De imediato, mandei uma mensagem para o Lennon, perguntando se ele poderia vir à minha casa. Preciso saber o que aconteceu. Não gosto nada disso, mas o pior passa pela minha mente ao imaginar que Henry e Lennon se encontraram. Imagino o que Henry pode ter feito, ele é pavio curto — conheço bem.Lennon respondeu, dizendo que viria mais tarde. Tentando aliviar a mente, coloquei músicas infantis e comecei a cantar para Mia, que adora. Arrumei o tapete dela e nos sentamos no chão. Minha pequena adora brincar com as mãos e sorria enquanto eu cantava as músicas. Sua atenção variava entre mim e a TV. Mas, ao olhar para a mesinha de centro, observei o chaveiro com o nome do Henry. Eu já o tinha visto ali, mas não tinha prestado atenção. Henry estava com as chaves da casa e do portão até ontem. Peguei as chaves, imaginando o quanto ele deve ter ficado bravo ao me ver chegando embriagada, ainda mais acompanhada do Lennon. Já posso imaginar o julgamento.Mais tarde, almocei enquanto esperava a c
— Haha, Lennon, para com isso. O Henry não mete medo em ninguém.— Em você não, que é irmã dele. Mas eu? Não conhecia o cara e ele me pegou beijando a ex dele; acha que ele me olhou como?— Ele partiu para cima ou não? — Perguntei, curiosa, tentando lembrar, mas em vão.— Não, você estava bêbada demais para ele vir pra cima de mim. Até acho que foi isso que me salvou. — Lennon sorriu.— Que vergonha! — Tapei o rosto com as mãos.— Calma, Lissa, isso acontece.— E depois? — Bárbara perguntou, eufórica.— Depois, ele me ameaçou e bateu o portão na minha cara. Quase quebrou meu nariz.— Verdade?— Tô zoando. Meu nariz é grande, mas nem tanto. Mas, pela raiva do cara, achei que vocês teriam discutido pela manhã — respondi, negando com a cabeça.— Ele foi embora; nem vi ele aqui.— Caramba, desculpa. Juro que não faria de novo. Meu coração quase parou quando vi o cara me fuzilando com o olhar — disse ele, rindo.— Não precisa se desculpar. A culpa foi minha; não devia ter bebido tanto.— E
HenryAo sair da casa da Melissa, eu queria sumir. Não só desaparecer, mas desaparecer do mundo, da minha realidade. Dirigindo com músicas tocando ao fundo, fui até uma adega próxima à praia, comprei algumas bebidas e segui caminhando até a areia. Precisava apagar meus pensamentos e me concentrar nas lembranças boas do meu casamento. Dizem que são essas que precisamos guardar, não é? Era o que eu tentava fazer, revivendo memórias antigas e felizes: o nascimento da Mia, nosso casamento... Um casamento só nosso, quando trocamos alianças, mas que logo foi seguido pelo casamento “de verdade,” o qual minha mãe fez questão de não comparecer. Ainda assim, aquele dia foi feliz.Enquanto bebia, peguei o celular e comecei a digitar algumas mensagens. Escrevi declarações de amor, mas logo apaguei. Depois, digitei o quanto estava decepcionado com o que vi, mas apaguei de novo. Não tenho coragem de enviar nada. Fiquei nesse vai e vem, digitando e apagando, tentando ver se isso ajudava minha mente
Depois de um longo tempo conversando, meu pai conseguiu me convencer a voltar à rotina de trabalho. Ele acha que isso vai me ajudar, e começo a acreditar que ele tem razão. Meus pensamentos estão enlouquecidos, e mal consigo dormir com isso tudo. Mas de uma coisa tenho certeza: não quero voltar para a empresa da minha família. Não tenho mais ânimo para lidar com toda aquela pressão, que só prejudica ainda mais minha relação com minha mãe. Liguei para Ricardo e decidi assumir a concessionária. Meu amigo, sempre rápido, veio até mim para conversarmos.— Irmão, acho que essa é a melhor decisão. Você precisa de novos ares. A Cristal é uma gerente excelente, sabe de todos os trâmites da loja. Agora, aquilo vai voar nas suas mãos.— Espero, irmão. Pelo menos o trabalho vai me livrar de pensar o dia todo na mesma coisa.— Já falou com sua mãe?— Não, e nem tô com vontade. Pedi pro meu pai avisar que tô bem.— Cara, eu e seu pai quase não conseguimos te carregar. Dá uma maneirada nesse peso!
JoãoMeu filho está muito desestabilizado, posso até dizer que está sem rumo. Ele me confidenciou o que aconteceu, e estou decidido a ajudá-lo a se reerguer. Quando passei pelos meus tombos na vida, tive quem me estendesse a mão, e hoje faço o mesmo por ele. Se ele e Melissa vão reatar ou não, essa será uma decisão deles. Mas vejo um problema que preciso administrar: minha filha Bárbara. Ela é um amor com Melissa, são super amigas, mas não acho certo ela querer “acabar” com o irmão da forma como tem feito. Odeio ver meus filhos brigados, e a irritação de Bárbara na casa da Melissa foi clara. Ela queria vir falar com Henry, e precisei pedir que não viesse. Uma coisa é ela querer o bem da amiga; outra, completamente diferente, é detonar o irmão toda vez que ele erra. Ela mesma não erra?Sei que posso ajudar Henry, mas também sei que preciso frear a Bárbara. Não adianta nada ela ficar brigando com o irmão, isso só piora a situação e os afasta ainda mais. Amanhã, falarei com ela sobre sua
MelissaHoje o dia está uma loucura, mas do jeito que eu amo. Já estou na minha loja, maravilhada com as novidades do estoque. Adoro os dias de reposição, porque são sinal de que as vendas estão indo muito bem. Além disso, hoje tenho um jantar com Daniel, amigo da Bárbara. Ele e a namorada estão planejando abrir a própria loja e querem se filiar à minha. Embora tenham marcado em cima da hora, estou animada. Se der certo, será uma grande oportunidade de expandir minha loja e meus produtos. Só de pensar nisso, já fico cheia de expectativa.Estava no estoque, no andar de cima, junto com Luana, organizando tudo. Enquanto isso, esperava a cabeleireira me retornar com o horário. Preciso dar um jeito no cabelo, nas unhas e na sobrancelha.— Lu, você acha que eu corto o cabelo? — perguntei, indecisa.— Melissa, seu cabelo é perfeito! Tenho até dó de incentivar você a cortar. — Ela riu, mexendo nos meus fios.— Quero inovar, sabe? Dar um ar mais leve. Acho que vou cortar um pouco abaixo dos o
HenrySaí cedo da casa do meu pai e fui direto para o meu apartamento. Lá, troquei de roupa e vesti algo mais despojado. Finalmente, uma trégua do terno. Pelo menos esse benefício eu teria hoje. Peguei meus óculos escuros, já que meus olhos estavam vermelhos demais — resultado de uma noite completamente em claro. Precisava parecer minimamente apresentável para o encontro com Ricardo na concessionária. Como meu antigo celular havia molhado, peguei um modelo reserva que estava guardado e coloquei meu chip. Assim que liguei o aparelho, fui bombardeado por mensagens. A maioria delas era da minha mãe, incluindo algumas onde ela me xingava de filho desnaturado e irresponsável pelo meu sumiço. Parece que não se pode nem respirar ou ter um momento sozinho sem alguém dramatizar.Suspirei fundo e liguei para ela. Atendeu rápido.LIGAÇÃO— Oi, mãe.— Irresponsável! — Sua voz saiu falha, carregada de drama. — Isso é o que você é, Henry Stuart. Eu não sei mais o que fazer com você, rapaz. — Ela
HenryApós o encontro com Renata, segui direto para a loja, onde Ricardo já me aguardava. Como de costume, me atrasei um pouco, mas não o suficiente para causar grandes problemas. Ao chegar, parecia que meu estado de abatimento era evidente. Ricardo, sempre atento, levantou meus óculos para olhar meus olhos. A claridade me incomodou tanto que fechei um dos olhos instintivamente.— O que aconteceu? Que cara é essa? — Ele perguntou, preocupado.— Não dormi nada à noite. Tô moído, mas ainda vivo. Vamos em frente.— Por que não avisou? Poderíamos ter deixado isso pra outro dia, quando estivesse melhor.— Tô fugindo da minha vida, Ricardo. Preciso ocupar a mente. Se não fizer isso, tudo só vai piorar. Já basta como está.Ricardo assentiu, mas logo fez uma de suas piadas, tentando aliviar o clima.— Cara, me faz um favor? Me lembra de uma coisa pro resto da minha vida.— Fala. — Já sabia que vinha alguma bobagem.— Me lembra de nunca me apaixonar. Olha o estado em que você tá! — Ele soltou