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CP-03 Lindo e irritante

O sorriso de Caio aumenta cada vez mais enquanto os meus pais me contam o quão bom é o seu trabalho com reformas e como não há ninguém melhor do que ele para o serviço — o que só faz o seu ego, que já é enorme, crescer até mal caber dentro de si. E após todas as apresentações, eles e Viviane finalmente saem para trabalhar.

Meu pai é motorista de ônibus, minha mãe doméstica em uma casa de família e Viviane está em seu primeiro emprego, como vendedora em uma loja de calçados no shopping da cidade.

— Então? — Caio fala. Ele está de pé perto da porta, parecendo exageradamente paciente, enquanto eu, fingindo indiferença, tento não olhar para nada além da tela do meu celular.

— Então o quê?

Ele ri.

— Você pode me levar à garagem? Preciso começar a trabalhar. — E o tom condescendente em sua voz quase me faz perder a compostura.

— Você trabalhou aqui antes, então sabe onde fica a garagem — digo, indicando a porta com a mão. — É só ir.

Mas ele apenas cruza os braços.

— Sei onde fica, mas preciso que abra pra mim. Eu não posso arrombar a porta... — Caio se interrompe e bate com o dedo no queixo, como se estivesse contemplando o que acabara de afirmar, então diz: — Na verdade, eu poderia. Mas aí teria que consertar depois, e isso ocuparia muito do meu tempo.

Em uma mistura de irritação e divertimento, me levanto e vou até ele.

— Você é sempre assim tão cheio de si? — questiono, parando a uma distância segura, os braços cruzados imitando a sua postura.

Ele dá de ombros e um sorriso de canto aparece em seus lábios — atraindo meus olhos diretamente para eles. Recuo alguns passos e tento não prestar atenção na sua aparência, no seu corpo, em...

— Vou ter que tirar algumas caixas de lá primeiro — digo, quebrando a linha dos meus pensamentos, e pego a chave que estava pendurada em um preguinho ao lado da porta.

Ando em direção à garagem com Caio em meu encalço. Começamos a levar as caixas para a cozinha, e quando já estamos acabando, me abaixo para pegar o último embrulho, encontrando o olhar dele sobre mim ao me levantar. Seu rosto, por alguma razão, está vermelho.

— Tá tudo bem? — pergunto, e ele rapidamente assente. — Pois não parece. Talvez carregar todas essas caixas seja cansativo demais pra você.

Percebendo que não havia nada além de provocação em minha sugestão, ele tira o embrulho das minhas mãos e aperta os lábios.

— Pode ter certeza de que não foram as caixas que me deixaram assim. — Ele pisca para mim e dessa vez sou eu quem fica corada.

Aproveito a sua saída para me recompor e logo me apresso de volta para a cozinha, sem pensar muito enquanto procuro os utensílios para preparar os cupcakes, esbarrando no caminho com um Caio igualmente apressado.

— Se precisar de ajuda, é só me chamar — ele diz, antes de partir para a garagem sorrindo para o meu fraco “obrigada”.

Depois de separar tudo que usarei, coloco o meu avental e a minha touca, lavo minhas mãos e começo a preparar a massa. Bato todos os ingredientes à mão, com o auxílio do fuê, e quando considero a consistência boa, pego as formas, as preencho e então as ponho no forno. E enquanto a massa assa, faço uma ganache de chocolate ao leite, cubro com filme plástico e deixo no canto da mesa. Não demora e os cupcakes estão prontos. Sempre gostei deles por serem rápidos e deliciosos.

A cozinha já está com aquele cheirinho gostoso que tanto amo, penso enquanto, depois de esperar que a massa esfriasse, decoro cada unidade com todo o cuidado. Me afasto da mesa e vejo o resultado, constatando como ficaram lindos. Coloco-os em um caixa específica para transporte de cupcake, mas deixo três separados, pondo-os em um prato. E então os levo para Caio, depois de me despir da touca e do avental.

Quando chego à garagem, quase os deixo cair ao vê-lo trabalhando sem camisa, segurando um tipo de espátula e arrancando uma camada fina da parede; os músculos de seus braços flexionados e algumas gotas de suor escorrendo e dando a impressão de que a pele brilha. Fico um tempo perdida naquela visão, até Caio falar comigo e me tirar de meus pensamentos impuros.

— Precisa de alguma coisa?

— Ahn..., trouxe isso pra você. — Desviando o olhar, mostro os cupcakes e torço para não parecer culpada ou envergonhada.

— Você fez isso pra mim? — indaga, arqueando as sobrancelhas em um claro sinal de surpresa.

— É só uma forma de agradecer pelo que fez por mim ontem — murmuro. — Vai querer ou não?

— Claro que quero. Me deixe só lavar as mãos.

Ele sai por um instante e volta, pega o prato e se senta no chão mesmo. Após a primeira mordida, murmura um “isso está ótimo”. A boca suja de chocolate e o sorriso de prazer fazem com que ele pareça uma criança que se afoga em sua comida favorita. É impossível, até para mim, não sorrir.

— É a primeira vez que a vejo sorrir assim — Caio diz, mostrando que, mesmo absorto no doce, ainda presta atenção em mim. – Obrigado, aliás — fala, quando os últimos resquícios do cupcake somem do prato. — Estava delicioso. Você vai fazer muito sucesso por aqui, tenho certeza.

— Assim espero. Tive a ideia de fazer alguns e entregar pelo bairro com um cartãozinho meu — conto. — Tudo que quero e reconquistar o que perdi.

Ele me olha com uma feição triste.

— Sei que não é da minha conta, mas você poderia me contar o que aconteceu? Gostaria de conhecê-la melhor.

Com um suspiro, me sento ali ao seu lado.

— Vou fazer um resumo, ok? — Ele concorda. — Eu saí daqui quando tinha dezoito anos. Fui morar em São Paulo com uma amiga. Lá, trabalhei cinco anos como garçonete até juntar dinheiro pra abrir minha confeitaria, e depois de um ano conheci um rapaz que era meu cliente fiel. Nós começamos a namorar e há poucos dias ele roubou todo o meu dinheiro e fugiu. — Caio me olha surpreso. Obviamente não esperava por esse desfecho. — Então tive que fechar a confeitaria e voltar pra cá — continuo. — É isso.

— Que idiota esse cara! Eu sinto muito. Mesmo não a conhecendo direito, sei que não merecia isso, e sua família fala muito bem de você. Seu pai estava todo animado com sua volta. Eles têm muito orgulho de você.

Encosto minha cabeça na parede e olho para o teto.

— Mas eu voltei depois de tanto tempo de mãos vazias. — Sinto a minha visão embaçar e sei que são elas, mais uma vez: as lágrimas.

— Manuela, olha pra mim – ele pede baixinho, e assim o faço. Não sei se me sinto bem ou mal com a compaixão que enxergo em seu olhar. — Tente se cobrar menos e lembrar que nada disso foi culpa sua. Você foi vítima de um cara sem caráter. — Caio limpa as minhas lágrimas e aproxima o rosto do meu. E assim ficamos por muito tempo; ele me encarando com uma intensa ternura enquanto eu me perco no verde dos seus olhos.

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