Eu tinha realmente me produzido, mas eu ainda era muito insegura com a minha aparência. Passei parte da minha vida odiando meu corpo e enxergando apenas motivos para mudá-lo. Era como viver presa, mas dentro de mim mesma. Depois, quando finalmente passei a me amar, tive que lidar com a rejeição dos outros. É difícil fazer essa escolha: ou você ou os outros. A maioria escolhe “você” sem pensar, mas as consequências nem sempre são bonitas e cheirosas como as flores. Ser rejeitado o tempo todo por ser quem você é (ou quem você quer ser) ensandece qualquer um.
Por mais que você seja uma boa pessoa, ótima linda e perfeita, a rejeição te derruba. Imagine quando
A batida eletrificante de Raise the Devil vibrava nas paredes do Strange House Eu estava quase cochilando durante o filme Nosferatu de 1922. Não me culpe, é um filme de música densa focada no tom obscuro de um órgão de fole, pouca luminosidade nas imagens, piscando, com um ar de comédia no exagero dos atores e… mudo. Sim, é um filme em que você tem mais que ler do que realmente assistir.Acordei não sei bem onde, com um movimento no ombro de Bruno. Tomei uma espécie de susto, ele estava quase se levantando e por um momento, pensei que o filme estava terminando, exceto que ainda estava tocando aquela música esquisita e um homem estava levantando um machadCapítulo 14: Outros tipos de magia
— E ela mandou uma foto, Hilay! Você consegue imaginar? — Empurrei o meu celular para a frente dos olhos azuis da minha melhor amiga sentindo um gosto amargo na minha saliva.— Acho melhor você esquecer isso, Jujuba. — A reação dela foi completamente fora do normal, me empurrando de volta aquele celular, sem gastar mais de dois segundos vendo a foto. Senti sua voz um pouco seca, um traço de descontentamento com o fato de que eu me importava.— Esquecer? —
Tive vontade de voltar para o elevador, cheguei a virar, mas a porta se fechou. Foi quando percebi que a campainha tinha cessado e que Bruno estava respirando bem atrás de mim, esquentando meu ombro.— Indo a algum lugar? — Perguntou estreitando os olhos azuis. Ele estava tão perto de mim que eu podia sentir o seu perfume, mas havia traços do adocicado perfume de Priscilla em suas roupas.— Er… Esqueci a chave na faculdade? — Torci a boca com a mentira, que nem mesmo eu ac
— Psiu. — Escutei um som me chamando.Parei de andar. Meus cabelos estavam tocados pela garoa do inverno que parecia não pretender ir embora. Eram quase sete horas da noite, mas estava escuro como se fosse a madrugada, frio, de fazer a boca soltar vapor branco e de congelar as pontas dos meus dedos. Eu estava usando jeans, botas sem salto para não ficar absurdamente mais alta que as garotas do campus e um suéter cinza escuro bem quente e felpudo por dentro de um colete com aplicação de couro envernizado na parte da frente, reluzindo como um farol a luz da pequena praça que eu sempre atravessava em dire&cc
Encarei aquelas órbitas azuis como um universo único, apenas para me lembrar do quanto eu sentia falta de outro tom nos olhos de Túlio. Ele ansiava pela minha resposta, mas será que eu estaria disposta em dar uma milésima chance? Será que eu achava que ainda podíamos consertar um relacionamento que começou quebrado e apenas tropeçou do seu início ao fim? A resposta vinha de dentro de mim, como um sussurro da minha alma. A vibração de saber aquela resposta arrepiou os pelos do meu braço e me deu um choque de realidade. Foi algo que me surpreendeu, até o presente momento eu nem sabia que me sentia desse jeito.
O ar tinha cheiro de essência de morango e flores do campo e o local era bem diferente daquele que eu costumava ver quando usava o banheiro. — Voi lá! — Vick brincou, esticando as mãos quando desfez o encanto diante de nossos olhos, como uma lente que embaça e você limpa. — Uau! — Fiquei surpresa, segurando meus cadernos no centro do banheiro, incrédula no que meus olhos podiam ver. O
— Justina Montenegro, não é? — A garota responsável pela lista de entrada procurou meu nome em uma prancheta cheia de folhas. Estava por ordem alfabética e ela procurava no J e no M, atrás de algum sinal de que meu nome havia mesmo sido incluído. Mordi o piercing que estava ainda nos meus lábios, tombando um pouco o pé, como se caísse um degrau, mas era apenas o salto agulha virado. Ela não me olhou, mas certamente notou o meu desespero, a mão enganchada