As horas passaram lentamente, a ansiedade corroendo cada fibra do meu corpo. Já era bem tarde quando finalmente conseguimos que um médico viesse nos dar notícias. Isso só aconteceu porque Elisângela, já sem paciência, ligou para o diretor do hospital. Ela tem seus meios e, com sua influência, conseguiu mexer os pauzinhos para agilizar uma resposta.Fiquei à distância, sem coragem de me aproximar enquanto os médicos conversavam com Elisângela. Ricardo estava ao lado dela e, ao terminar a conversa, veio até mim com as informações que eu tanto precisava ouvir.— Tem notícias? Me fala que ele está bem! — Levantei-me de imediato, as palavras escapando da minha boca quase sem controle.— Ele está sim, Melissa. Está no quarto agora. Foi diagnosticado com uma pneumonia avançada. Aquela chuva e a tosse já apontavam para isso. Além disso, teve um pico alto de estresse. Eles administraram a medicação, e ele está dormindo. — Ricardo respondeu, tentando manter a calma para me tranquilizar.— Onde
Continuação...Estava sendo insuportável lidar com tudo isso. Pelo menos, dessa vez, fiz minha voz ser ouvida. Eu o defendi porque ele não podia fazer isso por si mesmo naquele momento. Mas o que doía ainda mais era a possibilidade dele ceder às manipulações de Renata só para nos proteger. Isso estava claro na conversa que ouvi entre ele e Ricardo.— Melissa, não vá embora, amiga. Ele vai acordar, e o choque será enorme se não te ver ao lado dele. — A voz de Bárbara me trouxe de volta à realidade. Parei e olhei para o céu, como se buscasse forças para continuar.— Não vou embora, Bárbara. Só precisava respirar. — Respondi, tentando me recompor.— Quer que eu ligue para saber da Mia? — Ricardo surgiu ao nosso lado, percebendo minha preocupação.— Por favor. Esqueci meu celular. — Agradeci, sentindo um alívio por não estar sozinha. Bárbara me puxou para um abraço enquanto Ricardo fazia a ligação. Se não fosse minha amiga, eu já teria desmoronado por completo.Ficamos sentadas no chão en
RicardoPelo que percebi, meu amigo Henry ficaria muito feliz em ver Melissa ali. Quando entrei no quarto rapidamente para visitá-lo, ele achou que ela não estava no hospital. A primeira coisa que perguntou foi sobre ela e Mia. Esse cara não consegue esconder o quanto elas são importantes para ele.Elisângela, como esperado, não gostou nada. Até questionou o que Henry queria da vida, como se ele precisasse da permissão dela para decidir com quem estar. Será que ela não percebe o quanto o filho está sofrendo? Sinceramente, espero que, no fundo, ela entenda os sentimentos dele, porque duvido muito que ele esteja disposto a abrir mão de Melissa. O que me preocupa é como ele vai lidar com Renata, e se Elisângela realmente fará algo para proteger o próprio filho dessa situação. Ela sabe como usar sua influência, mas será que usará isso da maneira certa agora que conhece as ameaças? Quero acreditar que sim.Depois de Melissa sair em direção à entrada do hospital, Bárbara foi atrás dela, mas
MelissaA caminho do quarto do Henry, senti minhas mãos gelarem, como se tivessem virado picolés. O nervosismo tomou conta de mim, e acredito que era por saber que Elisângela estava lá dentro. Não queria criar nenhum ambiente ruim, muito menos pesado. Ainda assim, decidi que não deixaria a presença dela me impedir de vê-lo, principalmente sabendo que ele pediu por mim.Quando cheguei à porta, encontrei três seguranças da Elisângela. Precisei me identificar, já que nenhum deles me conhecia. Isso era ridículo, considerando que já havia feito isso na portaria do hospital. Um dos seguranças entrou para pedir permissão para minha entrada, e eu mal conseguia esconder meu incômodo. Foi então que ouvi a voz firme de Henry.— Deixe ela entrar. Saiam da frente. — O tom dele ecoou pelo corredor, e meu coração deu um salto de alívio e felicidade. Os seguranças imediatamente abriram passagem, e entrei devagar. Assim que o vi, me aproximei rapidamente e o abracei. Era um abraço apertado, aconchegan
ElisângelaEstá cada vez mais difícil lidar com o Henry. Meu filho não me ouve, e sinceramente, começo a sentir que estou lavando as mãos diante das suas escolhas e atitudes. No entanto, isso não é fácil para mim. Desde que descobri o câncer, tenho tentado ser menos invasiva e mais tolerante. Já fui intragável até mesmo para os meus próprios filhos, e tenho plena consciência disso.O que ouvi hoje me deixou desnorteada. Não consigo entender o que está acontecendo. A Renata, que sempre foi tão paciente, meiga e gentil, agora é acusada de ameaçar o meu filho? Se isso for verdade, não faço ideia do que se passa na cabeça dela. Confesso que, nos últimos dias, deixei de estar tão em cima dos meus filhos como costumava ser. Mas veja o resultado: meu filho desfalecido em um hospital. Sempre cuidei deles sozinha, sou uma mãe protetora, e carrego traumas que moldaram quem sou.Quando passamos por tempos difíceis, estávamos só eu, Bárbara e Henry. Ainda lembro vividamente do dia em que decidi te
— Mãe, faça o favor, não precisa de seguranças aqui. O hospital já tem segurança. — Ouvi isso assim que entrei no quarto.— Filho, estou prezando pelo seu bem. Você vai dormir, e dormindo nos descuidamos. — Tentei argumentar, mas ele sempre foi teimoso.— Não durmo tão pesado assim. Preciso de seguranças na casa da Melissa, não aqui. Peça para eles irem até lá, por favor. — Ele me olhou com uma determinação que me dava a certeza de que sua preocupação era genuína.— Para que isso? Você sempre disse que ela era contra. — Questionei, surpresa.— Não importa. Eu estava na casa dela para resguardá-las, e agora estou aqui sem poder fazer nada. Ou a senhora envia os seguranças, ou saio daqui do jeito que estou para me assegurar de que elas ficarão bem. — Ele falava firme, como sempre, direto e incisivo.— Calma, Henry, deixe de ser impulsivo, filho. Sempre disse que a Mia precisava de segurança extra, mas ninguém me ouvia. Vou pedir para eles irem até a casa dela. — Respirei fundo, resignad
HenryAcordei pela manhã ainda tentando me acostumar com a ideia de estar em um hospital. É uma sensação terrível, desconfortável em todos os sentidos. Odeio hospitais, sempre odiei. A única lembrança boa que tenho de um lugar desses é o dia mais feliz da minha vida: o nascimento da Mia. Lembrar de quando a vi pela primeira vez e a segurei nos braços traz um conforto indescritível.Olhei ao redor, reconhecendo o quarto e os barulhos típicos de hospital. Percebi que minha mãe não estava ali, mas uma bandeja com café da manhã ao lado da cama chamou minha atenção. Senti um pouco de fome, o que era raro nos últimos dias. Quando me preparei para levantar e pegar a bandeja, ouvi a porta se abrir e vi minha mãe entrando com algumas sacolas.— Bom dia, filho. O café da manhã aqui é péssimo, então fui buscar algo decente para você. — disse ela, esbanjando sua habitual insatisfação.Suspirei, achando graça. Minha mãe e seu hábito de reclamar de tudo. Podia ser a comida mais refinada do mundo, m
HenryEJá estava de saco cheio desse hospital, e os remédios pareciam me deixar atônito. Sentia-me um inútil aqui, enquanto poderia estar ao lado da Melissa e da Mia. Logo no dia que planejava dormir pertinho delas, acontece uma dessas patifarias? Não é possível. O dia foi se arrastando vagarosamente, me enlouquecendo enquanto esperava o bendito médico me liberar. Minha mãe, tentando bancar a paciente exemplar, estava mais impaciente do que eu. Já tinha saído umas cinco vezes do hospital e ainda se irritava quando eu reclamava. Pelo menos ela podia sair quando quisesse. Eu, por outro lado, estava preso aqui, de molho. Para minha alegria, alguém com um humor menos ácido veio me visitar. Bárbara entrou no quarto com aquele jeito louco de ser que só ela tem. Ela me olhou e fez menção de me enforcar.— Você nunca mais, nunca mais me faz chorar e escandalizar feito uma louca, entendeu, seu moleque sem vergonha? — falou, sentando-se na cama próxima aos meus pés. Sorri, percebendo que ela