Capítulo 6

Dimitri .

—Merda! — Resmunguei, quando o meu disparo não atingiu o alvo. Sem dar uma pausa. Inalei uma respiração profunda e deslizei novamente os meus dedos sobre o gatilho. O fuzil Hk 416 tremulou nas minhas mãos como nunca aconteceu. Claro que não, por que nunca fiquei tão desconcentrado como estou agora.

Uma vez na semana testamos as novas armas que recebemos para repassar aos nossos clientes. Uma vez que elas nos agradam e cumprem o prometido, o pedido é feito. Assobiei alto e cerrei os meus dente totalmente frustrado quando vejo que errei a mira. O boneco mal feito de sucata velho posto entre as árvores, apenas ficou sem um braço. O objetivo era executá-lo apenas com um disparo. Os homens observam-me calado, mas a confusão está em cada rosto.

—Duas vezes seguidas? Desse jeito vai ficar em último lugar e o pequeno Adrian vai ter que trazer mais bonecos. —Dyron provocou  fazendo  os outros homens rirem.

— Não me incomodo de fazê-lo,desde que  continuem a pagar muito bem por eles. —O garoto loiro de quinze anos diz animado, sabendo que ganhará mais dinheiro fabricando bonecos para o nosso teste e diversão. Adrian é filho de artesão de sucata. Eles são capazes de fabricar coisas inacreditáveis, como os bonecos de metal que usamos no teste.

Fecho a cara disparando um olhar mortal ao meu primo e aos homens. Como esperado, eles calam a boca e voltam para as suas cervejas. Menos Dyron que, continua com o seu sorrisinho de provocação.

—Você está muito perto para duvidar da minha pontaria. —disse secamente. 

Ele às vezes tira-me do sério. Se não fosse meu primo e quase irmão eu já teria socado a cara dele.

—O que foi, cara? Parece distraído e um pouco agitado. — Especulou ele entregando-me uma cerveja.

—Não é nada, só não tive uma boa noite de sono. —Respondi  e bebi um longo gole da bebida gelada.

—É só isso? Ou essa distração se chama Samira?—Perguntou ele com um maldito olhar zombeteiro.

Relaxei os meus ombros e pescoço antes de encarar o meu primo que está bancando um maldito de um  intrometido.

—Ela não é uma distração e sim só mais um problema para ser resolvido. —falei e afastei  do local de disparo dando lugar para o próximo homem.

—Só mais um problema que você está se empenhando muito para resolver. Estou vendo o quanto isso está sendo difícil.

—O que quer dizer com isso?

—Não sei. Diz você.

Dyron consegue mesmo ser impertinente quando quer. Como agora, por exemplo.

—Diabos! Fala logo o que quer falar homem! —A irritação está clara na minha voz.

— Você não é mais o mesmo desde que a conheceu, cara. Só não percebeu isso ainda. Imagino que ter ela no mesmo teto deve ser uma m*****a tortura.

—Você está sendo um idiota, e sabe bem disso, não é? —desconversei.

—Mas, vamos desconsiderar que tudo isso não aconteceu e  esse casamento acontecesse. —O sorriso de divertimento some do seu rosto quando ele diz isso.

— E? — Pergunto impaciente, não tendo ideia de onde ele quer chegar.

—Ela não pertence ao seu mundo, cara. O pai dela e o seu pai estava loucos por pensarem que isso podia funcionar. Sabe disso não, é ? Você perseguiu essa garota  como um lunático por muito tempo pra saber que estou falando.

Bebo mais um gole da cerveja e começo a guardar as minhas coisas na camionete. Foi uma maneira que encontrei de despistar ele. Não quero discutir ou argumentar isso. Ainda mais porque o filho da mãe sabe que tem razão. Eu também achei a ideia doida quando Ramoz cogitou o casamento. Mais doida ainda, quando resolvi observar a minha prometida.

Eu a olhava  de longe, sempre que podia. Não foi difícil acompanhar os seus passos. Ela não ia a muitos lugares além da igreja e a todos aqueles eventos voluntários ao lado do padre Simões. Às vezes ela ia à biblioteca comunitária e saia carregando vários livros nos braços. Então, dias depois ela voltava, os devolvia e levavam outros.

E toda a vez que eu a via, eu ficava ainda mais fascinado pelo anjo de cabelos negros e olhos azuis. Não foi só a beleza pura e encantadora de Samira que me capturou e sim tudo que ela é. Samira é diferente de todas as mulheres que conheci. Ela é generosa, gentil, amável. Todos na cidade parecem adorá-la. Enquanto eu, sou o oposto. As pessoas dessa cidade me bajulam , mas é porque tem medo de mim. Enquanto eu perseguia os passos dela eu a  desejava como um louco pervertido. 

Até que, a m*****a e dura verdade, entrou na minha visão e zombou de mim em risos altos. Samira não é mulher para compartilhar a mesma vida que levo. Eu não posso oferecer o que ela notavelmente espera. Ela quer romance e palavras doces. E eu não sou bom em nenhuma dessas coisas. Estou habituado a mais ação e menos palavras. Resumindo. Quanto mais sujo e selvagem for a sexo. Melhor.

—Eu sei de tudo isso. E, ela melhor ainda. —falei sentindo meu estômago se agitar, lembrando do olhar de pânico de Samira duas noites atrás. Como o pai dela pode afirmar que ela me queria? Se o meu pai não tivesse-me parado. Eu teria quebrado a cara do idiota por mentir.

—Falando em Samira, algumas notícias sobre tudo isso que ela está envolvida? — Perguntou ele acendendo um cigarro.

Eu devia saber que ele não se cansa nunca. Ao menos ele não está supondo coisas  perturbadoras.

— Nada ainda. O celular dela foi entregue para os gêmeos. Eles são rápidos, provavelmente terão alguma coisa ainda hoje. Agora, sobre a tal conta. Os nossos contatos no México estão verificando. Pode demorar mais tempo. —Respondi, aprovando a mudança de assunto.

—Eu ainda penso que ela tem um namorado rico e secreto. Tipo um príncipe encantado, mas covarde. Que ao invés de vir salvá-la dos monstros como um guerreiro faria, depositou uma grande quantia de dinheiro para ela ir até ele. — Dyron ri sob o véu da fumaça do cigarro pairando na sua volta.

Cada músculo do meu corpo fica tenso. Disfarço a raiva que ferve o meu sangue fechando os meus punhos com força. Por que isso me incomoda tanto? Ela não me quer e se for inocente, dei-lhe a minha palavra que a deixarei livre. A raiva por sua rejeição insiste em ficar no meu peito. Não estou acostumado a ser rejeitado, ainda mais por uma mulher. Uma em especial que não consigo deixar de querer.

—Essa é a coisa mais ridícula que você já disse. Devia se envergonhar. —Rebati, ficando cada vez mais irritado com ele.

— Você esqueceu que sou bom em teorias?—  disse ele, sorrindo-me provocando ainda mais.

O meu celular agita no meu bolso. O número Luan, especialista em rastreamento pisca no visor.

— Ei, chefe. Sou eu, Luan.

—E aí, cara. Novidades?

—Mais é claro! — Respondeu ele.

—Rastreamos todas as ligações feitas e recebidas do celular de Samira.

—Então?

Tento manter o meu rosto inexpressivo, mas a ansiedade faz o meu coração bater rápido. Durante essas duas noites, os olhos inocentes e místicos de Samira tomaram o meu sono. Eles diziam-me que ela é inocente. No fundo, eu não acredito que ela esteja envolvida em qualquer esquema de traição, ou que ela seja um tipo de olheira de alguém que quer nos derrubar. Mas aquele dinheiro todo? E o seu passaporte para o México? Que coincidentemente, é onde, um dos nossos maiores inimigos está agindo. Antes ele comandava um esquema na Bolívia.

—Chefe, está aí, cara?

—Sim, pode falar.

— O número identificável do qual você me disse. Foram feitas de um celular protegido por um código de difícil acesso. Mas há muitas outras ligações recebidas por Samira de telefone fixo registrado no nome de John Miles morador de um bairro nobre na Califórnia. Pelas informações que consegui, ele ta limpo.

Dyron deve ter percebido o meu rosto tenso quando apertei o meu celular com força.

— O que foi? — Perguntou Dyron, enrugando a sua testa.

—Consegue recuperar as mensagens que Samira enviou e recebeu dele, mas apagou? — a minha voz saiu como um rugido irritado.

— Sim, e já fiz isso.

—Tudo bem, me mande tudo o que tiver agora.

—Ok. Vou enviar para o seu e-mail.

—Estou aguardando, e Luan?

—Sim chefe, mais alguma coisa?

—Quero informações sobre esse homem principalmente o que faz da vida. Pode conseguir e m****r ainda hoje?

—Já está na mão chefe. —Luan soou animado por poder mostrar as suas habilidades.

—Caralho, Primo. Fale logo. O que Luan descobriu? —Dyron perguntou intrigado —Você pode estar certo. Talvez, Samira pode ter mesmo um maldito príncipe do inferno! E mora em San Francisco.

Ele assobia alto.

—Como sabe?

— O nome do homem  com ela mantinha ligações não é ninguém do nosso meio. Mas, seja quem for ele, vou descobrir.

—Isso deixa as coisas mais confusas. Se ele é do San Francisco, por que ela tinha uma passagem com destino ao México? —Analisa ele, passando as mãos sobre o cabelo, chateado por não ter uma teoria sobre isso.

—Ajude os homens com tudo. Vou descobrir isso agora. —Eu disse, entrando na camionete batendo a porta em seguida.

—Vá com calma com ela, cara. Isso não a faz culpada de nada! —Dyron gritou através do barulho do carro ligado. Ele tinha razão, de novo. Mas, a minha conversa com Samira ia ser interessante.

                                                

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