OlíviaOs dias se passaram lentamente após a festa da Nefertari. Olívia caminhava vagorosamente pela calçada do café de frente ao parque. Pensava naquela noite horrível com raiva pelo medo que a assombrava todas as vezes que pensava no que aconteceu. O rosto de Hórus distorcido pela fúria, como se ela fosse uma vadia pega no ato de adultério. Seus sentimentos nadavam em um marasmo de incerteza e descrença no futuro. Não conseguia olhar para ele, doía lembrar o quanto o amava e o quanto ele massacrou seus sentimentos. Todas as vezes que pensava o quanto se entregou, na certeza da eternidade desse elo, se sentia tão estupida. Hathor sofria mais do que ela, sentia seus lamentos; a dor de seu espirito despedaçado pela ausência e saudades de seu companheiro de vida e morte.Seu lamento triste ecoava em seu interior todas as noites quando seu corpo queimava em chamas com a necessidade de estar com ele. Olívia odiava se sentir assim.Desde aquela noite, seus sonhos com ele mudaram; via a
O apartamento estava silencioso, não ouviu nem mesmo Caridade trabalhando na cozinha; a senhora de meia idade fora contratada para cuidar dos afazeres domésticos assim que chegou a Manhatlan.Deu uma espiada na cozinha, realmente nem sinal dela ou de seus deliciosos jantares. Nem imaginava o motivo de sua ausência, mas poderia ser uma folga por motivos familiares.Aproveitou a situação para dar uma olhada no escritório de Hórus, talvez encontrasse uma pista de que tipo de coisa estava metida até o pescoço. Estava presa aquela situação, e ninguém parecia disposto a contar o que aconteceu naquela família.O escritório não era usado para questões do trabalho, não havia nenhum vestígio de documentos ou relatórios. Aparentemente ele o usava para resolver pendências relacionadas a propriedades da família. Mobiliado com móveis minimalista e cores sobreas, o aspecto masculino e impessoal; uma prateleira de livros sobre direito e uns três volumes enormes sobre a arte da seda egípcia através d
A deusa não queria mais sofrer por um amor que a controlava e a não confiava em seus próprios sentimentos.Arrumou suas roupas antigas na mochila surrada que trouxe, não pretendia levar nada que pertencia a esse tempo que passou com Hórus. Agora era só esperar que ele adormecesse e poderia ir embora sem nenhum conflito entre eles.Permaneceu no quarto até as onze da noite planejando seus próximos dias. Quando abriu a porta e constatou que ele já havia dormido. Não havia nenhuma luz acesa.Se sentiu segura para ir em frente. Vestiu o jeans surrados que agora estavam justos demais, colocou o suéter cor de ferrugem sobre a camiseta cinza e os tênis castigados por vários dias de trabalho; pegou a mochila e saiu pela porta sem olhar para traz.O elevador chegou ao subsolo rápido, preferiu sair pela garagem para evitar atenção e teve sorte de encontrar somente o segurança noturno que a cumprimentou com um aceno de cabeça. Alcançou a rua lateral rapidamente e pediu um taxi, sentiu suas pern
O quarto do apartamento da cobertura começou a aparecer em sua campo de visão. Piscou os olhos várias vezes em confusão, só se lembrava de estar no carro.Sua cabeça doía muito, sentou-se devagar na cama e vasculhou o cômodo temerosa do que a esperava. Mas só era aguardada pela completa penumbra e solidão.As horas foram passando e seu estado de torpor foram abandonando se corpo e sua mente. Hórus merecia uma explicação de tudo o que aconteceu.Ele poderia ter tirado conclusões equivocadas sobre o que aconteceu. Tinha que explicar que a presença de Seth era uma coincidência.Munindo-se de coragem, saiu do quarto e cruzou o corredor até a sala de estar, não havia sinal da presença dele. Parada no meio da sala no escuro se pôs a imaginar onde ele poderia estar. - Ele está no terraço. – uma voz suave e firme a sobressaltou.Anúbis acendeu o abajur ao lado da poltrona onde estava sentado elegantemente.- Anúbis, você me assustou. – levou a mão ao peito, seus batimentos estavam descontro
Hórus- Nunca mais me envolva em uma situação como essa. – a voz de Anúbis era fria e firme, ele estendeu o teste de gravidez para o irmão e sentou em uma das poltronas de vime, sorvendo o liquido ambarado do copo que preparou antes de subir, de uma só vez.- Onde ela está?Hórus perguntou enquanto desembrulhava o teste do papel. A frieza e tom de voz assustaria qualquer um. Olhou fixamente para o palito plástico, seu rosto se endureceu ainda mais, ficando semelhante a uma máscara de granito.- No quarto dela, onde você a deixou.- Ótimo. – Hórus se levantou, jogou o plástico na tina de cobre que alimentava um fogo suave. – Pode ir para casa, estão te esperando.- Posso ficar, você não está pensando direito. – respondeu o irmão.- Já disse para você ir!Anúbis encarou o perfil tenso, se levantou de uma vez, caminhando em direção a escada.- Espero que não faça nada que venha se arrepender depois.Ele se despediu, deixando o apartamento praguejando contra toda aquela merda que estavam
OlíviaO som de conversas e de passos no corredor a despertaram de seu cochilo. Depois do que aconteceu, Olívia não conseguiu dormir, se sobressaltava a qualquer som e acordava assustada dos cochilos breves.Todo seu corpo estava dolorido pela violência que sofreu. Não se importava consigo, estava preocupada com o bebê, conhecia os riscos de um aborto logo nos primeiros meses de gestação e temia que corresse algum risco quando viu o sangue que corria por entre suas pernas durante o banho. Quando ele saiu de seu quarto, correu para o banho ao sentir a umidade quente e fluida em sua intimidade.Naquela manhã ainda sangrava um pouco e decidiu enfrenta-lo para consultar um obstetra, poderia ser diversas complicações ou até mesmo uma expulsão do feto decorrente do que ele fez. Olívia guardou toda a sua dor, a humilhação e tristeza em uma caixa no fundo de seu ser. Seus olhos se marejavam ao pensar naquilo. Se sentia usada, uma mercadoria barata feita para satisfazer as necessidades de
- Este é o primeiro feto, está forte e muito bem. – disse o médico olhando para o monitor, pedindo uma impressão da imagem para levarem para casa.- Como assim o primeiro? - a voz grave de Hórus a lembrou de sua presença. Ele olhava para o monitor com olhos vítreos.- São gêmeos, vocês não sabiam? - Não. – Olívia respondeu emocionada. Nunca passou por sua cabeça essa possibilidade, desde que começou a considerar a gravidez. Os olhos de Hórus se suavizaram, ele parecia interessado nos movimentos na tela.O médico procurava um ângulo para encontrar o segundo bebê, quando encontrou um pontinho que parecia menor que o outro, ele sorriu e auscultou o coração.- Aqui está, bem escondido. – o sorriso do médico começou murchar, e um olhar preocupado ocupou seu rosto.- O que foi doutor? O que há de errado? – Carol sentiu sua garganta tão seca, ela sabia bem que aquela expressão era algo sério.- Diga de uma vez, o que há de errado? – Hórus disse em tom imperativo.- Os bebês são univitelino
SethA claridade excessiva dificultava o foco da visão. Levou as mãos aos olhos para esfrega-los. Estavam doloridos.O quarto do seu apartamento entrou no seu foco de visão.- Finalmente acordou. A voz de Anúbis vinha do lado esquerdo de sua cama.Se virou naquela direção. Seu irmão estava sentado na poltrona escura com um livro nas mãos e roupas leves, sem sapatos.Tudo indicava que ele estava ali a um tempo. Anúbis praticamente dormia e acordava com seus ternos pretos feitos sob medida.- O que está fazendo aqui?- Não poderia te deixar na rua naquela situação, deveria? – ele perguntou, abandonando o livro sobre o aparador ao lado.- Por quanto tempo eu apaguei?- Quatro dias. - Tudo isso? – Seth suspirou resignado. – Ele foi bem sacana dessa vez.- Bem, sabemos que não poderia te matar assim. Mas você teve crises asmáticas intensas por causa dos golpes nas costelas.- Não chamou um médico, não é? Perguntou, se levantando lentamente. Pegou uma camiseta limpa no armário e a vestiu