Até aquele momento, Hórus não pronunciou uma palavra, e já estavam quase chegando em casa. Não houve despedida dos familiares, ele a conduziu firme para uma saída lateral onde não tinha imprensa alguma. O motorista esperava com expressão apreensiva, com certeza temia pelo iminente desastre que se anunciava na fisionomia de seu patrão.Olívia observava tudo de forma profunda. Suas resoluções cada vez mais sólidas. Hórus estava distante de seu coração, não sentia a ligação entre eles crescer desde que falaram sobre Simon. Era como se ele tivesse rompido os fios que uniam seus sentimentos.Se já imaginava que houve um problema grave entre ele e o irmão caçula, agora sabia que estava muito além de uma discordância ou briga sem sentido.Entendia agora porque ele disse que a própria família era disfuncional. Todos pisavam em ovos a respeito de Hórus e Seth, e o primeiro parecia próximo de assassinar o irmão, enquanto o outro zombava de sua ira e da posição da família que tinha.Durante o p
HórusObservar o rosto dela desfalecido naquela cama de hospital foi a única coisa que fez por horas.Seu rosto frágil estava com um hematoma na face esquerda, pelo choque com a pedra de mármore. Os médicos disseram que ela não tinha fraturas, somente um concussão na cabeça.Todos afirmavam que ela deveria acordar em poucos minutos, mas não foi o que aconteceu. Desde que chegou com ela ao hospital, aguardava o momento em que veria seus olhos se abrirem novamente. Os minutos se arrastaram, e nada aconteceu. Exames de imagem foram repetidos, nada de diferente. Fisicamente, nada a mantinha inconsciente.As feridas nos braços dela eram muito evidentes, ver aquilo lhe causou um ódio enorme de si mesmo.Hórus tocou seu peito dolorido, as sombras de seus pensamentos pensavam tanto sobre si que comprimiam seu coração. Tudo estava se repetindo. Mais uma vez, estava sendo trocado pelo seu irmão. A raiva, a dor e a decepção se união em uma fúria insidiosa que crescia sem parar. Olhou para Olív
Hórus se voltou, sentindo seu sangue gelar com a pronuncia daquele nome. Todos evitavam falar sobre ela, sua família não pronunciava o nome dela como se estivessem evitando o mal encarnado.Martina, a doce e alegre mulher que um dia sonhou em desposar. Acreditando que finalmente havia encontrado sua companheira.A energia de Martina ainda era uma lembrança marcada em Hórus.- Você disse que Amith devorou a alma dela. Falou baixando os olhos. O rosto dela lhe veio à mente, seus olhos límpidos como o céu.A maçaneta da porta a sua frente começou a se mover. Anúbis estendeu a mão, mantendo-a trancada, impedindo de Olívia sair.- Me solte! Eu quero ir embora! Você não pode fazer isso seu bastardo filho da puta! – gritava Olívia enlouquecida dentro do quarto.A troca de olhares entre eles foi uma disputa por território. Seu irmão deixava claro que não concordava com o que ele estava fazendo.- Ela foi julgada e entregue a Amith quando seu coração pesou muito mais que a pena. Já lhe disse
OlíviaOs dias se passaram lentamente após a festa da Nefertari. Olívia caminhava vagorosamente pela calçada do café de frente ao parque. Pensava naquela noite horrível com raiva pelo medo que a assombrava todas as vezes que pensava no que aconteceu. O rosto de Hórus distorcido pela fúria, como se ela fosse uma vadia pega no ato de adultério. Seus sentimentos nadavam em um marasmo de incerteza e descrença no futuro. Não conseguia olhar para ele, doía lembrar o quanto o amava e o quanto ele massacrou seus sentimentos. Todas as vezes que pensava o quanto se entregou, na certeza da eternidade desse elo, se sentia tão estupida. Hathor sofria mais do que ela, sentia seus lamentos; a dor de seu espirito despedaçado pela ausência e saudades de seu companheiro de vida e morte.Seu lamento triste ecoava em seu interior todas as noites quando seu corpo queimava em chamas com a necessidade de estar com ele. Olívia odiava se sentir assim.Desde aquela noite, seus sonhos com ele mudaram; via a
O apartamento estava silencioso, não ouviu nem mesmo Caridade trabalhando na cozinha; a senhora de meia idade fora contratada para cuidar dos afazeres domésticos assim que chegou a Manhatlan.Deu uma espiada na cozinha, realmente nem sinal dela ou de seus deliciosos jantares. Nem imaginava o motivo de sua ausência, mas poderia ser uma folga por motivos familiares.Aproveitou a situação para dar uma olhada no escritório de Hórus, talvez encontrasse uma pista de que tipo de coisa estava metida até o pescoço. Estava presa aquela situação, e ninguém parecia disposto a contar o que aconteceu naquela família.O escritório não era usado para questões do trabalho, não havia nenhum vestígio de documentos ou relatórios. Aparentemente ele o usava para resolver pendências relacionadas a propriedades da família. Mobiliado com móveis minimalista e cores sobreas, o aspecto masculino e impessoal; uma prateleira de livros sobre direito e uns três volumes enormes sobre a arte da seda egípcia através d
A deusa não queria mais sofrer por um amor que a controlava e a não confiava em seus próprios sentimentos.Arrumou suas roupas antigas na mochila surrada que trouxe, não pretendia levar nada que pertencia a esse tempo que passou com Hórus. Agora era só esperar que ele adormecesse e poderia ir embora sem nenhum conflito entre eles.Permaneceu no quarto até as onze da noite planejando seus próximos dias. Quando abriu a porta e constatou que ele já havia dormido. Não havia nenhuma luz acesa.Se sentiu segura para ir em frente. Vestiu o jeans surrados que agora estavam justos demais, colocou o suéter cor de ferrugem sobre a camiseta cinza e os tênis castigados por vários dias de trabalho; pegou a mochila e saiu pela porta sem olhar para traz.O elevador chegou ao subsolo rápido, preferiu sair pela garagem para evitar atenção e teve sorte de encontrar somente o segurança noturno que a cumprimentou com um aceno de cabeça. Alcançou a rua lateral rapidamente e pediu um taxi, sentiu suas pern
O quarto do apartamento da cobertura começou a aparecer em sua campo de visão. Piscou os olhos várias vezes em confusão, só se lembrava de estar no carro.Sua cabeça doía muito, sentou-se devagar na cama e vasculhou o cômodo temerosa do que a esperava. Mas só era aguardada pela completa penumbra e solidão.As horas foram passando e seu estado de torpor foram abandonando se corpo e sua mente. Hórus merecia uma explicação de tudo o que aconteceu.Ele poderia ter tirado conclusões equivocadas sobre o que aconteceu. Tinha que explicar que a presença de Seth era uma coincidência.Munindo-se de coragem, saiu do quarto e cruzou o corredor até a sala de estar, não havia sinal da presença dele. Parada no meio da sala no escuro se pôs a imaginar onde ele poderia estar. - Ele está no terraço. – uma voz suave e firme a sobressaltou.Anúbis acendeu o abajur ao lado da poltrona onde estava sentado elegantemente.- Anúbis, você me assustou. – levou a mão ao peito, seus batimentos estavam descontro
Hórus- Nunca mais me envolva em uma situação como essa. – a voz de Anúbis era fria e firme, ele estendeu o teste de gravidez para o irmão e sentou em uma das poltronas de vime, sorvendo o liquido ambarado do copo que preparou antes de subir, de uma só vez.- Onde ela está?Hórus perguntou enquanto desembrulhava o teste do papel. A frieza e tom de voz assustaria qualquer um. Olhou fixamente para o palito plástico, seu rosto se endureceu ainda mais, ficando semelhante a uma máscara de granito.- No quarto dela, onde você a deixou.- Ótimo. – Hórus se levantou, jogou o plástico na tina de cobre que alimentava um fogo suave. – Pode ir para casa, estão te esperando.- Posso ficar, você não está pensando direito. – respondeu o irmão.- Já disse para você ir!Anúbis encarou o perfil tenso, se levantou de uma vez, caminhando em direção a escada.- Espero que não faça nada que venha se arrepender depois.Ele se despediu, deixando o apartamento praguejando contra toda aquela merda que estavam