizer. Imagino o quanto tenha sido difícil e... pensar em sua ação é como pensar em alguém que age com legítima defesa contra seu inquisidor. Eu... nem sei o que dizer diante dessa história que você agora está me contando. É algo realmente muito triste.A jovem estava de cabeça baixa. Lágrimas de um passado sofrido corriam em seu rosto. ela era muito mais do que aquilo. Sempre sonhou em ter mais. Mas, naquele instante, era a menina quebrada, destruída, que não tivera, na época, nem a oportunidade de sofrer pelos seus problemas. Chorar não lhe foi permitido. E, agora
A festa estava bem organizada. Mesas contratadas se espalhavam pela sala, fazendo com que todos os convidados estivessem sentados. Assim, poderiam conversar, enquanto escutavam um quarteto de cordas, formado por dois violinos, uma viola e um violoncelo, que executava peças de Beethoven, Bach e Vivaldi. No meio das mesas, estavam algumas das peças mais bem cotadas da coleção de Mariana. Ela fazia questão de exibir aquelas que trouxeram prêmios e que faziam com que se orgulhasse da profissão.Paulo e Noelle sentaram no lugar específico para os dois, sendo conduzidos por garçons. Começaram a comer, recebendo diversos petiscos e muita bebida. Noelle disse para Paulo:– Não exagere no álcool, lembre-se do que ainda pretendemos fazer neste lugar.– Não se preocupe, Noelle. Tenho consciência disso. Vou tomar apenas refrigerante. Quero estar bem sóbrio para
Paulo olhou para Noelle. Os dois pareciam extremamente surpresos. Como o relógio fora parar dentro da bolsa da jovem assim? Aquilo iria trazer um grande problema para eles. Ainda mais no meio de tantas pessoas conhecidas e famosas, que esperavam um jantar tranquilo e sem nenhum tipo de preocupação.– Eu... eu não peguei isso – Noelle disse, de maneira bem assustada ao encontrarem o relógio em sua bolsa.Os seguranças separaram a jovem de Paulo, levando-a para uma sala do lado. Mariana e Jarbas seguiram atrás, para resolver o que fariam com a jovem naquele momento. Paulo tentou seguir, mas foi impedido. O rapaz que era seu amigo, ao ver a situação, disse para ele:– Não vá agora. Espere. Se você quer ajudar sua namorada, espere. Se for agora, vai acabar atrapalhando.Noelle foi posta em uma sala com uma cadeira, com dois seguranças olhando para ela.
Alguns dias se passaram desde o incidente. Paulo voltou a trabalhar, mas Noelle permaneceu em casa todo o tempo. Queria esperar que a poeira abaixasse para continuar seu plano. Para isso, precisava permanecer quieta. Paulo era seus olhos e seus ouvidos dentro daquela empresa.Numa bela manhã de sol, quando não se falava mais do ocorrido no jantar, Noelle foi de carro com Paulo até perto da empresa. Chegou lá e permaneceu dentro do veículo por um bom tempo, esperando o momento certo para entrar e continuar com seu plano para a empresa. Então, ela viu o que tanto queria: Patrick estava entrando na empresa pela porta da frente. Ele fazia isso poucas vezes, mas, naquele dia, ela já tinha a informação de que isso iria acontecer. Foi o que a levou para a frente da Barrier. No momento que ele subiu, o celular dela tocou:– Oi, Paulo, eu vi que ele subiu nesse momento.– Sim, aguarde uns minutos.
Ao deixar aquele lugar, Noelle voltou para o carro de Paulo. Ali, tomou alguns remédios que tinha comprado anteriormente, principalmente para manter a consciência e para dor. Queria continuar com o seu plano e não seria um dia como este que a impediria. Agora, conseguira as chaves que usaria futuramente na conclusão de tudo.Precisou de mais de uma hora para se recobrar e ainda mais meia hora para conseguir mandar uma mensagem para Paulo. Disse apenas que estava bem. Que sobreviveria e que conseguira o que precisava. Paulo respondeu que estava preocupado e que ela não saísse do carro antes que ele chegasse para a levar para o almoço.Quando ele chegou, ela estava sentada abraçada com suas pernas. Estava tremendo, assustada. Mas parecia ainda mais nervosa do que antes:– Noelle... quer falar sobre isso? – Paulo sabia que a situação não teria sido tão simples e nem que e
O início da campanha de final de ano estava próximo na Barrier. Era o dia em que todos se reuniam em uma grande festa no andar de convenções e, após um discurso de Patrick e de Mariana, o vídeo que fazia o lançamento da campanha era exibido, geralmente contando a história da Barrier e incentivando os funcionários a se dedicarem para que crescesse cada vez mais. Com isso, mostrava como que ter a participação dos funcionários era essencial para que se crescesse a empresa cada vez mais e que isso era essencial para gerar cada vez mais empregos.Entre todos os motivos daquele vídeo, estava o fato de que, assim, todos eram motivados a trabalhar cada vez melhor. Com isso, mais e mais pessoas tentavam melhorar seus serviços após cada uma dessas convenções.A de final de ano ainda tinha o teor das festas. Com isso, os patrões desejavam seu feliz Natal e
Quando as imagens de Mariana e Jarbas praticando sexo apareceram no telão, com aquela filmagem que, por um capricho do destino, pegou o melhor ângulo dos dois, houve imediatamente um silêncio mortal entre todos na empresa. O que era aquilo? Alguma brincadeira? Algum erro?Patrick, estático, estava paralisado diante daquela cena. Sua mulher com o homem em quem ele mais confiou na vida. Não que ele fosse um exemplo, e sabia que ela tinha seus casos por fora do casamento. Mas jamais imaginaria que justamente Jarbas tivesse um caso com a sua mulher.Mariana, desesperada, achando que iria desmaiar a qualquer instante, olhou para Jarbas. Pela primeira vez na vida ela viu o medo estampado nos olhos dele. Sua face estava pálida, seu corpo trêmulo.– Mas que porra é essa? – Patrick deu um grito, enquanto olhava para Mariana.Os funcionários começaram comentários baixinhos, enquan