OlíviaA escuridão a envolvia como um manto pesado, mas dentro dela, havia algo mais, um calor que parecia ser o oposto de tudo o que sentia. Era conforto, segurança... e algo familiar. Olívia tentou abrir os olhos, mas seus músculos não respondiam. Sentia seu corpo cansado, pesado, como se tivesse sido arrancado do fundo de um abismo. Por entre o véu da inconsciência, ouviu murmúrios, uma voz baixa e grave, carregada de emoções que ela não sabia identificar. “Seth?” A palavra formou-se em sua mente, mas seus lábios não obedeceram. Um toque gentil em sua testa enviou uma onda de paz por seu corpo. Era ele, tinha certeza. Mas como? Ele estava desaparecido, preso em algum lugar que ela não conseguia imaginar. E agora ele estava ali, perto o suficiente para ela sentir o calor de sua presença. De repente, flashes surgiram como relâmpagos em sua mente. Hórus, o rosto frio e cruel, suas mãos que um dia pareciam protetoras, agora símbolo de tudo que ela temia. O que ele havia tirad
Hórus O olhar parado e as mãos cerradas em punho eram só uma minúscula evidência da ira de Hórus. A voz de Anúbis chegava até seus ouvidos de forma estranha, seus pensamentos o impedia de entender qualquer coisa que ele poderia estar dizendo.Todos os nervos de seu corpo pulsavam e tencionavam o levando a se levantar sem se importar com quem o chamava. Alcançou o terraço parcialmente destruído, em poucos instantes, o parapeito da grade frio se aqueceu rapidamente sob suas mãos que disparavam raios em todas as direções. A imagem da câmara de segurança do prédio mostrava Olívia sendo carregada por Seth, ver ela nos braços dele era como arrancar sua pele.Ela fugiu com Seth. Aquela vadia ordinária.Estava certo sobre ela o tempo todo. Martina estava certa sobre ela.A tempestade tenebrosa desabou sobre a cidade com toda sua fúria, o vento e a chuva cortavam suas roupas violentamente, porém não o moviam um milímetro de sua posição.Hórus encarava a escuridão dos céus do alto do prédio c
Anúbis- Por que se descontrolou dessa forma? Poderia ter destruído todo o prédio, matando milhares de pessoas!- Mas não aconteceu, não é mesmo. – Hórus respondeu com um sorriso cínico que causou um calafrio em Anúbis. - Você provocou essa situação. Ninguém tinha notícias de Olívia a meses, você encantou o prédio, impedindo a nossa entrada. Todos estavam apreensivos. Sinceramente, estou grato a Seth por tê-la resgatado! - Não repita isso! Ele destruiu o meu apartamento, e roubou o que é meu! – Hórus passou por ele com raiva e entrou no apartamento. – Vou fazê-los pagar por isso!- Você ou Amith?Horus se voltou com os olhos saltados.- Não sentiu a presença dela não é? Porque você acha que Martina voltou do Duat? – Anúbis olhou friamente para Hórus. – Amith realizou um ritual proibido para tornar Martina um receptáculo perfeito. Ela já tinha possuído Martina em vida, portanto, ambas se tornaram uma só depois dessa afronta aos deuses. - Isso não é verdade. PARE DE MENTIR! – gritou
OlíviaO silêncio era profundo, quebrado apenas pelo som suave da respiração de Olívia. Aos poucos, a consciência retornava, puxando-a de volta do abismo onde a dor e o medo haviam a aprisionado. Seus olhos piscavam pesadamente, tentando se ajustar à penumbra do ambiente ao seu redor. A última coisa que lembrava era a escuridão sufocante, as mãos frias de Hórus e a dor dilacerante que rasgava sua alma. Agora, porém, o ar ao seu redor era morno e carregado com um aroma fresco e familiar. Algo nela soube, antes mesmo de abrir completamente os olhos: ela estava segura.O primeiro toque da realidade veio através do calor. Um cobertor grosso cobria seu corpo, e um braço forte a sustentava com delicadeza, mantendo-a contra um peito sólido que subia e descia em um ritmo compassado. Seu coração acelerou. Seth.Ele estava ali, e dessa vez, não era um sonho.Um soluço baixo escapou de seus lábios antes que pudesse contê-lo. O alívio foi tão avassalador que fez seu peito doer, mas logo a do
SethSeth segurava Olivia em seus braços, sentindo o peso da dor que a consumia. Sua fúria era como um furacão, selvagem e destrutiva, queimando cada fibra de seu ser. Ele queria destruir Hórus. Queria ver a expressão de terror no rosto de seu irmão quando finalmente entendesse que não havia mais perdão, nem redenção. Olivia foi machucada de uma forma que ele não podia suportar, e sua promessa a Hathor de não interferir entre eles parecia agora um peso morto, irrelevante diante do sofrimento da mulher que ele amava.A raiva borbulhava em suas veias enquanto ele relembrava o passado. A primeira vez que viu Olivia foi na festa do centenário de Nefertari. Ela brilhava como uma estrela entre os mortais, uma presença tão doce e serena que contrastava com o mundo de intrigas e traições ao qual ele estava acostumado. Foi naquela noite que ela salvou sua vida, ajudando-o com a asma severa que ameaçava sufocá-lo. Naquele instante, Seth percebeu que sua existência jamais seria a mesma. El
HórusO relógio marcava quatro da tarde quando Hórus, em meio a uma chuva torrencial, percorria as caóticas ruas de Nova York. Sentia que precisava de uma dose de vodka para acalmar o ânimo, agridoce reflexo de uma decisão tomada quatro anos atrás, por influência de seu irmão.Maldição! Ele já havia pego o celular inúmeras vezes para ligar para o pai, a fim de romper com a farsa que havia criado. No entanto, toda vez o guardava, praguejando em voz alta. Desistir agora significaria perder a estabilidade de sua família, um vínculo que ele valorizava acima de tudo, e a presidência da empresa; além de que a imagem daqueles olhos frágeis sempre lhe vinham a mente quando pensava em romper o contrato. Esse segundo, nunca fora sua ambição, mas uma imposição paterna após anos de preparação para sucedê-lo. Apesar de ser CEO da Nefertari, Hórus se irritava com a constante insistência de seus pais em conhecer a mulher com quem se casara secretamente quatro anos atrás, mesmo com as fotos que tirar
Os Amonhhat se tornou uma família rica e poderosa em diversas partes do mundo. Ganhou ascensão meteórica nos negócios e colunas sócias pelo incrível trabalho exercido com maestria por seu pai Mohamed Amonhhat, ele tinha um talento incomparável para tudo o que gerasse lucros. Fora reconhecido pelos colunistas das principais revistas americanas e europeias como O Faraó, um mestre nos investimentos e criação de tendências para design no mundo da moda. A fama e fortuna do império da família de consagrou com a criação da Nefertari, uma marca de roupas e objetos de luxo que se tornou a grife mais valorizada e conceituada dos últimos tempos. Toda essa grandeza possuía uma divisão hierárquica, começando por seu pai no topo da pirâmide, logo abaixo Hórus e sua mãe, e depois, Anúbis, e o caçula da família, Seth.A família em que nasceu, preconizava exclusivamente as tradições de seus antepassados, se lembrava bem de aprender desde cedo sobre a cultura do Egito e da América e de questionar suas
Ouviu o motorista conversar com alguém, uma vizinha curiosa com certeza. Ela afirmava que não havia ninguém na casa, que a dona do lugar estava trabalhando. Hórus tinha ciência de que ela possuía graduação em medicina e especialização na área, mas não imaginou que exercesse a profissão, nem mesmo mandou investigar as atividades dela. Pensando nisso, o fato de viver na completa miséria exercendo medicina e recebendo as quantias vultosas mensais que lhe enviava, era ainda mais irreal. Tinha que admitir, havia negligenciado Olívia Morrison por tempo demais. Enviou uma mensagem a Anúbis para que este o informasse onde ela trabalhava, depois de alguns minutos se lembrou que ele estava em um jantar de negócios. Não havia alternativa se não esperar. Resolveu ler novamente as informações de sua ‘esposa’, quando foi interrompido por vozes esganiçadas que se aproximavam cada vez mais do carro. Duas mulheres açoitavam a porta de seu lado, com as mãos em punhos pedindo ajuda desesperadas, ele ape