Samira .
É incrível como tudo parece misterioso, envolvente e sombrio nesta floresta durante a noite. A familiaridade com o lugar que tanto explorei, devia-me dar alguma vantagem agora. Bem, eu teria essa vantagem se ainda fosse de dia, enquanto o sol ainda brilhava alegremente no céu, no lugar da lua cheia e cintilante, que agora não está me ajudando muito. Como seria bem-vindo ser como um animal selvagem agora.Eles são habilidosos, ágeis e rápidos. Os galhos, troncos secos e cipós traiçoeiros não seriam problema algum para eles.No meu caso, não tenho muita sorte. Os meus tornozelos estão inchados e muito doloridos. Talvez um deles, o mais dolorido, pode ter sofrido uma torção, mas eu não tenho tempo para parar e verificar a gravidade do machucado. O que eles fariam quando descobrissem que eu fugi? Será que o meu pai vai se encrencar por isso? Balanço a minha cabeça bruscamente, me negando a pensar no homem que me colocou nesta situação, o meu próprio pai. Não posso pensar no meu pai agora.
Não quando estou lutando para salvar o meu destino. O meu pai não pensou quando me ofereceu para ser esposa de Dimitri Ferrari. Um homem que nem ao menos conheço, mas tenho motivos suficientes para temê-lo antes mesmo de conhecê-lo. Ele e sua família matam pessoas, baseando-se nas suas próprias leis, sem pestanejar. Tudo por poder e dinheiro. Como o meu pai pode me oferecer, como se eu fosse um mero objeto? Ouvi dizer que esse homem trata as mulheres como somente um pedaço de carne, como um objeto sexual. Certamente vai me tratar da mesma forma se eu me casar com ele. Em resumo: como uma escrava sexual disfarçada de esposa. O meu pai disse eu que tive muita sorte por ser escolhida para ser esposa do herdeiro de um dos homens mais ricos e poderosos que ele conhece deste meio do crime , mais precisamente do rei do comércio ilegal de armas e outras coisas que não tenho conhecimento. Sorte? Quase consigo rir ao me lembrar dessas palavras , porém tudo que sai dos meus lábios agora é um soluço abafado e lágrimas de dor e medo. É por isso que desde a morte da minha mãe, eu tenho juntado dinheiro para pôr em prática minha fuga.
Conseguir dinheiro do meu pai não foi difícil. Uma vez que eu fizesse um balanço minucioso de onde esse dinheiro era gasto e depois mostrasse pra ele , estava tudo certo. Foi o que fiz. Claro que tive ajuda do padre Simões nisso, o que fez com que a minha crença e fé em Deus só aumentassem. Nunca saí dessa cidade, ou melhor: muralha. Não tenho ideia de como vão ser as coisas daqui para frente, mas estou convicta que qualquer coisa que a vida queira me oferecer é melhor que qualquer vida que eu possa ter ao lado daquele homem. Se eu conseguir fugir, talvez um dia eu possa perdoar o meu pai por tudo isso. É claro que os meus contatos vão ser apenas por mensagens e telefonemas; depois dessa, não confio mais nele. Alívio inunda o meu corpo quando ouço barulhos de carros. Finalmente cheguei próximo à estrada, o lugar onde eu pedi para o mecânico da cidade entregar o meu carro e mantê-lo escondido fora da estrada. Não foi fácil convencê-lo a me ajudar , uma vez que quase todos da pequena cidade temem os Ferrari's. Uns insanamente os veneram, outros desejam entrar para a família mafiosa. Mas depois de eu insistir, lamentar e claro,dar a ele uma boa quantia de dinheiro, aceitou me ajudar.
Mas, ao contrário do que pensei, há muito movimento fora do habitual no local combinado. Ah esse horário, as estradas deviam estar calmas. Não. Não. Por favor, não! Será que eles descobriram eu que fugi? Foram meses arquitetando uma forma de sair da cidade sem ser vista. Não é possível que eles tenham descoberto. — Leve esse verme traidor daqui! Se ela estiver machucada, ou se isso for uma distração para dar tempo para a loucura da minha filha, eu juro que mato esse filho da puta! Ouviu? Se eu não tiver a minha filha de volta, eu acabo com a sua vida miserável! — Era a voz do meu pai ,ameaçando o mecânico. A voz dele soou parecida com o som de um trovão no meio de uma tempestade violenta. Senti medo pelo mecânico e por mim. Se eles me pegarem, vou ficar presa até o casamento. O som dos rosnados dos cães farejadores e enraivecidos do meu pai chegam aos meus ouvidos como um alerta assustador junto com um pensamento mais ainda apavorante. Será que o meu pai andou me vigiando esse tempo todo? Claro que sim. Como fui tola em pensar que ele não faria? Afinal, uma sua carta valiosa para ele, não é? Um mero objeto de barganha.
Não posso desistir agora.
Não quando o meu futuro depende disso.
Mesmo sabendo que minhas chances de escapar são pequenas ,redundantemente eu me nego a me entregar . Virando meu corpo da direção oposta dos homens e dos cães que neste momento parecem tentados a mostrarem suas habilidades de caça , eu corro entre as árvores ,pela mata fechada , entregando o meu rosto para ser chicoteado a vontade pelos galhos por onde passo. Dói e queima como um forte e ardido tapa , mas não me intimido e suporto a dor. Fugir é tudo o que importa. Minutos depois. Estou exausta ,sem a mínima noção de onde estou. Os
meus joelhos estão mais doloridos ,a fraqueza começa a se instalar em meu corpo como um presente desagradável, mas ignoro os sinais de fraqueza ,dor e cansaço que meu corpo está me dando para desistir e continuo correndo . Corro o quanto ainda consigo . Quando os sons dos meus perseguidores não são mais captados pelo meus ouvidos, eu paro para descansar e tomar um pouco de ar . Mas minutos depois eles estão de volta .Eles são rápidos , muito mais rápido do que eu consigo ser agora . Me levantando , mais uma vez pressiono o meu corpo fraco e cansado a caminhar na direção da estrada ,torcendo para que existam milagres.
Torço para que sim. Por que vou precisar de um milagre para que um estranho me de carona pra longe daqui sem questionar meu estado físico porque ele está péssimo .
Ou talvez milagres não existam , não para mim , no entanto . Eles estão perto. As minhas chances de chegar à estrada é mínima agora e de conseguir uma carona nula. O que eu vou fazer ?
Quando todas as árvores dão lugar a um espaço desmatado sei exatamente onde estou .No penhasco da morte de quarenta metros de altura que separa do riacho abaixo . Eu já estive aqui antes , mas em outras circunstâncias ,não a essa que estou agora . É irônico que um lugar tão bonito tenha um nome como este . Mas, o belo , pode ser perigoso .Como esse lugar . O barulho da água é quase silencioso. A correnteza calma e brilhante sob a luz do luar, torna o riacho num lindo e belo espetáculo da natureza,tornando-o inofensivo.
Mas, é apenas um engano . O rio tem uma profundidade de sete pés ,isso é nas partes mais rasas .E seus redemoinhos são fatais . Como fui perder totalmente a direção ? Eu tinha quase certeza que estava indo na direção certa . As vozes estão mais perto , eles sabem que não tenho para onde ir ,que estou cercada . Só alguém muito idiota pularia de um penhasco desses sem ser um profissional ou estar equipado pra isso. E eu ,apesar do desespero , não sou uma idiota pra arriscar a minha vida.
Os latidos se aproximam , as vozes estão não só altas ,mas também exaltadas. Medo corre pelas minhas veias. Medo por não ter para onde fugir e medo por ter que enfrentar meu pai e um casamento sem amor com um homem cruel. Pensar em Dimitri e no quanto sei que é cruel , me tranforma numa idiota. Por que eu estou pensando em pular .
Me aproximo um pouco mais da beirada do penhasco.
Os reflexos lunares sobre a água corrente torna tudo muito belo e inofensivo .Como se a água estivesse me fazendo um convite silencioso .Deixo as lágrimas correrem molhando meu rosto cortando pelos muitos galhos que bateram sobre ele .
— Fracassei mãe !—grito através do vento que soa como um uivo de um lobo feroz ao redor . — Fracassei ! —Grito de novo . Tudo que queria é viver longe daqui . Essa não é a vida que você sonhou pra mim e muito menos a qual eu sonhei para mim .—desabo em lágrimas.
Fui poupada de tudo que meu pai e sua turma faziam enquanto minha mãe era viva . Tudo era como uma família normal , eu via meu pai como um trabalhador comum .E não como um membro de uma gangue criminosa como descobri depois .Mas de tudo que descobri , saber que meu destino estava traçado foi pior . Achei que qualquer que fosse as escolhas de vida do meu pai , Isso não ia me afetar ao ponto de ele me transformar num mero objeto. . Mas, não . Ele já tinha tudo planejado . Sem nem ao menos perceber eu havia me aproximado ainda mais para a beirada do penhasco.
Uma pedra rola sobre meus pés levando um pouco de terra junto me fazendo sobressaltar para trás . Então eu congelo quando mãos fortes e determinadas me agarram pela cintura . Prendo o ar quando o grande vulto me afasta do penhasco .
Não consigo ver o rosto do homem que está me carregando agora . Quero gritar , bater nele ,mas duvido que qualquer coisa que eu faça possa impedir esse homem de me levar daqui .Seus braços em minha cintura são fortes ,como barras de aço , o que quase me deixa sem ar . Então ele para , tira as mãos da minha cintura, mas ainda se mantém atrás de mim, como um vulto escuro, sombrio ,e sem voz . Engolindo em seco ,eu respiro fundo pra controlar o pânico e em seguida, como em câmera lenta , me viro lentamente para enfrentar o vulto sombrio enquanto meu pai e seus homens invadem o campo amplo . Mas, eu não os olho . A minha atenção ainda está no homem à minha frente vestido todo de preto. Quando meus olhos chegam a seu rosto ,sinto todo meu corpo tremer e o ar parece ter cessado,
, dificultando minha respiração .É ele , meu futuro noivo. Dimitri Ferrari veio me buscar .
DimitriUma grande quantidade dos homens de Ramoz está na estrada, se preparando para entrar na mata em busca de uma fujona. Desde que um arranjo foi feito para unir Samira e eu, tenho a observado. Não acredito que uma garota como ela possa estar sozinha nesta floresta escura e perigosa. Samira tem uma estrutura corporal delicada e pelas coisas que sei sobre ela, não faz o tipo aventureira. Pelo fato de ela estar a horas escondida nesta floresta desconfio que não arquitetou tudo isso sozinha. Será que ela tem um namorado secreto? A aversão de Samira quanto ao nosso casamento está clara para mim agora. O filho da puta do Ramoz mentiu quando afirmou que ela estava de acordo com tudo. Porra, como não percebi isso antes? Há dois dias eu fui conhecê-la pessoalmente, mas ela não quis sair do quarto. Então, ele mentiu para mim, dizendo que ela estava passando mal. Eu sabi
SamiraSamira — Você está bem? — Uma garota de cabelos escuros e lindos olhos âmbar perguntou quando abri os meus olhos. Levo alguns segundos para perceber que estou sobre uma cama enorme, confortável, macia e desconhecida. Desvio os meus olhos do olhar curioso da jovem e concentro-me nas últimas horas. O rosto enfurecido do meu pai, o olhar intenso e inescrutável daquele homem, vem como um golpe certeiro na minha cabeça. Não pode ser! Corro os meus olhos pelo quarto amplo e pouco iluminado. Confusão e pânico preenchem todo o meu corpo quando finalmente me dou conta que estou em um lugar que eu não quero estar. Pelas pequenas frestas entre as cortinas escuras vejo que ainda é noite. Oh meu Deus! Será que estou na casa de Dimitri? — Onde eu estou? E cadê o meu pai? — As palavras saem com dificuldades através da minha garganta meio seca. O meu pai seria a última pessoa de quem eu deveria querer saber agora. Entretanto, de alg
Dimitri .Levo Ramoz até o quarto onde pedi para acomodar Samira.Depois que Samira desmaiou, achei melhor trazê-la para a minha casa e mantê-la sobre os meus olhos até tudo isso ser resolvido. Agora as coisas mudaram. E a jovem Samira está encrencada até os fios dos seus cabelos. Se tudo o que o nosso pessoal do México passou por telefone for verdade. Temos um traidor entre nós e pelo que tudo indica é a jovem Samira. Apesar de eu não acreditar muito nisso, não posso descartar as possibilidades de serem verdadeiras. Não sei qual vai ser seu destino. Seja qual for, infelizmente, terá que ser feito. Mas, o que me intriga é o fato do seu pai não a ter defendido. Ele simplesmente deixou todas as acusações de traição cair sobre ela sem ao menos considerar
Samira . Samira — O que você quer? Diga de uma vez! — Ele pergunta, tirando a sua mão bruscamente da minha. Eu não sei quais são suas intenções comigo,mas não consigo ser otimista depois de tudo. O meu pai disse-me que vou ficar aqui por um tempo. Que agora estou em algum processo de julgamento por suposta traição. Ele também disse muitas outras coisas que me magoaram muito mais do que ele já fez. Que sou ingrata, insolente, irresponsável e que estraguei tudo como uma péssima filha faria. Essa foi a parte que mais me magoou e deixou-me desolada. Tirar Dimitri do sério foi uma péssima e arriscada ideia. Só agora percebi a burrada que fiz. Acabei de tornar-me a sua prisioneira e ele sabe disso. Desafiá-lo é a última coi
Dimitri . —Merda! — Resmunguei, quando o meu disparo não atingiu o alvo. Sem dar uma pausa. Inalei uma respiração profunda e deslizei novamente os meus dedos sobre o gatilho. O fuzil Hk 416 tremulou nas minhas mãos como nunca aconteceu. Claro que não, por que nunca fiquei tão desconcentrado como estou agora. Uma vez na semana testamos as novas armas que recebemos para repassar aos nossos clientes. Uma vez que elas nos agradam e cumprem o prometido, o pedido é feito. Assobiei alto e cerrei os meus dente totalmente frustrado quando vejo que errei a mira. O boneco mal feito de sucata velho posto entre as árvores, apenas ficou sem um braço. O objetivo era executá-lo apenas com um disparo. Os homens observam-me calado, mas a confusão está em cada rosto. —Duas vezes seguidas? Desse jeito vai ficar em último lugar e o pequeno Adrian vai ter que trazer mais b
Samira — Oh! Samira! — Alina olha-me com os lábios presos entre os dentes para segurar a risada, mas não conseguiu contê-las. A sua risada alta e sem reservas contagiou o quarto silencioso. Então, eu também comecei a rir. Fazia algum tempo que eu não desfrutava da sensação reconfortante de uma boa risada. Eu tinha acabado de sair do banho e com a toalha ainda enrolada no meu corpo, vasculhei o armário pela terceira vez atrás de roupas íntimas, no caso de eu não ter procurado direito antes,mas não encontrei. Já fazia dois dias que eu não usava nada debaixo dos pijamas sedosos que Dimitri comprou. Então, Não teve outro jeito a não ser, contar a Alina ,uma vez que ela já está desconfiada por me ver revirando os armários . E além disso, eu realmente gos
Dimitri Eu perdi o maldito controle por que não tenho a porra da ideia do porque estou fazendo isso, mas não consigo parar de beijá-la. Roubei os seus lábios para mim, como um animal raivoso e faminto. Um gemido escapou da sua garganta quando deslizei a minha língua na sua boca atrevida, macia e doce. Cada meu pau se tornou duro e dolorido . Esperei por sua fúria e negação, ou até mesmo que ela me batesse como ela fez antes. Por que dessa vez, é isso que espero dela. Por que sei exatamente o que ela sente e pensa que sou,mas não é o que ela fez. Ela não está batendo e nem gritando para eu soltá-la e nem me rejeitando. P**a que pariu! Ela me beija de volta. Os seus lábios se abriram, aceitando a minha língua na sua boca. Caralho, ela está gostando? Samira . A noite tinha chegado e trouxe com ela uma linda, fantástica, e brilhante lua cheia. A claridade nítida proporcionada por ela, tornava o lugar fascinante. A imensa propriedade da família Ferrari fica afastada da pequena cidade de Mountain Green . No meio da floresta, cercada de grandes muros altos. Penso que isso traz a privacidade e segurança que tanto prestigiam. Não que eu acredite que eles possam sofrer alguma ameaça, pelo contrário, eles mandam e desmandam nessa cidade. Cidade essa, que é ignorada pelas autoridades das distantes cidades vizinhas. Ignorados , não. Eles são conbrados pra fazerem vistas grossas diante dos negócios da família Ferrari. Destravei o fecho da janela e a abri em busca de ar fresco, mas no seu lugar, um vento gelado e Capítulo 9