MelissaA caminho do quarto do Henry, senti minhas mãos gelarem, como se tivessem virado picolés. O nervosismo tomou conta de mim, e acredito que era por saber que Elisângela estava lá dentro. Não queria criar nenhum ambiente ruim, muito menos pesado. Ainda assim, decidi que não deixaria a presença dela me impedir de vê-lo, principalmente sabendo que ele pediu por mim.Quando cheguei à porta, encontrei três seguranças da Elisângela. Precisei me identificar, já que nenhum deles me conhecia. Isso era ridículo, considerando que já havia feito isso na portaria do hospital. Um dos seguranças entrou para pedir permissão para minha entrada, e eu mal conseguia esconder meu incômodo. Foi então que ouvi a voz firme de Henry.— Deixe ela entrar. Saiam da frente. — O tom dele ecoou pelo corredor, e meu coração deu um salto de alívio e felicidade. Os seguranças imediatamente abriram passagem, e entrei devagar. Assim que o vi, me aproximei rapidamente e o abracei. Era um abraço apertado, aconchegan
ElisângelaEstá cada vez mais difícil lidar com o Henry. Meu filho não me ouve, e sinceramente, começo a sentir que estou lavando as mãos diante das suas escolhas e atitudes. No entanto, isso não é fácil para mim. Desde que descobri o câncer, tenho tentado ser menos invasiva e mais tolerante. Já fui intragável até mesmo para os meus próprios filhos, e tenho plena consciência disso.O que ouvi hoje me deixou desnorteada. Não consigo entender o que está acontecendo. A Renata, que sempre foi tão paciente, meiga e gentil, agora é acusada de ameaçar o meu filho? Se isso for verdade, não faço ideia do que se passa na cabeça dela. Confesso que, nos últimos dias, deixei de estar tão em cima dos meus filhos como costumava ser. Mas veja o resultado: meu filho desfalecido em um hospital. Sempre cuidei deles sozinha, sou uma mãe protetora, e carrego traumas que moldaram quem sou.Quando passamos por tempos difíceis, estávamos só eu, Bárbara e Henry. Ainda lembro vividamente do dia em que decidi te
— Mãe, faça o favor, não precisa de seguranças aqui. O hospital já tem segurança. — Ouvi isso assim que entrei no quarto.— Filho, estou prezando pelo seu bem. Você vai dormir, e dormindo nos descuidamos. — Tentei argumentar, mas ele sempre foi teimoso.— Não durmo tão pesado assim. Preciso de seguranças na casa da Melissa, não aqui. Peça para eles irem até lá, por favor. — Ele me olhou com uma determinação que me dava a certeza de que sua preocupação era genuína.— Para que isso? Você sempre disse que ela era contra. — Questionei, surpresa.— Não importa. Eu estava na casa dela para resguardá-las, e agora estou aqui sem poder fazer nada. Ou a senhora envia os seguranças, ou saio daqui do jeito que estou para me assegurar de que elas ficarão bem. — Ele falava firme, como sempre, direto e incisivo.— Calma, Henry, deixe de ser impulsivo, filho. Sempre disse que a Mia precisava de segurança extra, mas ninguém me ouvia. Vou pedir para eles irem até a casa dela. — Respirei fundo, resignad
HenryAcordei pela manhã ainda tentando me acostumar com a ideia de estar em um hospital. É uma sensação terrível, desconfortável em todos os sentidos. Odeio hospitais, sempre odiei. A única lembrança boa que tenho de um lugar desses é o dia mais feliz da minha vida: o nascimento da Mia. Lembrar de quando a vi pela primeira vez e a segurei nos braços traz um conforto indescritível.Olhei ao redor, reconhecendo o quarto e os barulhos típicos de hospital. Percebi que minha mãe não estava ali, mas uma bandeja com café da manhã ao lado da cama chamou minha atenção. Senti um pouco de fome, o que era raro nos últimos dias. Quando me preparei para levantar e pegar a bandeja, ouvi a porta se abrir e vi minha mãe entrando com algumas sacolas.— Bom dia, filho. O café da manhã aqui é péssimo, então fui buscar algo decente para você. — disse ela, esbanjando sua habitual insatisfação.Suspirei, achando graça. Minha mãe e seu hábito de reclamar de tudo. Podia ser a comida mais refinada do mundo, m
HenryEJá estava de saco cheio desse hospital, e os remédios pareciam me deixar atônito. Sentia-me um inútil aqui, enquanto poderia estar ao lado da Melissa e da Mia. Logo no dia que planejava dormir pertinho delas, acontece uma dessas patifarias? Não é possível. O dia foi se arrastando vagarosamente, me enlouquecendo enquanto esperava o bendito médico me liberar. Minha mãe, tentando bancar a paciente exemplar, estava mais impaciente do que eu. Já tinha saído umas cinco vezes do hospital e ainda se irritava quando eu reclamava. Pelo menos ela podia sair quando quisesse. Eu, por outro lado, estava preso aqui, de molho. Para minha alegria, alguém com um humor menos ácido veio me visitar. Bárbara entrou no quarto com aquele jeito louco de ser que só ela tem. Ela me olhou e fez menção de me enforcar.— Você nunca mais, nunca mais me faz chorar e escandalizar feito uma louca, entendeu, seu moleque sem vergonha? — falou, sentando-se na cama próxima aos meus pés. Sorri, percebendo que ela
ContinuaçãoMensagem— Saudades de vocês.Vi que ela estava online, e a resposta veio mais rápido do que eu esperava.— Então volta para nós.Li aquilo e, por um instante, juro que vi "volta para mim". Meu coração disparou como sempre fazia quando ela estava envolvida. Melissa tinha um jeito inexplicável de mexer comigo, e, como dizem, o amor não é para ser entendido, mas sentido.Enquanto processava o que fazer com essa resposta, Bárbara entrou no quarto, claramente em meio a uma discussão com a minha mãe, que vinha logo atrás com a testa franzida.— Bárbara, estou fazendo o melhor para ele. Dá para parar de agir com infantilidade? — Minha mãe falou, visivelmente irritada.— Viu essa agora? — Bárbara bufou, sentando-se na minha cama. — Você sabia disso, Henry? Concorda com as ideias da sua mãe?— Me respeite, Bárbara. — Minha mãe retrucou, mas eu estava confuso.— O que está acontecendo? Alguém pode me explicar? — Perguntei, tentando entender o motivo da discórdia.— Sua mãe quer cont
MelissaCustei pegar no sono na noite passada. Minha cabeça não parava. A todo momento, pensava nas mudanças que Henry tem demonstrado. Sinceramente, isso está nos aproximando novamente, mesmo sem intenção. Também fico tentando imaginar alguma forma de ajudá-lo a lidar com Renata, mas ontem, enquanto Ricardo trazia eu e Bárbara para casa, ele foi claro. Pediu que eu apenas cuidasse de mim e da Mia, porque o maior temor de Henry é algo acontecer conosco. Ricardo ainda disse que estará ao lado dele caso Renata apronte mais alguma. Sinto-me de mãos atadas diante de tudo isso. Decidi que, por enquanto, ficarei na minha, observando e de olho em tudo. Afinal, mesmo não estando mais juntos, jamais deixaria Henry na mão. Estou extasiada com essas mudanças. Ele nunca foi de me deixar saber dos problemas que o afetam. Sempre foi fechado nesse ponto, mantendo os problemas só para si. Agora, sinto que há uma abertura. Antes, eu evitava ser invasiva e nada perguntava, mas agora percebo que ele t
BárbaraMinha tática estava funcionando perfeitamente. Quero muito juntar meu irmão e minha amiga. Eles parecem não perceber, mas estão mais apaixonados do que nunca. Fico indignada vendo essa enrolação sem que nenhum dos dois dê o primeiro passo. Meu irmão sempre foi bem atirado, nunca teve medo de magoar ninguém. Agora, vê-lo nessa postura toda cuidadosa, com medo de machucar a Melissa, me deixa surpresa e, ao mesmo tempo, mais tranquila. Isso só mostra o quanto ele a respeita e a valoriza.Mas o que realmente me pegou foi ouvir o Henry dizer que abriria mão dela para vê-la feliz, mesmo que fosse com outro. Esse não é o meu irmão de antes. Ele jamais diria algo assim. Na verdade, diria o oposto, com certeza! Se a Melissa soubesse disso, tenho certeza de que ela se derreteria de chorar. Até eu, que sou durona, quase chorei. Agora, imagine ela, que é tão sentimental.Depois de conversarmos e brincarmos na sala, subimos para o quarto da Melissa. Ela estava numa indecisão tremenda, pens