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Deslize para o amor
Deslize para o amor
Por: Cristinna Guimaraes
– Você deveria saber que eu não tolero atrasos

– Daisy, você vai se atrasar para o seu primeiro dia se não sair da cama agora. – Kim grita da porta do meu quarto e esse é o incentivo que eu tenho para sair da minha cama. Claramente, é só mais um dia na minha vida em que não ouvi o despertador tocar e vou me atrasar. Normalmente são compromissos normais, onde ninguém liga para os meus atrasos (isso não inclui a Kim, ela odeia atrasos, pessoas do signo de virgem são assim mesmo) mas hoje é o dia mais importante do meu ano, é o meu primeiro dia de trabalho num emprego de verdade.

Estive por ai o ano inteiro entregando currículos e nunca era chamada para cargos que pagassem mais que os meus gastos mínimos, que dirá um salário que desse para fazer um pé de meia. Semana passada finalmente me telefonaram informando que havia uma vaga para secretária do CEO e para saber se eu estava interessada, é claro que eu quase cai dura da cadeira onde estava sentada num bar qualquer e agendei uma entrevista para o dia seguinte na Demprey Beauty & Co, uma das mais grandes empresas na indústria de beleza de toda a Manhattan. Eu não tinha esperança de ser chamada para fazer entrevistas lá, mas achei que não fazia mal sonhar e entreguei meu currículo mesmo com poucas esperanças.

Qualquer pessoa sensata ao saber que terá uma entrevista de emprego no dia anterior, descansaria e se prepararia para arrasar na entrevista do dia seguinte. Eu fiz isso? Claro que não. Para mim, a simples menção de uma entrevista de emprego era motivo para comemorar e foi isso que eu fiz, enchi a cara de cerveja e voltei para casa muito tarde, resultando em uma cara inchada e uma grande ressaca no dia seguinte, sem falar no sono por ter dormido apenas cinco horas completas. Felizmente, fiz uma boa maquiagem que escondeu todo o cansaço do meu rosto e o meu currículo falou mais alto na entrevista. Mesmo que eu não tenha trabalhado de secretária antes, eu estudei muito para isso e tenho boas referencias da faculdade e isso me fez ser escolhida para o cargo, finalmente posso colocar em prática tudo que me matei para aprender na faculdade. Agora tudo que preciso é agradar o chefe e fazer um bom trabalho.

Corro para o banheiro e olho a hora no relógio que está na parede antes de entrar. Sete em ponto e eu preciso estar lá as oito, ou seja, eu estou prestes a me atrasar já que a minha casa é muuuito longe da empresa e eu preciso pegar ônibus para chegar lá.

– Merda! Merda dupla! – Resmungo para mim mesma entrando no box e solto um impropério quando a água fria b**e no meu corpo que ainda estava um pouco adormecido. Com o choque da água fria eu finalmente acordo e a primeira coisa que eu penso é um pouco engraçada.

– Eu finalmente preciso comprar um despertador para mim, aquele ainda vai me matar de fome. – Resmungo enquanto passo sabonete pelo meu corpo. O meu despertador não funciona bem a algum tempo, ele nunca desperta e quando desperta é sempre na hora errada então eu uso o meu celular como despertador, mas acho que isso não tem funcionado muito para mim já que eu sempre o desligo e nem ao menos vejo quando faço isso. Bizarro, eu sei, meu sono é muito pesado.

Saio do banheiro menos de dez minutos depois e corro direto para o guarda-roupa e pego a roupa que deixei pendurada e passada na noite passada. Acho que eu estava adivinhando que eu não teria tempo disso hoje e ainda bem que o fiz ontem, eu estaria encrencada.

Visto um par de lingeries brancas, logo depois a saia lápis preta e a camisa branca social. Estou abotoando o último botão quando Kim entra como um furacão no meu quarto.

– Você realmente precisa arrumar o seu quarto. Está me dando complexo só de olhar. – Ela diz olhando ao redor e logo depois olha para mim com um olhar analista.

– Scarpin preto. Básico e elegante, tenho certeza que vai passar uma ótima impressão. Cabelo preso num rabo de cavalo, deixe a sua franja de lado que vai ficar incrível. – Diz depois de poucos segundos me observando e essa é a parte boa de ter uma amiga que estudou moda.

– Obrigada amiga, você é salva vidas. – Digo correndo para procurar o meu scarpin preto.

– Sim, eu sou salva vidas e você está atrasada.

– Eu estaria mais atrasada se você não tivesse me acordado. Muito obrigada. – Digo assim que acho o par de sapatos e sento-me na poltrona mais próxima para calcá-los.

– Sempre a disposição. Mas é melhor você comprar um novo despertador, acho que seus dedos nervosos não vão encontrá-lo assim que tocar e desligá-lo.

– Vou me lembrar disso, obrigada. – Digo indo até a penteadeira para começar a maquiagem.

– Você já está muito atrasada, vou te ajudar. – Ela pega o secador e começa a modelar o meu cabelo enquanto eu faço uma maquiagem simples.

Dez minutos depois, meu cabelo está arrumado em um rabo de cavalo alto e cheio e a minha maquiagem está pronta. Foi o melhor que consegui em tao pouco tempo.

– Ótimo, agora corra. Com sorte pegara o ônibus com tempo ainda. – Kim diz me entregando a minha bolsa e eu lhe dou um beijo na bochecha para me despedir.

– O que seria de mim sem você? – Digo correndo até a porta.

– Você provavelmente perderia o emprego. Até mais tarde, te amo. – Ela grita e eu sou capaz de ouvir no corredor do prédio. Entro no elevador com pressa e aperto para o térreo.

Os poucos minutos que passei dentro do elevador pareceram horas e eu corro até o ponto de ônibus que, felizmente, para no mesmo momento que eu chego ao ponto. Eu subo e sento-me no lugar vago mais próximo para descansar. Olho o relógio e são 7:25.

– O caminho até a empresa deve durar um 30 minutos. Vai dar tempo, vou chegar a tempo. – Digo a mim mesma com um sorriso, mas as minhas palavras me assombram 15 minutos depois quando encontramos um grande engarrafamento no meio do caminho e eu balanço meu joelho em ansiedade.

Droga, desse jeito vou mesmo me atrasar.

São 7:55 quando eu finalmente desço do ônibus e corro para a empresa a minha frente. Eu entro correndo e vou direto para o elevador, que demora uma eternidade até abrir. Olho o meu relógio 7:57.

o elevador sobe e felizmente não para em nenhum andar e assim que eu adentro a cobertura o relógio marca 8 horas em ponto. Consegui, eu cheguei a tempo. Respiro aliviada e ando até a recepcionista, que já me conhece da entrevista e me dá as boas vindas e me entrega meu crachá de secretária e diz que o Sr. Demprey já está a minha espera.

Ando na direção que Lana, a secretária, me indicou e chego a minha mesa. Mas fico surpresa ao encontrar um um homem de 1,90m sentado a ponta da mesa de braços cruzados, ele tem olhos verdes, cabelo loiro num topete e uma cara de poucos amigos. Está vestido num terno preto sob medida que parece mais caro que a minha vida.

Abro a boca para cumprimentá-lo e me apresentar, mas não tenho a chance. Assim que ele me ve chegar, ele se levanta e me olha de cima abaixo.

– Está atrasada, Senhorita Gabrielli. Deveria saber que eu não tolero atrasos. – A voz grossa envia arrepios por todo o meu corpo e ao observar o seu olhar para mim já sei que vou amargar nesse emprego.

Meu dia já começou ótimo.

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