Doce como Mel {7}

Confesso que levei mais tempo para subir as escadas do que o normal

Confesso que levei mais tempo para subir as escadas do que o normal. Eu estava nervosa por ter que encarar Benjamin depois do que aconteceu há alguns minutos, mas eu precisava tirar essa dúvida do meu peito, e me aliviaria bastante se ele dissesse que não foi ele, e que deve ter sido apenas ilusão da minha cabeça. Eu ficaria mais tranquila em pensar que minha mente projetou algo assim a saber que eu correspondi a um beijo.

Assim que entro no quarto, mesmo que me sentindo receosa, eu logo avisto Benjamin perto da janela segurando algo branco próximo a sua boca.

Respiro fundo tomando coragem para falar com o mesmo, pois se foi ele que fez aquilo, foi uma tremenda falta de respeito e de privacidade, chegar daquela forma beijando alguém que ele mal conhece. Mas assim que me aproximo dele, eu congelo quando vejo ele soltar fumaça por sua boca.

— Você fuma? — Questiono me sentindo um pouco espantada, pois não imaginava que ele fazia esse tipo de coisa.

Ele se vira para mim assim que percebe a minha presença e me lança um sorriso de canto.

— O que você esperava? — Ele pergunta apagando o cigarro e jogando do lado de fora.

Sim, o que eu esperava? Benjamin tem tatuagens e esse estilo de viver a vida que não se parece em nada com a minha, então não deveria ser uma grande surpresa que ele faria esse tipo de coisa. Quer dizer, na igreja sempre consideramos pessoas que fumam uma atrocidade. As tatuagens ainda eram permitidas caso fosse algo do seu passado e você não fizesse mais, porém usar drogas como essa… Deus! Isso me faz temer ainda mais a sua resposta sobre o que aconteceu na cozinha.

Me viro de costas e me sento na cama, não querendo que ele perceba a minha expressão neste momento.

— Você tem algo contra isso? — Ele pergunta e eu ouço o outro lado da cama se afundar com a sua presença, logo atrás de mim.

Balanço minha cabeça para os lados, demonstrando que não é isso que está se passando pela minha cabeça.

— Então porque parece tão… apavorada? — Ele pergunta novamente, desta vez ligando a televisão em um canal de desenho.

Um barulho de trovão ressoa no céu novamente, e eu me vejo assustada, como em todas as vezes.

— Eu não estou apavorada; — Respondo me repreendendo mentalmente por minha voz não ter sido tão consistente. — Eu só… — Me viro na sua direção para explicar o motivo de eu ter vindo falar com ele, mas logo me viro de volta, arrependida por ter visto ele já sem a sua camisa, agindo como se isso fosse algo natural.

Pelo menos as minhas suspeitas de que seu corpo é quase por completo coberto de tatuagem se confirma.

Vejo pelo reflexo da televisão que está numa tela escura, Benjamin pegar uma balinha da cômoda ao seu lado e a pôr na boca, a saboreando. Se foi ele que me beijou…

Me levanto da cama subitamente não querendo me deixar levar por essa linha de pensamento, mesmo que ainda de costas para ele.

— Eu só não sabia que você fazia essas coisas. Só fiquei surpresa; — Respondo dando de ombros. — Será que você pode colocar uma camisa? Eu quero te perguntar uma coisa, mas não dá pra te olhar quando você está sem camisa. — Exclamo aborrecida me virando na sua direção, mas com os olhos fechados.

— Vem cá… fumar, trovão e um homem sem camisa. Você realmente tem medo dessas coisas? — Seu tom de voz é divertido e eu dou de ombros, ouvindo-o se levantar da cama e logo voltar a se sentar.

— Eu não tenho medo.

— Pode abrir os olhos. — Ele avisa e assim eu faço, o vendo novamente com a sua camisa.

Respiro fundo tomando coragem para lhe perguntar enquanto ele assistia o desenho. Eu me assusto novamente com o trovão e me repreendo por ser tão medrosa. Seria muito mais fácil se eu não tivesse medo de coisas tão idiotas como o trovão e o fundo do mar.

— Não tem medo, não é… — Ele comenta em um tom irônico.

Me sento na poltrona ao lado da cama, o encarando enquanto formulo uma forma de entrar nesse assunto. Quer dizer, ele me parece tão distraído que eu chego a duvidar se foi ele.

— Benjamin.

— Só Ben.

— Benjamin; — Reforço, ignorando o que ele diz. — Após aquela brincadeira na sala, eu fui para cozinha, certo?

Ele assente quando eu finalmente ganhei a sua atenção. Ele ergue uma sobrancelha, me encarando com certa curiosidade.

— Você viu alguém entrando na cozinha logo depois de mim? — Pergunto sentindo minhas bochechas esquentarem.

Um sorriso de canto se desenha em seus lábios enquanto ele cruza os braços atrás da cabeça, me encarando de forma sugestiva.

— Não lembro de ter visto ninguém.

Me levanto da poltrona sem conseguir controlar a ansiedade, e logo me vejo próxima a cama.

— Você tem certeza? Quer dizer, você estava na sala com Cristina e Tadeu. Algum dos dois saiu de lá?

— Qual o motivo dessas perguntas? Aconteceu alguma coisa?

— Onde você foi depois que eu fui para a cozinha?

— Onde acha que eu fui? — Ele pergunta seriamente e seu olhar transmite algo diferente, que eu não saberia decifrar.

Faço menção de respondê-lo, mas eu travo novamente quando finalmente noto a malícia na sua voz. Ele se ajoelha na cama e se aproxima de mim, novamente fazendo com que eu me sinta intimidada com a sua presença. Ele está apenas a alguns centímetros do meu corpo e parece estar me analisando com curiosidade. A mesma sensação de friozinho na barriga aparece, confirmando que ele me faz sentir coisas novas, mas com um método no qual eu não quero participar.

— Onde acha que eu estava, ruiva? — Ele joga o meu cabelo para trás dos meus ombros e logo volta a acariciar a minha bochecha, me deixando instantaneamente sem ar.

— Eu… — Tento formular alguma frase coerente na minha cabeça, mas os meus pensamentos já foram para bem longe.

— Você… — Ele me incentiva a continuar enquanto seu olhar se dirige pela pele do meu pescoço enquanto sua mão desliza pelo mesmo.

Suspiro quando seu toque arrepia a minha pele. A única coisa que se passa na minha cabeça, é em como o seu toque me faz arrepiar. Por um ato involuntário eu fecho os meus olhos, esquecendo o que é certo e apreciando essa sensação na qual eu nunca senti. Noto ele se aproximar de mim quando sinto seu hálito na pele do meu pescoço.

— O que aconteceu na cozinha? — Ele pergunta mais uma vez, porém com a sua voz mais rouca e pesada que o normal.

Seus lábios encostam na pele do meu pescoço, tão gentilmente que é quase imperceptível, fazendo com que eu incline a minha cabeça contra ele, e um som satisfatório escape dos meus lábios. Minhas bochechas esquentam quando eu percebo o que acabou de acontecer.

— Eu… Eu não sei o que está fazendo; — Murmuro me desvencilhando dos seus braços o mais rápido que posso. — Mas é melhor você parar!

Tento parecer firme, porém ele logo me puxa de volta para ele, dessa vez já se levantando.

— Calma, eu só estava lhe dando uma demonstração do que aconteceu na cozinha; — Ele murmura com uma sobrancelha erguida e eu arregalo os meus olhos. — Você parecia que estava gostando.

Prendo meu lábio inferior, e penso numa forma de reagir, já que a sua revelação que não era nenhum segredo me deixou abalada.

— Isso não é verdade. Você me pegou de surpresa e eu não sabia como reagir.

Eu tenho certeza que o meu rosto deve estar todo vermelho, já que naquele momento na cozinha eu fiquei frustrada quando seu corpo se separou do meu, e então ouvir dele próprio que era ele quem estava fazendo aquilo comigo me deixa extremamente envergonhada e um pouco aborrecida.

— E eu que pensava que você não mentia… — Ele murmura baixinho encarando em meus olhos enquanto o seu rosto continua a se aproximar do meu.

— Eu não minto!

O barulho de trovão mais uma vez, já me irritando, ressoa no céu e eu o empurro para longe, aproveitando essa deixa para não me deixar ser intimidada por seu olhar.

— Meu Deus! Eu nem acredito que foi você. — Murmuro para mim mesma tentando me acalmar, mas neste momento eu só quero saber o porquê de ele ter feito aquilo.

— Na verdade, — Ele começa se jogando na cama, na mesma posição de antes. — Foi nós dois. Pelo que eu lembro, você retribuiu o beijo, ou estou enganado?

Engulo em seco fechando os meus olhos em decepção. Estou decepcionada comigo mesma, pois eu nunca sequer tinha beijado antes dele, e apesar da minha criação, eu sempre pensei que poderia viver um romance com o primeiro homem da minha vida, e pelo resto dela. Eu tinha que ser diferente, mas agora isso não poderá mais acontecer. Sem falar que eu poderia ter o impedido e honrado com a promessa que fiz ao meu pai antes de vir. Mas agora está tudo perdido e eu me sinto culpada por me deixar levar tão rapidamente por ele.

— Porquê? — Questiono encarando os meus pés, me sentindo frustrada e culpada. — Porque fez aquilo? Você mesmo deixou claro que eu não te interessaria. Você sai beijando as mulheres assim? — Levanto o meu olhar para ele que me encara, sem mais nenhuma expressão de ironia em seu rosto.

Mas ele não me responde, somente fica me encarando como se ele mesmo procurasse por uma resposta.

— Eu não vou dormir com você!

Dito isto, eu saio do quarto correndo, me sentindo um pouco mal por tudo o que me vem acontecendo. Eu aceitei essa viagem com um único intuito, e eu tenho que demonstrar que só estou aqui por isso e que não pretendo fazer outra coisa além disso. Mas me parece que Benjamin não está entendendo isso da forma correta. Desço as escadas e consigo ouvir a voz de Cristina e Tadeu, que parecem estar conversando entre si, num canto da sala sem nem sequer notarem a minha presença.

— Eu espero que não tenhamos complicado mais as coisas. — Tadeu murmura pensativo e Cristina assente, enquanto me aproximo lentamente dos dois na sala.

— Eu acho que deu certo. Você vai ver, eu sinto isso; — Ela diz com um brilho de satisfação em seu rosto, e é quando ela levanta o seu olhar para mim. — Mel… — Ela ergue uma sobrancelha e Tadeu se vira na minha direção, acenando para mim.

— Oi. — Murmuro com a voz baixa e me sento no sofá da direita, que é o menor.

— Você agora tem tempo para me explicar o motivo de você ter saído da cozinha daquele jeito? — Ela pergunta e eu dou de ombros, mesmo que eu esteja protestando por ela estar tocando nesse assunto.

— Eu só estava assustada por conta do trovão.

— Tem medo de trovão? — Tadeu questiona, se inclinando na minha direção e parecendo realmente surpreso.

— Eu só me assusto com o barulho. Ele acontece tão de repente.

— Espero que consiga se acalmar, pois pelo o que parece isso vai durar a noite inteira; — Ele diz já se levantando e estendendo a sua mão para Cristina. — Vamos morena?

Cristina sorri e se levanta, segurando sua mão. Eu observo os dois um pouco distraída em meus pensamentos, decidida a dormir aqui para não ter que voltar a encarar Benjamin. Vejo Cristina e Tadeu subirem as escadas de mãos dadas, ambos com um olhar bastante sugestivo. Respiro fundo enquanto me aconchego no sofá. Um tempo se passa enquanto várias coisas circulam na minha mente, ao mesmo tempo em que tento pegar no sono a todo custo. Mas o fato de eu estar sozinha ali, me amedronta um pouco, o suficiente para que eu me deite agarrada a um travesseiro. Mesmo que eu esteja com frio, não vou me atrever a voltar lá para o quarto, por isso abraço o meu corpo, implorando que essa noite passe logo. O barulho de trovão ressoa novamente no céu, dessa vez com mais intensidade e duração, fazendo com que mais uma vez, todas as luzes da casa se apaguem. Por um segundo eu sinto que meu coração errou uma batida, e um calafrio percorreu a minha espinha.

Ouço passos na escada e eu logo me sento no sofá, trêmula por não saber o que pode me acontecer caso eu continue aqui. Mas uma luz é direcionada na minha direção, me pegando de surpresa e me deixando com mais medo ainda.

E se alguém invadiu a casa? Meu Deus! O ritmo do meu coração está acelerado e eu só torço para que seja somente uma ilusão ou um pesadelo.

— Ruiva… — Ouço a voz de Benjamin no final da escada, e eu sinto uma sensação de alívio percorrer o meu corpo.

Escondo o meu rosto nas minhas mãos, me sentindo horrível por ter ficado com tanto medo por nada. Benjamin se aproxima de mim e estende sua mão na minha direção. O olhar em seu rosto não revela muita coisa, mas ele parece que quer me ajudar, e pelo medo que eu estava sentindo a sua presença se torna muito mais acolhedora.

Sem dizer muita coisa, eu ponho minha mão sobre a sua e ele logo a trata de apertar ela, me passando confiança.

— Vamos, eu prometo que não vou morder. — Ele diz com um sorriso de canto desenhando seus lábios.

Respiro fundo e me levanto. Logo subimos a escada, e adentramos o quarto. Eu me sento na cama após Benjamin me entregar a sua lanterna e vejo ele indo no armário pegar um cobertor enorme e que parece ser bastante quentinho. Ele volta com uma expressão neutra em seu rosto e então abre o cobertor ao meu lado

— Sobre a sua pergunta; — Ele começa voltando a me encarar. — Eu não beijo as mulheres sem motivo algum. Você não faz uma coisa sem ter vontade de fazê-la, certo?

Engulo em seco sentindo as minhas bochechas corarem, enquanto rapidamente desvio o meu olhar. As suas palavras fazem com que o meu próprio corpo projete uma reação que nem sequer imaginava, como as famosas borboletas no estômago. Ele afirmou que tinha vontade de me beijar, e neste momento eu deveria dizer a ele que isso não justifica, já que eu nunca dei espaço para ele fazer isso. Mas somente fico calada, lembrando do toque dos seus lábios nos meus.

Ele dá a volta na cama e se deita ao meu lado, faço o mesmo encarando o teto. Fecho os olhos e tomo um susto quando eu ouço o trovão mais uma vez. Benjamin vira o seu rosto na minha direção com um sorriso divertido em seu rosto.

— Você está bem? — Ele pergunta quando percebe que eu estava fechando minhas mãos em punhos.

— É, eu acho que sim.

Mas essa não é a verdade. Se meu pai souber o que eu fiz aqui, ele pode até mesmo me expulsar de casa e não deixar que eu visite a mamãe. Eu o conheço suficiente para saber como seus castigos são bastante duros.

— Ainda é por conta do beijo? — Ele questiona me encarando e eu novamente me sinto corar, não entendendo como ele pode falar nesse assunto com tanta tranquilidade.

O barulho da chuva fica ainda mais alto, e eu respiro fundo, tentando me aquecer com o cobertor. Por que eu simplesmente não consigo ignorar o som do trovão? Porque eu tenho que me assustar mesmo sabendo que isso é algo natural e que não vou me machucar estando dentro de casa?

— Ei… — Benjamin sussurra e logo trata de tirar as almofadas que nos separavam, se aproximando de mim com um olhar preocupado. — Tudo bem, está? É só um barulho no céu, e se for pelo lance do beijo eu peço desculpas.

Balanço a minha cabeça para os lados com um sorriso fraco em meu rosto.

— Tudo bem, já passou.

Ele me encara por mais alguns segundos até que suspira fortemente, erguendo sua sobrancelha.

— Se for por um motivo nobre, eu posso lhe abraçar, não é? — Ele pergunta me fazendo arregalar os olhos, surpresa por ele continuar sendo tão direto. — Quer dizer, você está se tremendo. Não seria ruim se eu tentasse te acalmar da minha forma, seria?

Eu o encaro sem nenhuma reação, e isso faz com que ele interprete de forma errada, pois sorri se aproximando ainda mais de mim. Ele rapidamente me vira de costas para ele, me colando ao seu corpo.

— O que pensa que está fazendo? — Questiono enquanto ele me abraça.

— Te deixando mais tranquila. Assim não se sente melhor?

Como eu poderia negar que a sua presença estava me deixando realmente mais tranquila e confortável em relação ao meu medo? Tanto que quando o barulho de trovão ressoou mais uma vez no céu, eu já não estava mais amedrontada.

— Obrigada…

Um tempo se passa em silêncio até que percebo ele sorrir atrás de mim.

 — Boa noite, ruiva.

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