Camila teve a visão bloqueada pelo guarda-chuva e não conseguia enxergar o caminho. Ao perceber que ele estava completamente inclinado para cobri-la, notou que as roupas de Lucas estavam encharcadas pela chuva. Ela levantou a mão e empurrou o cabo do guarda-chuva de volta para ele.Lucas, por reflexo, olhou primeiro para a direção da ponte quebrada. O homem já havia desaparecido, como se nunca tivesse estado ali, um fantasma, uma ilusão. Ele respirou aliviado e puxou Camila para mais perto de si.Só depois se deu conta de que, naquele instante, Lucas sentiu medo de que Camila fosse levada de si. Era a primeira vez na vida que experimentava esse tipo de sensação, algo que o surpreendeu até mesmo.Quando chegaram na casa do avô, já era quase meio-dia. Comeram qualquer coisa rapidamente. Camila, cansada e com sono, entrou no quarto, tirou as roupas e deitou-se para dormir. Nas últimas noites, não tinha pregado os olhos, velando pela avó.Lucas entrou logo atrás, tirando o casaco e o pe
O celular tocou de repente.Lucas, com o cigarro na boca, pegou o telefone do bolso da calça e olhou rapidamente para o identificador de chamadas: era Chloe. Ele franziu a testa e desligou na hora. Alguns minutos depois, o celular tocou novamente. Desta vez, era Enzo. Ele atendeu.— Quando você volta? — Perguntou Enzo.Lucas respondeu sem muita emoção: — O enterro da avó de Camila foi hoje. Amanhã cedo estaremos de volta. A voz de Enzo carregava um tom de reprovação: — Como assim, foram quatro dias já? — A avó dela morreu, ela está muito abalada. Não posso deixá-la sozinha. — Ela não tem mãe, nem parentes? — A mãe dela também está muito abalada, mal consegue cuidar de si mesma. Quanto aos parentes... bem, não são grande coisa. Nesse momento, ela só pode contar comigo. Enzo soltou um suspiro de impaciência: — Já que vão se divorciar, por que ser tão gentil com ela? Dê mais dinheiro e pronto. Seu tempo vale mais que dinheiro, e os projetos em que você está envolvido fora
Camila ficou perplexa, sem entender por que Lucas de repente a beijou na boca. Embora fosse noite, ainda havia pessoas passando de um lado para o outro. Ser vista assim seria embaraçoso.Além disso, com a avó recém-enterrada, esse tipo de intimidade parecia completamente fora de lugar. Ela tentou empurrá-lo com as mãos. Mas Lucas segurou seus pulsos com uma das mãos, impedindo-a de se mover.Camila não tinha a mesma força que ele, não conseguiu afastá-lo, então fechou os olhos, deixando que ele a beijasse.Ele a beijava com intensidade, quase de forma possessiva, bem diferente de como era antes, quando costumava ser mais suave, como se estivesse competindo com alguém.Ela se lembrou do que ele tinha dito ao telefone, provavelmente para Enzo. Pensou que ele estivesse descontando a raiva em Enzo.Só quando Camila estava prestes a ficar sem ar, Lucas finalmente a soltou, limpando o canto de sua boca com a mão. Ele disse em um tom suave: — Nós não vamos nos divorciar. Não era uma suges
Camila franziu levemente a testa e respondeu: — Mas o pai dele não concorda. Maria disse: — Os pais no final acabam cedendo aos filhos. Vocês dois ainda deviam tentar mais um pouco. Desistir sem nem se esforçar é o que traz arrependimentos depois. Camila ficou em silêncio por um momento antes de responder: — Tudo bem. Às dez da noite, os dois voltaram para casa na Mansão Floresta. Camila foi direto ao banheiro, lavou o cabelo e tomou banho. Quando saiu, pegou o secador e estava prestes a começar a secar os cabelos. Lucas, que também acabara de sair do banheiro do outro quarto, veio até ela e pegou o secador de sua mão, oferecendo-se para ajudá-la. Camila sorriu: — Minha mão esquerda já está quase boa, eu consigo sozinha. Lucas, sem demonstrar nenhuma emoção, a empurrou suavemente para o pequeno sofá ao lado e disse com uma voz serena: — Eu só quero cuidar de você. As palavras eram cheias de afeto, e o jeito frio de Lucas, ao dizê-las, sem exagero algum, tornav
A voz de Lucas era tão encantadora, grave, magnética, clara como um violoncelo que roçava o ouvido de Camila, deslizando direto para o seu tímpano. O coração dela, involuntariamente, acelerou, como se houvesse um pequeno cervo saltitando freneticamente em seu peito. Ela ficou ali, parada, sem saber o que fazer.As palavras de amor ditas pela pessoa amada realmente fazem o cérebro liberar dopamina, pensou ela. Camila curvou os olhos, ergueu o rosto e olhou para o rosto atraente e sedutor dele: — Obrigada por me mimar assim, obrigada. Lucas soltou uma risada divertida, apertando sua bochecha com um olhar provocador: — Acho que você não entende muito de romance, hein? Camila parou por um instante, um pouco envergonhada, e sorriu: — É, eu sou meio sem jeito para essas coisas. O Bruno já me disse isso antes. Lucas ergueu um canto da boca: — E o que ele disse? — Ele disse que sou uma boa mulher, mas talvez boa demais, o que acaba sendo um pouco sem graça. Ele sugeriu que eu f
Vanessa ficou boquiaberta: — Meu Deus, você deve ser aquele tipo de gênio que só existe nas lendas, né?Camila pensou consigo mesma que ela mal sabia falar uma frase romântica, que tipo de gênio seria ela afinal. — Chega de papo, vou começar a pintar as partes faltantes e te entrego à noite. Vanessa ficou ainda mais surpresa: — Tão rápido assim? — Sim.Camila desligou o telefone e foi para o seu estúdio. Lá dentro, havia um conjunto completo de ferramentas para restaurar pinturas a óleo. O Sr. Costa era um apaixonado colecionador dessas obras, que, por serem difíceis de conservar, nos últimos anos tinham sido mantidas e restauradas por ela. Esse conjunto de ferramentas foi providenciado pelo Lucas.Camila pegou uma folha de papel, preparou-a com habilidade e pediu a Renata para ajudar a lavar a paleta de cores. Quando o papel secou, ela pegou o pincel e, com base nas imagens gravadas em sua memória, começou a pintar. A obra a ser restaurada era marcada por pinceladas ousadas
Camila sentiu como se uma faca afiada tivesse sido cravada em seu peito, a dor era insuportável. Seu rosto ficou pálido como papel, e suas pernas tremiam de fraqueza. Ela se segurou com força no corrimão, os dedos ficando brancos de tanta tensão. Era esse o mesmo homem que, naquela manhã, dizia que queria encolhê-la e carregá-la no bolso para onde fosse? E, num piscar de olhos, lá estava ele rindo e conversando com a ex, andando lado a lado. Ah, os homens com suas promessas vazias. Vanessa se assustou ao ver o estado de Camila e, pegando sua mão, perguntou apressadamente: — Camila, o que houve? Você está bem? Sentiu-se mal? Será que a altura da roda-gigante te deu vertigem?Camila assentiu com a cabeça, o peito subindo e descendo rapidamente. Depois de um minuto, sua expressão pálida começou a recuperar um pouco de cor, e ela sorriu, sarcástica. Agora tudo fazia sentido. Por isso Lucas não queria que ela saísse. Falava sobre a insegurança das ruas, mas era só medo de que ela o vis
Camila imediatamente levou a mão ao nariz dolorido pela colisão e se desculpou: — Desculpa! — Não tem problema, seu nariz está bem? A voz do homem era um pouco fria, mas marcante, com aquele sotaque de quem fala português como uma segunda língua, meio ríspido. Camila ergueu o rosto e viu um rosto bonito e profundo, com o cabelo cortado bem curto. Antes que pudesse distinguir melhor seus traços, ela foi capturada pelos olhos dele. Eram lindos, profundos como o mar, sombrios e frios, com dobras marcantes nas pálpebras e cílios negros e densos. Ao olhar para aqueles olhos, o coração de Camila deu um salto. Eram tão parecidos com os olhos de Pedro, mais ainda do que os de Lucas. Ao lembrar-se de Pedro, que havia morrido salvando-a, uma dor voltou a apertar seu peito. Primeiro, uma dor surda, que logo se transformou numa sensação de ser perfurada por facas. Camila segurou o peito, encostando-se na parede, o rosto pálido de dor. — Você está bem? O homem tentou segurá-la para ajud