Tive duas entrevistas esta tarde com dois candidatos para a vaga de designer. Estou determinado a contratar alguém que, dessa vez, não me traga o menor risco de enfrentar os mesmos problemas do passado. Meu celular tocou quando eu terminava de organizar minha pasta para ir embora. — Oi, mãe. — Filho, está tudo bem? Fiquei sabendo do que aconteceu… Como a Cassidy está? — Sua voz carregava uma preocupação sincera, e eu ouvi sua respiração hesitante antes de continuar, mais incerta: — Kai... Eu já sabia o que ela ia dizer. — Mãe, a Cassidy está ótima. Eu resolvi tudo. Por favor, pare de me ligar só para me repreender. Eu sou adulto, eu erro, mas sei corrigir. — Falei com firmeza, mas sem grosseria, apenas direto. — Eu sei, meu filho. É só... eu me preocupo com vocês. E estou tão feliz que vão ter uma menina! — respondeu, agora com animação na voz. — Eu também, mãe. Só queria que o papai estivesse aqui. Queria que ele pudesse fazer com ela o que fez quando eu era pequeno.
Parecia irreal, impossível. Um cenário tão absurdo que eu não conseguia acreditar ser verdade. Para me certificar, belisquei a coxa com a mão livre. A dor foi um choque breve, mas suficiente para me arrancar um ofego. — Estou te machucando? — perguntou parecendo genuinamente preocupado. — Não, não é isso... — As palavras pareciam ter sumido. Seus olhos encontraram os meus, intensos, desarmando qualquer defesa que eu pudesse ter levantado entre nós. — Você está linda, Cassidy — disse ele, com uma honestidade que faz meu coração acelerar. Eu inspirei profundamente, sentindo meu peito apertar. — Por que me beijou? — Minha voz saiu quase como uma sugestão. Kai me encarou com uma expressão tão intensa, que me fez quase questionar se era mesmo ele ali, ou se ele não estaria imaginando outra pessoa. — Porque parecia o certo a ser feito. — respondeu sincero. — Somos adultos, Cassidy. Você está gerando minha filha. Podemos fazer isso. Minha respiração ficou presa. O que
Kai Acordei com uma dor de cabeça latejante, o tipo de dor que te faz questionar as escolhas da noite anterior. Logo entendi o motivo. Eu havia dormido no tapete da sala. O mesmo tapete onde, poucas horas atrás, eu e Cassidy compartilhamos momentos intensos. O alarme já tocava há um tempo. Levantei apressado, desliguei-o e fui direto para o banho. Enquanto a água quente deslizava pelo meu corpo, as lembranças de ontem à noite se misturavam com as gotas, me inundando por completo. Meu peito formigava, um calor desconhecido. Era uma sensação boa, mas inquietante. Saí do banheiro ainda meio zonzo, só para ser despertado pelo toque insistente do telefone. — Alô? — Senhor Hoke... Antonella Rizzo está aqui e insiste em falar com o senhor. Disse que não vai embora até vê-lo. O que deseja que eu faça? Fechei os olhos, suspirando. — Diga que não vou trabalhar hoje. Se quiser falar comigo, que marque um horário. Me avise quando ela for embora. — Oh… certo, senhor. Até mais.
Dois meses depois A gravidez mudou muitas coisas em mim. Sinto-me mais forte, mais corajosa, como se pudesse enfrentar qualquer desafio. Mas a gestação em si me deixa exausta, sempre com sono e com um cansaço que parece não ter fim. Meu corpo não é mais apenas meu, e cada mudança me faz lembrar disso. Conciliar essa força recém-descoberta com as limitações físicas não é fácil, especialmente quando carrego uma barriga considerável que pesa e me torna vulnerável. Qualquer coisa machuca, qualquer esforço parece dobrado. — Está cansada? Se quiser sair mais cedo... — Eve tocou meu ombro com gentileza, interrompendo meus pensamentos. — Está tudo bem, Eve. Só estou preocupada com as provas. — Eu te admiro, Cassidy. Não é nada fácil dar conta de tudo isso. — Ela me lançou um sorriso reconfortante, e por um momento, senti que não estava sozinha. — Está quase acabando. Em breve minha filha vai nascer e eu estarei formada. — Sorri, tentando transmitir confiança, mas por dentro, as
Depois de uma conversa esclarecedora com Joshua, uma sensação de cansaço tomou conta de mim. Tudo o que eu mais queria naquele momento era voltar para casa. E é estranho como aquele apartamento, que antes parecia só um lugar temporário, ao lado do de Cassidy, havia se tornado minha casa. Sempre que precisava descansar, meu pensamento ia direto para lá. Era lá que eu me sentia em paz, onde podia deixar o mundo lá fora e me refugiar no silêncio do quartinho da minha filha. O tempo parecia passar mais devagar ali, como se o simples fato de estar naquele espaço me preenchesse de um jeito que eu não conseguia explicar. Então ao decidir o nome da minha filha, o pensamento foi direto: Eu preciso contar para Cassidy. Queria compartilhar aquele momento tão íntimo com ela, fazer parte disso de alguma forma. Mas o tempo parecia não colaborar, e eu passei a semana inteira tentando equilibrar o trabalho, os projetos e ainda encontrar um novo designer que atendesse todas as exigências. Mas, como
— O que achou desse modelo? — Perguntei ao mostrar a quarta imagem no tablet enquanto caminhávamos devagar. — Quase lá, Cassidy. Só falta aquele detalhe que o cliente pediu. — Ele me lembrou, a voz firme, mas sempre gentil. — E então, estará perfeito. — Tudo bem, eu te envio os arquivos hoje à noite. — Garanti, guardando o aparelho na bolsa. — Cass, você gostaria de trabalhar comigo? Caso os clientes gostem dos seus desenhos, você aceitaria fazer? — A pergunta foi simples, mas me pegou de surpresa. — Kai... — Franzi a testa — Eu não sei, eu sou melhor em criar roupas, mas... eu posso aceitar, não quero te deixar na mão. — Ei, isso nunca aconteceria, se não quiser, tudo bem. — Ele tocou meu rosto — O que vai fazer hoje à noite? — Bom, se tudo der certo, vou chegar em casa e descansar bastante. — Ri, tentando manter a leveza na conversa. — Por quê? — Oh, certo, não pensei nisso... — Murmurou mais para si mesmo. — Eu achei que a gente poderia... — Kai? — Chamei, confusa,
— Eu acho que não entendi, ou ouvi errado. — murmurei atônita, tentando processar o que acabei de ouvir. — Entendeu sim e ouviu muito bem. Eu quero você, Cassidy, quero que a gente fique junto. — A voz de Kai soava firme, mas havia uma ternura escondida ali. — Kai, eu acho isso tão... repentino? Antes, você não queria nenhum envolvimento emocional comigo. O que mudou? — perguntei, a cabeça fervilhando com lembranças de nossas conversas anteriores. — Tudo, Cassidy. Tudo mudou. Você está esperando uma filha minha, e a cada dia que passa o peso desse sentimento confuso que sentimos cresce ainda mais. Eu ainda não sei exatamente o que é, mas acho que podemos descobrir juntos. — Ele desviou o olhar, hesitante. — Eu... tentei sair com outras mulheres, mas nenhuma delas causou em mim o que você causou. Meu coração deu um salto, mas o medo ainda pairava. — Eu... não sei se fico feliz ou assustada. — confessei com uma risada nervosa. — Então, o que você acha? — perguntou, buscando
Deixei Cassidy no quarto e fui atrás de Michael. O encontrei sentado no sofá, o rosto sério e o olhar acusador. Ele me encarava de um jeito que parecia atravessar minha alma, quase me rasgando em pedaços. — Eu tinha dezessete anos quando ficamos amigos. — Ele começou, com um tom frio. — Você já era mais velho e virou uma espécie de irmão mais velho para mim. Eu era tímido, e você, com aquele jeito despojado, me ensinou tudo sobre mulheres. Como conquistar, como levar pra cama, como receber tudo delas, mas também, como me livrar delas depois — falou irônico. — Você me levou para festas, me mostrou um mundo que eu nunca tinha participado. — Ele balançou a cabeça, rindo em deboche. — Mas sabe o que eu vi, Kai? Você cercado de mulheres, trepava com quem escolhesse, às vezes mais de uma ao mesmo tempo. Você não ligava para o que diziam. Lembro que me disse que a vida era muito curta para viver com uma só. Ele respirou fundo, me encarando de um jeito que parecia buscar uma resposta que