HórusO relógio antigo de carvalho apontava para dezoito horas. Voltar para casa havia se tornado uma tarefa difícil. Sentia vontade de ter Olívia o tempo todo, o desejo inflamado que sentia por ela não era somente culpa do elo.Gostava de ver seu rosto suado, se desmanchando e se refazendo um várias expressões; ultimamente a que mais gostava era a de dor.Ela merecia ser punida. Fez o exame de fertilidade seguindo seus instintos. Quando estava com Martina, ela sempre dizia que não tomava nenhum contraceptivo, eles ficaram juntos por três anos, antes da chegada de Seth. Esses fatos voltaram a sua memória recentemente. Era curioso que ela não concebesse durante todo esse tempo.Agora sabia o motivo. Hórus se levantou, vestiu o blazer do terno. Pegou suas chaves, celular. Verificou qualquer ocorrência do detive que estava vigiando Olívia no prédio.Não havia nenhuma novidade. Ela voltou para casa de taxi, e não saiu mais.Saiu do seu escritório sentindo uma presença que o seguia de p
Olívia se reclinou no sofá da luxuosa cobertura que se tornara sua prisão. A vista do Central Park, que em outros momentos a encantou, agora parecia um reflexo distorcido de sua realidade: um manicômio de árvores verdes e regras invisíveis. Hórus a deixara ali por três dias, um silêncio ensurdecedor preenchendo os espaços entre os momentos. A angústia se estendia como um cobertor gélido, e Olívia sentia o peso do desprezo e do nojo impregnados nas palavras que ele proferiu.“Três dias”, ela repetia em sua mente, tentando encontrar uma saída, uma maneira de se livrar do compromisso que a aprisionava e feria.Aqueles instantes de espera a faziam se sentir suja, como se o desprezo de Hórus a acompanhasse como uma sombra, fazendo-a questionar sua própria dignidade. O rosto dele, com suas feições cruas e a voz cortante, tornara-se um eco constante em sua mente, um lembrete pungente de que sua presença era imoral e imunda.Ligou para Celine, Anúbis e até para Mohamed, mas nenhum deles ate
A paisagem branca lá fora atraia olhares. Olívia debruçou sobre o parapeito da sacada sentindo o frio cortante que uivava em seus ouvidos, encolhida no cobertor pesado, pensava no que Seth fez por ela e o motivo de Hórus estar ausente.Seth sabia o motivo, ele parecia saber de tudo. Mas não disse nada a respeito. - O que está fazendo aqui fora? Você não pode ficar aqui! – a voz autoritária de Hórus a surpreendeu. Se voltou, para vê-lo parado próximo a porta que levava ao apartamento. Ele estava perfeitamente alinhado, os cabelos úmidos pelo banho recém tomado. Deveria ter acabado de sair do chuveiro.Certamente ela não ouviu quando ele chegou.- Só estava tomando um pouco de ar. – ela respondeu, com um suspiro desanimado.- Não vai me perguntar onde estava? – ele segurou o seu braço quando ela passou por ele.- Não.- Você não se importa, não é mesmo? – ironizou, a raiva cortante em sua voz já era familiar para Olívia.- Vou entrar. Preciso me aquecer.- Se arrume, você está toda am
Seth- Soube da briga de meninas entre vocês. Se aproximou de Anubis parado sob a neve fina que caia na avenida do Central Park.- Não deveria estar aqui! – a voz ríspida do irmão do meio não assustava o mais novo. Os olhos do deus do submundo estava fixo no alto do prédio que emanava uma energia poderosa. Seth sentia aquela coisa a quilômetros de distância. Hórus havia chegado a algumas horas, acompanhado da mulher que deveria estar morta. Martina continuava linda, ao lado do homem que escolheu como seu vassalo. A energia provinha dela.- Você pegou leve demais. Ela já manipulou completamente as emoções dele. – Seth escarneceu, levou a mão aos cabelos úmidos. Anúbis, com sua impecável indumentária preta, portava luvas e um guarda-chuva da mesma cor. Fez uma careta, ele nem tentava se misturar aos humanos. Deixava obvio que era um corvo agourento e perigoso.- Sei o que estou fazendo. Já disse que você deve ir embora, sua interferência pode ser o cataclismo dessa situação!- Está
Uma explosão de cores e energia os levou para outro lugar. A rua movimentada desapareceu, a neve, a cidade, os prédios; tudo se tornou escuro.Pequenas contas brilhantes se encontravam com o chão aos seus pés feito do que parecia ser água. Túrgida e escura.Seth nunca esteve nesse lugar, era como uma dimensão infinita de estrelas e a imensidão do véu da morte. Seus olhos se arregalaram.Não podia ser, esse não poderia ser o domínio dela, certo?- Seth não abra a boca. Deixe isso comigo.Uma imagem envolta em neblina surgiu a cerca de uns duzentos metros de onde estavam.A forma era borrada, mas lembrava uma mulher humana. Eles caminharam até ela. Uma espécie de mesa e cadeiras retorcidas surgiram. Aquele ser esticou a mão, e logo ambos estavam sentados à sua frente.Ela era uma velha, a forma de uma idosa de olhos azuis brilhantes não coincidiam com o que ele imaginou sobre essa divindade. Destino nunca apareceu fisicamente para ele. Somente Anúbis conhecia sua verdadeira forma.- Sa
OlíviaO chá de camomila estava frio sobre a mesa pequena. O móvel foi colocado no seu quarto a três dias. Quando sua presença a mesa passou a ser incômoda.Uma nova cozinheira e duas empregadas foram contratadas. Ela só tinha contato com uma, a que levava suas refeições e cuidava da limpeza e arrumação do lugar que passou a ser sua cela.Horús decidiu que a afronta que ela cometeu contra suas ordens era demais. Disse que se ela não podia sair do quarto para dar as boas-vindas a uma visita, ela não deveria sair para mais nada também.E assim, a porta permanecia trancada. Sem contar a empregada, Hórus era o único que entrava ali quando bem entendia.Na maioria das vezes para acusar Olívia de diversos atos traiçoeiros e pecaminosos que ela cometeu.Não se importava mais com isso. Passou a ignorar sua presença, negando qualquer resposta. Ele ficou furioso por mais esse erro, e voltou a rasgar suas roupas e abusar sexualmente dela, porém sem penetrar seu interior.Enquanto suas mãos queim
HórusO relógio marcava quatro da tarde quando Hórus, em meio a uma chuva torrencial, percorria as caóticas ruas de Nova York. Sentia que precisava de uma dose de vodka para acalmar o ânimo, agridoce reflexo de uma decisão tomada quatro anos atrás, por influência de seu irmão.Maldição! Ele já havia pego o celular inúmeras vezes para ligar para o pai, a fim de romper com a farsa que havia criado. No entanto, toda vez o guardava, praguejando em voz alta. Desistir agora significaria perder a estabilidade de sua família, um vínculo que ele valorizava acima de tudo, e a presidência da empresa; além de que a imagem daqueles olhos frágeis sempre lhe vinham a mente quando pensava em romper o contrato. Esse segundo, nunca fora sua ambição, mas uma imposição paterna após anos de preparação para sucedê-lo. Apesar de ser CEO da Nefertari, Hórus se irritava com a constante insistência de seus pais em conhecer a mulher com quem se casara secretamente quatro anos atrás, mesmo com as fotos que tirar
Os Amonhhat se tornou uma família rica e poderosa em diversas partes do mundo. Ganhou ascensão meteórica nos negócios e colunas sócias pelo incrível trabalho exercido com maestria por seu pai Mohamed Amonhhat, ele tinha um talento incomparável para tudo o que gerasse lucros. Fora reconhecido pelos colunistas das principais revistas americanas e europeias como O Faraó, um mestre nos investimentos e criação de tendências para design no mundo da moda. A fama e fortuna do império da família de consagrou com a criação da Nefertari, uma marca de roupas e objetos de luxo que se tornou a grife mais valorizada e conceituada dos últimos tempos. Toda essa grandeza possuía uma divisão hierárquica, começando por seu pai no topo da pirâmide, logo abaixo Hórus e sua mãe, e depois, Anúbis, e o caçula da família, Seth.A família em que nasceu, preconizava exclusivamente as tradições de seus antepassados, se lembrava bem de aprender desde cedo sobre a cultura do Egito e da América e de questionar suas