Arthur
Partimos ao anoitecer e enfrentando um aeroporto agitado, pois essa época é de alta temporada no sul do país. Pessoas em busca de frio, boa comida e paisagens paradisíacas para usufruírem a dois ou em família, como é meu caso.
Família.
Sinto uma vibração gostosa quando penso em nós três dessa forma, sem que pareça errado. A cada dia, o sentimento de deslealdade para com Guilherme ameniza, pois se fosse ao contrário, onde eu estivesse torceria para que meu irmão tivesse a sorte de tê-las em sua vida.
– Tio “Atú”! Olha! – Rebeca me mostra as luzes da cidade ficando cada vez menores, enquanto ganhamos o céu. – É pisca-pisca, mamãe?
– Não, meu bem. São as casinhas muito longe de nós, lá no chão.
– A gente não cai?
– Não, somos pequenos voadores de metal agora. – Aviso, tentando deixar a situação extraordinária para que ela não tenha medo.
Achamos graça quando sua boquinha se a
CatarinaAcho que toda mãe alguma vez já passou uma vergonha épica com sua cria. É quase uma das funções, que se elas tivessem manual, estaria muito bem explicada.Muitas vezes, Rebeca já me questionou acerca de um pai e sempre pareceu aceitável a resposta de que ela era tão especial que tinha uma supermãe. Eu sei que ao longo da minha vida outras perguntas igualmente difíceis virão. Eu sei que esse momento não foi nada, perto do dia em que eu tiver que lhe contar sobre Roberta.E que ainda assim eu não sei quem foi seu pai.Apesar do pedido da minha irmã, jamais pensei eu fingir que ela não existiu na vida da nossa pequena. Rebeca é nossa filha e enquanto ela a gestou, eu a gerei no meu coração.Mas não podia fazer isso enquanto Beca não possui entendimento, pois nã
Catarina O corpo humano precisava mesmo ter tantos músculos assim? É sério, para quê? Sei que não sou uma pessoa atlética e conto apenas com uma genética abençoada, mas essa inércia toda estava em mim mesmo? Sinto dores em lugares que se alguém dissesse que existiam, eu diria que era mentira. Mas conheci da melhor forma possível todos os rincões de mim mesma. Não há alongamento na vida que me salve, mas ontem eu estive tal qual o chuchu na serra, na cerca ou na casinha de sapê. – Bonita Catarina, está na hora de acordar. – Sinto um carinho no meu maxilar e dou um suspiro. Carinho é gostoso, fazer o que? – Você vai realmente acabar com o cronograma do mundo da fantasia? – Sono… – Você que ama cronogramas está ignorando um? Todo um planejamento cuidadosamente pensado. – Papai Noel deve estar cansado também. Aposto que a mamãe Noel nem acordou se teve uma noite como a minha. – Arthur está à
Arthur Rebeca está girando diante do espelho há uns dez minutos, enquanto esperamos Catarina. Ela realmente está linda e se sente assim a todo tempo, se auto recomendando que deve agir como uma princesa. Depois do cochilo da tarde, assim que voltamos para o hotel após um dia intenso de atividades, ela apagou. Parecia desmaio e Catarina teve que me tranquilizar que ela estava bem. Deixamos a visita à casa do Papai Noel para amanhã, se não ficaríamos exaustos. Então, voltando com calma, descansamos e pude até namorar um pouco. Namorar. Catarina nunca mais comentou sobre "rótulos" desde que nos entendemos há um tempo. No início não achou necessário e, por mim, tudo bem. Eu acho. Quando estamos assim, vivendo momentos em família, não poder exercer algum sentimento de posse é um pouco incômodo. Eu sei que ninguém possui ninguém, mas a rica língua portuguesa apenas me ofereceu essa para usar no momento. <
Catarina Antônio não, ele não. Minha imensa vontade é sair correndo. Eu magoei esse homem, isso é certo. Eu tinha vinte e cinco anos e ele queria casar. Eu disse não, ele se foi – agora eu sei para onde – e seguimos nossas vidas. Foi o relacionamento mais sério que eu tive até... Arthur. Agora, ele me olha com essa cara de “não quis casar e agora só falta jogar a filha na minha cara”. Quando juntos, eu vivia trabalhando e acho que não conhecia quase nenhum dos seus amigos. Claramente não conheci Arthur. Melissa sorri e me cumprimenta piorando tudo me chamando de ex-cunhadinha. Meu Deus, que apocalipse! Agora Arthur arremata tudo falando que sou sua mulher, obviamente marcando território. Mas o susto de Antônio e Melissa me fazem parecer um monstro. Eu só disse não. Que coisa. Tudo bem que o meu não foi "eu não desejo constituir uma família, eu não me vejo mãe ou uma esposa que espera
Arthur Aflição. Essa é a sensação que estou há algum tempo, enquanto essa noite agoniante se estende. Perceber que Catarina efetivamente nunca quis ter uma vida em família, aguçou meus medos de que me deixar para trás seria absolutamente simples para ela. Logo, então, fui surpreendido com a informação de que tem uma irmã da qual nunca me falou. O quanto ela realmente me considera, a ponto de omitir algo assim, que sequer tem gravidade? Eu sequer posso lhe cobrar algo, quando sou o mais omisso de todos. E ao fim, a ouço dizer que se eu a quisesse por qualquer motivo que não fosse ela mesma, não estaria aqui. Comigo. Uma linha tênue me separa de ser esse tipo de pessoa que ela despreza e o que eu realmente fiz. Temo perdê-la. Não tinha qualquer medo, quando meus sonhos se tornavam coisas distantes na medida em que minha prioridade era manter meus irmãos unidos, em vez de constituir nova família. Ma
Catarina Trabalho. Lembro quando esse era o auge de um dia perfeito. Bem, hoje trabalhar no que eu amo faz parte de uma infindável lista de coisas que compõem um dia perfeito. Há dois meses, quando eu tive a ousada e feliz ideia de não ter medo e confessei a Arthur tudo o que eu sentia, não imaginava que todo o fluxo de emoções que eu sentia poderia aumentar. Inundar, espalhar, encher e preencher cada pedacinho a ponto de me deixar com cara de uma pateta apaixonada e satisfeita. Nossa rotina desde então tem se ajustado e desajustado para que Rebeca não estranhe muito a mudança. Explicar para Rebeca que o Arthur agora era um amigo muito especial não foi difícil, pois, segundo ela, ele sempre foi especial. Claro que ela não entendeu absolutamente nada do que se passava entre nós, mas sorria cada vez que sabia que estaríamos os três juntos. Eu via o quanto esses momentos eram preciosos para ela e o medo de que esti
Arthur Estou há meia hora tentando falar com Raphael. Ele só tinha uma função: Manter o escritório funcionando enquanto eu precisasse. Ele cumpriu seu acordo durante um bom tempo, inclusive nos dois últimos meses. Aparentemente. Ela é como um braço da Ferraço, pois comprei a empresa, mas não a absorvi completamente, para que Catarina não desconfiasse. Quando tudo fosse resolvido, eu cuidaria para que os trabalhadores dela não fossem prejudicados. Ela tem me mandado relatórios mensais, inclusive nos últimos meses. Seus relatórios melhoraram bastante e ficaram mais autocríticos e, ao menos, eu sabia que a empresa em si tinha sido um bom investimento. Mas o imbecil descumpriu o acordo e sumiu. Eu deveria me focar nele agora, mas o mais importante é o que fazer com Catarina. Se ela for atrás disso tudo, vai descobrir que a Mendes não existe mais desde que começou a trabalhar para mim. Já foi muito di
Catarina A noite das meninas está sendo maravilhosa, apesar de a minha mente constantemente voltar a se questionar sobre Raphael e o acordo dele com Arthur. Eu confio nele quando diz que manteve sua parte, o problema todo é o Cretino Mendes. Tentei ligar para ele algumas vezes, mas logo minha filha me exigiu, pois tratar da sua festinha de aniversário com a maior antecipação do mundo era fundamental. O tema girassóis a encanta desde que meus primeiros brotaram no nosso jardim na cobertura de Arthur. Ela está encantada com a grandiosidade deles e o quão rápido eles se voltam para luz do sol. Ela faz questão de que seu mundo seja amarelo nesse dia. Lembro-me como foi o dia em que ela nasceu para mim. A carta de Roberta, a emoção e o medo. Meu sigilo ao entrar com um processo de adoção, para que ninguém além de seu Agnaldo, Camila e sua mãe, soubessem que ela não veio de mim. Rompi os laços que ela tinha antes daqu