Início / Mistério / DEZ DIAS 30 HORAS: MISSÃO PARIS / Capítulo I MISSÃO, PARIS...
Capítulo I MISSÃO, PARIS...

Capítulo I

MISSÃO, PARIS...

          .... Estava terminando minha segunda garrafa de vinho, um vinho vagabundo, mas era do jeito que eu gostava, tinto e suave. Já passava da meia noite, ouvia uns gritos lá fora, na avenida, apesar de estar no décimo andar, parecia uma briga ou um assalto, em Águas Claras, não era comum uma gritaria daquela, nem tão pouco um assalto, mas o tempo tinha mudado e agora a ninguém tinha mais sossego em lugar algum, até minhas missões pareciam mais tranquilas em ralação ao dia a dia das cidades do Distrito Federal.

          Pensei em dar uma olhada pela janela, a gritaria já tomava conta de todo o local, mas o celular vibrou e tocou sua musiquinha tradicional do fabricante do aparelho, estava recebendo uma mensagem de voz, e naquela hora poderia ser algo incomum, logo percebi que a mensagem era importante, apesar de ter tirado uns dias para descansar, para pensar em minha vida pessoal, que, por mais que eu tentasse, não andava das melhores. Antes de ouvir atentamente a mensagem, percebi que chegou outra com uma voz impaciente e ansiando um sinal de retorno:

     - Tio, como vai, temos um trabalho para você? Escute toda a mensagem de voz, tchau?

          Minha cabeça meio zonza com o vinho, demorou a analisar aquela voz, mas, percebi logo que era um código de confiança, o qual tínhamos criado para tratar de nossos assuntos secretos. Apesar do horário daquela noite e o barulho lá fora, agora com sons de viaturas da polícia e dos bombeiros, sentei-me na poltrona para ouvir aquela mensagem recomendada:

     - Tio, um Juiz determinou a retomada de vários processos da operação Caixa de Pandora. O delator diz ter provas do envolvimento de policiais e magistrados, além de pessoas do executivo e do legislativo no esquema de corrupção. Sabemos que tem gente poderosa envolvida – Neste momento estamos em uma missão na Itália, e para piorar, muitos funcionários estão em greve por aqui, estamos presos, pelo menos por uma semana, estamos tentando nos deslocar de trem, mas vai levar mais tempo que pensamos, sabemos dos dias tirados para descansar e  de seu problema pessoal, mas agora é hora de voltar à ativa, já foi determinado sua vinda para Europa, passagens, hotéis e transportes terrestres, já foram providenciados -  Terça feira, ás dezessete horas, esteja no aeroporto Presidente Juscelino Kubitschek, Brasília, será entregue por alguém lá, antes do embarque, os documentos necessários, passagens, reservas de hotéis e dinheiro suficiente para a missão – Aguarde detalhes da missão, lembrando, esquecemos de providenciar o transporte terrestres aí, se vira, chama um taxi, um urbe, sua filha, sabemos que está sem carro.

          Escutei a mensagem com atenção, mas o barulho lá fora ainda perturbava toda vizinhança, olhei novamente pela a janela, vi que algumas viaturas, policiais e bombeiros cercavam um corpo caído no chão. Não dava mais para fazer nada, todas as providências os órgãos de segurança já tinham tomado, tomei um banho e fui dormir, minha cabeça agora girava em torno de uma missão que recebei com poucos detalhes, mas era comum, as coisas iam se desenrolando no andar das investigações.

          Acordei cedo, era um domingo sem graça, mas dava para dar uma corridinha antes de pensar em sair para almoçar, tomei um café da manhã, fui até o parque ecológico de Águas Claras e fiz uns quarenta minutos de trote, já não seguia minha planilha de treino como antes, quando estamos com problemas parece que carregamos alguém em nossas costas. Depois fiquei sabendo pelo porteiro da confusão em volta do prédio, e que um jovem tinha sido assassinado, numa tentativa de roubo, isso não era comum ali, os moradores não estão acostumados com esses assaltos, mas, fazer o quê, era a separação da elite das favelas do entorno da Capital Federal.

          O resto do domingo estava indefinido, até receber uma ligação de minha filha, era um convite para ir ao cinema, acabei indo e combinando com ela, para que me levasse ao aeroporto, falei que tinha recebido outra missão, ela não gostava disso, minha ausência já deixava um vazio em nossa vida, além do casamento que acabou pelo mesmo motivo, mas foi com esse emprego que a formei e dei tudo do bom e melhor, então não era tão ruim assim, a não ser uns perigos e apertos de vez em quando.

         Na segunda feira recebi a mensagem com a incumbência, parecia comum, mas algo me dizia que não era como as outras missões, além do executivo e políticos, o encargo envolvia magistrados e policiais, havia ameaças de queima de arquivos, intimidações, envolvendo familiares, entre outras coisas, que alimentam a corrupção nessa investigação da denominada missão “Caixa de Pandora”.

           A Caixa de Pandora é um artefato da mitologia grega, tirada do mito da criação de Pandora, que foi a primeira mulher criada por Zeus. A "caixa" era na verdade um grande jarro dado a Pandora, que continha todos os males do mundo. O principal motivo da criação de Pandora, segundo a mitologia greco-romana, seria de que Prometeu roubou o fogo do monte Olimpo e levou ao mundo humano, contrariando a vontade de Zeus. Pandora foi criada com um único defeito, a curiosidade. Zeus criou a caixa, porque sabia que um dia, a vontade de Pandora a levaria a abrir a caixa e libertar o mal ao mundo humano, castigando-os pelo fogo que haviam recebido contra sua vontade.

          Essa é a história da mitologia, mas minha missão era seguir quatro mulheres, e uma delas guardava segredos, dessa nossa caixa de pandora, que não era tão mitológica, era atual, executivo, política, judicial e policial envolvidos numa trama cruel. Dinheiro público eram desviados, pessoas envolvidas e seus familiares corriam riscos, essas quatro esferas estavam unidas ou desunidas completamente, e qualquer pessoa poderia sumir sem deixar vestígios, como ainda, suas testemunhas, assim como suas acusações se tornariam sem efeitos, diante da justiça, da mídia e de todos.

          Terça feira, como combinado, minha filha me levou ao aeroporto Juscelino Kubitschek, peguei o voo 58 da TAP, ticket 047-5153164837, destino a Lisboa, foi um voo tranquilo, aproveitei para ouvir umas músicas, minhas favoritas do MPB, claro, todas do Zé Ramalho primeiro, depois assistir “ A Forma da Água”, um filme espetacular. Parecia resgatar uma lenda amazônica, mas no cinema a ficção pode ir além da lenda, durante todo voo, observei que tinha algumas figuras da elite brasiliense, mas pareciam madames e filhinhas e filhinhos de grandes executivos, empresários corruptos gastando alguns dólares de atividades ilegais da corrupção.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo