O sorriso de Caio aumenta cada vez mais enquanto os meus pais me contam o quão bom é o seu trabalho com reformas e como não há ninguém melhor do que ele para o serviço — o que só faz o seu ego, que já é enorme, crescer até mal caber dentro de si. E após todas as apresentações, eles e Viviane finalmente saem para trabalhar.
Meu pai é motorista de ônibus, minha mãe doméstica em uma casa de família e Viviane está em seu primeiro emprego, como vendedora em uma loja de calçados no shopping da cidade.
— Então? — Caio fala. Ele está de pé perto da porta, parecendo exageradamente paciente, enquanto eu, fingindo indiferença, tento não olhar para nada além da tela do meu celular.
— Então o quê?
Ele ri.
— Você pode me levar à garagem? Preciso começar a trabalhar. — E o tom condescendente em sua voz quase me faz perder a compostura.
— Você trabalhou aqui antes, então sabe onde fica a garagem — digo, indicando a porta com a mão. — É só ir.
Mas ele apenas cruza os braços.
— Sei onde fica, mas preciso que abra pra mim. Eu não posso arrombar a porta... — Caio se interrompe e bate com o dedo no queixo, como se estivesse contemplando o que acabara de afirmar, então diz: — Na verdade, eu poderia. Mas aí teria que consertar depois, e isso ocuparia muito do meu tempo.
Em uma mistura de irritação e divertimento, me levanto e vou até ele.
— Você é sempre assim tão cheio de si? — questiono, parando a uma distância segura, os braços cruzados imitando a sua postura.
Ele dá de ombros e um sorriso de canto aparece em seus lábios — atraindo meus olhos diretamente para eles. Recuo alguns passos e tento não prestar atenção na sua aparência, no seu corpo, em...
— Vou ter que tirar algumas caixas de lá primeiro — digo, quebrando a linha dos meus pensamentos, e pego a chave que estava pendurada em um preguinho ao lado da porta.
Ando em direção à garagem com Caio em meu encalço. Começamos a levar as caixas para a cozinha, e quando já estamos acabando, me abaixo para pegar o último embrulho, encontrando o olhar dele sobre mim ao me levantar. Seu rosto, por alguma razão, está vermelho.
— Tá tudo bem? — pergunto, e ele rapidamente assente. — Pois não parece. Talvez carregar todas essas caixas seja cansativo demais pra você.
Percebendo que não havia nada além de provocação em minha sugestão, ele tira o embrulho das minhas mãos e aperta os lábios.
— Pode ter certeza de que não foram as caixas que me deixaram assim. — Ele pisca para mim e dessa vez sou eu quem fica corada.
Aproveito a sua saída para me recompor e logo me apresso de volta para a cozinha, sem pensar muito enquanto procuro os utensílios para preparar os cupcakes, esbarrando no caminho com um Caio igualmente apressado.
— Se precisar de ajuda, é só me chamar — ele diz, antes de partir para a garagem sorrindo para o meu fraco “obrigada”.
Depois de separar tudo que usarei, coloco o meu avental e a minha touca, lavo minhas mãos e começo a preparar a massa. Bato todos os ingredientes à mão, com o auxílio do fuê, e quando considero a consistência boa, pego as formas, as preencho e então as ponho no forno. E enquanto a massa assa, faço uma ganache de chocolate ao leite, cubro com filme plástico e deixo no canto da mesa. Não demora e os cupcakes estão prontos. Sempre gostei deles por serem rápidos e deliciosos.
A cozinha já está com aquele cheirinho gostoso que tanto amo, penso enquanto, depois de esperar que a massa esfriasse, decoro cada unidade com todo o cuidado. Me afasto da mesa e vejo o resultado, constatando como ficaram lindos. Coloco-os em um caixa específica para transporte de cupcake, mas deixo três separados, pondo-os em um prato. E então os levo para Caio, depois de me despir da touca e do avental.
Quando chego à garagem, quase os deixo cair ao vê-lo trabalhando sem camisa, segurando um tipo de espátula e arrancando uma camada fina da parede; os músculos de seus braços flexionados e algumas gotas de suor escorrendo e dando a impressão de que a pele brilha. Fico um tempo perdida naquela visão, até Caio falar comigo e me tirar de meus pensamentos impuros.
— Precisa de alguma coisa?
— Ahn..., trouxe isso pra você. — Desviando o olhar, mostro os cupcakes e torço para não parecer culpada ou envergonhada.
— Você fez isso pra mim? — indaga, arqueando as sobrancelhas em um claro sinal de surpresa.
— É só uma forma de agradecer pelo que fez por mim ontem — murmuro. — Vai querer ou não?
— Claro que quero. Me deixe só lavar as mãos.
Ele sai por um instante e volta, pega o prato e se senta no chão mesmo. Após a primeira mordida, murmura um “isso está ótimo”. A boca suja de chocolate e o sorriso de prazer fazem com que ele pareça uma criança que se afoga em sua comida favorita. É impossível, até para mim, não sorrir.
— É a primeira vez que a vejo sorrir assim — Caio diz, mostrando que, mesmo absorto no doce, ainda presta atenção em mim. – Obrigado, aliás — fala, quando os últimos resquícios do cupcake somem do prato. — Estava delicioso. Você vai fazer muito sucesso por aqui, tenho certeza.
— Assim espero. Tive a ideia de fazer alguns e entregar pelo bairro com um cartãozinho meu — conto. — Tudo que quero e reconquistar o que perdi.
Ele me olha com uma feição triste.
— Sei que não é da minha conta, mas você poderia me contar o que aconteceu? Gostaria de conhecê-la melhor.
Com um suspiro, me sento ali ao seu lado.
— Vou fazer um resumo, ok? — Ele concorda. — Eu saí daqui quando tinha dezoito anos. Fui morar em São Paulo com uma amiga. Lá, trabalhei cinco anos como garçonete até juntar dinheiro pra abrir minha confeitaria, e depois de um ano conheci um rapaz que era meu cliente fiel. Nós começamos a namorar e há poucos dias ele roubou todo o meu dinheiro e fugiu. — Caio me olha surpreso. Obviamente não esperava por esse desfecho. — Então tive que fechar a confeitaria e voltar pra cá — continuo. — É isso.
— Que idiota esse cara! Eu sinto muito. Mesmo não a conhecendo direito, sei que não merecia isso, e sua família fala muito bem de você. Seu pai estava todo animado com sua volta. Eles têm muito orgulho de você.
Encosto minha cabeça na parede e olho para o teto.
— Mas eu voltei depois de tanto tempo de mãos vazias. — Sinto a minha visão embaçar e sei que são elas, mais uma vez: as lágrimas.
— Manuela, olha pra mim – ele pede baixinho, e assim o faço. Não sei se me sinto bem ou mal com a compaixão que enxergo em seu olhar. — Tente se cobrar menos e lembrar que nada disso foi culpa sua. Você foi vítima de um cara sem caráter. — Caio limpa as minhas lágrimas e aproxima o rosto do meu. E assim ficamos por muito tempo; ele me encarando com uma intensa ternura enquanto eu me perco no verde dos seus olhos.
Sinto o meu coração disparar com a possibilidade de que me beijasse. Ele está tão perto, e me fita com tanta determinação. O que eu faria se os nossos lábios por fim se encontrassem? O que deveria fazer? Então, como se ponderasse os mesmos pensamentos que eu, Caio se aproxima ainda mais e toca a minha bochecha tão de leve com a boca que eu mal posso chamar de beijo. Não tenho certeza se estou aliviada ou decepcionada. Me levanto rapidamente e o vejo franzir a testa com a minha reação. — Obrigada, Caio — consigo murmurar. — Vou entregar meus cupcakes pelo bairro e deixarei a porta encostada caso precise de alguma coisa. E quando estou prestes a sair, ouço-o me chamar. — Manuela, eu fiz algo errado? Congelo com a sua preocupação, demorando demais para responder. Mas, com todo o autocontrole que posso reunir, apenas digo: — Não. Apenas preciso trabalhar. E saio antes que ele possa fazer mais perguntas. Arrumo sem muita atenção a cozinha e
Ainda estou mexida com o que ocorreu pela manhã. Como agora já são quase duas da tarde, estou terminando o almoço. Faço canelones de presunto e queijo e coloco a forma no forno, para dar uma gratinada no queijo que joguei por cima. E, enquanto isso, vou até meu quarto e ponho o vestido mais curto e colado que tenho. Se Caio quer jogar esse jogo de sedução, por mim tudo bem. Quando termino de me arrumar, vou à garagem e vejo que Caio está terminando de raspar a última parede. Ele está bem no cantinho, abaixado. Vou até ele e ficobem na sua frente. — Você já almoçou? – pergunto, e ele se vira lentamente para mim; seus olhos fixando-se de imediato em minhas coxas. Estalo os dedos diante do seu rosto. – Estoufalando com você. — Oi! – Enfim levanta a cabeça e olha para o meu rosto. – Ainda não. Estava querendo terminar primeiro pra depois ir em casa preparar algo pra comer. – Elese levanta. — Você não quer almoçar comigo
Uma semana se passa e Caio e eu passamos todo esse tempo provocando um ao outro. Muitas vezes tive vontade de ceder ao desejo enorme que tenho por ele, mas consegui ser forte. Pelo menos até hoje. Ele é orgulhoso e teimoso — e nisso somos parecidos —, e por essa razão ninguém quer dar o braço a torcer. Minha lojinha finalmente está pronta e Viviane, em seu dia de folga, resolveu ficar e me ajudar. E estou tão ansiosa que parece ser a primeira vez. — Está pronta para abrir as portas? — ela pergunta, com um grande sorriso. — Um pouco nervosa, mas estou pronta. E agradeço tanto pela ajuda... — Não precisa agradecer. Vivi me manda ficar atrás do balcão enquanto ela abre a porta, e não posso acreditar no que meus olhos veem. Lá está o meu primeiro cliente, lindo e sorridente. Vivi olha dele para mim desconfiada, mas com um sorrisinho malicioso. — Caio, que surpresa — fala, toda empolgada. — Bom dia. — Ele dá um beijo em sua bochecha
Caio havia baixado a guarda? Ele me pede um beijo depois de todo esse tempo, e quando dou por mim, já estou em seus braços — esses braços maravilhosos, que fazem cada centímetro do meu corpo gritar o seu nome. Poderia ficar o resto da minha vida aqui, sentindo o seu toque, o seu aperto em minha cintura, quase doloroso de tão bom, e os seus lábios que exploram os meus de um jeito arrebatador. É como se ele precisasse desse beijo para sobreviver. — Manu! — Escuto Vivi gritar e me lembro que estou em horário de trabalho, e, relutantemente, me afasto de Caio. — Acho que ela precisa da minha ajuda. É melhor eu voltar. Ele segura o meu rosto e me dá um selinho. — Agora eu vou pra casa, mas estava falando sério em sair com você mais tarde. Você aceita? — Faço que sim com a cabeça, sorrindo. — Então pego você às nove. Ele me dá mais um beijo curto e sai pela porta da cozinha. Dou uma arrumada na minha roupa e no cabelo, recolho a bandeja e volto para
Uma semana atrás, prometi a mim mesma que não iria me apaixonar tão cedo, e aqui estou eu, caidinha por Caio. Não acredito que ele me pediu em namoro. Realmente existe sentimentos. Vivi tinha razão: estou apaixonada por Caio e ele por mim. — Você quer? – Caio questiona novamente, agora com a voz mais baixa e triste. Acho que minha demora para responder o deixou assim. — Eu quero. Só promete não machucar meu coração? – peço, fazendo carinho em seu rosto, e ele abre um sorriso. — Prometo! Eu quero cuidar de você e do seu coração, minha princesa. Pra te falar a verdade, nunca fui romântico nem nada desse tipo, você deve ter reparado, mas por você eu quero tentar. Quando Caio termina de falar, o puxo para um beijo. Preciso saciar a minha fome por ele, que só cresceu depois de ouvir tudo isso. Nesse beijo, consigo sentir que ele também me quer com a mesma intensidade. Uma de suas mãos se enrola em meu cabelo, o puxando para trás, e seus
A noite de ontem foi tão perfeita. Após chegarmos em casa, Caio me ajudou até tarde da noite, e foi tão fofo ele, com aquele jeito bruto, me ajudando a preparar massas de bolo, cupcake e docinhos. Ele ajudou a embalar, sempre prestando bastante atenção nas orientações que lhe passava, e uma vez ou outra me roubava umselinho.Como meus paise Vivijá haviam ido dormir, quando terminamos, ainda demos uma namorada no carro antes dele ir embora. Agora estou eu aqui atendendo cada cliente com um sorriso no rosto. Quem imaginaria que eu iria ficar tão apaixonada assim por ele, um cara que me irritava tanto. Já está quase na hora de fechar a loja, e ele disse que iria me m****r mensagem quando estivesse chegando. Toda hora olho na tela do meu celular, mas até agora nada. — Boa tarde, Manu! Me desperto dos meus devaneios quando vejo Enzo entrar, todo sorridente. — Boa tarde! Como você está? – Retribuo o sorriso. — Mel
Cada toque que Caio dá em meu corpo me leva ao céu. Ver esse homem maravilhoso louco de desejo por mim e saber que aqui também existe sentimento é tão bom. Isso parece um sonho, e eu tenho medo de acordar. — Hum... Você é maravilhosa, Manu – Caio murmura enquanto rebolo em seu colo. Da minha boca só sai gemidos altos. É como se meu corpo fosse dominado por ele. Cravo minhas unhas em seu braço e Caio aperta minha cintura. O prazer absoluto nos atinge quase que simultaneamente. — Assim você vai acabar me matando – ele diz, colocando a cabeça em meu ombro, e eu sorrio. — Temos que compensar a semana que você ficou me provocando –falo. Saio de cima dele e me deito na cama. Ele se levanta e vai para o banheiro jogar a camisinha no lixo. Quando retorna, coloca sua cueca, vai até seu guarda-roupa,pega uma camisa e me entrega. — Pra você ficar mais confortável. Eu a aceito e a visto. —
Assim que chegamos ao barzinho, Caio abre a porta do carro para mim e oferece a mão. Entramos no local e três rapazes muito bonitos que estão em uma mesa no centro acenam para nós. — E aí, seus moleques! — Caio os saúda assim que os alcançamos e nos sentamos. Então eles começam a se apresentar. — Prazer, eu sou Luiz, o mais bonito do grupo. — Ele me beija na bochecha. Realmente ele era o mais bonito dos três, mas não chegava aos pés de Caio. Se bem que estou completamente apaixonada por ele, então isso não conta muito. — Eu sou Ricardo. — O outro diz, com um sorriso tão contagiante que não consigo não sorrir de volta. O último de cabelos ruivos e olhar aguçado, inclina a cabeça para mim. — Meu nome é Cristiano — ele informa. — Mas pode me chamar de Cris. — Prazer em conhecê-los. Eu sou a Manu. — E o que um mulherão como você está fazendo com um mané desse? — Ricardo pergunta, apontando para Caio. — Se or