A noite transcorria muito melhor do que imaginou. Não causou nenhum incidente desconfortável, e não foi insultada por ninguém.Aparentemente, estava se saindo bem em representar aquele papel de dama da alta sociedade.Foi apresentada a muitas pessoas importantes, influentes e outras do convívio da família de Hórus. A maioria deles foram gentis, muitos teceram elogios e teve também quem a bajulasse esperando cair nas graças da nova Sra. Amonhhat.Isso a fez rir muito por dentro, eram oportunistas interesseiros que nem sonhavam que ela era uma pobretona de Seattle sem poder algum nas decisões de Hórus. Celine a ajudou decorar o nome de algumas pessoas que julgava importante na posição em que se encontrava agora. Não achou necessário dizer a ela que tinha memória fotográfica e que se lembraria de todos eles. Gostava de ouvir a mulher falar sobre eles e sussurrar um ou dois segredos em seus ouvidos. Isso também suavizava sua ansiedade constante.Hórus permanecia ao seu lado com gestos r
Olivia caminhou perdida nas emoções que a entristecia.Lembrou-se do aviso de Hórus, sobre seu irmão.Não compreendia o motivo de se manter longe de um familiar dele, sentia que eles eram afastados, possivelmente com diferenças não resolvidas; mas ele ainda era seu irmão, não?O que teria acontecido de tão terrível entre eles para romper laços dessa forma? Eles eram filhos de deuses, todos os filhos também deveriam ter a mesma natureza divina. Anúbis e Hórus era bem evidente, sabia seus papeis no mundo, e o que eles representavam. Mas e quanto ao terceiro filho? Que tipo de divindade ele era?Se perguntava por que o membro mais novo da família não compareceu a um evento tão importante para os Amonhhat.O farfalhar de folhas e um movimento próximo a um punhado de vegetação bem cuidada, chamou sua atenção. A voz de alguém pedia ajuda, em fio baixo de som. Ela se voltou quando reconheceu o barulho produzido pela dificuldade respiratória.Olívia se aproximou rapidamente da moita alta. Ci
Até aquele momento, Hórus não pronunciou uma palavra, e já estavam quase chegando em casa. Não houve despedida dos familiares, ele a conduziu firme para uma saída lateral onde não tinha imprensa alguma. O motorista esperava com expressão apreensiva, com certeza temia pelo iminente desastre que se anunciava na fisionomia de seu patrão.Olívia observava tudo de forma profunda. Suas resoluções cada vez mais sólidas. Hórus estava distante de seu coração, não sentia a ligação entre eles crescer desde que falaram sobre Simon. Era como se ele tivesse rompido os fios que uniam seus sentimentos.Se já imaginava que houve um problema grave entre ele e o irmão caçula, agora sabia que estava muito além de uma discordância ou briga sem sentido.Entendia agora porque ele disse que a própria família era disfuncional. Todos pisavam em ovos a respeito de Hórus e Seth, e o primeiro parecia próximo de assassinar o irmão, enquanto o outro zombava de sua ira e da posição da família que tinha.Durante o p
HórusObservar o rosto dela desfalecido naquela cama de hospital foi a única coisa que fez por horas.Seu rosto frágil estava com um hematoma na face esquerda, pelo choque com a pedra de mármore. Os médicos disseram que ela não tinha fraturas, somente um concussão na cabeça.Todos afirmavam que ela deveria acordar em poucos minutos, mas não foi o que aconteceu. Desde que chegou com ela ao hospital, aguardava o momento em que veria seus olhos se abrirem novamente. Os minutos se arrastaram, e nada aconteceu. Exames de imagem foram repetidos, nada de diferente. Fisicamente, nada a mantinha inconsciente.As feridas nos braços dela eram muito evidentes, ver aquilo lhe causou um ódio enorme de si mesmo.Hórus tocou seu peito dolorido, as sombras de seus pensamentos pensavam tanto sobre si que comprimiam seu coração. Tudo estava se repetindo. Mais uma vez, estava sendo trocado pelo seu irmão. A raiva, a dor e a decepção se união em uma fúria insidiosa que crescia sem parar. Olhou para Olív
Hórus se voltou, sentindo seu sangue gelar com a pronuncia daquele nome. Todos evitavam falar sobre ela, sua família não pronunciava o nome dela como se estivessem evitando o mal encarnado.Martina, a doce e alegre mulher que um dia sonhou em desposar. Acreditando que finalmente havia encontrado sua companheira.A energia de Martina ainda era uma lembrança marcada em Hórus.- Você disse que Amith devorou a alma dela. Falou baixando os olhos. O rosto dela lhe veio à mente, seus olhos límpidos como o céu.A maçaneta da porta a sua frente começou a se mover. Anúbis estendeu a mão, mantendo-a trancada, impedindo de Olívia sair.- Me solte! Eu quero ir embora! Você não pode fazer isso seu bastardo filho da puta! – gritava Olívia enlouquecida dentro do quarto.A troca de olhares entre eles foi uma disputa por território. Seu irmão deixava claro que não concordava com o que ele estava fazendo.- Ela foi julgada e entregue a Amith quando seu coração pesou muito mais que a pena. Já lhe disse
OlíviaOs dias se passaram lentamente após a festa da Nefertari. Olívia caminhava vagorosamente pela calçada do café de frente ao parque. Pensava naquela noite horrível com raiva pelo medo que a assombrava todas as vezes que pensava no que aconteceu. O rosto de Hórus distorcido pela fúria, como se ela fosse uma vadia pega no ato de adultério. Seus sentimentos nadavam em um marasmo de incerteza e descrença no futuro. Não conseguia olhar para ele, doía lembrar o quanto o amava e o quanto ele massacrou seus sentimentos. Todas as vezes que pensava o quanto se entregou, na certeza da eternidade desse elo, se sentia tão estupida. Hathor sofria mais do que ela, sentia seus lamentos; a dor de seu espirito despedaçado pela ausência e saudades de seu companheiro de vida e morte.Seu lamento triste ecoava em seu interior todas as noites quando seu corpo queimava em chamas com a necessidade de estar com ele. Olívia odiava se sentir assim.Desde aquela noite, seus sonhos com ele mudaram; via a
O apartamento estava silencioso, não ouviu nem mesmo Caridade trabalhando na cozinha; a senhora de meia idade fora contratada para cuidar dos afazeres domésticos assim que chegou a Manhatlan.Deu uma espiada na cozinha, realmente nem sinal dela ou de seus deliciosos jantares. Nem imaginava o motivo de sua ausência, mas poderia ser uma folga por motivos familiares.Aproveitou a situação para dar uma olhada no escritório de Hórus, talvez encontrasse uma pista de que tipo de coisa estava metida até o pescoço. Estava presa aquela situação, e ninguém parecia disposto a contar o que aconteceu naquela família.O escritório não era usado para questões do trabalho, não havia nenhum vestígio de documentos ou relatórios. Aparentemente ele o usava para resolver pendências relacionadas a propriedades da família. Mobiliado com móveis minimalista e cores sobreas, o aspecto masculino e impessoal; uma prateleira de livros sobre direito e uns três volumes enormes sobre a arte da seda egípcia através d
A deusa não queria mais sofrer por um amor que a controlava e a não confiava em seus próprios sentimentos.Arrumou suas roupas antigas na mochila surrada que trouxe, não pretendia levar nada que pertencia a esse tempo que passou com Hórus. Agora era só esperar que ele adormecesse e poderia ir embora sem nenhum conflito entre eles.Permaneceu no quarto até as onze da noite planejando seus próximos dias. Quando abriu a porta e constatou que ele já havia dormido. Não havia nenhuma luz acesa.Se sentiu segura para ir em frente. Vestiu o jeans surrados que agora estavam justos demais, colocou o suéter cor de ferrugem sobre a camiseta cinza e os tênis castigados por vários dias de trabalho; pegou a mochila e saiu pela porta sem olhar para traz.O elevador chegou ao subsolo rápido, preferiu sair pela garagem para evitar atenção e teve sorte de encontrar somente o segurança noturno que a cumprimentou com um aceno de cabeça. Alcançou a rua lateral rapidamente e pediu um taxi, sentiu suas pern