Me aproximei da minha mãe enquanto Ricardo seguia na direção de Eduardo. Ele o chamou para conversar lá fora, enquanto eu peguei a mão da minha mãe e, ainda de pé, trouxe sua cabeça para repousar no meu peito. Ela chorava e me pedia ajuda. Tudo o que eu queria era que ela se abrisse comigo, mas, na condição em que estava, eu não a forçaria a dizer nada.— Calma, mãe. Eu tô aqui, tô aqui com a senhora. — Tentei acalmá-la.— O Henry me odeia, filha. Ele me odeia.— Não, mãe. Você sabe como o Henry é, igualzinho à senhora: rude, grosso e, muitas vezes, insensível. Mas logo passa. Foi só o choque. Daqui a pouco ele volta e conversa com a senhora.— Eu conheço meu filho. Ele está me odiando. Meu Deus, tanto fiz para que isso não acontecesse. Queria que Deus me levasse de uma vez para acabar com tanto sofrimento na vida de vocês.— Mãe, pelo amor de Deus, bate nessa boca ou eu mesma bato! Pare com isso. O Henry é adulto e precisa entender que a vida nem sempre é como queremos.— Você me ent
MelissaHenry está totalmente estranho. Mal falou sobre o estado da mãe, e até penso que eles possam ter se desentendido. Mas como e por quê? O que aconteceu? Isso não sai da minha cabeça. Espero, de coração, que não tenha nada a ver comigo. Tenho a leve impressão de que tudo o que acontece entre os dois tem alguma coisa que me implica, e eu não quero ser motivo de discórdia entre eles. Ainda mais sabendo que ela está no hospital... Eu não me sentiria nada bem diante disso.Me dá nos nervos quando ele não me explica o que está acontecendo. Não é simples curiosidade da minha parte, mas irritação. Ele já teve essa mesma atitude antes, e sabe que eu odeio isso. Sinceramente, se o Henry de antes voltar, não sei o que farei. Só sei que não vou passar por tudo aquilo novamente. Ele não voltou a agir como antes, mas essa atitude é antiga, mesmo que ele ainda esteja sendo carinhoso.Estou disposta a deixá-lo descansar e, quem sabe depois, ele se abra para conversar. Não sou de ficar no pé de
MELISSAPela manhã, notei que Henry já não estava na cama. Olhei para o berço e também não vi a Mia, mas ouvi uma música infantil vindo do quarto ao lado. Sorri, já imaginando onde eles estavam. Penso que o Henry gosta mais daquele quarto e dessas músicas do que a própria Mia.Levantei e me troquei. Esta semana, a loja permanecerá fechada, já que planejo mudar de local. Mesmo assim, o que não me faltará é trabalho. Pelo que prevejo, será uma semana muito corrida.Depois de fazer minha rotina de higiene, fui até o quarto ao lado, mas me surpreendi ao ver Henry já vestido com roupas de trabalho.— Bom dia, amor da minha vida. — Ele falou assim que abri a porta. Sorri ao perceber que ele parecia menos irritado. Me aproximei dos dois, ele estava com Mia nos braços, e dei um beijo molhado em seus lábios, segurando seu rosto. Logo depois, peguei Mia no colo e enchi minha pequena de beijos.— Também queria vários beijos assim. Por que só ela ganha? — Olhei para ele com os olhos semicerrados,
Me senti feliz por perceber que ele, pelo menos, repensou na maneira como tratou a mãe. Afinal, ele foi lá para vê-la e saiu brigando com Deus e o mundo. Não dá. Mas decidi ir além. Eu preciso.— Sei que é difícil para você, Henry, e sei que o assunto da sua mãe não tem nada a ver comigo, e sim com você. — Ele negou, me interrompendo.— Desculpa, amor. Não queria ter falado daquele jeito. Você tem a ver com tudo que se refere à minha vida. Mas, na boa, minha mãe sempre te renegou como minha esposa, e agora você vem tentar defendê-la?— Isso é sobre quem eu sou, Henry. Não é sobre o que os outros me fazem ser. Não mudo meu jeito pelo modo como sua mãe me trata. Para mim, o certo é o certo, e não há vírgula que mude isso. Você precisa aceitar que sua mãe viveu a vida inteira em prol de você e da Bárbara. Sabemos que ela fez tudo por vocês, até mais do que devia. Era até chato, e você não venha dizer que não incomodava ela tentar saber tudo da sua vida. Até mesmo depois de casado, ela li
Eu e Henry nos olhamos abismados. Afinal, não é nada normal ver Elisângela aqui. Chega a ser estranho. Ela estava sentada ao lado da Bárbara, com a Mia em seu colo. Brincava com ela, dava beijos em sua barriguinha, e a Mia gargalhava, soltando risadas gostosas. Sorri observando a cena. Nunca imaginei presenciar algo assim, mas fiquei feliz em ver o quanto ela é carinhosa com a minha pequena.— Converse com ela e, pelo amor de Deus, evite desentendimentos. — Sussurrei para Henry, tentando evitar que elas nos ouvissem. Minha intenção era não descer para não causar nenhum climão, mas parece que foi em vão.— Mel, meu amor, cadê meu abraço, amiga? — Bárbara se levantou assim que nos avistou. Ela veio até o pé da escada, e eu não tive outra opção senão descer. Fui com Henry, enquanto Bárbara me recebeu de braços abertos. Sorri para ela, e Elisângela se levantou com Mia ainda nos braços.— Oi, amor, como passou a noite? — Perguntei, ainda no abraço de Bárbara.— Amor? Como assim amor? — Henr
ElisângelaNo dia anterior...Após a saída da minha filha do hospital, eu e Eduardo conversamos muito sobre tudo o que pretendemos para o futuro. Enfim, chegamos à conclusão de que só daremos continuidade ao nosso relacionamento se Henry estiver de acordo. Não dá, não suportaria ficar ainda mais distante do meu filho, e Eduardo me compreendeu. Sinto um vazio enorme no peito ao tomar essa decisão, mas acredito que será a escolha mais prudente.Eduardo se dispôs a permanecer por perto, pelo menos como amigo e fiel companheiro, mesmo que não fiquemos juntos.Deixei Eduardo à vontade para ir embora e aproveitei para deixá-lo livre para fazer o que quisesse com sua vida. Afinal, ele não é obrigado a passar a noite toda em um hospital. Sei como isso pode ser desconfortável. Mas, surpreendentemente, ele decidiu ficar. Passou a noite inteira ao meu lado, segurando minha mão e ouvindo minhas lamúrias. Foi uma noite difícil, marcada pela insônia. Não consegui pregar os olhos, pois só conseguia
Sentir aquele abraço em família mexeu profundamente comigo, com meu coração. Jamais imaginei que pudesse sentir o que estou sentindo agora, até porque era hipócrita demais para admitir meus erros.Enquanto ainda estávamos abraçados, Ricardo entrou pela porta da casa.— Bom dia. Perdoem a invasão, preciso falar com vocês. — Ele disse, e todos nós nos alertamos. Henry o olhou, se aproximou dele e abriu os braços.— Desculpa por ontem, irmão, de verdade. Eu não deveria nem ao menos ter pensado que você poderia esconder algo de mim. — Ricardo sorriu e foi ao encontro do abraço do meu filho.Penso que meus filhos estão cercados de pessoas amorosas e sábias, muito mais sábias do que eu fui como mãe deles. Eles são unidos, mais do que eu poderia imaginar. Têm amizades que são para a vida toda, e isso é uma das melhores coisas que alguém pode ter: ser rodeado de bons e fiéis amigos. Bárbara e Melissa sorriram enquanto observavam a cena, e eu continuei abraçando os ombros da minha nora. Quero
HenryMinha mãe avisou que iria até a casa da mãe da Renata, e me senti no dever de acompanhá-la. Queria evitar qualquer mal-estar e, principalmente, protegê-la. Minha vida deu um salto hoje. Estou feliz e só quero que a Renata nos deixe em paz. É tudo o que precisamos para viver essa felicidade. Falo, principalmente, do fato de ver minha mãe finalmente aceitando a Melissa como minha esposa, algo que eu já não tinha mais esperanças de acontecer.Não sou uma pessoa esperançosa, nunca fui. Sou mais da prática. Sinceramente, não esperava isso dela, ainda mais depois de todo esse tempo. Agora, me sinto no dever de aceitar o Edu ao lado da minha mãe. Se é para ela ser feliz, que assim seja. Só precisamos que a Renata nos dê paz para finalmente dizer o bendito "amém". Caramba, é só uma pessoa, mas ela está me provocando pânico. Não por mim, mas pelo medo do que ela possa tentar contra a Melissa, que, pelo visto, se tornou seu alvo principal.Saímos juntos: eu, Ricardo, Bárbara e minha mãe.