Ao ouvir isso, Enzo congelou. Ele queria muito se virar e dar uma bronca em Camila, mas teve medo de irritá-la. E se ela perdesse a paciência e jogasse outra garrafa de nitroglicerina nele? Aquilo não era brincadeira.Pela primeira vez, ele percebeu que essa garota tinha coragem. Ele, que sempre foi respeitado por todos, agora estava sendo ameaçado por uma jovenzinha. Enzo estava prestes a explodir de raiva, mas finalmente conseguiu sair da casa e chegar ao carro.O motorista abriu a porta.Enzo olhou para o frasco de vidro com nitroglicerina na mão e ordenou com urgência:— Liga logo! Arruma alguém pra tirar essa cola da minha mão!O motorista olhou para o frasco transparente, curioso, e perguntou:— O que é isso?— Explosivo.Assustado, o motorista deu vários passos para trás.Enzo berrou: — Mandei ligar, tá surdo? Se continuar enrolando, minha mão vai pelos ares!Dizendo isso, Enzo se abaixou para entrar no carro.O motorista o impediu rapidamente:— Sr. Enzo, de jeito nenhum! Seu
— Eu já imaginava. Você é corajosa mesmo, até sabe extrair explosivos. — Lucas comentou com um sorriso malicioso.Camila arqueou uma sobrancelha, um toque de desafio no olhar.— Decepcionado? — Camila perguntou com um tom irônico.— De jeito nenhum. Minha Camila é incrível. Consegue restaurar pinturas antigas, cerâmicas raras e ainda extrair explosivos.— Corrigindo: já nos divorciamos, eu não sou mais sua. — Rebateu Camila, mantendo o tom firme.— Não me importa. Você é minha, sim. — Lucas insistiu, a voz baixa e sedutora, com um quê de autoridade.Essa nota de possessividade mexeu com ela.O coração de Camila deu uma leve vacilada, tomada por sentimentos contraditórios. Lucas era como uma droga viciante, impossível de se livrar. Não era à toa que Chloe não sossegou até se casar com ele, e aquela Tânia também o perseguia feito sombra. Lembrando da noite no Restaurante Aroma, Camila se lembrou de como Tânia o olhava com admiração. Aquilo a incomodava mais do que ela gostaria de admiti
A pedido da produção, Camila precisava se maquiar e trocar de roupa antes de subir ao palco. Sentada na sala de maquiagem, a maquiadora terminou a base e começou a aplicar a maquiagem nos olhos.Com o pincel nas mãos, a maquiadora comentou:— Srta. Camila, você é tão jovem e bonita. Comparada com aqueles especialistas mais velhos, talvez sua aparência não passe tanta credibilidade. Posso fazer uma maquiagem que te deixe com um ar mais maduro, tudo bem?Quase faltou apontar o dedo para o nariz dela e dizer que era inútil. Camila entendeu o recado, mas apenas sorriu de leve:— Não precisa, pode fazer algo mais leve. Na nossa área, o que conta é o cérebro, não a aparência.Então, a maquiadora apenas passou uma camada de rímel e aplicou um leve batom nos lábios.Camila foi para o palco. Ela, que costumava vestir roupas discretas, dessa vez usava um vestido longo sem mangas de seda vermelha, que destacava sua pele clara como a neve, revelando clavículas delicadas e braços esbeltos. Seu ros
Nada de mais. Depois que o programa terminou, Camila precisava voltar ao camarim para trocar de roupa. No caminho, foi interrompida por Pedro.Ele lhe entregou uma garrafa d'água, baixando o olhar em direção a ela, com um brilho gentil nos olhos:— Você se saiu muito bem hoje, Camila. Primeira vez na TV e não demonstrou um pingo de nervosismo.Camila aceitou a água e sorriu:— Desde pequena, meu avô sempre me levou a museus. Já vi de perto tantos figurões que, sinceramente, não tem motivo para me intimidar.Pedro curvou levemente os lábios:— Impressionante.— Exagero seu. — Respondeu Camila, devolvendo o sorriso.De repente, Pedro se inclinou um pouco mais e perguntou em um tom mais baixo:— Por que você se divorciou?Esse era o verdadeiro motivo de sua curiosidade.O sorriso no rosto de Camila desapareceu. Seus olhos, que brilhavam segundos atrás, escureceram como se tivessem perdido toda a luz num instante.Ao vê-la assim, Pedro sentiu uma dor aguda no peito, desejando poder apagar
Camila se desvencilhou do abraço de Lucas e disse:— Vou trocar de roupa.Lucas baixou o olhar para ela, o olhar suave:— Vá, eu te espero.— Não precisa me esperar, pode ir cuidar dos seus compromissos, vim de carro.Lucas apenas apertou os lábios, sem responder. Camila entregou a ele as flores e o café, e também tirou o paletó que ele havia colocado sobre seus ombros, devolvendo-o. Com o calor daquele verão, andar com um paletó era um suplício.O vestido sem mangas só deixava os braços e a clavícula à mostra, nada demais. Afinal, todas usavam assim, mas Lucas parecia incomodado com a ideia.Camila chegou ao camarim, abriu a porta e entrou. A maquiadora se aproximou para ajeitar o cabelo dela. Camila tirou um brinco e o colocou sobre a penteadeira.A maquiadora, admirando-a pelo espelho, comentou:— Srta. Camila, você é tão bonita, com um rosto pequeno e traços delicados. Uma pena não seguir carreira como atriz.Camila tirou o outro brinco e respondeu com um leve sorriso:— Para ser
Lucas sorriu levemente e acariciou o cabelo dela:— Não se preocupe, nós vamos nos casar de novo.Era como se, repetindo essa frase várias vezes, ele realmente pudesse fazer esse desejo se tornar realidade.Camila sentiu uma pontada no peito, como se uma pequena agulha a tivesse espetado. Ela teve vontade de abraçá-lo, mas conteve-se. Eram adultos, afinal. Divórcio era divórcio, não dava para tratar como brincadeira. Continuar nessa indecisão era doloroso demais.Quarenta minutos depois, o carro parou em frente ao Hotel Palmeiras. Os dois subiram pelo elevador até o terceiro andar. Quando chegaram à porta, o celular de Lucas tocou de repente. Ele olhou para a tela e disse a Camila:— Vai entrando, eu preciso atender, é sobre trabalho.Camila acenou com a cabeça e empurrou a porta. Para sua surpresa, o ambiente estava cheio de gente, um verdadeiro formigueiro. Ao redor de uma grande mesa redonda, estavam sentados Enzo, Joaquim, Tânia, Jorge e alguns assistentes.Ela pensou que seria ape
Camila deu um sorriso, e a expressão de Enzo ficou ainda mais sombria, como nuvens carregadas de uma tempestade de junho.Sentada perto de Enzo, Tânia, alheia à situação, percebeu que Camila não tirava os olhos do frasco de vidro na mão dele. Curiosa, também lançou um olhar e perguntou: — Sr. Enzo, essa garrafinha é de cristal? Parece ser bem valiosa. Ouvi dizer que, alguns anos atrás, desenterraram garrafas de cristal do período colonial que lembram muito essa que está na sua mão.Enzo respondeu com um murmúrio abafado, mantendo uma expressão inalterada, mas por dentro sentia uma raiva crescente. Ele não estava brincando com a garrafa. Na verdade, estava preso a ela, sem conseguir se livrar. Sempre foi um homem orgulhoso, e agora uma simples garota havia arruinado sua imagem. Por onde passava, sempre o questionavam sobre isso.Nesse momento, Lucas entrou pela porta.Enzo ergueu o olhar e, com um gesto do queixo, indicou o assento ao seu lado:— Lucas, senta aqui.Ao lado dessa cadei
Enzo pegou uma tigela de sopa e serviu um pouco de creme de abóbora para Tânia, colocando a tigela na frente dela. Elogiou com um sorriso: — Tânia é realmente uma mulher excepcional. Ouvi dizer que na época da escola, ela já era uma fera nos estudos, dominando finanças e com grande expertise no setor imobiliário. Com ela e o Lucas juntos, é uma união poderosa. Camila sentiu uma pontada de incômodo ao ouvir aquilo. Levantou-se de repente e disse para Lucas: — Vou ao banheiro rapidinho.Lucas assentiu, com um meio sorriso: — Não demore. Camila murmurou um "tá bom" e saiu do salão. Lá fora, perguntou a um garçom onde ficava o banheiro. Após usá-lo, lavou as mãos e parou em frente ao espelho para ajeitar o cabelo. Estava visivelmente irritada. Não queria abrir mão de Lucas, mas as alfinetadas constantes de Enzo, ainda que veladas, eram um inferno. De repente, ela ouviu um som peculiar vindo de fora. Parecia o toque ritmado de uma bengala batendo no chão, se aproximando cada vez