Camila levantou a mão para empurrar o guarda-chuva novamente, mas Lucas segurou sua mão e disse suavemente: — Eu sou um homem, tomar um pouco de chuva não é nada. Mas você é uma moça, não deve se resfriar.Os olhos de Camila se encheram de lágrimas. Ela segurou firme o braço dele e não soltou mais. Só o soltou quando chegaram à porta do quarto do hospital.Naquela noite, Camila ajudou a avó a lavar o rosto e os pés. Ao olhar para a pele flácida e enrugada da avó, sentiu um aperto no coração. Ela havia sido criada pelos avós e tinha mais carinho pela avó do que pela própria mãe.A noite avançou. Camila se deitou ao lado da avó, abraçando-a por trás. A avó, antes grande e forte como uma árvore, agora estava magra e frágil como um galho seco balançando ao vento.Dias atrás, durante um exame completo, descobriram que todos os órgãos da avó já estavam envelhecidos, especialmente o rim que havia sido transplantado três anos antes.Nesta idade, os médicos já não recomendavam novas cirurgias
Carregando Camila até o local onde o carro estava estacionado, Lucas abriu a porta do passageiro com uma das mãos e a colocou no banco. Camila já estava desfeita em lágrimas, o rosto pálido e marcado pelo choro, completamente sem rumo, despertando a compaixão de qualquer um que a visse.Lucas entrou no carro, ajudou-a a colocar o cinto de segurança, abraçou-a e sussurrou suavemente em seu ouvido: — Seja forte. Eu vou te levar para o hospital agora.Camila não conseguia ouvir o que ele dizia. Sua mente estava apenas com a avó. Sua avó havia partido. Ela não tinha mais sua avó.Lucas dirigiu o carro o mais rápido que pôde. Finalmente chegaram ao hospital. Ele saiu do carro e abriu a porta.Camila desceu, quase caindo, com as pernas tão fracas que mal conseguia caminhar.Lucas, sem hesitar, a pegou novamente nos braços e caminhou apressado em direção à ala de internação.Ao chegar ao quarto, Maria estava com o rosto coberto pelas mãos, chorando desesperadamente.A avó estava deitada na
Sob a luz da lâmpada.O rosto bonito de Camila estava pálido como a fria luz da lua, seus olhos grandes e expressivos refletiam uma dor profunda, com os longos cílios caídos como as asas de uma borboleta à beira da morte. Ela estava tão abatida que mal se parecia com ela mesma, teimosamente ajoelhada diante do caixão da avó, sem se mover. Seu corpo magro e frágil parecia ainda mais esquelético à luz alaranjada.Nos últimos dias, Lucas sentiu mais compaixão por ela do que em qualquer outro momento. Tanto que, muitos anos depois, ele ainda não conseguia esquecer aquela cena. Sempre que lembrava, seu coração apertava.No quintal.Um parente da família, conhecido por ser inconveniente, aproximou-se de Maria e disse: — O seu genro não estava com as pernas ruins? Ouvi dizer que era deficiente, que só conseguia andar de cadeira de rodas. Maria sabia que todos riam dela pelas costas, dizendo que, por dinheiro, ela tinha vendido a filha para um aleijado. Ela levantou as pálpebras inchadas,
Camila olhava para o carro funerário que desaparecia lentamente, chorando até perder a voz.No caminho de volta para casa, Camila, profundamente abalada, de repente vomitou tudo. Lucas limpou cuidadosamente o canto de sua boca e tentou consolá-la com palavras suaves. Ela ouvia a voz dele ao longe, mas não conseguia distinguir o que ele dizia. Só sabia que a pessoa no carro funerário era sua avó, prestes a ser consumida pelo fogo. Estava prestes a perder a avó para sempre. Ela nunca mais teria sua avó, nunca mais.Após a cremação, as cinzas da avó foram trazidas de volta. No dia do enterro, o céu estava nublado e uma fina garoa caía. Um vento forte atravessava a trilha lamacenta, gelando até os ossos.Com o apoio de Lucas, Camila, sua mãe e alguns parentes chegaram ao bosque de salgueiros atrás da aldeia, onde a avó seria enterrada ao lado do túmulo do avô.O bosque estava envolto por uma névoa fria, e mesmo durante o dia parecia assustador. Mas o avô estava enterrado ali, e a avó logo
Camila teve a visão bloqueada pelo guarda-chuva e não conseguia enxergar o caminho. Ao perceber que ele estava completamente inclinado para cobri-la, notou que as roupas de Lucas estavam encharcadas pela chuva. Ela levantou a mão e empurrou o cabo do guarda-chuva de volta para ele.Lucas, por reflexo, olhou primeiro para a direção da ponte quebrada. O homem já havia desaparecido, como se nunca tivesse estado ali, um fantasma, uma ilusão. Ele respirou aliviado e puxou Camila para mais perto de si.Só depois se deu conta de que, naquele instante, Lucas sentiu medo de que Camila fosse levada de si. Era a primeira vez na vida que experimentava esse tipo de sensação, algo que o surpreendeu até mesmo.Quando chegaram na casa do avô, já era quase meio-dia. Comeram qualquer coisa rapidamente. Camila, cansada e com sono, entrou no quarto, tirou as roupas e deitou-se para dormir. Nas últimas noites, não tinha pregado os olhos, velando pela avó.Lucas entrou logo atrás, tirando o casaco e o pe
O celular tocou de repente.Lucas, com o cigarro na boca, pegou o telefone do bolso da calça e olhou rapidamente para o identificador de chamadas: era Chloe. Ele franziu a testa e desligou na hora. Alguns minutos depois, o celular tocou novamente. Desta vez, era Enzo. Ele atendeu.— Quando você volta? — Perguntou Enzo.Lucas respondeu sem muita emoção: — O enterro da avó de Camila foi hoje. Amanhã cedo estaremos de volta. A voz de Enzo carregava um tom de reprovação: — Como assim, foram quatro dias já? — A avó dela morreu, ela está muito abalada. Não posso deixá-la sozinha. — Ela não tem mãe, nem parentes? — A mãe dela também está muito abalada, mal consegue cuidar de si mesma. Quanto aos parentes... bem, não são grande coisa. Nesse momento, ela só pode contar comigo. Enzo soltou um suspiro de impaciência: — Já que vão se divorciar, por que ser tão gentil com ela? Dê mais dinheiro e pronto. Seu tempo vale mais que dinheiro, e os projetos em que você está envolvido fora
Camila ficou perplexa, sem entender por que Lucas de repente a beijou na boca. Embora fosse noite, ainda havia pessoas passando de um lado para o outro. Ser vista assim seria embaraçoso.Além disso, com a avó recém-enterrada, esse tipo de intimidade parecia completamente fora de lugar. Ela tentou empurrá-lo com as mãos. Mas Lucas segurou seus pulsos com uma das mãos, impedindo-a de se mover.Camila não tinha a mesma força que ele, não conseguiu afastá-lo, então fechou os olhos, deixando que ele a beijasse.Ele a beijava com intensidade, quase de forma possessiva, bem diferente de como era antes, quando costumava ser mais suave, como se estivesse competindo com alguém.Ela se lembrou do que ele tinha dito ao telefone, provavelmente para Enzo. Pensou que ele estivesse descontando a raiva em Enzo.Só quando Camila estava prestes a ficar sem ar, Lucas finalmente a soltou, limpando o canto de sua boca com a mão. Ele disse em um tom suave: — Nós não vamos nos divorciar. Não era uma suges
Camila franziu levemente a testa e respondeu: — Mas o pai dele não concorda. Maria disse: — Os pais no final acabam cedendo aos filhos. Vocês dois ainda deviam tentar mais um pouco. Desistir sem nem se esforçar é o que traz arrependimentos depois. Camila ficou em silêncio por um momento antes de responder: — Tudo bem. Às dez da noite, os dois voltaram para casa na Mansão Floresta. Camila foi direto ao banheiro, lavou o cabelo e tomou banho. Quando saiu, pegou o secador e estava prestes a começar a secar os cabelos. Lucas, que também acabara de sair do banheiro do outro quarto, veio até ela e pegou o secador de sua mão, oferecendo-se para ajudá-la. Camila sorriu: — Minha mão esquerda já está quase boa, eu consigo sozinha. Lucas, sem demonstrar nenhuma emoção, a empurrou suavemente para o pequeno sofá ao lado e disse com uma voz serena: — Eu só quero cuidar de você. As palavras eram cheias de afeto, e o jeito frio de Lucas, ao dizê-las, sem exagero algum, tornav