Doce como Mel {6}

O dia seguinte passou rapidamente. Todos, exceto eu, resolveram dar uma volta pela floresta e até mesmo passar pelo centro de vendas mais próximo. Eu acho que estava um pouco apreensiva pelos acontecimentos anteriores, e todos entenderam perfeitamente. Aproveitei o meu dia para ler um livro na enorme e empoeirada biblioteca de Benjamin, comendo alguns salgadinhos e até mesmo aproveitei para falar com a minha mãe.

Apesar dessa sensação de paz, eu sentia no fundo do meu peito uma grande apreensão sobre o fato de eu não estar fazendo definitivamente nada em relação ao trabalho, e Cristina também não. Mas ainda assim, resolvi só observar, não queria perguntar nada a ela por enquanto, e só ver onde isso vai dar. Até mesmo porque a ideia de que ela tenha me chamado aqui só por pena em relação ao que aconteceu com a minha mãe não me agrada em nada.

— Qual é! Eu fui bem mais rápido, você se aproveitou por já conhecer essas áreas bem melhor que eu. — Tadeu entra pela porta parecendo bastante agitado, e logo atrás dele, Cristina e Benjamin, ambos rindo e cobertos de neve.

— Ah, claro. Definitivamente foi por esse motivo. — Benjamin murmura em um tom irônico e eu vejo Cristina revirar os olhos, se pondo entre os dois.

— Parem com isso, vocês dois! Isso aqui está me parecendo uma competição de testosterona. — Ela comenta, enquanto os dois tiram a neve do corpo, ambos sorrindo.

Estou sentada de frente para a lareira que não está acesa, mas ainda assim gosto da sensação do carpete da sala.

— Não é uma competição de testosterona. Se fosse, eu com certeza teria ganhado; — Tadeu murmura puxando Cristina pela cintura. — Ele nem ao menos consegue ficar com a garota que quer pegar.

— Chega! — Cristina exclama, estreitando os olhos para os dois, que finalmente parecem notar a minha presença.

— Ah, Mel! Você está aí… — Tadeu murmura coçando a nuca, parecendo sem graça.

— Ele estava falando da garota do caixa… uma asiática. — Cristina murmura para mim e eu ergo a minha sobrancelha, não entendendo o que isso tem a ver comigo.

— O que tem a garota do caixa? — Pergunto enquanto Benjamin pendurar seu casaco no cabide ao lado da escada.

Cristina olha para os dois, e logo se aproxima de mim com um sorriso fraco.

— É que fomos no centro de vendas comprar algo para matarmos nossa fome quanto ficarmos entediados, e a garota do caixa estava comendo Benjamin com os olhos, só isso. — Ela explica e eu assinto, pondo o meu celular de lado, me sentindo estranhamente incomodada por estarmos falando sobre isso.

Incomodada simplesmente por não estar acostumada a falar sobre essas coisas e dessa forma com as outras pessoas.

— Não importa, eu vou subir e tomar um banho. Depois de ter ganhado uma corrida, eu acho que mereço algum tipo de relaxamento. — Benjamin pisca, convencido e rapidamente sobe as escadas de três em três degraus, me deixando realmente surpresa.

— Idiota! Eu vou querer uma revanche. — Tadeu avisa parecendo aborrecido e Cristina se senta no sofá ao meu lado logo após revirar os olhos.

— Sabe no que eu estava pensando para podermos matar o tédio essa noite? — Cristina lança um olhar sugestivo para mim e Tadeu, que se aproxima da gente com seu cenho franzido.

— Não, eu conheço bem esse olhar. — Ele responde e eu olho curiosa para Cristina, resolvendo perguntar a ela do que se trata, torcendo para eu não me arrepender depois, já que quando ela põe algo na sua cabeça é praticamente impossível fazer ela desistir.

— Eu estava pensando naquelas rodas que formam para contar histórias de terror, com as luzes apagadas e somente lanternas. Eu sempre quis fazer isso, mas as garotas que eu saio são extremamente medrosas em relação a essas coisas. — Cristina explica e eu assinto, já repudiando qualquer coisa que envolva histórias de terror.

— Não acho uma boa ideia...

— O que acha, gatinho? — Cristina pergunta para Tadeu, ignorando a minha opinião.

Eu realmente não gosto de histórias de terror. A ideia de ficar a noite inteira acordada com medo e sem levantar para beber água ou ir ao banheiro não me agrada em nada.

— Pode ser interessante. Tenho certeza que Ben não vai discordar. Mas antes vamos tomar banho, eu sinto que preciso de um banho quente depois de ficar horas expostos aquele frio, eu ainda não sei como você conseguiu, Mel. — Tadeu comenta e então pisca para mim sugestivamente e eu sinto as minhas bochechas corarem.

Ele não poderia saber o que aconteceu, não é mesmo? Eu não contei a eles que passei a noite abraçada à Benjamin, portanto a não ser que ele mesmo tenha falado, eles não podem saber.

Forço um sorriso vendo Cristina e Tadeu subirem as escadas para tomarem um banho, e poucas horas depois já estamos todos reunidos na sala com as luzes apagadas, exceto a da cozinha depois de muitas súplicas minhas. Estou sentada de costas para o sofá e Benjamin à minha frente está de costas para a lareira. Cristina está à minha direita e Tadeu à minha esquerda. Todos nós seguramos uma lanterna, e eu devo admitir que estou sentindo calafrios atravessar a minha espinha.

Meu olhar rapidamente se encontra com o de Benjamin, que estranhamente me passa tranquilidade e confiança, fazendo com que eu deixe o medo de lado por um tempo. O pior é que está chovendo lá fora, e isso não me ajuda muito.

— Tudo certo, agora quem começa? — Tadeu questiona e eu seguro firme a minha lanterna, detestando toda essa situação.

— Eu começo e vocês seguem o ritmo da história. Eu irei começar com o contexto da história e após isso vocês poderão somente fazer uma ação dentro da história. Tudo bem? — Cristina pergunta olhando para nós, que logo assentimos.

— Isso me parece infantil. — Benjamin comenta já parecendo impaciente.

Abraço meus joelhos quando Cristina liga a sua lanterna na direção do seu rosto, nos olhando com um sorriso temeroso, que é um grande contraste assustador com a escuridão.

— Era de noite, e uma garota se encontrava sozinha em casa, já que seus pais tinham ido viajar e a deixaram tomando conta da casa. A noite estava fria e era possível ouvir o som da chuva. Ela estava assistindo um programa de Tv, quando… — Cristina explica lentamente, ganhando a atenção de todos, até que faz uma pausa e olha para mim, esperando que eu continue.

— Quando ela percebeu que já tinha amanhecido, seus pais chegaram e foram felizes para sempre; — Sorrio sem graça já me sentindo nervosa e todos reviraram os olhos. — Está bem… bom… Ela estava assistindo na sala quando sentiu sede e resolveu ir na cozinha pegar um copo de água.

— Assim que ela abriu a geladeira, todas as luzes da casa se apagaram, a assustando de imediato. — Tadeu continua e eu me encolhi ainda mais, não gostando do rumo que essa história está levando.

No que depender de mim eu irei fazer o máximo para algo de ruim não acontecer com essa garota.

— Ela se virou assustada, mas assim que sentiu uma presença atrás dela, ela sentiu uma mão tapar a sua boca, a impedindo de gritar ou pedir socorro. — Benjamin continua, ainda me encarando.

— Ela tenta gritar e começa a se contorcer tentando se soltar dos braços de quem a segurou, mas quando ela finalmente consegue se soltar e se vira para se defender, ela não vê nada além de uma janela aberta, soprando vento. — Cristina continua e eu mordo o meu lábio, já amedrontada.

— Ela fecha a janela e pega o seu celular que já estava na cozinha para ligar para os seus pais e pedir socorro. — Murmuro rapidamente, como se eu estivesse no lugar da garota.

Quer dizer, se algo parecido acontecesse eu faria isso. Não que algo assim vá acontecer, pois só de pensar eu já me sinto tremer.

— Ela digita o número do seu pai, mas assim que atendem, tudo o que ela consegue ouvir de respostas são sussurros inaudíveis. — Tadeu murmura e eu me sinto arrepiar.

— Ela sente um calafrio percorrer a sua espinha, quando uma voz rouca sussurra algo em seu pescoço. Algo que a faz tremer. — Benjamin continua ainda com seus olhos em mim, o que me faz tremer por alguns segundos.

— E quando ela se vira, assustada… — Cristina faz uma pausa, nos olhando em suspense. — Ela se depara com algo negro no fim do corredor. Algo sem forma, mas que possui olhos vermelhos, o que é um grande contraste com a escuridão. É horripilante! — Ela termina com um grito e eu grito de volta, assustada também pelo barulho de trovão que ecoou pelo céu.

— Chega! Meu Deus, chega! — Me levanto rapidamente sentindo as batidas do meu coração mais aceleradas que o normal. — Eu vou beber água. — Murmuro como uma explicação para todos estarem me olhando achando graça.

— Ah, Mel, você se assusta com tudo. Eu só comecei a entrar no clima; — Cristina murmura ainda agitada. — Mas eu também estou com sede. Traz um copo de água gelada para mim, por favor. — Ela pede e eu assinto com um gesto.

Vou para a cozinha onde posso respirar calmamente me sentindo aliviada. Sempre tive medo de tempestades, ainda mais como está agora visivelmente pela janela. Além da chuva, o céu está completamente escurecido e não há uma única estrela, somente uma brisa acinzentada e alguns raios visíveis.

Vou até a geladeira onde retiro a jarra de água, logo em seguida enchendo o meu copo, bebericando o mais lento possível para não ter que retornar à sala e continuar com essa brincadeira assustadora. Ponho de volta a jarra na geladeira logo após encher o copo de Cristina, e é quando o som de trovão ecoa novamente pelo céu, novamente me assustando.

Antes que eu pudesse me virar para pegar o copo de Cristina que estava na ilha da cozinha e sair correndo daqui eu sinto algo me segurar os meus braços por trás, pondo rapidamente uma mão sobre a minha boca. Um calafrio percorre a minha espinha pelo desespero que me atravessa neste momento. Sua outra mão pousa na minha cintura, me prendendo em seu corpo que aparentemente é grande e musculoso. Tento me desvencilhar dos seus braços a todo custo, gritando para que me solte, mas meus gritos estão abafados pela sua mão e eu duvido que Cristina ou Tadeu cheguem a me ouvir. Deus, como isso pode acontecer? Porquê tantos acontecimentos ruins? Os meus olhos enchem de lágrimas com o medo percorrendo cada centímetro do meu corpo. A luz de repente se apaga, quase como nos filmes de terror e eu sinto que posso desmaiar a qualquer momento.

— Shhh. — Sinto seu hálito quente em meu pescoço, o que faz com que eu congele no lugar.

A familiaridade dos seus braços e cheiro é incrível, eu quase poderia dizer que já os senti em mim. Talvez eu pudesse pensar que é somente uma brincadeira de mal gosto, querendo me assustar ainda mais do que eu já estava assustada. Sinto minha cabeça girar e um friozinho na minha barriga quando ele inclina a sua cabeça contra o meu pescoço, inspirando lentamente. Deus, eu podia sentir algo espetar a minha pele, mas não fazia ideia pois a minha mente estava em guerra entre gritar de medo, ou tentar raciocinar e agir de forma correta. O toque dos seus lábios na pele do meu pescoço e mordiscando a minha orelha faz com que eu me encolha em seus braços, arrepiada. Ele me aperta ainda mais em seus braços e a minha respiração acelera, comigo ficando completamente muda e me sentindo submissa a algo, quase como se o meu corpo tivesse desistido de lutar. Ele fica um tempo naquele posição, como se estivesse esperando que eu me acalmasse, e quando isso finalmente acontece, ele me solta dos seus braços, ainda permanecendo colado em minhas costas.

Esse afastamento significa que ele não pretende me machucar, certo? Que eu devo pensar bem antes de tomar qualquer atitude, mas tudo o que eu quero nesse momento, se resume a ver quem é a pessoa por detrás disso. Por isso me viro na sua direção, tentando o envergar na escuridão. Sua silhueta é de um homem grande e forte, e completamente familiar aos meus olhos. Eu arfo quando suas mãos apertam a minha cintura e seu rosto se inclina no meu, como se estivesse me encarando mesmo na escuridão. As batidas do meu coração estavam disparadas, e além das nossas respirações pesadas, eu podia sentir uma grande troca entre a gente. Como se os nossos corpos estivessem ligados de alguma forma.

Todas as regras, princípios e medos somem da minha mente assim que seus lábios encostam nos meus de forma delicada, como se estivesse saboreando algo novo. Eu me apego aos braços do desconhecido, mesmo que em minha mente algo esteja gritando que não se trata de um desconhecido. Ele segura o meu rosto em suas mãos e sua língua abre passagem para a minha boca, e se ele não estivesse me apertando em seus braços, eu com certeza já teria desmanchado em seus braços, embriagada com essa sensação.

A sua mão na minha cintura espalha calor por todo o meu corpo, e o frio se alastrando pela minha barriga faz com que eu sinta cada vez mais vontade de prolongar isso, mesmo que eu nunca tenha sido beijada antes disso. Um gemido escapou pelos meus lábios, fazendo todo o meu rosto esquentar, me deixando tímida por estar fazendo isso. Isso me parece tão errado, mas eu sequer tenho tempo para raciocinar pois o gosto dos seus lábios me deixam atordoada. Ele aperta o meu quadril e suas mãos vão deslizando até a parte de trás da minha coxa, onde ele me levanta e me senta em cima da ilha da cozinha, me surpreendendo e me deixando ainda mais tímida, pois essa cena me parece tão obscena. Ele se infiltra no meio das minhas pernas e eu sinto os seus lábios se afastarem dos meus, me deixando desesperada pelo seu toque.

Eu queria poder dizer alguma coisa, mas os seus lábios na pele do meu pescoço foram o suficiente para me deixar completamente muda, exceto por minha respiração pesada. Acho que prefiro acreditar que isso é somente um sonho que foge da minha realidade, caso contrário, não sei como conseguirei me encarar pois eu simplesmente não consigo o parar. Ele aperta a minha coxa e deposita um beijo em meus lábios, colando nossas testas logo em seguida. Acho que ficamos nos encarando por uma eternidade enquanto eu esperava a minha respiração se acalmar.

Quando a luz voltou subitamente, eu tapei os meus olhos por conta do excesso da claridade, mas a verdade é que eu me arrependi disso amargamente, pois naquele instante eu senti o seu corpo se afastar do meu, e quando abri os meus olhos, ele não estava mais lá.

Eu fiquei encarando a minha frente, sentindo o meu coração ainda acelerado em meu peito, me sentindo zonza pelo o que me acabou de acontecer. Isso não poderia ser simplesmente uma ilusão da minha cabeça, pois a sensação dos seus lábios nos meus ainda estava impregnada no meu corpo e na minha mente. Acho que nunca desejei que algo fosse uma mentira e uma verdade ao mesmo tempo.

— Mel; — Ouço a voz de Cristina me chamar, e é quando eu saio de cima da ilha da cozinha, me virando na sua direção, assustada. — Você estava demorando e parece que teve uma queda de energia. Você está bem? — Ela pergunta me olhando com seu olhar analisador.

A encaro ainda extasiada e desacreditada com tudo o que acabou de me acontecer. Foi apenas um sonho? E se não foi? Quem poderia ser? Só tem dois homens nessa casa, mas há apenas um solteiro. Mas então… Benjamin jamais faria isso, e Tadeu está com Cristina. Oh céus! Essa é uma das situações mais complicadas de se resolver, mas eu sinto que a resposta está bem debaixo do meu nariz.

Forço um sorriso para Cristina, não querendo que ela perceba o quão abalada fiquei.

— Sim, eu estava com muita sede, e o barulho de trovão não me perdoou; — Rio da situação. — Eu tenho medo, você sabe. Enfim, aqui está a sua água, e me desculpe, mas não poderei continuar a brincadeira, eu estou com sono.

— Tudo bem, de qualquer forma, nem mesmo Ben quer mais participar.

Meu coração errou ao ouvir o seu nome. Meu Deus, o que eu faço agora?

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