Sigo a minha viagem, mas não consigo tirar Caio da minha cabeça. O homem era tão bonito, mas tão irritante. Meu alívio é saber que a cidade não é pequena o suficiente para eu esbarrar nele o tempo todo. Pelo menos é isso o que espero.
Quando chego à casa da minha mãe, posso ver que havia conseguido fazer uma boa reforma com o dinheiro que lhe mandava. Mas isso também aperta o meu coração, pois sei que terei de arrumar um jeito de conseguir ajudá-la. Não quero ser um estorvo.
Fico uns cinco minutos em frente a casa só pensando. Saí daqui sete anos atrás com um propósito — a minha confeitaria —, mas perdi tudo por causa de um amor que no fim das contas só eu sentia. Me sinto a pessoa mais idiota do mundo por ter confiado tanto em Gustavo; todas aquelas juras de amor, os planos que fazíamos para o futuro... Tudo não passou de uma grande mentira. Limpo minhas lágrimas e respiro fundo. Ele pode ter tirado todo o meu dinheiro, mas ainda tenho o meu conhecimento e minha experiência, e isso ninguém pode tirar de mim. Pego minha bolsa, saio do carro e bato à porta, e não demora para a minha mãe estar na minha frente, toda sorridente.
— Que saudade, filha! – Vera me puxa para um abraço. Já fazia dois anos que não vinha visitá-la. — Entre, minha linda. Estava ansiosa pra vê-la.
Segurando minha mão, ela me leva para a cozinha. Em cima da mesa há um bolo de fubá com erva doce, e só de sentir aquele delicioso aroma me vêm várias lembranças de quando era criança. Minha mãe havia sido a minha inspiração para entrar nesse ramo; seus bolos e doces eram divinos, sempre que os comia sentia meu coração quentinho de tanto amor e era essa a sensação que queria que meus clientes sentissem.
— Vou cortar um pedaço pra você – ela diz rindo quando me vê babando no bolo. E, em resposta, sorrio e sento-me à mesa. – Eu sei que é seu favorito, então não deixei ninguém pegar um pedaço antes de você chegar.
— Verdade. Fui tentar pegar uma fatia e sua mãe quase arrancou minha mão. — Meu pai, José, entra na cozinha balançando a mão direita para enfatizar o que dissera.
— Que exagero. Foi só um tapinha — minha mãe fala e nós três rimos.
— Que saudade estava de você, minha filha — ele diz, finalmente, e eu me levanto para abraçá-lo.
— Também estava com muita saudade, me desculpe ter ficado tanto tempo longe — murmuro e volto a me sentar.
— Não precisa se desculpar. Fico feliz que esteja de volta, mas triste pelo motivo que a fez voltar.
Abaixo a cabeça e concordo, tentando esconder a tristeza.
— Não vamos falar de coisas tristes. Nossa filha vai conseguir conquistar tudo em dobro, tenho certeza. – Vera diz, colocando três pratos de porcelana e três pequenos garfos sobre a mesa. Ela se senta e nos serve.
Sempre admirei esse jeito dela de pensar positivo não importando a situação. Eu tento fazer o mesmo, mas é tão difícil.
— A preferida da casa chegou — minha irmã Viviane fala em um tom brincalhão, entrando na cozinha e já tomando o seu lugar à mesa.
— Também estava com saudade sua — digo, me inclinando para abraçá-la de lado.
— Você está muito linda — Viviane me olha e arqueia as sobrancelhas.
— Obrigada. Você também não está nada mal.
Ela joga o cabelo por cima do ombro com uma cara de desdém que me faz rir.
— Vocês duas são demais! — meu pai ri.
— Agora me deixe terminar meu bolo.
Ela vai até o armário, pega um prato e um garfo e retorna à cadeira.
Comemos aquele maravilhoso bolo enquanto conversamos sobre várias coisas diferentes. Eu estava com saudade de ter esses momentos em família.
— Vamos retirar suas coisas do carro, filha. Eu a ajudo enquanto sua mãe faz o jantar. — Meu pai fala já se levantando. — Você pode deixar tudo na garagem, por enquanto, e seu carro fica na frente do portão de casa. Aqui é tranquilo, ninguém vai mexer.
— Tudo bem, pai. E quem iria querer um carro tão velhinho?
E não é mentira; eu havia comprado aquele corsa de segunda mão. Ele já está bem gasto e por isso estava juntando dinheiro para comprar um melhor, mas essa economia também fora levada por Gustavo. A lembrança faz aquela dorzinha no peito voltar, mas a afasto com resignação. Não quero chorar na frente da minha família.
— Eu também quero ajudar.
Viviane nos segue para fora e colocamos todas as coisas da confeitaria na garagem, e minhas coisas pessoais levamos para o meu antigo quarto. Ele está do jeito que me lembrava; um pequeno guarda-roupa de madeira mogno com quatro portas e quatro gavetas, uma cama de solteira na mesma cor, as paredes pintadas na cor salmão e um pôster do Luan Santana — eu não tinha vergonha de confessar que ele era o meu crush na adolescência.
Meu pai deixa as caixas no quarto, me dá um beijo na testa e vai para a cozinha fazer companhia a minha mãe. Viviane fica comigo me ajudando. Ela dobra as roupas enquanto eu coloco cada uma em seu devido lugar.
— Sei que ainda está chateada com o que aconteceu, mas você foi até a delegacia registrar um boletim de ocorrência contra Gustavo? – ela pergunta, meio sem jeito.
— Sim, fiz isso no mesmo dia em que me dei conta de que minha conta bancária estava vazia — respondo, e tenho que, mais uma vez, segurar minhas lágrimas. Estou cansada de chorar.
— Você o amava, não é? — Faço que sim com a cabeça e ela bate com a palma da mão na cama, convidando-me a sentar ao seu lado. — Você não precisa fingir que está tudo bem pra mim. Eu a conheço muito bem, Manu.
Quando ela me abraça, permito que as lágrimas caiam, mas logo as enxugo e faço uma promessa a mim mesma: não vou mais derramar uma única lágrima por um homem que só me usou para roubar o meu dinheiro. Quando terminamos, vamos para a cozinha e jantamos em família. Ajudo a minha mãe a limpar tudo e vou tomar um banho. E assim que me deito na cama, o sono me alcança quase imediatamente.
No dia seguinte, me levanto cedo e vou até o banheiro escovar meus dentes e lavar meu rosto. Quando vou para a cozinha, encontro todos tomando café antes de irem trabalhar. Sinto-me mal por ser a única que não tem um emprego, mas não ficarei parada.
— Filha, eu tive uma ideia — meu pai diz, com um sorriso no rosto. — Vamos reformar a garagem e transformar em uma pequena lojinha pra você vender seus doces.
— Eu agradeço, pai, mas não tenho dinheiro pra arcar com a despesa de uma reforma.
Os três ignoram o meu desânimo e sorriem.
— Nós vamos pagar. Fizemos uma vaquinha e cada em deu um pouco, e não vamos aceitar não como resposta – Viviane avisa, cruzando os braços.
Estou tão surpresa que não consigo falar, apenas olho para eles como uma boba. E quando me recupero, as palavras certas escapam como um suspiro.
— Eu nem sei como agradecer. Vocês são... isso significa tanto para mim.
— Nós somos família, não precisa agradecer — minha mãe murmura, com uma gentileza que me desfaz.
Antes mesmo que eu possa dizer mais alguma coisa, ouço alguém batendo na porta e vejo o meu pai se levantando.
— Ele já chegou pra começar a reforma — diz.
— Quem chegou?
Viviane abre um grande sorriso para a minha pergunta.
— Nada mais nada menos que o homem mais irresistível da cidade. — Ela dá um longo suspiro.
Fico curiosa para saber quem é, e quando a porta é aberta, uma exclamação de surpresa soa pelo cômodo. Era o atrevido do Caio. Assim que nossos olhares se encontram, ele sorri daquele jeito presunçoso que, mesmo não querendo, me obriga a revirar os olhos.
Algo me diz que essa reforma ainda vai render.
O sorriso de Caio aumenta cada vez mais enquanto os meus pais me contam o quão bom é o seu trabalho com reformas e como não há ninguém melhor do que ele para o serviço — o que só faz o seu ego, que já é enorme, crescer até mal caber dentro de si. E após todas as apresentações, eles e Viviane finalmente saem para trabalhar. Meu pai é motorista de ônibus, minha mãe doméstica em uma casa de família e Viviane está em seu primeiro emprego, como vendedora em uma loja de calçados no shopping da cidade. — Então? — Caio fala. Ele está de pé perto da porta, parecendo exageradamente paciente, enquanto eu, fingindo indiferença, tento não olhar para nada além da tela do meu celular. — Então o quê? Ele ri. — Você pode me levar à garagem? Preciso começar a trabalhar. — E o tom condescendente em sua voz quase me faz perder a compostura. — Você trabalhou aqui antes, então sabe onde fica a garagem — digo, indicando a porta com a mão. — É só ir.
Sinto o meu coração disparar com a possibilidade de que me beijasse. Ele está tão perto, e me fita com tanta determinação. O que eu faria se os nossos lábios por fim se encontrassem? O que deveria fazer? Então, como se ponderasse os mesmos pensamentos que eu, Caio se aproxima ainda mais e toca a minha bochecha tão de leve com a boca que eu mal posso chamar de beijo. Não tenho certeza se estou aliviada ou decepcionada. Me levanto rapidamente e o vejo franzir a testa com a minha reação. — Obrigada, Caio — consigo murmurar. — Vou entregar meus cupcakes pelo bairro e deixarei a porta encostada caso precise de alguma coisa. E quando estou prestes a sair, ouço-o me chamar. — Manuela, eu fiz algo errado? Congelo com a sua preocupação, demorando demais para responder. Mas, com todo o autocontrole que posso reunir, apenas digo: — Não. Apenas preciso trabalhar. E saio antes que ele possa fazer mais perguntas. Arrumo sem muita atenção a cozinha e
Ainda estou mexida com o que ocorreu pela manhã. Como agora já são quase duas da tarde, estou terminando o almoço. Faço canelones de presunto e queijo e coloco a forma no forno, para dar uma gratinada no queijo que joguei por cima. E, enquanto isso, vou até meu quarto e ponho o vestido mais curto e colado que tenho. Se Caio quer jogar esse jogo de sedução, por mim tudo bem. Quando termino de me arrumar, vou à garagem e vejo que Caio está terminando de raspar a última parede. Ele está bem no cantinho, abaixado. Vou até ele e ficobem na sua frente. — Você já almoçou? – pergunto, e ele se vira lentamente para mim; seus olhos fixando-se de imediato em minhas coxas. Estalo os dedos diante do seu rosto. – Estoufalando com você. — Oi! – Enfim levanta a cabeça e olha para o meu rosto. – Ainda não. Estava querendo terminar primeiro pra depois ir em casa preparar algo pra comer. – Elese levanta. — Você não quer almoçar comigo
Uma semana se passa e Caio e eu passamos todo esse tempo provocando um ao outro. Muitas vezes tive vontade de ceder ao desejo enorme que tenho por ele, mas consegui ser forte. Pelo menos até hoje. Ele é orgulhoso e teimoso — e nisso somos parecidos —, e por essa razão ninguém quer dar o braço a torcer. Minha lojinha finalmente está pronta e Viviane, em seu dia de folga, resolveu ficar e me ajudar. E estou tão ansiosa que parece ser a primeira vez. — Está pronta para abrir as portas? — ela pergunta, com um grande sorriso. — Um pouco nervosa, mas estou pronta. E agradeço tanto pela ajuda... — Não precisa agradecer. Vivi me manda ficar atrás do balcão enquanto ela abre a porta, e não posso acreditar no que meus olhos veem. Lá está o meu primeiro cliente, lindo e sorridente. Vivi olha dele para mim desconfiada, mas com um sorrisinho malicioso. — Caio, que surpresa — fala, toda empolgada. — Bom dia. — Ele dá um beijo em sua bochecha
Caio havia baixado a guarda? Ele me pede um beijo depois de todo esse tempo, e quando dou por mim, já estou em seus braços — esses braços maravilhosos, que fazem cada centímetro do meu corpo gritar o seu nome. Poderia ficar o resto da minha vida aqui, sentindo o seu toque, o seu aperto em minha cintura, quase doloroso de tão bom, e os seus lábios que exploram os meus de um jeito arrebatador. É como se ele precisasse desse beijo para sobreviver. — Manu! — Escuto Vivi gritar e me lembro que estou em horário de trabalho, e, relutantemente, me afasto de Caio. — Acho que ela precisa da minha ajuda. É melhor eu voltar. Ele segura o meu rosto e me dá um selinho. — Agora eu vou pra casa, mas estava falando sério em sair com você mais tarde. Você aceita? — Faço que sim com a cabeça, sorrindo. — Então pego você às nove. Ele me dá mais um beijo curto e sai pela porta da cozinha. Dou uma arrumada na minha roupa e no cabelo, recolho a bandeja e volto para
Uma semana atrás, prometi a mim mesma que não iria me apaixonar tão cedo, e aqui estou eu, caidinha por Caio. Não acredito que ele me pediu em namoro. Realmente existe sentimentos. Vivi tinha razão: estou apaixonada por Caio e ele por mim. — Você quer? – Caio questiona novamente, agora com a voz mais baixa e triste. Acho que minha demora para responder o deixou assim. — Eu quero. Só promete não machucar meu coração? – peço, fazendo carinho em seu rosto, e ele abre um sorriso. — Prometo! Eu quero cuidar de você e do seu coração, minha princesa. Pra te falar a verdade, nunca fui romântico nem nada desse tipo, você deve ter reparado, mas por você eu quero tentar. Quando Caio termina de falar, o puxo para um beijo. Preciso saciar a minha fome por ele, que só cresceu depois de ouvir tudo isso. Nesse beijo, consigo sentir que ele também me quer com a mesma intensidade. Uma de suas mãos se enrola em meu cabelo, o puxando para trás, e seus
A noite de ontem foi tão perfeita. Após chegarmos em casa, Caio me ajudou até tarde da noite, e foi tão fofo ele, com aquele jeito bruto, me ajudando a preparar massas de bolo, cupcake e docinhos. Ele ajudou a embalar, sempre prestando bastante atenção nas orientações que lhe passava, e uma vez ou outra me roubava umselinho.Como meus paise Vivijá haviam ido dormir, quando terminamos, ainda demos uma namorada no carro antes dele ir embora. Agora estou eu aqui atendendo cada cliente com um sorriso no rosto. Quem imaginaria que eu iria ficar tão apaixonada assim por ele, um cara que me irritava tanto. Já está quase na hora de fechar a loja, e ele disse que iria me m****r mensagem quando estivesse chegando. Toda hora olho na tela do meu celular, mas até agora nada. — Boa tarde, Manu! Me desperto dos meus devaneios quando vejo Enzo entrar, todo sorridente. — Boa tarde! Como você está? – Retribuo o sorriso. — Mel
Cada toque que Caio dá em meu corpo me leva ao céu. Ver esse homem maravilhoso louco de desejo por mim e saber que aqui também existe sentimento é tão bom. Isso parece um sonho, e eu tenho medo de acordar. — Hum... Você é maravilhosa, Manu – Caio murmura enquanto rebolo em seu colo. Da minha boca só sai gemidos altos. É como se meu corpo fosse dominado por ele. Cravo minhas unhas em seu braço e Caio aperta minha cintura. O prazer absoluto nos atinge quase que simultaneamente. — Assim você vai acabar me matando – ele diz, colocando a cabeça em meu ombro, e eu sorrio. — Temos que compensar a semana que você ficou me provocando –falo. Saio de cima dele e me deito na cama. Ele se levanta e vai para o banheiro jogar a camisinha no lixo. Quando retorna, coloca sua cueca, vai até seu guarda-roupa,pega uma camisa e me entrega. — Pra você ficar mais confortável. Eu a aceito e a visto. —