JoãoMeu filho está muito desestabilizado, posso até dizer que está sem rumo. Ele me confidenciou o que aconteceu, e estou decidido a ajudá-lo a se reerguer. Quando passei pelos meus tombos na vida, tive quem me estendesse a mão, e hoje faço o mesmo por ele. Se ele e Melissa vão reatar ou não, essa será uma decisão deles. Mas vejo um problema que preciso administrar: minha filha Bárbara. Ela é um amor com Melissa, são super amigas, mas não acho certo ela querer “acabar” com o irmão da forma como tem feito. Odeio ver meus filhos brigados, e a irritação de Bárbara na casa da Melissa foi clara. Ela queria vir falar com Henry, e precisei pedir que não viesse. Uma coisa é ela querer o bem da amiga; outra, completamente diferente, é detonar o irmão toda vez que ele erra. Ela mesma não erra?Sei que posso ajudar Henry, mas também sei que preciso frear a Bárbara. Não adianta nada ela ficar brigando com o irmão, isso só piora a situação e os afasta ainda mais. Amanhã, falarei com ela sobre sua
MelissaHoje o dia está uma loucura, mas do jeito que eu amo. Já estou na minha loja, maravilhada com as novidades do estoque. Adoro os dias de reposição, porque são sinal de que as vendas estão indo muito bem. Além disso, hoje tenho um jantar com Daniel, amigo da Bárbara. Ele e a namorada estão planejando abrir a própria loja e querem se filiar à minha. Embora tenham marcado em cima da hora, estou animada. Se der certo, será uma grande oportunidade de expandir minha loja e meus produtos. Só de pensar nisso, já fico cheia de expectativa.Estava no estoque, no andar de cima, junto com Luana, organizando tudo. Enquanto isso, esperava a cabeleireira me retornar com o horário. Preciso dar um jeito no cabelo, nas unhas e na sobrancelha.— Lu, você acha que eu corto o cabelo? — perguntei, indecisa.— Melissa, seu cabelo é perfeito! Tenho até dó de incentivar você a cortar. — Ela riu, mexendo nos meus fios.— Quero inovar, sabe? Dar um ar mais leve. Acho que vou cortar um pouco abaixo dos o
HenrySaí cedo da casa do meu pai e fui direto para o meu apartamento. Lá, troquei de roupa e vesti algo mais despojado. Finalmente, uma trégua do terno. Pelo menos esse benefício eu teria hoje. Peguei meus óculos escuros, já que meus olhos estavam vermelhos demais — resultado de uma noite completamente em claro. Precisava parecer minimamente apresentável para o encontro com Ricardo na concessionária. Como meu antigo celular havia molhado, peguei um modelo reserva que estava guardado e coloquei meu chip. Assim que liguei o aparelho, fui bombardeado por mensagens. A maioria delas era da minha mãe, incluindo algumas onde ela me xingava de filho desnaturado e irresponsável pelo meu sumiço. Parece que não se pode nem respirar ou ter um momento sozinho sem alguém dramatizar.Suspirei fundo e liguei para ela. Atendeu rápido.LIGAÇÃO— Oi, mãe.— Irresponsável! — Sua voz saiu falha, carregada de drama. — Isso é o que você é, Henry Stuart. Eu não sei mais o que fazer com você, rapaz. — Ela
HenryApós o encontro com Renata, segui direto para a loja, onde Ricardo já me aguardava. Como de costume, me atrasei um pouco, mas não o suficiente para causar grandes problemas. Ao chegar, parecia que meu estado de abatimento era evidente. Ricardo, sempre atento, levantou meus óculos para olhar meus olhos. A claridade me incomodou tanto que fechei um dos olhos instintivamente.— O que aconteceu? Que cara é essa? — Ele perguntou, preocupado.— Não dormi nada à noite. Tô moído, mas ainda vivo. Vamos em frente.— Por que não avisou? Poderíamos ter deixado isso pra outro dia, quando estivesse melhor.— Tô fugindo da minha vida, Ricardo. Preciso ocupar a mente. Se não fizer isso, tudo só vai piorar. Já basta como está.Ricardo assentiu, mas logo fez uma de suas piadas, tentando aliviar o clima.— Cara, me faz um favor? Me lembra de uma coisa pro resto da minha vida.— Fala. — Já sabia que vinha alguma bobagem.— Me lembra de nunca me apaixonar. Olha o estado em que você tá! — Ele soltou
Já na casa da minha mãe…Ela nos recebeu com uma bela mesa posta para o café da tarde, embora o horário já estivesse beirando a noite. Como sempre, ela reparou na minha cara de cachorro abandonado. Era evidente, tanto que passei o dia inteiro de óculos escuros. Difícil era fazer a Mia deixar os óculos no meu rosto; ela se divertia tentando arrancá-los de todos os modos possíveis, com aquele jeitinho esperto e encantador que só ela tem.Desde que cheguei, minha mãe não largou a Mia por um segundo. Ela ama minha filha com uma devoção quase redentora, e tenho certeza de que é a única pessoa capaz de suavizar aquele lado rígido e amargo dela. Quando Mia está por perto, parece que minha mãe finalmente encontra algo de doce no mundo. Bárbara não estava em casa; tinha ido à casa do meu pai, a pedido dele. Fiquei sentado à mesa, mas só como companhia. Enquanto minha mãe alimentava minha pequena princesa, eu sentia o estômago revirar. Nada descia, e minha garganta irritada tornava a fome quase
Ela deu a volta no sofá, ficando frente a frente comigo.— Ficou louco, Henry? — Sua voz saiu baixa, mas carregada de tensão.— Não, mãe. Estou assumindo minha concessionária. Hoje foi meu primeiro dia. Não vejo motivo para continuar na sua empresa.— Você não vai sair da empresa! Quem assumirá a presidência?— O Ricardo é o melhor nome, e a senhora sabe disso.— Henry, até hoje tive paciência com você e Bárbara, mas estão ultrapassando os limites.— Vai nos deserdar? Faça isso. Dinheiro não é tudo. Nunca foi. — Finalizei, deixando-a sem palavras.— Não estou brincando, Henry Stuart. Você fala isso, mas nunca te faltou nada. Sempre teve de tudo. Eu sabia que a convivência com o João iria te transformar num fraco. Não é à toa que não quis continuar mantendo uma família com ele.— Que pena, mãe. Perdeu uma ótima pessoa que poderia ter te ajudado a sair dessa solidão em que vive. Você nunca quis ter uma família de verdade e ajudou a destruir a minha. — Ela se calou, visivelmente afetada
MelissaCheguei em casa e fui direto me arrumar. Henry ainda não havia mandado nada sobre a Mia, e já comecei a me preocupar, lembrando que, na última vez que ele a levou, ela chorou muito ao voltar. Mesmo assim, me contive e evitei mandar uma enxurrada de mensagens. Resolvi perguntar para Bárbara se ela já estava em sua casa.Mensagens WhatsApp“Bárbara, está em casa?” “Oi, Mel. Cheguei agora há pouco.” “A Mia está aí? Está tudo bem?” “Tá aqui comigo, toda sorridente.” — Ela me enviou uma foto da minha pequena, o que aliviou meu coração. “Fico mais despreocupada.” “Hoje vou dormir na sua casa, ok? Já deixa o meu quarto pronto.” “Ah, você me animou! Mas hoje tenho uma reunião. Se importa?” “Que nada, já sou de casa, você sabe. Até mais tarde, chuchu.” “Até, amada.”Desliguei o celular e voltei a me arrumar. O horário da minha reunião estava chegando. Antes de sair, avisei à Bárbara que estava indo. Ela respondeu dizendo que estava vindo com Henry para a minha casa e pe
HenrySabe aquela sensação de vazio que consome você quando está sozinho? Quando o silêncio ao redor, em vez de acalmar, vira um grito ensurdecedor dentro da sua cabeça? É como se todas as certezas que você um dia teve desmoronassem, e o peso esmagador da realidade te empurrasse ainda mais para baixo. Voltei para uma casa vazia, para um espaço onde os ecos dos meus próprios pensamentos são o único som. É isso que estou vivendo agora.Nada parece fazer sentido. Parece que um furacão passou pela minha vida, bagunçou tudo, e eu nem sei por onde começar a arrumar. O que mais me atormenta, no entanto, é a sensação de vazio que tomou conta de mim. É um buraco que suga qualquer fagulha de esperança. O caos que estou vivendo é, sem dúvida, minha culpa. Mas eu acreditava, genuinamente, que estava fazendo o certo. Sim, critique-me se quiser, mas estou sendo sincero. Pensei que estava protegendo Melissa, protegendo nós dois. Agora vejo o quão errado estava. Fui precipitado, cego aos meus própri