Logo que amanheceu, retornei à mansão. Ao passar pela porta, Jake estava escorado na parede do corredor que levava ao hall, de olhos fechados. Parei à sua frente e repousei as mãos em sua cintura.— Sabe do que sinto falta? — Abriu as pálpebras, olhando-me. — De sair para caminhar no sol.— Sabe por que não pode sair da casa?— Acha que ficamos presos ao local onde morremos. Eu já tentei sair, mas sempre apareço aqui dentro outra vez.— Sinto muito. — Acariciei sua face, enquanto ele fazia o mesmo nos meus braços.— Como vai a sua investigação?— O que você tem a me dizer sobre Anne?— Era a babá da Kate. Foi tutora dela depois que Laila e eu morremos.— E o que mais?— Ela era irlandesa, não tinha família aqui, nunca se casou e pulou do terceiro andar em uma noite chuvosa.— Como era a relação dela com Laila?— Muito respeitosa.— Depois que ela morreu, ficou aqui como você?— Não. Mas por que tantas perguntas sobre Anne?— A bisavó de alguém disse que ela tinha muita inveja da Laila
Levantei-me e caminhei até as roupas sobre o banco em frente à penteadeira. Vesti-me e olhei-o uma última vez antes de ir. Lá embaixo, o pessoal da reforma se preparava para ir embora. O restaurador de quadros estava fazendo um trabalho incrível. A equipe, que trouxe diretamente de Nova Iorque, fazia uma reparação impecável no quarto do sexo. Se Jude soubesse quais tipos de cliente o senhor Whitewood receberia aqui, ela não mais sentiria o seu negócio ameaçado.— Você sumiu a tarde toda.— A mansão é grande, e existe muito trabalho a fazer, Ben.— Não duvido disso. Acha que conseguimos até antes do Natal?— Sim. Se for o caso, chamamos mais empreiteiros.— Ótimo. É... eu não sei se a minha mãe falou com você, mas todo Halloween, nós temos um baile no centro comunitário. Fica no centro, ao lado da prefeitura. É uma festa à fantasia.— Ah, eu não estava sabendo.— Seria legal se fosse. A cidade toda vai, incluindo as crianças.— Está querendo me convidar para ir com você, Ben?Ele olhou
Colocando-se de pé, Jake estendeu-o na minha direção. Eu o apanhei e sentei-me na cama, desenrolando cuidadosamente o tecido. O diário estava ali há muito tempo. Já poderia estar degradado. Mas, para a nossa surpresa, estava em bom estado.— Achamos — disse, encarando a capa que dizia: "Privado! Pertence à Anne Storm."— Você precisa se secar. Vamos para o segundo andar; vou acender a lareira.Jake acendeu o fogo, e eu tirei toda a roupa, sentando-me à frente das chamas. Depois, ele colocou as peças para secar e cobriu-me com um cobertor.— Está preparado? Pode ter coisas importantes aqui, ou pode não haver nada.— Vamos ler. Acho que ela não irá se importar.Abri o diário e iniciei a leitura em voz alta. Ela começava datando o dia e dizia ter se despedido do diário anterior, queimando-o. Anne iniciou aquele na noite antes do incêndio. Nele, ela narrou com riqueza de detalhes a raiva que sentia de Jake e Laila Whitewood. Chamava-os de pecadores e profanos. Ela dizia que a família não
Deitada diante da lareira, acabei pegando no sono. Acordei com um pouco de frio, percebendo que o quarto estava claro. Já era dia. O fogo havia se apagado. Escutei barulhos lá fora e caminhei até a janela. Os homens da empreiteira haviam acabado de chegar. Vesti as minhas roupas, dobrei os cobertores e guardei-os no baú.Ao sair do quarto, olhei para os lados, procurando por Jake. Eu não o estava vendo nem sentindo. Com o diário na mão, deixei a casa.— Oi — disse Ben. — Dormiu aqui? — perguntou confuso, observando as minhas roupas.— Dormi. Vou para a hospedaria agora, volto mais tarde.Entrei no meu carro, sem dar mais espaço para perguntas. Depois de um banho e café da manhã, fui até a loja da Candice.— O-ou! Não está com uma carinha boa — falou ela.— Achamos o diário.Os seus olhos se arregalaram, e os ombros ficaram tensos.— E então?— Anne e George, o zelador, provocaram o incêndio.— George Foster é o avô da Jude.— Eu sei. Ele recebeu joias como pagamento pela ajuda. E Anne
— O fantasma dos orgasmos apareceu? — perguntou Candice para mim, logo que passei pela porta.Ela estava debruçada sobre o balcão, chupando um pirulito enquanto folheava um livro.— Eu não sei o porquê fui falar disso com você!Ela riu.— Então ele não apareceu. Senão teriam transado e você estaria de bom humor.Revirei os olhos, parando diante dela. Candice ergueu a cabeça e ficou séria ao me ver.— A sua aura está escurecendo.— É porque eu me sinto triste.— Merda! A gente vai encher a cara mais tarde, aí você ficará menos triste. — Voltou a sua atenção para o livro.— Vim aqui por isso. Eu não tenho uma fantasia. Pode me emprestar uma das suas?— Eu também não tenho fantasia.— E esses vestidos estranhos? — Fiz uma careta.— Ae! São as minhas roupas! — O seu tom soou um pouco ofendido.— Foi mal.— Mas posso te arranjar alguma coisa. Não os meus vestidos estranhos. — Revirou os olhos.Candice fechou a loja e caminhamos até a hospedaria. No seu quarto, ela abriu o guarda-roupa e pe
Acelerei em direção à colina enquanto o céu se iluminava repetidas vezes com raios e trovões. Quando passei pela ponte, a chuva desabou forte. Era como se o tempo estivesse apenas esperando eu voltar para a mansão. Desci do carro e corri para dentro da casa, abrigando-me sob o casaco.— Jake! — chamei por ele, mas não obtive resposta.O mais puro silêncio se perpetuou nos meus ouvidos e ao longe consegui ouvir o som do piano. Andei em direção à biblioteca, e ao passar pela porta, lá estava Jake, sentado diante do piano, tocando-o majestosamente.— Jake.Ele parou e olhou para mim. Um sorriso doce abriu-se nos seus lábios. Os meus braços se arrepiaram. Ele levantou-se e caminhou a passos lentos na minha direção, parando à frente.— Você também vê todas as luzes acesas?Neguei com a cabeça.— Há muitos anos não vejo a noite tão clara por aqui.— Talvez isso seja um sinal de que a sua hora de partir está se aproximando.— Deus! Você está tão linda!Os seus olhos eram brilhantes e algo ne
No segundo andar, deitamo-nos sobre os cobertores em frente ao fogo. Jake deu-me beijos longos, e nós transamos mais uma vez. Depois do ápice do prazer, ele deitou-se atrás de mim e abraçou-me. Com a cabeça deitada no seu braço, silenciosamente derramei lágrimas enquanto encarava a lareira crepitar. Jake havia me tirado do fundo do poço. Mas agora eu me perguntava: como superá-lo? Assim como Noah, reestabelecer contato não será uma opção. Sentir saudade é a única coisa que me restará após a sua partida.Apanhei o celular e eram exatamente onze e cinquenta da noite. Jake me soltou e deitou-se de barriga para cima, encarando o teto. Sequei as minhas lágrimas e virei-me para ele.— O que houve?— Estou sentindo.— O quê?Ele sorriu. Um sorriso contente, espontâneo. Um sorriso cheio de alívio.— A minha hora está chegando.Jake se levantou e começou a se vestir. Fiz o mesmo. Ele caminhou até a porta do quarto e estendeu-me a sua mão. Coloquei a minha palma sobre ela e, juntos, descemos a
Quando desembarquei em Nova Iorque, Beth esperava por mim no aeroporto. Ela abraçou-me apertado e desejou-me as boas-vindas. Quando chegamos no meu apartamento, ela destrancou a porta e eu logo entrei, arrastando a gigantesca mala comigo. Pela primeira vez, em dois anos, não me senti mal de estar ali dentro. Parei no meio da sala e respirei fundo.— O que vai fazer amanhã? — ela perguntou.— Dar um jeito na minha vida.— Uau! E do que estamos falando?— Vou fazer o que há muito tempo já devia ter feito: me despedir das coisas do Noah e procurar um apartamento novo. De preferência um que tenha elevador, foi difícil subir com essa mala.Ela riu.— Okay. Bom… vou indo. Tenho um encontro. Volte ao trabalho quando estiver pronta e descansada. — Caminhou em direção à porta. — Ah! — Parou, olhando-me. — O que aconteceu com o carinha que você beijou?— Ele só estava de passagem. Precisou ir embora.— Entendi.Ela saiu e fechou a porta.Depois de um banho e desfazer a mala, fui ao mercado. No