A consulta daquela manhã havia sido tranquila.Eveline, agora com quase cinco meses de gestação, sentada na confortável poltrona do consultório particular que Daniel mantinha em sua casa, observava com atenção o monitor que exibia os batimentos cardíacos do bebê. O som do coraçãozinho preenchia a sala — rápido, constante, reconfortante.— Está tudo indo perfeitamente — disse Daniel, sorrindo enquanto retirava o gel do abdômen dela com um pano aquecido. — Peso ideal, batimentos ótimos. Você está cuidando bem de vocês dois.Ela sorriu, ajeitando o vestido de malha verde-oliva.— Eu me sinto bem aqui... com vocês. Isso faz diferença.Daniel assentiu, guardando os equipamentos.— E eu me sinto em paz quando vejo o quanto você está bem. Nunca pensei que ver uma mulher grávida... — ele hesitou, olhando para ela com ternura — ...pudesse trazer de volta algo tão bonito pra essa casa.Na manhã seguinte, Eveline acordou com as malas prontas.A viagem de uma semana à praia estava confirmada. O v
O sol da manhã nasceu suave, como se respeitasse a delicadeza que pairava no ar.Eveline acordou com o cheiro do mar invadindo o quarto através da porta de vidro entreaberta. O som das ondas quebrando na areia era reconfortante, e uma brisa salgada brincava com as cortinas brancas de linho. Espreguiçou-se com preguiça, sentindo a barriga firme e redonda sob as mãos. O bebê se mexeu suavemente, como se respondesse ao despertar da mãe.Sorriu sozinha.A lembrança da noite anterior ainda pairava em sua mente — o beijo. O carinho. A proposta de Daniel. Um pedido gentil de amor. Um cuidado que ela nunca soube como receber.Mas apesar da ternura, o nome de Marcus ainda sussurrava dentro dela como um eco antigo e constante. Era ali que seu coração ainda estava preso.Vestiu um kaftan floral leve, por cima de um maiô azul petróleo com alças cruzadas nas costas. Prendeu os cabelos em um coque alto e desceu para encontrar Daniel e as crianças.Na varanda do restaurante, Daniel já os aguardava c
O terceiro dia na praia amanheceu com um brilho prateado no céu.As nuvens finas passavam lentamente pelo azul claro e o sol, escondido por instantes, surgia tímido, aquecendo suavemente a brisa que soprava do mar. Eveline acordou cedo, antes mesmo do alarme do celular tocar. O quarto estava silencioso, banhado pela luz dourada que atravessava as cortinas translúcidas.Sentou-se na cama e repousou as mãos sobre a barriga.O bebê mexeu.Era como se dissesse “bom dia”, como se compartilhasse com ela cada descoberta, cada novo sentimento. Um gesto pequeno, mas que a fazia sorrir sozinha, sentindo-se inteira — mesmo em pedaços.Vestiu uma saída de praia bege com detalhes bordados à mão, por baixo, um maiô verde-esmeralda de alças largas e decote em V, confortável e elegante. Prendeu os cabelos em um coque frouxo, calçou rasteiras de tiras douradas, e seguiu até a varanda, onde Daniel já organizava o café da manhã com as crianças.— Dormiu bem? — ele perguntou, oferecendo uma xícara de chá
O quarto dia da viagem amanheceu com céu limpo e vento fresco. O cheiro do mar misturado ao aroma suave das flores do jardim envolvia todo o resort como um perfume natural. Eveline já estava de pé quando Beatriz pulou em sua cama com os cabelos emaranhados e sorriso ainda sonolento.— Tia Eveline! O papai disse que vamos passear na feirinha hoje!Eveline riu, envolvendo a menina nos braços.— Então vamos escolher uma roupa bem bonita, pra você brilhar por lá.Pouco tempo depois, todos estavam prontos para sair. Daniel optou por uma camisa jeans de manga curta, parcialmente aberta no colarinho, calça de sarja areia e mocassins. O relógio de couro marrom e os óculos escuros completavam o visual charmoso e casual. Lucas usava uma camiseta vermelha com bermuda jeans, e Beatriz, um vestido azul-claro com babados e sandálias de glitter dourado.Eveline vestia uma saia longa bege com fendas discretas, uma blusa de linho branca com botões perolados e um colar de pingente delicado. Os cabelos
O último dia da viagem começou com um nascer do sol tímido, entre nuvens finas que pintavam o céu de tons suaves de coral e lilás.Eveline já estava de pé antes mesmo dos primeiros raios surgirem no horizonte. Usava uma camisola longa de algodão branco, com renda delicada no busto e um cardigã leve cinza-claro, cobrindo os ombros. Descalça, caminhou devagar até a varanda da suíte. A brisa da manhã lhe arrepiou a pele, e o cheiro do mar era mais fresco do que nunca — como um adeus sussurrado pela natureza.Segurava uma xícara de chá morno nas mãos. A barriga já pesava mais, os movimentos do bebê estavam mais fortes e frequentes. Sentia-se diferente. Mais mulher. Mais mãe. E, de certa forma, mais dona de si.Estava tão imersa no momento que não ouviu os passos leves que se aproximavam por trás.De repente, dois braços a envolveram pela cintura, num gesto inesperado, mas estranhamente natural. Daniel a abraçou por trás, colando o peito às costas dela com cuidado, as mãos abertas sobre su
O táxi preto estacionou suavemente diante dos portões altos da casa de Daniel. As janelas refletiam os tons dourados do entardecer, e uma brisa morna agitava levemente as folhas do jardim. Haviam voltado da viagem no fim da tarde anterior, e agora, com as malas já desfeitas e os chinelos de praia guardados, a casa parecia respirar fundo... retornando ao ritmo do cotidiano.As crianças correram para os próprios quartos assim que entraram, felizes por reverem seus brinquedos e camas. Beatriz logo abraçou sua boneca favorita com força, como se não a visse há meses.Eveline, de pé na porta do quarto das crianças, observava com um sorriso silencioso. Já vestia seu conjunto de moletom rosa-claro com tênis branco, e os cabelos, presos num coque prático, traziam de volta aquela versão dela que vivia para cuidar, mesmo cansada.— Amanhã é dia de escola, pequenos — anunciou, em tom maternal. — Vamos separar os uniformes e deixar as mochilas prontas.Lucas gemeu um “ahhh, não…” enquanto Beatriz
A música de fundo era jazz. Baixo, envolvente, quase uma carícia nos ouvidos.O salão da galeria Kármico, no centro da capital, pulsava em tons de dourado, branco e vinho tinto. As paredes, nuas e limpas, serviam de moldura para quadros abstratos e fotografias em preto e branco. As pessoas circulavam com taças nas mãos, vozes contidas, olhares treinados para avaliar mais do que admirar.Marcus ajustou os punhos do blazer azul-escuro sobre a camisa branca e deu um passo para dentro. O cabelo levemente bagunçado, a barba por fazer e os sapatos pretos de couro inglês o tornavam o centro das atenções mesmo sem esforço.— Achei que você ia fugir de novo — disse Leonardo, surgindo ao lado dele com um copo de gin. — Precisa relaxar, meu caro. Arte e vinho fazem maravilhas por almas partidas.— Só estou acompanhando o anfitrião da noite — respondeu Marcus, sem ironia. — E tentando não pensar demais.— Isso é novo. Você sempre foi o que pensa demais.— E olha onde isso me trouxe.Leonardo apon
Do lado de fora, o céu nublado pintava a cidade em tons de prata. A brisa era úmida, com cheiro de terra e asfalto molhado. Em um bairro sofisticado, cercado por lojas de grife e livrarias silenciosas, o Café Grão e Alma se destacava pelo charme discreto — fachada de madeira escura, janelas amplas e cortinas finas de linho branco.Marcus chegou primeiro.Vestia uma camisa preta de linho com botões abertos no colarinho, calça cinza escura de alfaiataria e mocassins de couro. O cabelo levemente bagunçado denunciava que ele não havia se esforçado muito para parecer elegante — era natural. Pedia um espresso duplo quando viu, pelo reflexo da vitrine, Giovana se aproximar.Ela vestia um macacão bege com tecido fluido, amarrado na cintura com um cinto fino, e um trench coat claro caía pelos ombros como se tivesse sido colocado ali por acaso. Os cabelos soltos, e os olhos escondidos por óculos de sol redondos com armação dourada.— Espero não estar atrasada — disse, tirando os óculos com um m