A voz de Lucas era tão encantadora, grave, magnética, clara como um violoncelo que roçava o ouvido de Camila, deslizando direto para o seu tímpano. O coração dela, involuntariamente, acelerou, como se houvesse um pequeno cervo saltitando freneticamente em seu peito. Ela ficou ali, parada, sem saber o que fazer.As palavras de amor ditas pela pessoa amada realmente fazem o cérebro liberar dopamina, pensou ela. Camila curvou os olhos, ergueu o rosto e olhou para o rosto atraente e sedutor dele: — Obrigada por me mimar assim, obrigada. Lucas soltou uma risada divertida, apertando sua bochecha com um olhar provocador: — Acho que você não entende muito de romance, hein? Camila parou por um instante, um pouco envergonhada, e sorriu: — É, eu sou meio sem jeito para essas coisas. O Bruno já me disse isso antes. Lucas ergueu um canto da boca: — E o que ele disse? — Ele disse que sou uma boa mulher, mas talvez boa demais, o que acaba sendo um pouco sem graça. Ele sugeriu que eu f
Vanessa ficou boquiaberta: — Meu Deus, você deve ser aquele tipo de gênio que só existe nas lendas, né?Camila pensou consigo mesma que ela mal sabia falar uma frase romântica, que tipo de gênio seria ela afinal. — Chega de papo, vou começar a pintar as partes faltantes e te entrego à noite. Vanessa ficou ainda mais surpresa: — Tão rápido assim? — Sim.Camila desligou o telefone e foi para o seu estúdio. Lá dentro, havia um conjunto completo de ferramentas para restaurar pinturas a óleo. O Sr. Costa era um apaixonado colecionador dessas obras, que, por serem difíceis de conservar, nos últimos anos tinham sido mantidas e restauradas por ela. Esse conjunto de ferramentas foi providenciado pelo Lucas.Camila pegou uma folha de papel, preparou-a com habilidade e pediu a Renata para ajudar a lavar a paleta de cores. Quando o papel secou, ela pegou o pincel e, com base nas imagens gravadas em sua memória, começou a pintar. A obra a ser restaurada era marcada por pinceladas ousadas
Camila sentiu como se uma faca afiada tivesse sido cravada em seu peito, a dor era insuportável. Seu rosto ficou pálido como papel, e suas pernas tremiam de fraqueza. Ela se segurou com força no corrimão, os dedos ficando brancos de tanta tensão. Era esse o mesmo homem que, naquela manhã, dizia que queria encolhê-la e carregá-la no bolso para onde fosse? E, num piscar de olhos, lá estava ele rindo e conversando com a ex, andando lado a lado. Ah, os homens com suas promessas vazias. Vanessa se assustou ao ver o estado de Camila e, pegando sua mão, perguntou apressadamente: — Camila, o que houve? Você está bem? Sentiu-se mal? Será que a altura da roda-gigante te deu vertigem?Camila assentiu com a cabeça, o peito subindo e descendo rapidamente. Depois de um minuto, sua expressão pálida começou a recuperar um pouco de cor, e ela sorriu, sarcástica. Agora tudo fazia sentido. Por isso Lucas não queria que ela saísse. Falava sobre a insegurança das ruas, mas era só medo de que ela o vis
Camila imediatamente levou a mão ao nariz dolorido pela colisão e se desculpou: — Desculpa! — Não tem problema, seu nariz está bem? A voz do homem era um pouco fria, mas marcante, com aquele sotaque de quem fala português como uma segunda língua, meio ríspido. Camila ergueu o rosto e viu um rosto bonito e profundo, com o cabelo cortado bem curto. Antes que pudesse distinguir melhor seus traços, ela foi capturada pelos olhos dele. Eram lindos, profundos como o mar, sombrios e frios, com dobras marcantes nas pálpebras e cílios negros e densos. Ao olhar para aqueles olhos, o coração de Camila deu um salto. Eram tão parecidos com os olhos de Pedro, mais ainda do que os de Lucas. Ao lembrar-se de Pedro, que havia morrido salvando-a, uma dor voltou a apertar seu peito. Primeiro, uma dor surda, que logo se transformou numa sensação de ser perfurada por facas. Camila segurou o peito, encostando-se na parede, o rosto pálido de dor. — Você está bem? O homem tentou segurá-la para ajud
Lucas apertou os documentos com mais força, os dedos se fechando ao redor do papel, enquanto continuava a ler. Pedro era herdeiro da Casa de Leilões Haro, seu pai se chamava Luís Costa. Luís era um dos principais fundadores e o maior acionista da Casa de Leilões Haro, que pertencia à Saurimo Comércio Lda, de Cidade A. Com um faturamento anual na casa dos bilhões, a Casa de Leilões Haro era uma das maiores leiloeiras de antiguidades da Cidade A. Talvez Luís fosse discreto demais ou pouco ativo no país, pois Lucas nunca tinha ouvido falar dele. Mas uma coisa era certa: uma família como essa não tinha problemas de dinheiro. Lucas fixou os olhos nos documentos, perdido em pensamentos. Três anos atrás, Camila não escolheu seu Pedro, escolheu a ele, Lucas. Naquela época, Lucas tinha sofrido um acidente de carro que danificou os nervos da coluna, deixando-o paralisado da cintura para baixo. Ele não tinha nada além de dinheiro. Camila se casou com ele porque sua família estava falida,
Lucas percebeu o que ela estava pensando e disse: — Na ida ao hotel, foi meu pai quem ligou pedindo para Chloe entrar no meu carro. Assim que ela entrou, eu disse que sou um homem casado e pedi para mantermos uma distância para evitar problemas desnecessários. Durante o jantar, ela quis se sentar ao meu lado, e eu dei um jeito de evitar isso. Depois que terminamos de comer, meu pai sugeriu que eu a levasse, mas recusei. Camila, se você não acredita, pode verificar as câmeras do carro ou perguntar ao meu assistente. Dizendo isso, era claro que ele não estava mentindo. Toda a raiva que Camila guardava dentro de si se dissipou completamente, e ela até se sentiu um pouco emocionada. Emocionada porque ele estava disposto a confrontar Enzo por ela. E Enzo era seu pai, a pessoa que podia decidir seu futuro. Camila estendeu os braços e o abraçou em silêncio, querendo dizer algo romântico para elogiá-lo, mas quanto mais ela tentava, menos sabia o que dizer. Ela simplesmente não tinha ta
Três dias depois.Vanessa ligou empolgada: — Camila, tenho ótimas notícias! Depois de uma avaliação com todos os especialistas presentes, foi decidido por unanimidade que você será a responsável pela restauração da pintura a óleo. Está feliz? Camila respondeu com um leve sim: — Quando começamos? Vanessa ficou surpresa: — Essa é sua reação? Camila arqueou ligeiramente a sobrancelha: — Qual deveria ser a minha reação? Vanessa elevou o tom de voz: — Você tem ideia do que conseguiu? Venceu dezoito concorrentes altamente qualificados, vindos de todas as partes do país. Todos eles eram os melhores dos museus locais, pessoas com mais de quarenta ou cinquenta anos. E você, com apenas vinte e três, conseguiu derrotar todos eles! Não deveria estar explodindo de alegria? Camila soltou uma risada seca: — Assim tá bom? Ao ouvir o riso indiferente, Vanessa ficou sem graça: — E sua mão esquerda? Ainda está se recuperando. Não vai te atrapalhar? — Dá para levar. Uso mais a
Coisas boas sempre custam caro. As mais baratas geralmente são apenas artesanato ou falsificações. O mercado de antiguidades era cheio de armadilhas.As duas visitaram várias lojas, mas não encontraram nada que valesse a pena. Finalmente, chegaram a uma loja de antiguidades com uma decoração impressionante.Camila deu uma olhada ao redor e seus olhos se fixaram em uma caixa de vidro transparente. Dentro dela, havia vários pedaços de papel antigo, tão fragmentados que era impossível distinguir a forma original. O maior deles não tinha mais do que o tamanho da palma da mão de uma criança.Vanessa, percebendo que Camila não tirava os olhos daquele objeto, perguntou curiosa ao vendedor: — Quanto custa isso? O vendedor levantou dois dedos: — Duzentos mil. Vanessa arregalou os olhos: — Duzentos mil por esses pedaços de papel? Vocês são corajosos para pedir isso, por que não assaltam um banco? O vendedor não se ofendeu, e continuou sorrindo: — Esta é uma obra do famoso Hermes, u